Por meio do método Soler, JOHNSTONE, analisou as estruturas narrativas
de trinta histórias de seus
entrevistados, e percebeu que homens e mulheres não se diferem quanto ao tema
narrado, pois ambos falam de algum tipo de violência, e suas narrativas tem o
mesmo nível de propriedades. Ele explica que as narrativas dos homens são mais
curtas, com menos riqueza de detalhes especificando apenas nomes de pessoas e
lugares, e que são voltadas a atividades na rua. Para os homens, as outras
pessoas são como instrumento para algum fim. No entanto, as mulheres narram
histórias ocorridas em suas casa ou próximas a ela. Suas narrativas são mais
detalhistas, narrando características do tempo, lugar e das pessoas, chegando a
ser o dobro de uma narrativa masculina. As mulheres afirmam que as outras
pessoas são como objetos a serem moldados e preenchidos com amor.
HOLMES
observou que as histórias de homens e mulheres da Nova Zelândia homens e
mulheres refletem suas experiências diárias, as mulheres na família e nos
filhos e os homens em esportes, e trabalho.
Devemos
ressaltar que para analisar as propriedades da narrativa, temos que postular
modelos mentais mais complexos para todos os participantes. Esses modelos
precisariam mostrar que as mulheres nessas interações interpretam diferentes
papéis sociais, e que os modelos controlam as narrativas apropriadas de acordo
com os participantes, o ambiente e ocasião.
MACAULY
mostra que a classe social interfere nas experiências narradas, ao ponto que
mulheres de classe média narram sobre passeio e visitas, mulheres de classe
baixa narram dias de trabalho, família. Os homens de classe média narram sobre
esportes e trabalho, e os homens da classe operária narram as mudanças
ocorridas no mundo.
Apesar de as narrativas de histórias
refletirem, parcialmente, as experiências baseadas na classe e marcadas pelo
genêro social, vemos que isso não explica a variação, pois há mulheres que
trabalham, mas não falam de sua ocupação, e que as mulheres tendem a falar de
seus filhos e da família, mais que os homens. Isso mostra que as narrativas não
dependem apenas do gênero e da classe
social , mas de interesses individuais de cada narrador.
KISPER observou histórias de
professores, de uma sala de professores do EUA, e percebeu que as mulheres contam histórias sem relação
com o trabalho ao contrário dos homens. Nesse contexto, percebemos que não só
há diferenças das narrativas pelo gênero, mas que também as pessoas tendem a
conversar com outras do mesmo gênero por acreditarem que vão falar de assuntos
de interesse mútuo.
MACAULY descobriu, com o estudos de
narradores da Escócia, que os de classe
baixa tendem a usar um número maior de marcadores de discurso e de realce, ao passo que as pessoas de classe
média usam mais expressões de avaliação.
SOLER e MACAULY descobriu que as
mulheres falam mais , contam mais histórias incluindo diálogos , e
falam a respeito de outras mulheres. Os
homens falam menos, sem exemplos de diálogos e a respeito de si mesmo.
Esse livro trata de identidades nas
histórias e na narração. A abordagem teórica dominante do livro é a concepção
construtivista da identidade. Isto é identidade definida como construção
contextual ou representação: as pessoas se posicionam de maneiras específicas
por meio de seu discurso. As histórias
expressam constroem ou interpretam de muitas maneiras as identidades sociais
dos narradores, receptores ou protagonistas. Durante as conversas,
participantes trazem à tona coisas
ligadas a suas identidades pessoais e profissionais complexas.
Atos da fala
Em seu livro van Dijk cita Searle (1969, p.
278), que afirma que as “definições das condições de adequação dos atos de fala
precisam ser formulados em termos de categorias contextuais tais como os conhecimentos, os desejos ou
propósitos dos participantes.” Para o autor o poder e as relações de papéis
entre os participantes influenciam as interações entre eles e portanto seus
atos de fala.
Segundo
Holmes (2005, p. 35-60) citado por van Dijk os gerentes usam o poder de sua
posição dando instruções a seus empregados com o objetivo
de obrigá-los a fazer coisas. Isso
significa que as posições sociais e as relações
hierárquicas estão entra as condições apropriadas dos atos de fala
diretivos.
Para
van Dijk, no entanto, nas interações reais as situações são mais complexas, uma
vez que os participantes precisam construir essas posições sociais em seus
modelos de contextos. Assim um gerente que não se achar em uma posição social
superior, irá primeiramente fazer pedidos aos seus subordinados. Além disso,
outras características situacionais podem estar envolvidas como o
ambiente, as regras, as normas da
organização e outras relações
existentes entre os participantes, umas vez que os participantes podem ser
amigos ou estarem em uma comemoração informal na empresa o que leva os atos de fala bruscos serem os menos
adequados. Nesses ambientes, conforme esclarecem ROJO e
ESTEBAN (2005, p. 82) as mulheres se sentem deslocadas devido ao” humor
informal dos homens”.
Holmes
(2005) citado por van Dijk mostra que em Nova Zelândia o poder nos escritórios
é exercido por situações compartilhadas
pelos participantes, e não a posição formal ou o poder que controla o uso da
língua.
O
autor cita KYRATIZ e GUO (1996, p.555-557) em seu estudo, em que eles comparam
diferenças de gêneros nos EUA e na
China. Segundo esses autores o controle dos atos da fala e da interação pela
fala não depende apenas do gênero, mas também do ambiente e outros parâmetros
situacionais como as diferenças culturais existentes nesses dois países.
O
estudioso esclarece que da mesma forma
que qualquer outra ação, os atos da fala são realizados sob o controle de
fatores contextuais cognitivos ,como os propósitos ou objetivos, quando os participantes querem ser
compreendidos um pelo outro e quando há um conhecimento recíproco sobre o que
está sendo dito. No entanto, van Dijk lembra que o que vale é a interpretação
que os participantes dão ao contexto. O autor também nos ensina que a
conversação quotidiana e a fala na interação própria dos ambientes
institucionais são caracterizadas fundamentalmente pela presença de vários
participantes e das relações entre eles e que essas devem ser analisadas dentro do evento comunicativo e que deve se levar em
consideração os numeroso atos sociais, assim
como as normas e regras que os membros usam para conduzir a
conversa.
Ainda
segundo o autor, a idade, as relações hierárquico-sociais definem os vários
tipos de turno nos atos da fala, sendo que essas relações mudam de acordo
com a cultura do país onde são
observadas, garantindo a hora e a vez de cada participante se manifestar. O
autor lembra que essas relações não são estáticas e que estão mudando de acordo
com as transformações das sociedades e dos costumes, principalmente no que diz
respeito às mulheres que, em algumas culturas, estão adquirindo o direito de se
manifestarem.
O
autor ensina faz uma explanação sobre as regras de normas da abertura,
fechamento e sequenciação, seja nas conversas informais ou formais, sendo que
nessas ainda vale o status social e
das relações de poder entre os participantes. Nas situações formais o tempo é
observado. Muitas vezes, cada falante tem um tempo pré-determinado, de acordo
com sua importância. Em situações preestabelecidas como aula, visita a uma loja
para compras, após a saudação inicial, os participantes conhecem as etapas da
conversação.
Para
van Dijk as múltiplas maneiras como os parâmetros contextuais influenciam
outros aspectos da fala são um assunto que exigiria muitos outros estudos. e
que os fatores contextuais mais fortes além dos já citados são as categorias
(construídas) de participantes como seus papeis, gênero social identidades
culturais e classe social bem como as
relações entre os participantes. Contudo ele lembra que a fala ainda pode
depender dos fatores e interações mais
complexos no contexto. O que conta, mais uma vez, é que tudo depende do
contexto e de como os participantes definem esse contexto. Em seu estudo, van
Dijk mostra que as recusas, os elogios e a polidez numa conversação variam de
acordo com o gênero, o status social
e a cultura. Ele conclui esse capitulo
lembrando que devemos dar “ao estudo social e cultural do uso da língua uma
base teórica mais adequada e que toda maneira deverá ser formulada em termos da
complexa interação dessas condições nas estruturas e estratégias mediadas nos modelos de
contexto”.
Na
conclusão do estudo, van Dijk ensina que o exame da variação do discurso na
gramática, nos níveis do significado, os termos utilizados como sinônimos,
metáforas, além das perspectivas, tempo e modalidade interferem e determinam o
que os participantes querem representar em eventos comunicativos, levando em
consideração, principalmente, as dimensões formais e as estruturas, ao fazer as
escolhas lexicais e semânticas. Com uma extensa bibliografia apresentada, o que
reforça e fundamentam seus estudos, van Dijk esclarece que o contexto deve ser
observado por fazer parte de todo evento comunicativo do ser humano.
No meu morrer tem uma dor de árvore.
Manoel de Barros, do "Livro das Ignorãças"