A ideia que faço do Natal está muito presa às lembranças que tenho do tempo que era criança e morava em Onça de Pitangui. Eu morava com minha avó e meus irmãos e a pobreza era absoluta. Ainda assim foram os melhores Natais. Eu acreditava em Papai Noel. No entanto, eu achava que ele nunca deixara um presente pra ninguém lá em casa porque não tínhamos sapatos para deixar na janela. Ninguém tinha sapatos, então, não era uma coisa que fizesse falta. Na verdade todo mundo lá era muito pobre e não tinha esse negócio de ganhar presente. Portanto, as coisas não me faziam falta porque eu desconhecia a existência delas.
Eu gostava do clima do Natal: o Presépio da igreja, nossa, era lindo! Na casa de minha tia, ocupava um quarto! Ela plantava arroz para fazer a grama verdinha, o espelho onde colocava os patinhos, ah, era tudo tão lindo, e eu era tão feliz! Era tempo de manga, de chuva, de férias, e embora eu, sempre, gostasse demais da escola, as férias era tempo de muitas brincadeiras. As professoras eram sempre as mesmas, mesmo assim havia uma expectativa sobre qual seria no próximo ano.
Quando me tornei moça, essas expectativas se resumiam ao fato de, nessa noite, poder ficar no footing que havia na Rua Direita até mais tarde. Naquela época, a gente namorava só de olho, então, era um tempo a mais prá ver a pessoa de quem gostávamos. Os rapazes ficavam parados assim, um do lado do outro, e nós moças passávamos prá lá, prá cá. Ir à Missa do Galo era fundamental, à meia noite em ponto.
Em outra época, quando meus filhos eram pequenos, lembro-me de que os Natais eram cheios de magia e de encantamento. Foi um tempo de extrema pobreza. Tanto em Betim, quanto aqui em Pará de Minas, a gente enganava a fome. Eu era muito magra e meus meninos tinham aquela palidez própria de quem tem deficiência de tudo. Ao se aproximar o Natal eu enfeitava a casa com galhos secos do jeito que dava e era uma festa. A felicidade era maior quando ganhávamos uma cesta básica. e se tinha um pacote de biscoito então!... Tínhamos um sofá na sala, então deitávamos os quatro e cantávamos a Jesus Salvador. Não havia nada bonito, mas eu os tinha meus, meus filhos, no meu colo, e eu era tão feliz!
O tempo passou, eles cresceram, estão trabalhando, estudando, (até eu estudo!), as coisas melhoraram. Mas ledo engano, a mãe que pensa que os filhos são para sempre. Pelo menos, não no meu caso. As minhas ausências, tanto sofrimento, foram determinantes na formação da personalidade de meus filhos. Cresceram por si, sozinhos, porque eu tinha que trabalhar. Hoje eles querem o que não tiveram, as diversões, as alegrias... Não posso nem criticar. O amor, ah esse?!, ficou lá no sofá, no galho seco, no tempo que passou. Eu os criei do melhor jeito em que acreditava, no entanto, hoje a casa está enfeitada, até chiquezinha, mas eu, eu estou sozinha. Com certeza, vou passar o Natal passeando pelos blogs. Sonhando, sonhando...