Se
eu dissesse que cantava, mentiria. Não cantava. Estava quieto: demorou-se algum
tempo, depois partiu.
Mas
eu presto meu depoimento perante a História. Eu vi. Era um sabiá, e pousou no alto
da palmeira. “Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá”. Não cantou. Ouviu
o canto de outro sabiá que cantava longe, e partiu.
Era
um sabiá-laranjeira, de peito cor de ferrugem; pousou numa palmeira, cheia de
cachos de coquinhos, perto da varanda. Ouviu um canto distante, que vinha
talvez dos pés de mulungu. Sabeis, naturalmente: é agosto e os mulungus estão
floridos, estão em pura flor, cada um é uma grande chama cor de tijolo. Foi de
lá que veio um canto saudoso, e meu sabiá-laranjeira partiu.
Mas
ele estava pousado na palmeira. Descansa em paz, nas ondas do mar, meu velho
Antônio Gonçalves Dias; dorme no seio azul de Iemanjá, Antônio. Ainda há sabiás
nas palmeiras, ainda há esperança no Brasil.
Rubem
Braga em Ai de ti, Copacabana
Lembro desse texto, em um livro didático, quando criança. Há muito tempo procurava por ele novamente, não lembrava que era de Rubem Braga. Tinha em mente que seria de Raquel de Queiroz ou Cecília Meireles.
ResponderExcluirOi, João!
ResponderExcluirO texto é do Rubem Braga, mesmo!
Abraços