Todos os dias, indo para o trabalho, passo defronte a uma escola, que mantém diversas faixas com nomes de vestibulandos. Sempre ficava lendo e imaginando o que alguém poderia sentir numa situação dessas. Nunca pensei que eu pudesse vivenciar isso, fazer uma faculdade... Eu não penso sobre coisas que estão fora da minha realidade. No entanto, um dia alguém me avisou sobre uma bolsa de estudos, fiz a prova e passei em oitavo lugar, dezesseis no geral.
Quando entrei na sala, no primeiro dia de aula, era muito mais que um peixe fora d’água. Não sabia nem falar direito. No meio de todas aquelas pessoas sorridentes, bem arrumadas, eu me encolhia mais ainda. Mas enfrentei a situação. Em nenhum momento pensei em desistir. O curso, no início, achei muito difícil. Mas, depois fui adquirindo confiança. E hoje, posso dizer com certeza que consegui! Sou, com profundo orgulho, uma Professora. E de Português.
Devo dizer que gostei de tudo que aprendi. Até da pincelada de Matemática, deu para aprender. Foi muito bom, foi ótimo! Reconheço que as pessoas passaram a me tratar com mais respeito. No trabalho e até nas lojas, nas repartições públicas, todos parabenizam, sorriem, dizem palavras bonitas, essas coisas. Mas isso não me deixa feliz, não me comove nem me deixa agradecida. Eu aprendi muita coisa com os professores. E aprendi como buscar outras para o meu crescimento. Porém, na essência, continuo a mesma. Com o mesmo caráter, a mesma visão de mundo, a mesma acidez diante da ignorância e da injustiça. O fato de ser uma pessoa com curso superior não fez de mim um ser humano melhor, no trato com o semelhante. Esse amor que tenho por ele, e que nos difere, sendo o que importa, realmente, na classificação de bons ou maus, sempre existiu. O que ocorre é que hoje eu tenho mais facilidade e coragem para falar.
Portanto, não me alcança esse respeito, somente porque tenho um diploma. Acredito que isso se deve a qualquer um, seja estudado ou não. Mesmo tendo o Certificado de Magistério e agora Graduada em Letras, continuo lavando roupas na Creche. E quero ser respeitada porque sou uma pessoa boa, íntegra e faço o meu trabalho com amor, capricho e gratidão diante da Vida.
Com o meu histórico de vida, eu tive foi sorte. Aproveitei a oportunidade, ao invés de ficar em casa vendo novela ou tomando cerveja por aí. Mas até nisso não vejo mérito. É questão de escolha, de valores. É certo que estou muito feliz por ter conseguido me formar. Contudo, orgulhosa eu fico, por ter criado meus filhos, sozinha, e ter feito deles pessoas de Bem. Com a graça de Deus.
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