sábado, 31 de maio de 2014

AGRADECIMENTO

AOS MEU AMIGOS...

       Ontem foi meu aniversário! Quase uma sexagenária. E posso dizer, sem sombra de dúvida, que começaria tudo de novo, se me fosse concedido.
      A vida foi dura, mas o que ela não me deu, eu corri atrás e tomei. E não me arrependo de nada. Os erros que cometi, serviram de experiência. Caí muitas vezes. Esfolei joelhos e alma. Por vezes,  me vi escorrendo pelo chão. E como catei cacos. Ainda cato, continuo juntando cacos, porque a luta continua. E nem sempre fui tão forte. Confesso a Deus Todo-Poderoso e a vós irmãos, mea culpa, mea culpa, que muitas vezes passou pela minha cabeça tirar a minha vida e a de meus filhos. Em busca do perdão, digo que as forças minguavam e o desespero era absoluto. Mas a terra que sempre existiu em mim é fértil e bastava um fiapo de esperança,  uma gota de alento para a vida criar raízes e tudo renovar. Essa vida que não me pertencia mais, que não era minha,  senão de meus filhos, recrudescia com mais vigor. E eu crescia, me avolumava, virava um gigante para sobreviver. Por eles. 
       Vesti uma couraça em mim e neles para aguentar os reveses, a crueza e talvez esse tenha sido o meu maior erro. Perdemos alguma coisa, que não sei bem o que é. Talvez a fé. Isso, perdemos a fé em algumas coisas. Embora presa nessa armadura por medo, por defesa, eu consegui manter a sensibilidade. Eu deixei a minh’alma livre! E sempre que podia, voltava para dentro de mim, e visitava meus sonhos mais preciosos, minhas emoções mais caras. E assim sobrevivi. Tento, todos os dias, desses dias que me restam passar, mostrar para os meus filhos tudo de bom  que eu conheço, que eu sei  existir nesse mundo. Tento mostrar a eles como ser feliz, como eu sou, apesar de tudo e devido a tudo o que foi a minha vida. 
      Acredito que para todos, um curso superior é realmente um feito. Para mim, no entanto, foi muito mais que isso. Ninguém, ninguém tem condições de imaginar, tudo o que senti, enquanto estudava. O orgulho que sentia por estar ali, conviver com aquelas pessoas todas. Ter a ciência de todo aquele Conhecimento. No dia da colação de grau pensei que não fosse aguentar a emoção. Na hora do discurso, por várias vezes, eu tive que parar porque o meu coração... eu pensei não fosse suportar. (Tinha graça, eu morrer ali naquela hora.) Eu, a maria da silva, estava ali, recebendo aplausos. Merecidos! Vivi séculos, naquela noite! 
     Hoje, eu, a maria da silva, tenho três filhos cursando uma Faculdade. Então, posso dizer que os filhos da Lécia Freitas também terão seu lugar nesse mundo. Porque isso que me aconteceu, a Faculdade,  inseriu-me num mundo do qual eu já nasci excluída. Talvez eu nunca vá entrar numa sala de aula, efetivamente. Porém, o estudo possibilitou-me o poder da escolha. Se eu quiser, eu posso. Eu tenho conhecimentos e capacidade para contribuir na formação de um ser humano. E ser reconhecida por isso. Assim, o conhecimento adquirido permite-me a entrada no salão, e não apenas olhar escondido, do lado de fora, pela vidraça, a festa da vida. Isso tudo coloca-me na frente de milhões, em um lugar que eu fui capaz de conquistar. E é muito bom.
      Agradeço a Deus tudo que consegui! As oportunidades e as condições para realizá-las. Creio que consegui muito mais do que eu esperei. Hoje, tenho mais do que preciso para sobreviver.
     O sofrimento deixou marcas profundas, indeléveis, mas tenho algo que consegue suplantar. São os amigos. Eu tenho amigos que se mostram felizes por estarem comigo, que me abraçam, que sorriem para mim. Isso é possuir um tesouro. A vocês, todos, eu agradeço as manifestações de carinho. A vocês, eu deixo um abraço bem forte. E o canto do passarinho que mais me emocionou. Eu amo vocês!

                                                                                                                                           Lécia Freitas

sexta-feira, 30 de maio de 2014

ANÁLISE DO FILME "O CLUBE DE LEITURA DE JANE AUSTEN"

INTRODUÇÃO

            A proposta do filme “Clube de Leitura” é falar sobre Literatura, enfocando, neste caso, a obra de Jane Austen, escritora inglesa, responsável por títulos como “Orgulho  e Preconceito”, “Razão e Sensibilidade” e “Persuasão”, entre outros. O filme mostra como a autora é perspicaz em tratar das fraquezas  e relações humanas. O filme, ainda, deixa transparecer que as histórias da autora nada têm a ver com o mundo atual, porém como a maioria dos grandes escritores, suas obras possui caráter atemporal e tem muito a dizer aos leitores de todas as épocas.
            O filme, um drama, lançado nos EUA, data do ano de 2007, é dirigido por Robin Swicord e é baseado no livro de Karen Joy Fowler. Para apreciá-lo é essencial, portanto, gostar de leitura.
            A história “Clube de Leitura” relata a vida de mulheres com idades diferentes que decidem criar um clube da leitura das obras da autora inglesa Jane Austen. Em reuniões mensais, os membros do clube – cinco mulheres e um homem – com suas vidas entrelaçadas, discutem sobre as histórias descritas no livro de Jane Austen, como se estivessem dentro do livro vivendo as histórias.
            Com o passar do tempo, passam a trazer para o mundo real o que aprenderam com as leituras. Dessa forma conseguem analisar e falar sobre seus problemas na tentativa de resolvê-los e percebem como as lições aprendidas nos livros influenciaram as mudanças ocorridas em suas vidas.


 2 O RESUMO

O filme “Clube de Leitura de Jane Austen”
           
            O filme revela a vida de um grupo de pessoas que todo mês se reúne para discutir um dos livros da escritora. O grupo é constituído de cinco mulheres e um homem.
            Bernadate foi casada seis vezes e hoje vive sozinha. Jocelyn jamais se casou e está deprimida devido à morte de Pridey, seu cachorro. Sylvia é casada com Daniel, tem três filhos, mas sua vida está abalada pelo fato de que o marido está apaixonado por outra mulher. Allegra, filha de Sylvia e Daniel, é uma jovem gay que decide voltar para casa para servir de suporte à mãe por causa dos problemas em seu casamento. Seus pais sabem de suas preferências sexuais e não vêem problema  algum nisso. Prudie é uma jovem professora de francês de colegial. Casou-se recentemente com Dean e teve que cancelar uma aguardada viagem a Paris devido a um problema nos negócios. Griggy, o homem do grupo, é um técnico nerd que gosta de participar de convenções de ficção cientifica.
            Bernadete sugere às amigas a criação do clube do livro “Sempre Austen, o tempo todo”, devido aos livros da escritora Jane Austen, legando que ela é perfeita para curar os males do mundo. Nessas reuniões eles discutem as lições aprendidas nos livros tentando resolver seus relacionamentos e os próprios problemas. Com o passar do tempo percebem as mudanças ocorridas em suas vidas.
            Sylvia reata o casamento com Daniel. Prudie vê uma nova perspectiva no seu casamento. Bernadete casa-se novamente. Allegra continua procurando um relacionamento mais estável. E Griggy e Jocelyn começam a namorar. Um final que, aparentemente, todos desejavam.

3 CONCLUSÃO

            Ao entrelaçar “histórias reais” com situações da obra de Jane Austen, o filme mostra como uma boa leitura influencia na vida das pessoas. O filme evidencia a importância da leitura como transformadora da realidade e também como impulsionadora de reflexão. A leitura, segundo o livro, pode fazer você se projetar para fora da realidade e mudar seu destino, bem como pode fazer você enxergar o óbvio, muitas vezes escondidas em suas impressões do dia a dia.
            O filme correlaciona essa proposta individual com valores sociais de amizade, companheirismo, respeito, entre outros. Destaca, ainda, a leitura como ponte afetuosa entre dois mundos, gerando reconciliações e estimulando a sensibilidade nas relações.           
            Essas situações levam a concluir que a leitura exerce grande poder sobre a vida das pessoas.


 4 BIBLIOGRAFIA

Título no Brasil: “O Clube de Leitura de Jane Austen”
Título original: “The Jane Austen Book Club”
País de origem: EUA
Gênero: Drama
Tempo de duração: 106 minutos
Ano de lançamento: 2007
Estúdio/Distrib.: Sony Pictures
Direção: Robin Swicord


Trabalho avaliativo apresentado à disciplina Língua Portuguesa do Curso de Letras da Faculdade de Pará de Minas. Professora Cristina Mara.
Créditos: Total, Muito Bem!



  

"A POÉTICA ROSEANA" Capítulo 2 subcapítulo 3

2.3 O Amor e a Neblina

      (O Fio Condutor)

            Como já se disse anteriormente, entre os temas existentes em Grande Sertão: Veredas, um se destaca naturalmente: o amor de Riobaldo e Diadorim. Embora o autor retrate o sertão e as lutas travadas pelos jagunços, os numerosos casos sobre a vida dos moradores daquela região e o suposto pacto de Riobaldo com o Diabo,  todo o entrelaçar, refere-se ao amor dos protagonistas.
            Riobaldo ao contar a sua vida a um senhor da cidade, conduz os acontecimentos, mesmo que nos volteios, à figura de Diadorim. Com isso, considera-se que o fio condutor da obra é a história dos dois jagunços:
ao que, alforriado me achei. Deixei meu corpo querer Diadorim; minha alma? Eu tinha recordação do cheiro dele. Mesmo no escuro, assim, eu tinha aquele fino das feições, que eu não podia divulgar, mas lembrava, referido, na fantasia da ideia. Diadorim – mesmo o bravo guerreiro – ele era para tanto carinho: minha repentina vontade era beijar aquele perfume no pescoço: a lá, onde se acabava e remansava a dureza do queixo, do rosto... Beleza – o que é? E o senhor me jure! Beleza, o formato do rosto de um: e que para outro pode ser decreto, é, para destino destinar... E eu tinha que gostar tramadamente assim, de Diadorim, e calar qualquer palavra. Ele fosse uma mulher, e à-alta e desprezadora que sendo, eu me encorajava: no dizer paixão e no fazer – pegava, diminuía: ela no meio de meus braços! (ROSA, 2006, p.576)

            Riobaldo não tinha intenção de ser jagunço. Ele toma essa decisão ao reencontrar o Menino do Porto, já rapaz, em suas andanças pelo sertão:
Pois minha vida em amizade com Diadorim correu por muito tempo desse jeito. Foi melhorando, foi. Ele gostava, destinado, de mim. E eu – como é que posso explicar ao senhor o poder de amor que eu criei? Minha vida o diga. Se amor? Era aquele latifúndio. Eu ia com ele até o rio Jordão...Diadorim tomou conta de mim. (ROSA, 2006 p. 193)

            Ao enfrentar situações adversas em que o padecer sofrível é intenso, Riobaldo pensa em deixar a jagunçagem. Porém, o amor é mais forte e ele continua para ajudar Diadorim em sua vingança contra Hermógenes, o assassino do pai. “Para poder matar Hermógenes era que eu tinha conhecido Diadorim, e gostado dele, e seguido essas malaventuranças, por toda parte?”(ROSA, 2006, p. 541). Por vezes, Riobaldo questiona a sua condição de jagunço e a razão dos atos praticados pelo bando:
e eu não tardei no meu querer: lá eu não podia mais ficar. Donde eu tinha vindo para ali, e por que causa, e, sem paga de prêço, me sujeitava àquilo? Eu ia-me embora. Tinha de ir embora. Estava arriscando minha vida, estragando minha mocidade, Sem rumo. Só Diadorim. Quem era assim para mim Diadorim? Não era, aquela ocasião, pelo próprio dito de estar perto dele, de conversar e mais ver.  Mas era por não aguentar o ser: se de repente tivesse de ficar  separado dele, pelo nunca mais. (ROSA, 2006 p. 181)
            Na primeira vez em que foi nomeado Chefe, ele recusa, declarando que não sabe dar ordens, apenas obedecer. “_ Não posso, não quero! Digo definitivo! Sou de ser e executar, não me ajusto de produzir ordens...” (ROSA, 2006 p. 81). Sua intenção era apenas ficar ao lado de Diadorim. Por isso, ele o procura  com o olhar,  busca sua presença:
desistir de Diadorim, foi o que falei? Digo, desdigo. Pode até ser, por meu desmazelo de contar, o senhor esteja crendo que, no arrancho do acampo, eu pouco visse Diadorim, amizade nossa padecesse de descuido ou míngua. O engano. Tudo em contra. Diadorim e eu, a gente parava em som de voz e alcance dos olhos, constante um não muito longe do outro. De manhã à noite, a afeição nossa era duma cor e duma peça. Diadorim, sempre atencioso, esmarte, correto em seu bom proceder. Tão certo de si, ele repousava qualquer mau ânimo. (ROSA, 2006 p. 186).
            Riobaldo tenta prendê-lo e pede para irem embora juntos para bem longe. Contudo Diadorim recusa: ele quer vingar a morte do pai. Sente-se preso a essa promessa e Riobaldo não tem outra saída senão ajudá-lo:
– Por vingar a morte de Joca Ramiro, vou, e vou e faço, de consoante devo. Só, e Deus que me passe por esta, que indo vou não  com o meu coração que bate agora presente, mas com o coração de tempo passado...E digo...
– Por teu pai vou, amigo, mano-oh-mano. Vingar Joca Ramiro... (ROSA, 2006, p. 533- 65).

          Até o desfecho, todos os fatos permeiam-se com a presença ou a lembrança de Diadorim. Todas as emoções de Riobaldo têm como premissa esse amor,  ainda que proibido, forte, profundo a ponto de nortear o caminho de Riobaldo. Ele  se perguntava:  “De que jeito eu podia amar um homem, meu de natureza igual, macho em suas roupas e suas armas, espalhado rústico em suas ações o fato?!” (ROSA, 2006, p. 495) “Que vontade era de pôr meus dedos de leve, o leve, nos meigos olhos dele.” (ROSA, 2006, p. 46)  “[...]e quase uma ânsia de sentir o cheiro do corpo dele, dos braços.” (ROSA, 2006, p. 147) “Diadorim é minha neblina,” (ROSA, 2006, p. 24) “[...] e eu gosta dele, gostava, gostava... (ROSA, 2006, p. 156)
meu corpo gostava de Diadorim. Estendi a mão, para suas formas; mas, quando ia, bobamente, ele me olhou – os olhos dele não me deixaram. Diadorim sério, testalto. Tive um gelo. Só os olhos negavam. Vi – ele mesmo não percebeu nada. Mas, nem eu; eu tinha percebido? Eu estava me sabendo? Meu corpo gostava do corpo dele, na sala do teatro. Maiormente. As tristezas ao redor de nós, como quando carrega para toda a chuva. (ROSA, 2006 p. 182).

Por isso o desespero com o desenlace. A dor diante da verdade.
eu conheci! Como em todo o tempo antes eu não contei ao senhor – e mercê peço: - mas para o senhor divulgar comigo, a par, justo o travo de tanto segredo, sabendo somente no átimo  em que eu também soube ...Que Diadorim era o corpo de uma mulher perfeita... Estarreci. A dôr não pode mais do que a surpresa. A côice d’arma, de coronha. [...] Foi assim. Eu tinha me debruçado na janela para poder não presenciar o mundo. (ROSA, 2006, p. 599).
           Ao final, em uma fala que transcende a emoção, numa das mais belas páginas do livro, o narrador exclama: “Ela tinha amor em mim”.(ROSA, 2006, p. 600) E como se a tristeza aumentasse com  o final do dia: “E aquela era a hora do mais tarde. O céu vem se abaixando.” (ROSA, 2006, p. 600) E o fim da história:
narrei ao senhor. No que narrei, o senhor talvez até ache mais do que eu a minha verdade. Fim do que foi.
Aqui a estória se acabou.
Aqui a estória se acaba.
Aqui a estória acabada. ( ROSA, 2006, p.600).

            Todos os acontecimentos que retomavam  o sentimento dos dois, numa gradação de emoções, culminaram com o ato final da morte de Diadorim. A partir daí o que se sucede são apenas as conclusões:
como se, tudo revendo, refazendo, eu pudesse receber  outra vez o que não tinha tido, repor Diadorim em minha vida? O que eu pensei o pobre de mim. Eu queria me abraçar com uma serrania? Mas, nessa parte, de muito mal me lembro, pelo revés em  minha saúde. (ROSA, 2006 p. 601).
            Após a morte de Diadorim, em duelo travado à faca com Hermógenes, Riobaldo transforma-se em outro homem. Depois de passar por um problema de saúde, ele é procurado por Otacília que quer se casar com ele. Riobaldo pede para que ela espere, pois,  tem que esquecer aquele outro amor que  foi tudo na sua vida.
            Depois de algum tempo, Riobaldo casa-se com Otacília e passa a ter  uma vida comum de fazendeiro, nas fazendas que herdou do padrinho e “sem pequenos dessossegos, estou de range rede. E me inventei neste gosto, de especular idéia. (ROSA, 2006, p. 10) Talvez para entender o que lhe aconteceu. Nesse devir percebe-se a gratidão à  esposa, Otacília. Mas ao falar dela usa uma linguagem comum. Aquela linguagem que usava para se referir à Diadorim ficou no passado com todo o encanto daquele amor que não acabou: ficou  apenas “envolto em neblina”.
Diadorim também, que dos claros rumos me dividia. Vinha a boa vingança, alegrias dele, se calando. Vingar, digo ao senhor: é lamber frio, o que o outro cozinhou quente demais. O demônio diz mil. Esse! Vige mas não rege... Qual é o caminho certo da gente? Nem pra frente nem pra trás: só para cima. Ou parar curto quieto. Feito os bichos fazem. Os bichos estão só é muito esperando? Mas, quem é que sabe como? Viver?... O senhor já sabe: viver é etcétera...Diadorim alegre, e eu não. Transato no meio da lua. Eu peguei aquela escuridão. E de manhã, os pássaros, que bem-me-viam todo o tal tempo. Gostava de Diadorim, dum jeito condenado; nem pensava mais que gostava, mas aí já sabia que gostava em sempre. Ôi suindara! – linda cor... Ah, Diadorim...(ROSA, 2006 pp. 94- 91).










           

sábado, 24 de maio de 2014

"A POÉTICA ROSEANA" Capítulo 2 subcapítulo 2

2.2 Contexto Histórico


O diabo na rua, no meio do redemunho...
João Guimarães Rosa


       A obra Grande Sertão: Veredas, lançada em 1956, pertence à escola literária denominada Terceira Geração do Modernismo (1945).
            Essa escola, conhecida como a Geração de 45, apresenta, entre as suas principais características, o retrocesso  em relação às conquistas da 1ª geração de 1922, quando teve início o Modernismo no Brasil. A volta ao passado traz uma revalorização do rigor extremo na rima, na métrica, além da presença  do vocabulário erudito e das referências mitológicas. Além disso, essa geração retoma o passadismo e o academicismo e  a  introdução de uma nova cultura internacional nas Letras Brasileiras, segundo Emília Amaral¹ (2003, et al) .
            Na Literatura, surge João Guimarães Rosa apresentando uma obra singular com uma narrativa privilegiando o regionalismo. Entre outros trabalhos destaca-se o romance Grande Sertão: Veredas.
            O ano de 1945 foi de efervescência no plano político, no Brasil, com a  deposição de Getúlio Vargas e o início de um novo período político-social em nosso país. As mudanças se sucedem, nessa área, até o ano de 1964 quando ocorre o Golpe Militar. Adotando modelos políticos populistas, o Brasil tenta encontrar os rumos de seu desenvolvimento o que somente acontece depois da ditadura militar com o  modelo econômico assentado nas multinacionais e no capital nacional.
            Em um cenário em que o Brasil começava a projetar-se mundialmente, uma vez que já havia certa construção da identidade brasileira, na área cultural, promovida pelas  correntes  modernistas, no plano da economia o Brasil ainda era refém de capital estrangeiro. O país buscava a independência através do desenvolvimento econômico e da nacionalização das jazidas minerais.
            Enquanto o País proclamava um discurso desenvolvimentista, Guimarães Rosa através de sua linguagem inovadora se volta para falar dos problemas do sertão e dos seus representantes. O autor dá voz a Riobaldo para desvendar o mundo psicológico e concreto do sertanejo e para dar uma dimensão universal, ou seja, o que elas têm em comum com o restante da humanidade.
            Eleger um grupo social basicamente esquecido e abandonado pelo contexto sociocultural  e político do restante  do País, coloca Guimarães Rosa na contramão da Literatura Brasileira que defendia a modernização do Brasil. 
            Após os eventos literários de 1922, quando foi instaurado o Modernismo, houve uma valorização do que acontecia na vida do País, em todos os aspectos,  no eixo Rio - São Paulo. Até os dias de hoje todas as vanguardas culturais são apresentadas e mais valorizadas a partir dessa  parte do país. E não só os assuntos relacionados às artes em geral. É sabido por todos o inchaço populacional devido à migração e imigração pela crença de que o desenvolvimento econômico e social se restringe, dadas as possibilidades existentes, àqueles  dois estados .
             Deve-se ressaltar-se que muito do que é mostrado, na obra Grande Sertão: Veredas, no que diz respeito à linguagem, na verdade, não são neologismos, mas arcaísmos próprios da região sertaneja e dos  mineiros em geral, desconhecido pelo restante do pais. O que demonstra o ostracismo sofrido por esse grupo sociogeográfico. Além da convicção de que somente o que é produzido naquele eixo  representa a identidade  nacional
            Guimarães Rosa era  mineiro e  certamente aquela situação de descaso por parte das autoridades, da elite nacional e dos intelectuais, quanto à sua região, o incomodava e adrede ele buscou através de sua obra, retratar uma realidade bem diversa do que era apresentado até então, na Literatura Nacional.
            Nunca explicitou isso, claramente. Talvez pela sua polidez e por não gostar de se pronunciar em público. Contudo, pode-se deduzir diante  do  amor declarado pela sua gente. O escritor era um homem do mundo, conheceu vários países durante seu trabalho como diplomata. Como um poliglota falava mais de uma dezena de línguas. Um erudito, no entanto, privilegiou as coisas simples, conhecedor que era  da  essência rica em sentidos,  do refinamento elaborado que configura   o espírito, a personalidade  e o jeito de ser  do mineiro.





[1]As informações contidas nesse capítulo referentes ao contexto histórico da publicação da obra Grande Sertão:Veredas, foram extraídas do livro didático “Novas Palavras” de   Português, Ensino Médio de autoria de Emília Amaral, Mauro Ferreira, Ricardo Leite e Severino Antônio e encontra-se devidamente referenciado em REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS do presente trabalho.

O Amor...o reencontro

Durante anos esperara por aquele momento e agora ele estava ali, a poucos metros. O grande amor de sua vida, aquele por quem ela tanto chorou. Foi ele que povoou todos os seus sonhos pela vida afora, e foi por causa dele, com certeza, que seus dois casamentos não deram certo. É que ela ficava esperando que, talvez um dia, ele fosse aparecer, montado no cavalo branco, com aquele sorriso que só ele tinha. (Pelo menos para ela, o sorriso era o mais lindo.) E eles seriam muito felizes, em viagens de transatlântico pelas ilhas gregas, ou vendo o pôr do sol, de mãos dadas, em um sitiozinho, por aqui mesmo. E na cabeça dela, isso talvez pudesse acontecer ali agora, quando ela estava prestes a se encontrar com ele depois de tantos anos. Coincidentemente, aquele era o seu caminho de todos os dias. Só pode ser coisa do destino, ela conclui. O trabalho dela era ali, naquela rua, portanto, passava na ida e na volta bem defronte à casa dele. E todas as vezes lançava um olhar eloquente, embora disfarçado - afinal ele casara-se - na esperança de vê-lo e assim reviver tudo aquilo. E agora ele estava ali, prosaicamente, varrendo a porta da casa. Como num sonho ela vê, em um átimo tudo o que viveu com ele. O namoro de adolescente, as primeiras emoções... E o amor que estava lá atrás volta, com mais força até, revirando tudo. Um turbilhão de sensações a sacode inteirinha e ela só pensa em correr até ele, se atirar nesse sentimento e tomar da vida o que não teve antes. Mas existe  a Razão. Em conflito ela se lembra dos filhos. Como fazer isso com eles? Num impulso ela pensa em dar meia volta, rodear o quarteirão e passar pela rua debaixo. Tinha que preparar o almoço para os filhos naquele horário ou atrasaria todo mundo. Mas ela precisa tentar, precisa daquela chance. Depois de tanto tempo, tinha que ser feliz! Certamente, os filhos entenderiam. E ela continuou a caminhar com as mãos suando, as pernas tremendo. Era um passo para frente e dois para trás. Como, de repente, esse caminho se tornou tão pequeno?! Envergonha-se ao reconhecer que não é mais aquela mocinha. Envelheceu, não há mais curvas, está pesada. Os peitos murchos, caídos. Amamentara os quatro. - E agora, o que fazer? A roupa, uma ajeitada, rápida, na roupa. As unhas, ele não vai nem olhar as unhas. Pelo menos estão limpas, lixadas. Por que não passei um batom quando saí?! Devia ter imaginado! Ela quase ri de si mesma, como imaginar um encontro desses?! E os cabelos?! Nenhuma escova, nada, sempre presos, achava mais prático. Ela vai lá no fundo e resgata: ele gostava de cabelos compridos! Rapidamente, solta os cabelos e penteia-os com os dedos. Como em câmera lenta ela dá os últimos passos que a separam do príncipe encantado de sua vida, da própria felicidade. O que vou dizer? Sim – “Nada mudou, não sei viver sem você” – Como na música do Roberto. Meu Deus é agora! Ele vai me ver, vai me abraçar, vamos ficar juntos e sermos felizes para sempre. Ela nem pensa no detalhe importante que é a mulher dele, com quem está casado pela lei dos homens e da Igreja. Afinal, quem se importa com isso hoje em dia? E ela passa e ele nem levanta a cabeça. Continua a varrer a porta da casa, naturalmente ajudando a esposa nos afazeres. Consegue reparar, com o canto dos olhos, os cabelos brancos, a pele do rosto enrugada, já curvado. Nem lembra aquele amor do passado. Constata que, também para ele, o tempo passou. O que é um consolo. Para na esquina para se recompor. Melhor assim, pensa. Ia dar muitos problemas. Apressa o passo, afinal o caminho é longo e o almoço está esperando. Pensa com carinho nos filhos, vive para eles. A única coisa boa que restou do traste do segundo marido. Quanto a esse amor, bem, ela sepulta de vez. Guarda as lembranças numa caixa lá no fundo da memória. Fica indecisa por um tempo, mas resolve não jogar a chave fora. É tão bom lembrar... “Tem coisas que a gente não tira do coração...” E talvez, quem sabe, um dia...

                                                                                                                                           Lécia Freitas

sexta-feira, 23 de maio de 2014

O FILME "NELL" - TRABALHO SOBRE LINGUÍSTICA

INTRODUÇÃO

      No estudo do filme “Nell”, é possível analisar a importância do conhecimento do meio linguistico para a comunicação humana eficaz. Nell, a protagonista, com sua mãe e uma irmã gêmea, falecida ainda criança, vivem isoladas do mundo real. A mãe apresenta problemas de articulação da fala, e por  ser o único contato social de Nell, é a referência na aquisição da própria linguagem, o que gera um dialeto próprio e de difícil entendimento.
Nell é descoberta pelo médico, Dr. Lovell, que se interessa pelo seu caso. Com o passar do tempo, eles conseguem se comunicar e a interação de Nell com outras pessoas possibilita uma comunicação cada vez melhor.
    As autoridades responsáveis queriam interná-la em um hospital por considerá-la dependente e incapaz de se cuidar sozinha. Porém, o Juiz permitiu um prazo de três meses, para que o médico, Dr. Lovell, e sua psicóloga, Drª Paula, que cuidavam do caso, observassem Nell e avaliassem suas condições de sobrevivência. O tempo foi suficiente para que eles reconhecessem as capacidades de Nell e lutaram por isso, mas a Justiça insistia no julgamento.
      Durante a audiência, no tribunal, Nell consegue através da interpretação de seu dialeto, pelo Dr. Lovell, convencer a todos de sua autonomia e maturidade.
Nell adquire, portanto, o direito de morar sozinha em sua casa – na floresta – onde sempre viveu feliz.

 RESUMO

O FILME “NELL”

       O filme trata de uma mulher, de cerca de trinta anos, que foi criada na floresta, longe de toda sociedade e civilização, tendo contato somente com sua mãe e sua irmã gêmea, falecida entre seis e dez anos de idade. Provavelmente, a mãe de Nell sofrera um derrame e, por isso, tinha uma fala singular. Escondia-se do mundo, na floresta, por ter sido vítima de um estupro e não tinha parentes para lhe amparar. Sendo assim, Nell viveu uma vida simples, embora fosse proprietária das terras onde morava. Possuía um dialeto próprio, inspirado nas dificuldades das fala da mãe e da própria vivência.
     Certo dia, o rapaz que fazia a entrega de mantimentos para a Sra. Kelty, mãe de Nell, encontrou-a morta no chão da cabana. Ele voltou correndo para a cidade e avisou a polícia. O Dr. Lovell, o médico encarregado de constatar a morte da senhora, ao circular pela cabana, encontrou Nell que ficou muito assustada.
A partir daí, o caso de Nell tornou-se curioso e interessante para o médico e para os outros a quem ele pediu ajuda. O que fazer com Nell? Ela era capaz de viver sozinha na floresta? Deveria ser internada em um hospital? Seria autista, deficiente mental, louca? A trama do filme gira em torno dessa decisão.
       As autoridades queriam interná-la, mas o Dr. Lovell insistiu na defesa de Nell conseguindo um prazo de três meses em que ele e a Drª Paula (psicóloga) passaram a observar o comportamento de Nell no seu cotidiano. Inicialmente suas opiniões eram antagônicas, mas durante a observação tentaram um consenso. A  aproximação de Nell e a descoberta do que acontecera realmente com a jovem, provocou no médico e na psicóloga uma reflexão sobre as diferentes possibilidades que poderiam ter em suas vidas.
Durante a audiência em que as autoridades decidiram seu destino, depois de muito tempo em silencio, pois estava com saudades da floresta, Nell resolveu falar. Aospucos com a ajuda do Dr. Lovell que traduzia seu dialeto, ela explicou ao tribunal que a floresta era o seu lugar, sua vida era simples e solitária, porém era feliz e se sentia protegida. Nesse momento fica evidente sua desenvoltura, autonomia e maturidade. Nell consegue convencer o juiz e retorna ao lar.
      Na última cena, Nell está em sua casa, no meio da floresta, comemorando seu aniversário, com os novos amigos: o policial com a esposa, o Dr. Lovell com a esposa, Drª Paula, e sua filhinha Ruthie.

CONCLUSÃO

       Nesse trabalho observa-se a importância de compartilhar um código para que seja eficaz a comunicação entre os falantes. A linguagem de Nell é decisiva nos acontecimentos apresentados no filme. Ela adquiriu linguagem própria a partir do contato com sua mãe que sofria uma espécie de paralisia facial. Assim, Nell reproduzia as mesmas dificuldades que a mãe tinha para falar, mesmo não tendo paralisia facial. Nesse sentido, podem ser comprovadas as teorias linguísticas de aquisição da fala pelo contato social.
     Ao interagir com o médico e a psicóloga, inicialmente, apresentou sérios problemas de comunicação verbal; entretanto, à medida que aconteciam as interações, ela passa a acumular conhecimentos linguísticos, ampliando seu léxico, restrito até então por ter se comunicado apenas com sua mãe.
     Outra questão apresentada no filme é a não civilização de Nell, um comportamento distinto e uma falta de sociabilidade; enfim, Nell não possuía os requisitos padronizados para se viver em sociedade. Deve-se considerar, no entanto, os rituais que ela praticava, como cuidar do corpo da mãe já morta, o retorno ao local onde sua irmã estava sepultada e os banhos de rio à noite. Esses hábitos sugerem o condicionamento social vigente que, mesmo isolada, mantinha a tradição cultural de um grupo, não sendo, portanto, uma selvagem. No desenrolar da trama, evidencia-se uma forma de comunicação maior, universal, a linguagem humana que envolve todos os sentimentos e tudo que está em torno do homem.

4. BIBLIOGRAFIA

Ficha técnica Nell (Nell)
País/Ano de produção: EUA,1994
Duração/Gênero: 115min., Drama
Direção de Michael Apted
Roteiro de Willian Nicholson e Mark Handley
Elenco:  Jodie Foster, Liam Neeson, Miranda Richardson, Robin Mullins, Richard Libertini, Nick Sersi
Disponível em:
<http://www.ebah.com.br/resumo-filme-nell-doc-a33377.html>
Acesso em: 16 de maio de 2010 

Trabalho apresentado para avaliação do rendimento da disciplina Linguistica do 1º Período do Curso de Letras - FAPAM - Professora Cristina Mara
Crédito: Muito Bem!

                                                                                                                  Lécia Freitas


quinta-feira, 22 de maio de 2014

"A POÉTICA ROSEANA" Capítulo 1

INTRODUÇÃO

Desde o seu lançamento, o livro Grande Sertão: Veredas tem sido objeto de estudo não só por ter se tornado um clássico da Literatura Brasileira, mas também pela linguagem inovadora, quase hermética, pela temática que transforma a obra em universal e pela composição narrativa em que predomina a oralidade. No livro, Riobaldo, o narrador-personagem, conta a sua vida a um senhor que não se manifesta, perceptível, apenas pelas marcas que a personagem deixa em sua fala.
Durante os estudos realizados para a elaboração da presente pesquisa, foi constatado o quanto a história, escrita por João Guimarães Rosa, tem fascinado e instigado os apaixonados pela Literatura e pela Língua Portuguesa. Assim, são muitas as tentativas de desvendar os sentimentos que guiaram Riobaldo nos caminhos percorridos  durante a sua travessia e como ele os expressou.
Não é objetivo nessa pesquisa elucidar os diversos temas apresentados pelo autor. De uma profundidade impressionante, a obra Grande Sertão: Vereda possui como pano de fundo um momento histórico social onde o autor apresenta o sertão em um plano mítico-filosófico e suas personagens refiguram o mundo em seus sentimentos e ações, de onde advém a universalidade da obra. Em alguns momentos, entretanto, para um melhor entendimento, será necessário um desvio do foco principal da pesquisa, que é a linguagem poética na obra.
O livro apresenta uma intensa fala poética em que o autor retrata o Amor como um dos temas universais, para isso, recria a linguagem, expressando esse sentimento envolto em um texto que se destaca pela riqueza de sua literariedade. Guimarães Rosa compõe esse amor de um jeito forte, profundo e ao mesmo tempo  terno,  doce, escrevendo prosa como se fizesse poesia:
gostava de Diadorim, dum jeito condenado; nem pensava mais que gostava, mas daí sabia que já gostava em sempre. (Rosa, 2006, p.94). Mas eu gostava dele, dia mais dia mais gostava. Diga o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego. Era ele estar por longe, e eu só nele pensava. (ROSA, 2006, p. 146).



 
              A análise da linguagem poderia ser feita a partir de qualquer um dos vários elementos estruturais e poéticos da obra. No entanto, a escolha pela expressividade do amor entre os personagens principais se deu pela hipótese de que esse seja o tema principal do livro. Isso porque,  tão logo ocorre a morte de Diadorim, Riobaldo encerra a passagem da seguinte forma:
e aquela era a hora do mais tarde. O céu vem abaixando. Narrei ao senhor. No que narrei, o senhor talvez ache até mais do que eu, a minha verdade. Fim do que foi.
Aqui a estória se acabou.
Aqui, a estória acabada.
Aqui a estória acaba. (ROSA, 2006 p.600)
            Chama atenção a maneira como o autor trabalha a linguagem relacionada ao afeto. Além disso, compreende-se que não seria cabível em uma história de jagunços, entremeada de casos baseados na violência reinante no mundo do sertão e em que se questiona a existência do Demônio, a utilização de uma linguagem tão poética. Para apresentar as suas personagens, em um mundo desprovido de  ternura – o sertão –  e em que as ações e acontecimentos  são próprias desse contexto violento, bastaria uma linguagem prosaica romanesca como tantas já escritas.
            No entanto, Guimarães Rosa, como um artista, cria uma linguagem singular em que predomina a poesia através dos muitos recursos utilizados. Entende-se que essa poesia somente tem sentido por se tratar de uma obra que apresenta o amor  conduzindo as ações do protagonista e mais tarde suas reflexões dentro da  narração de sua vida.
            Deve-se ressaltar que essa obra é de uma riqueza inesgotável apresentando inúmeras possibilidades de estudo. Depreende-se que, em seu enredo, nada é casual, encontrando-se engendrados, sutilmente, os contextos pretendidos pelo autor e em seu discurso os muitos fios dialógicos de que fala Mikhail Bakhtin:
o enunciado existente, surgido de maneira significativa num determinado momento social e histórico, não pode deixar de tocar os milhares de fios dialógicos existentes, tecidos pela consciência ideológica em torno de um dado objeto de enunciação, não pode deixar de ser participante ativo do diálogo social. (BAKHTIN, 2002, p. 86).
             O que se percebe, ao longo da leitura do romance em estudo, é que Riobaldo, ao contar a sua história e reviver os acontecimentos entremeados de profundas reflexões presentes nos aforismos,  quer entender tudo o que  viveu e, por vezes, justificar suas ações.  Contudo, muito mais que isso, parece que ele quer, na verdade, falar do amor intenso que sentiu pelo companheiro de armas, Diadorim, como uma catarse, já que não pode viver esse sentimento que considerava proibido, acreditando tratar-se de um homem. Com a  morte de Diadorim e a revelação de sua
verdadeira identidade, termina a  saga de Riobaldo, uma vez que ele se tornara jagunço somente para permanecer ao lado do seu amor:
e desde que ele apareceu, moço e igual no portal, eu não podia mais, por meu próprio querer, ir me separar da companhia dele, por lei nenhuma; podia? O que entendi em mim: direito como se, no reencontrando àquela hora aquele Menino-Moço, eu tivesse acertado de encontrar, para o todo sempre, as regências de uma alguma a minha família. Sem peso e sem paz, sei, sim. Mas, assim como sendo, o amor podia vir mandado do Dê? Desminto. (ROSA, 2006 p.109).
Após a morte de Diadorim, Riobaldo abandona a vida de jagunço, casa-se com Otacília, o amor de sossego, e torna-se um fazendeiro. Ao finalizar a própria estória, ele já não utiliza a linguagem tão decantada, poética. Em seu devir, ao final, é um homem comum. O que resta é a saudade, enorme, que ele confessa:
por esses longes eu passei, com pessoa minha do meu lado, a gente se querendo bem. O senhor sabe? Já tenteou sofrido o ar que é de saudade? Diz-se que tem saudade de ideia e de coração... (ROSA, 2006, p. 27).
              Além da paixão pelo texto literário, a escolha do tema voltado para a  utilização da linguagem poética  na obra  Grande Sertão: Veredas, para expressar a relação de amor entre Riobaldo e Diadorim, surgiu após a leitura e análise do livro para a realização de um trabalho de Literatura Brasileira.  Na ocasião, foi observada a dificuldade de compreensão da obra devido ao quase hermetismo e à originalidade da linguagem. A constatação da grandiosidade da obra, já comentada por diversos estudiosos, aliou-se a essa observação. Esse estudo, portanto, pretende investigar se a linguagem utilizada pelo autor  é   configurada como um  ícone essencial para a estruturação  da temática lírico-amorosa.
         O presente estudo justifica-se por analisar a linguagem poética utilizada pelo autor para enaltecer o amor dos protagonistas e torna-se relevante no sentido de contribuir, para o aprofundamento dos estudos sobre a obra. Por meio da pesquisa, tenciona-se um entendimento da estilística do autor com a utilização da linguagem poética na construção do lirismo amoroso, na estruturação da obra.
            A pesquisa teve como objetivo geral uma análise da exploração da linguagem por Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas na abordagem lírico-amorosa. Para isso, especificamente, realizou-se uma análise da estruturação da linguagem poética da obra. Nesse sentido, foi necessário compreender os elementos da narrativa e identificar os recursos de linguagem explorados pelo autor.
            Após essa etapa, foi possível apresentar a  plurissignificação  roseana no processo de reinvenção da língua e ressaltar a prosa revestida de poesia que expande as possibilidades denotativas da palavra.
            O presente trabalho está  estruturado de forma a apresentar, na seção  inicial uma introdução que permita identificar o tema e sua problematização, os objetivos do trabalho e a sua estruturação.
            A segunda seção apresenta um resumo  da obra Grande Sertão: Veredas, da biografia do autor e do contexto histórico em que ela foi escrita. Além disso, apresenta, também, uma análise  sobre o que se considera o fio condutor da mesma obra.
            A terceira seção  trata das perspectivas teóricas onde são reveladas as obras que foram estudadas para o embasamento  teórico  na elaboração da presente pesquisa. Nessa seção, apresentou-se uma breve explanação sobre as teorias de Saussurre. Essa introdução tornou-se necessária para um melhor aproveitamento dos estudos sobre a linguagem, que é o foco principal da pesquisa. Nesse sentido, elaborou-se uma concisa conceituação acerca do assunto.
            A quarta seção contempla a metodologia utilizada para a elaboração do presente trabalho
            Em seguida, na quinta seção, analisou-se  a linguagem da obra, a estrutura da linguagem poética e como ela se mostra em Grande Sertão: Veredas. Assinala-se que a metáfora, como recurso de linguagem, foi analisada nessa parte por destacar-se como elemento poético na obra em estudo.  Prosseguindo, há  uma análise dos elementos da narrativa e como eles se organizam em Grande Sertão: Veredas. Essa abordagem torna-se relevante ao considerar-se que esses elementos destacam-se no aspecto poético em estudo, uma vez que o autor faz uso deles  de uma forma que foge à tradicional, notadamente, com o intuito de singularizar a obra. Finalizando a seção, mostram-se os recursos de linguagem utilizados pelo autor na composição da obra sendo de extrema importância na estruturação da linguagem poética em que a obra, em estudo, se configura.
          A sexta seção exibe a prosa revestida em poesia em Grande Sertão: Veredas,  por considerar-se ser essa forma a mais expressiva e condizente para a confirmação do tema proposto para o presente trabalho.
            Por fim, são apresentadas, na sétima seção, as conclusões obtidas no desenvolvimento da pesquisa, considerações sobre o tema e as possíveis contribuições  para futuros trabalhos sobre a obra.

                                                                                                                                           Lécia Freitas














"A POÉTICA ROSEANA"

                                                               RESUMO:

            Esta pesquisa tem por objetivo analisar  a estruturação da linguagem poética na construção de Grande Sertão: Veredas e confirmar sua contribuição na expressividade do amor dos protagonistas. Pretende-se que a relevância do trabalho configure-se em acréscimo à fortuna crítica da obra.  Para isso, apresentou-se uma concisão da história, da biografia  do autor, do contexto histórico da obra  e do que se entende como fio condutor do enredo. Em seguida, por meio  de uma pesquisa de cunho bibliográfico, buscou-se embasamento teórico em autores e estudiosos do assunto como  Mikhail Bakhtin, Roland Barthes e Jean Cohen entre outros. O estudo desses teóricos possibilitou a análise da estrutura composicional da linguagem, estilização  e recursos de linguagem explorados pelo autor,  os quais  conferem à obra  a característica poética.  Para a compreensão formal da obra, observaram-se, minuciosamente, os elementos da narrativa. Ao final, percebe-se que a plurissignificação e a estilística são preponderantes no processo roseano de reinvenção da língua. O resultado comprova que a prosa revestida de poesia contribui para a expressividade do amor entre os protagonistas. 

Palavras-chaves: linguagem poética, estilística, reinvenção, expressividade.

                                                                                                                              Lécia Freitas










































domingo, 18 de maio de 2014

"A POÉTICA ROSEANA" Capítulo 2, subcapítulo 1

2.1 O Poeta do Sertão

      (O Autor)

 

Minha biografia, sobretudo minha biografia literária, não deveria ser crucificada em anos. As aventuras não têm tempo, não têm princípio nem fim. E meus livros são aventuras: para mim, são minha maior aventura. Es­crevendo, descubro sempre um novo pedaço de infinito. Vivo no in­finito; o momento não conta. Vou lhe revelar um segredo: creio já ter vivido uma vez. Nesta vida, também fui brasileiro e me chamava João Guimarães Rosa. Quando escrevo, repito o que vivi antes. E para estas duas vidas um léxico apenas não me é suficiente.
                                 João Guimarães Rosa


            Apresentar a biografia de João Guimarães Rosa constitui um processo minucioso de pesquisa.  A vida desse escritor é uma sucessão de acontecimentos que não poderiam deixar de ser citados. No entanto, é imperioso que se faça uma filtração devido à enorme quantidade de informações existentes. Para isso, selecionaram-se os dados em dois sítios eletrônicos, devidamente citados nas referências bibliográficas.  A dificuldade está em escolher e alinhavar de acordo com
a própria relevância e de interesse para  essa pesquisa. A história desse grande escritor, médico e diplomata, contada por  Elfi Küerten Fenske começa assim:
Joãozito, como era chamado pela família, nasce em 27 de junho de 1908, com sobrenome de poeta: Rosa, filho de Florduardo. Nasce no mesmo ano em que morre Machado de Assis, numa cidade chamada Cordisburgo, que quer dizer o “burgo do coração” (FENSKE, 2013).
            Sobre sua origem, Guimarães Rosa declara a seu tradutor alemão, Günter Lorenz, em uma entrevista:
nasci em Cordisburgo, uma cidadezinha não muito interessante, mas para mim, sim, de muita importância. Além disso, em Minas Gerais; sou mineiro. E isto sim é o importante, pois quando escrevo sempre me sinto transportado para esse mundo: Cordisburgo. (ROSA apud  FENSKE, 2013).

            Guimarães Rosa gostava de ficar sozinho. Nesses momentos, estudava Geografia e brincava colecionando insetos. Desde pequeno, lia muito. Certa vez, disse que, quando crescesse, escreveria “um pequeno tratado para meninos quietos”:
mas tempo bom de verdade, só começou com a conquista de algum isolamento, com a segurança de poder fechar-me num quarto e trancar a porta. Deitar no chão e imaginar estórias, poemas, romances, botando todo mundo conhecido como personagem, misturando as melhores coisas vistas e ouvidas... (ROSA apud FENSKE, 2013).

            Desde que sai de seu vilarejo natal, Cordisburgo, por volta dos 10 anos de idade, para morar com os avós e assim estudar, em Belo Horizonte, Guimarães Rosa não para mais:
Guimarães Rosa ingressou na Faculdade de Medicina de Belo Horizonte (hoje Faculdade de Medicina da UFMG) com 17 anos incompletos. Em 1926, quando cursava o 2º ano, pronunciou, no anfiteatro da Faculdade, diante do ataúde de um estudante vitimado pela febre amarela, as palavras “As pessoas não morrem, ficam encantadas”, que, ouvidas na ocasião por seus colegas Alysson de Abreu e Ismael de Faria, seriam repetidas, 41 anos depois, quando de sua posse na Academia Brasileira de Letras. Graduou-se em 1930 e, escolhido orador da turma[1] – cujo paraninfo foi o Prof. Samuel Libânio (FENSKE, 2013).

            Durante o ano e meio em que clinicou na região de Itaguara, MG, Guimarães Rosa voltou suas atenções para os mais humildes. Suas ações iam além dos cuidados médicos. Isso  é relatado por  Luiz Otávio Savassi Rocha, pesquisador da obra de Guimarães Rosa:
com raizeiros e receitadores, a ponto de se tornar grande amigo de um deles, de nome Manoel Rodrigues de Carvalho (seu Nequinha), que morava
num grotão enfurnado entre morros, num lugar conhecido por Sarandi. Kardecista, seu Nequinha parece ter inspirado a criação do personagem Compadre Quelemém, espécie de oráculo sertanejo em Grande sertão: veredas. Segundo o Prof. Paulo Rónai (comunicação pessoal), Quelemém é a transcrição exata do nome próprio Kelemen, forma húngara do antropônimo Clemente (do latim clemensentis). Como se vê, o nome faz jus ao personagem: “Homem de mansa lei, coração tão branco e grosso de bom, que mesmo pessoa muito alegre ou muito triste gosta de poder conversar com ele”. (ROCHA, 2002, p.249 – 256).

 O escritor foi casado com Lígia Cabral Penna e pai de duas filhas, Vilma e Agnes.  Em 1938  é  nomeado  Cônsul  Adjunto em Hamburgo e  por causa disso vai morar na Europa onde conhece Aracy Moebius de Carvalho² (Ara) que será sua segunda mulher.
                No tempo em que esteve na Alemanha, aproveita para conhecer vários países europeus. Durante o período da ll Guerra Mundial, ajudou D. Aracy, então sua esposa e chefe da seção de passaportes do consulado, a proteger e salvar a vida de muitos judeus perseguidos pelo Nazismo³, fornecendo-lhes vistos de entrada para o Brasil, sem mencionar a religião do portador. Essa atitude do casal teve o reconhecimento merecido conforme informação colhida em um sitio eletrônico cuja autoria é de Elfi Küerten Fenske:
o  nome do casal Guimarães Rosa foi dado a um bosque ao longo das encostas de Jerusalém, em 1985(4). Segundo D. Aracy, que compareceu a Israel por ocasião da homenagem, seu marido sempre se absteve de comentar o assunto já que tinha muito pudor de falar de si mesmo. Apenas dizia: "Se eu não lhes der o visto, vão acabar morrendo; e aí vou ter um peso em minha consciência." (FENSKE, 2013).

            Guimarães Rosa não gostava de dar entrevistas, segundo suas palavras a Lorenz: “Eu certamente não teria aceito seu convite se esperasse uma entrevista. As entrevistas são trocas de palavras em que um formula ao outro perguntas cujas respostas já conhece de antemão.” Das conversas  e poucas entrevistas que ficaram gravadas, pode-se extrair  revelações sobre  o que o autor  pensava e sentia. A citação extensa justifica-se pela  beleza do conteúdo e por entender-se que é uma maneira de  conhecer um pouco das  ideias e  personalidade desse grande escritor:
- João, como é que você, que fala com essa absurda simplicidade, usa todo aquele “rebuscamento” para criar um conto?
- Você conhece os meus cadernos, não conhece? Quando eu saio montado num cavalo, por minha Minas Gerais, vou tomando nota de coisas. O caderno fica impregnado de sangue de boi, suor de cavalo, folha machucada. Cada pássaro que voa, cada espécie, tem vôo diferente. Quero descobrir o que caracteriza o vôo de cada pássaro, em cada momento. Não há nada igual neste mundo. Não quero palavra, mas coisa, movimento, vôo.
Fale de seu pai.
- Papai é um homem muito rigoroso. Quando eu era menino me levava pra caçar com ele. Quando eu avistava caça, gritava por papai. Ele vinha correndo e a caça fugia. Um dia papai desconfiou que eu gritava de propósito para que ele não pudesse matar os bichos e nunca mais me levou. Papai era comerciante, está velhinho hoje. Quando eu era garoto pensava que era rico. Lá, em Cordisburgo... eu era. Mas quando precisei ser rico ... cadê?
- Você não acha que seria bom, para aproximar sua obra do grande público, para que o público venha conhecer melhor Guimarães Rosa gente, falar mais de você?
- Não. Quero que a minha obra se imponha sozinha. O livro deve ser vendido como toucinho, manteiga. Nunca quis ajuda de pessoas amigas para os meus livros. Deve ser coisa impessoal. A prova da arte é vender-se por si. Eu não crio facilidade, crio dificuldade. Só acredito no eterno. Não quero facilidades. Por isso meu livro “Sagarana” começa com o conto mais difícil. Se eu pudesse só poria, nas capas, as críticas que escrevessem mal de meus livros, para dificultar ainda mais. Tenho tanta confiança de que a minha obra vai crescer com o tempo que sua divulgação não me preocupa.
A conversa muda de rumo:
- Quando vim para a cidade grande, respirei ao ver que a gente não conhece o condutor nem o vizinho. A cidade grande desumaniza... mas depois, humaniza num plano mais alto. Detesto o cotidiano. Pra mim é um suplício comer, fazer a barba, vestir. O todo-dia é um inferno. Não leio jornal na hora. Jornal é angústia concentrada. Só leio matutino à noite... pra dar distância. Vivo para uma coisa maior, um vir-a-ser de uma natureza diferente. A arte permite isso. Permite essa transformação. Por mim os livros não deviam nem trazer nome do autor. O autor devia ser um mistério.
- Estamos quase chegando e eu pergunto cretinamente: - Por que você só usa gravata borboleta?
- Não é pergunta de entrevista, é?
- Não. É que eu acho que a gravata borboleta define as pessoas.
- É porque nunca aprendi a dar laço nas gravatas comuns. Acho esta mais fácil.
 Paro o carro, enquanto Rosa termina um pensamento de algo discutido antes:
- Vejo o ser humano como rascunho do que vai ser.
Ele salta e se despede:
- Desculpe, Bloch. Não fique decepcionado comigo, mas eu não dou entrevista. Você compreende, não é? Não posso magoar os outros.
E fecha a porta do carro, enquanto lhe grito: - E o Brasil, hem?
- O Brasil, como?
- Você não está sofrendo com as surras que estamos levando na Europa em futebol?
- Eu não leio as derrotas do Brasil. ("Você sabe que eu fui center-half no time do meu colégio?")
E ao se afastar: - Só leio jornal quando o Brasil ganha.(5)

            Guimarães Rosa sonhava em entrar para a Academia Brasileira de Letras. Dizia que precisava provar para sua mãe que era um escritor de verdade e porque não podia negar a glória acadêmica à sua pequena cidade, Cordisburgo. Tentou por duas vezes, até que consegui. Em seu sitio eletrônico, Arnaldo Nogueira Junior informa que:
em 1963 candidata-se, pela segunda vez, à Academia Brasileira de Letras, na vaga de João Neves da Fontoura, e visita acadêmicos, em campanha eleitoral, firmemente decidido a obter vitória. É eleito, em 08 de agosto, por unanimidade, membro da Academia Brasileira de Letras. Misteriosamente, começa a adiar, sine die, a cerimônia de posse.  Após quatro anos de adiamento, reflexo do medo que sentia da emoção que o momento lhe causaria, resolve assumir a cadeira na ABL.” – A Academia é muito para mim. Sou tão pequeno como a cidade em que nasci”-  Ainda que risse do pressentimento, afirmou no discurso de posse: "...a gente morre é para provar que viveu." O escritor pronuncia  seu discurso de posse  por 1 hora e meia com a voz embargada.  Parece pressentir que algo de mal lhe aconteceria. Com efeito, três dias depois, em 19 de novembro de 1967, ele morreria subitamente em seu apartamento em Copacabana, sozinho (a esposa fora à missa), mal tendo tempo de chamar por socorro (NOGUEIRA JUNIOR, 2013).
            Embora tenha começado a publicar aos 38 anos, com uma bibliografia considerada pequena, Guimarães Rosa conseguiu com sua arte em palavrear, um lugar de destaque na Literatura Brasileira.  Esse grande escritor, possuidor de qualidades ímpares como ser humano, distinguiu os seus conterrâneos e  reverenciou a Língua Portuguesa. Alcançou o mundo...




[1]O discurso do doutorando João Guimarães Rosa – Sob o foco das lanternas evocadoras – foi publicado no “Jornal Minas Geraes”, órgão da Imprensa Oficial do Estado, em sua edição de 22 e 23 de dezembro de 1930. (ROCHA, Luiz Otávio Savassi. SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 5, n. 10, p. 249-256, 1º sem. 2002).
[2] Aracy Carvalho Guimarães Rosa recebeu do marido uma das homenagens que merecia. É dedicado a ela um dos livros fundamentais da moderna literatura brasileira: "Grande Sertão: Veredas"."A Aracy, minha mulher, Ara, pertence este livro”.
[3] Sobre esse assunto Guimarães Rosa responde a LORENZ: “E agora o que houve em Hamburgo é preciso acrescentar mais alguma coisa. Eu, o homem do sertão, não posso presenciar injustiças. No sertão, num caso desses imediatamente a gente saca o revólver, e lá isso não era possível. Precisamente por isso idealizei um estratagema di­plomático, e não foi assim tão perigoso. E agora me ocupo de pro­blemas de limites de fronteiras e por isso vivo muito mais limitado.”
[4]Em 08 de julho 1982, recebe o título de "Justa entre as Nações", concedido pelo Museu do Holocausto de Jerusalém, por salvar a vida de vários judeus, vítimas do nazismo.  É considerada o Anjo de Hamburgo, prêmio da ONG B’nai B’rith (instituição judaica).
Apenas outro brasileiro, o embaixador Luiz de Souza Dantas (1876-1954), recebeu a mesma honraria, em 2003.
A única mulher mencionada no Museu do Holocausto, em Israel e nos Estados Unidos, é importante ressaltar sua existência e exaltá-la na história do Brasil na II Guerra Mundial.(FENSKE, 2011).

[5]Guimarães Rosa, entrevistado por Pedro Bloch e Publicado na revista Manchete, nº 580, de 15/06/1963. [Extraído de: Pedro Bloch entrevista Rio de Janeiro, Bloch, Ed. 1989].