sábado, 1 de fevereiro de 2014

ÁLCOOL, UMA DROGA PERMITIDA

       Eu vejo por todo lado as pessoas falando do “mal das drogas”, ditas ilícitas. Parece que atualmente o crack é a pior delas. Ou seja, com o maior poder de devastação no organismo e na vida do usuário. É uma droga barata, dizem, por isso mesmo de fácil acesso para os usuários e de difícil controle, senão impossível, segundo as autoridades. Mas, e o álcool?
Assisto, impotente, ao álcool, fazer parte da minha vida. Tomar um lugar como usurpador do meu sossego, da minha alegria, da própria felicidade. E eu me recuso a isso. E me debato, ainda que em vão, até o fim, se for preciso. Meu Deus, será que as pessoas não percebem o mal que o álcool traz? 
       As imagens vinculadas e veiculadas sobre os usuários de drogas, quase sempre, são de pessoas com um baixo poder aquisitivo, negras, analfabetizadas, enfim, os marginalizados de qualquer natureza. E atribuem a eles, as vítimas, porque são dominados pelo vício, tudo de ruim quanto à violência que tem acontecido no mundo. Mas e o álcool?
       Os anúncios publicitários de bebidas alcoólicas são de extremo bom gosto e criatividade. As mulheres são lindas, os homens maravilhosos. Todos esbanjam saúde, sorrisos perfeitos, os corpos “sarados”, jovens. Ninguém tem problemas, dívidas, nada. Sempre em praias ou bares paradisíacos. Só o bom e o belo. E nas festas, mede-se o nível de bom gosto e de “finesse” de acordo com as bebidas que são oferecidas. E o grau de “bombástica”, de sucesso, das festas, de acordo com o tanto que o convidado foi capaz de ingerir de álcool. Mas, não se iludam! A aparência de degradação de uma pessoa bêbada não se altera, seja ela quem for ou o que tenha bebido: seja uísque ou cachaça. Uma pessoa bêbada apresenta o mesmo horrível e triste aspecto: os olhos vermelhos, a língua enrolada, a fala desconexa, o desequilíbrio e a baba – nojenta, mau cheirosa. Isso vai ficando impregnado na pessoa
      Porém, a aparência não é o pior. Isso conserta-se. O estrago maior é feito na vida da pessoa que insiste em dizer que não é alcoólatra (só toma “umas” para relaxar, ficar alegre). E da sua família que já não tem mais festas familiares, domingo, feriado, nada. O que fica rondando é o medo, é a angústia, a dúvida sobre qual será a próxima tristeza ou tragédia que irá acontecer. Essa droga, tão devastadora quanto aquela, vai aos poucos destruindo a pessoa. Vai minando a saúde, corroendo tudo que a pessoa tem, de dignidade, de caráter, de alegria. E com o passar do tempo aquela pessoa tão especial para todos que o amavam torna-se um simulacro. 
       Mas eles também não têm culpa, eles também são dominados pelo vício. Sim , é isso, é um vício, terrível e a sociedade deveria enxergar e admitir isso. A sociedade deveria perceber que diferentemente do crack que é oferecido nos morros ou nos cantos escondidos, escuros por bandidos, ou não, o álcool é servido, também como objeto de luxo em bandejas de prata e taças de cristal. O álcool é visto até como um facilitador de socialização porque deixa as pessoas mais alegres, mais falantes. 
        É tão triste ver pessoas que amamos ingerindo álcool, jogando fora uma vida preciosa que poderia ser tão feliz! É tão triste ver pessoas com copos de bebida na mão! Porque demonstram não serem capazes de caminhar sozinhas, precisam de muletas! E aquela alegria, ah, tão falsa, tão ilusória e inconsistente, aquela alegria!... 


        Assim caminha a Humanidade...



                                                                                                               Lécia Conceição de Freitas

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