O DISCURSO E O INTERDISCURSO
O
discurso é de natureza tridimensional. Sua produção acontece na história, por
meio da linguagem que é uma das instâncias pó onde a ideologia se materializa. Por isso, os estudos linguísticos
tradicionais não conseguem abarcar a inteireza de sua complexidade.
Como
o discurso encontra-se na exterioridade, no seio da vida social, o
analista/estudioso necessita romper ad estruturas lingüísticas para chegar a
ele. É preciso sair do especificamente lingüístico, dirigir-se a outros
espaços, para procurar descobrir, descortinar, o que está entre a língua e a
fala (FERNANDES, 2005, p. 24).
Para a Análise do Discurso, o discurso é uma prática,
uma ação do sujeito sobre o mundo. Por isso, sua aparição deve ser
contextualizada como um acontecimento, pois funda uma interpretação e constrói
uma vontade de verdade. Quando pronunciamos um discurso agimos sobre o mundo,
marcamos uma posição – ora selecionamos sentidos, ora excluindo-os no processo interlocutório.
Para
Maingueneau, o discurso é “uma dispersão de textos cujo modo de inscrição
histórica permite definir como um espaço de regularidades enunciativas” (2005,
p. 15). Já Foucault dez “Chamaremos discurso um conjunto de enunciados na
medida em que se apóia a mesma formação discursiva... ele é constituído de um
número limitado de enunciados para os quais podemos definir um conjunto de
condições de existência” (2005).
Os sujeitos
falam de um lugar social
Este
lugar no discurso é governado por regras anônimas que definem o que se pode e
deve ser dito. Somente nesse lugar constituinte o discurso vai ter um dado
efeito de sentido. Se for pronunciado em outra situação que remeta a outras
condições de produção, seu sentido
consequentemente, será outro.
Na
medida em que retiramos de um discurso fragmentos e inserimos em outro
discurso, fazemos uma transposição de suas condições de produção. Mudadas as
condições de produção, a significação desses fragmentos ganha uma nova
configuração semântica (BRANDÃO, 1993).
A
unidade do discurso é um efeito de sentido, como Orlandi explica, “a palavra
discurso, etimologicamente, tem em si a ideia de curso, de percurso, de correr
por, de movimento” (1999, p. 15). Os discursos se movem em direção a outros.
Nunca está só, sempre atravessado por vozes que o antecederam e que mantêm com
ele constante duelo, ora o legitimando, ora o confrontando. A formação de um
discurso está baseada nesse principio constitutivo – o dialogismo. Os discursos
vêm ao mundo povoado por outros discursos, com os quais dialogam. Esses
discursos podem estar dispersos pelo tempo e pelo espaço, mas se unem por que
são atravessados por uma mesma regra de aparição: uma mesma escolha temática,
mesmos conceitos, objetos, modalidades ou um acontecimento. Por isso que o
discurso é uma unidade na dispersão
A transladação do corpo
Eu amava o amor
e esperava-o sob árvores,
virgem entre lírios. Não prevariquei.
Hoje percebo em que fogueira equívoca
padeci meus tormentos.
A mesma em que padeceram
as mulheres duras que me precederam.
Adélia Prado em O Pelicano
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