Sou católica, eu e toda minha família. Evito falar, manifestar, minha religião no face, porque acho que não é lugar para isso. Até em respeito às outras pessoas. Respeito que se estende, inclusive, àquelas pessoas que vêm à minha porta, domingo de manhã, para pregar a própria religião. Sempre procurei tratar essas pessoas e qualquer outra no que diz respeito a esse assunto, com educação, dignidade e, principalmente, tolerância.
Um escritor, não me lembro quem, no momento, disse que tolerar é permitir ao outro determinado comportamento e visão diante da realidade. Porém, fazer o que? Para mim, religião é primordialmente a caridade, que implica a aceitação da limitação do outro. A misericórdia que devemos ter com a deploração do semelhante. Aliás, pensando bem, isso deve estar acima do conceito de religião. Deve fazer parte da categoria da formação humana.
Não acho que sou uma pessoa alienada. Naturalmente que sei dos atos falhos da religião católica, pelos séculos afora até os dias atuais. Não fecho meus olhos, em nome de uma pseudo sacralização, aos erros dos dirigentes. Exijo um determinado comportamento ético somente dos meus filhos pelos quais sou responsável. Quanto aos outros: cada um à sua maneira. Penso que as pessoas é que devem ter discernimento ao fazer suas escolhas. Absolutamente, ninguém tem o direito de criticar, menosprezar, tripudiar, desrespeitar.
Ouço coisas absurdas dos Pentecostais e Protestantes sobre a minha Igreja, sobre o meu Credo e sobre os meus Dogmas. Sobre Nossa Senhora, coisas de arrepiar! Eu nunca revidei. Pelo contrário, calo-me e abaixo a cabeça, diante do desconhecimento, da ignorância ou mesmo da imbecilidade. Na época que estudei Cultura Religiosa, tive oportunidade de aprender um pouco sobre Martinho Lutero e suas ideias. Claro que o que vemos hoje tem pouco a ver com o que ele pregava. Além de ser religioso, ele sabia o que falava. Difere da pretensão de interpretação bíblica, desse monte de religião que observamos em cada garagem e galpões que se vagam.
Vi a foto das lésbicas se beijando diante das pessoas que estavam ali para ver o Sumo Pontífice. Como essas pessoas esperam ser respeitadas se se portam dessa maneira? Isso não é liberdade de expressão. É uma agressão gratuita, uma violência ao direito de cada um. Isso não é amor, união carnal, sei lá o que. Casais heterossexuais não demonstram assim, em público, o amor, carinho, tesão e tudo mais. Tenho amigos e amigas gays e respeito todos eles. Para mim não faz diferença e penso que não é isso que faz deles pessoas mais, ou menos, boas e de caráter, idôneas, etc. Mas, aquilo lá é grotesco. Chamar de animalesco ofende até aos animais.
Eu não sou uma pessoa recalcada nessas questões de sexo, nem sou pudica ou “careta”. Quem me conhece pessoalmente, sabe disso. No entanto, é lastimável, degradante mesmo, o comportamento desses grupos. E ainda falam em falta de tolerância. Posso estar errada, pois não tenho acesso a tudo que acontece, mas nunca vi falar de católicos, verdadeiros, agredindo homossexuais dessa maneira. A Igreja é contra, mas não agride. Não esfrega a Cruz na cara de ninguém. Ela mostra e convida, como o que está acontecendo agora no Rio. Segue quem quiser.
Como é mesmo aquela frase? “–Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem.” A tal da misericórdia.
Lécia Conceição de Freitas
segunda-feira, 29 de julho de 2013
quarta-feira, 3 de abril de 2013
AMOR DE MÃE
O ser humano tem uma capacidade imensa de suportar o sofrimento. Pressupondo que a morte seja o maior de todos, quando morre um idoso, naturalmente, as pessoas ligadas a ele ficam sentidas, mas com o tempo tudo passa. Se a pessoa que se vai é mais jovem , principalmente se tem filhos, o choque é mais forte. Para os filhos então, fica uma lacuna difícil de preencher. Os filhos pequenos perdem muito, e é necessário um apoio por parte dos parentes para que suportem a dor.
Novamente o tempo vem amenizar o sofrimento. A vida continua e aos poucos todos se ajeitam. O que fica, sempre, é a saudade, e às vezes ensinamentos, exemplos de vida, etc.
Frequentemente, nos deparamos com situações em que jovens, crianças, têm suas vidas interrompidas de formas naturais ou trágicas. E nos assombramos. Porque é contra a lógica. Pessoas deveriam viver a vida toda. Isso para uma mãe deve ser terrível. Toda mãe espera que o filho cresça e seja feliz. Aliás, a maior parte da feliciade dos pais vem da felicidade dos filhos. Mas a morte é inevitável, e isso ajuda na hora do desespero. Segundo algumas crenças, talvez até voltem a se encontrar algum dia. Sempre há um lenitivo, e o tempo, como um bálsamo...
Não acredito, porém, ser esse o maior sofrimento que se pode infligir a uma mãe. Aquela que perde um filho para as drogas, para o mundo, sofre muito mais. A cama perfeita faz o silêncio do quarto gritar, gritar, gritar... Nessa hora toda mãe gostaria de ver a bagunça das roupas espalhadas, as meias sujas, o som irritante daquelas músicas horrorosas, que os filhos gostam de ouvir. Essa mãe daria a vida para que o tempo voltasse.
Segundo Gibran Kalil Gibran, em uma passagem belíssima de sua obra, nós, as mães, somos o arco que se retesa para lançarmos a flecha, pelas mãos do Arqueiro rumo ao infinito. Essa associação da missão de uma mãe com os desígnios de Deus, nos deixa ainda com mais responsabilidade, quanto ao futuro de um filho. Porque os pais, pais verdadeiros, na concepção da palavra, direcionam, sempre, seus atos ações, atitudes, tudo, com o pensamento na formação do filho. O objetivo é que ele seja um Homem. A mãe, então, espera a perfeição do voo para a sua própria excelência. E se isso não acontece a dor é insuportável. É como se o peito fosse partir em estilhaços.
Costuma-se ver mães sentadas em bancos nas sepulturas dos filhos. Como uma visita. A mãe sabe onde o filho está. Mas se o filho vai embora, ela se afunda. (Nem adianta esse cheiro gostoso de rosquinhas de nata, assando, que invade a casa - as preferidas por ele - porque ele não vai chegar.)
Quando um filho morre, a mãe perde o físico, o concreto. Mas, ele não foi porque quis. É natural, da própria vida. Resta o consolo de que houve um amor até o fim. Quando o filho vai embora, não. Na verdade, toda mãe espera que o filho lhe faça companhia na velhice. Porque não existe amor unilateral, ninguém ama sozinho. Todo amor pede, clama, exige. Então, quando o filho vai embora há uma negação desse amor. Uma rejeição, absoluta. A mãe ama só. Essa constatação dói mais que a própria morte.
Fica a pergunta: O que foi que eu fiz? Onde foi que eu errei? Não é verdade que as mães são perfeitas, mães também erram. Contudo, não existe perdão para elas. O que fica é essa dor, esse aperto no peito, esse vago entre os braços que querem abraçar. Fica um sentimento, imensurável, desperdiçado. Eu tenho os outros filhos. E eu os amo. Mas, um é cada um.
E o amor também.
Lécia Conceição de Freitas
domingo, 20 de janeiro de 2013
Das coisas da terra
O mar é lindo! O mar é poderoso! O mar, eu acho, é invencível! Posso ficar tempos observando o vaivém das ondas, admirando as nuances de cores, o ribombar da arrebentação... Mas eu amo mesmo é a terra! Gosto de pegar, sentir-lhe o calor, a essência! E creio que devo ao meu pai essa ternura imensa que sinto pelas coisas da terra. Ele era analfabeto, sem perspectivas, sem esperanças. Um pobre coitado, na visão de muitos. Com certeza, morreu sem saber o sentido da própria vida. Todo o conhecimento que tinha, conseguiu com a experiência da vida, na observância das coisas. Em seus documentos constava que era lavrador e, durante a minha pequenez eu não sabia o que significava. Hoje eu sei: aquele que lavra, que ara a terra para produzir o alimento. Foi com ele que aprendi a fazer a cova e colocar os grãos. E que prazer ver as plantinhas brotando... Um lavrador consegue apurar o ouvido e escutar as sementes rasgando a terra. Lembro-me dele falando, entusiasmado, sobre a limeira que florira e depois os frutos que se anunciavam. Muito antes disso, quando levava a merenda para ele, no roçado, (eu andava léguas para encontrá-lo e só conseguia porque ia observando qual mato estava mais murcho, aonde ele tinha roçado primeiro) que eu tivesse cuidados com as jaguatiricas que ainda existiam lá em Onça de Pitangui, e com a vaca de bezerrinho novo que estava “pegando”. Que saudade!
É claro que a terra não era nossa: meu pai era empregado. Eu não sabia dessas coisas. Como no livro “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, a pobreza era tanta que não tínhamos como alcançar a situação de explorados, de subjugados.
Eu gostava de andar entre as fileiras das plantações, sentir o verde, a textura de tudo, o cheiro... O feijão, com suas florzinhas roxas, vai se enroscando em qualquer estaca, como num abraço de amor. Quando o vento bate é lindo ver as folhas balançando, os pendões de milho... São flores. E o arroz então?! As floradas de café, parecendo véu de noiva. E tão cheirosas que os insetos vêm visitar... Para o homem da roça não há nada mais bonito.
Naturalmente, gosto de ver grandes plantações, tudo tão organizado. Quando se viaja, principalmente pelo interior de São Paulo ou Triângulo Mineiro, é bonito os tabuleiros com todo tipo de cultura, com os vários tons de verde, as serras azuis lá longe...(Em São Paulo não há serras, coitados!) A riqueza do país... que não chega até ao lavrador . Feita com máquinas. Ganha-se em produtividade, e tantos outros “ades”, até inevitáveis hoje, devido à necessidade da produção de mais alimentos. Mas, perde-se em poesia.
E disso posso falar. Deixem-me falar. Da poesia fina, lapidada, mansa, devagarinho. E da poesia bruta que chega aos borbotões, remexendo a vida da gente. Perdoem-me, mas não conheço nenhuma palavra, nenhuma obra, sobre grandes plantações. Conheço muitas que falam daquele solitário que vai cova por cova sulcando, com profundo respeito, a Mãe Terra. Daquele que, como meu pai, por todos os confins, observa o tempo, o clima, o espaço e atribui a Deus Misericordioso a existência de tudo, com todos os seus mistérios. Como os lavradores mexicanos que cuidam da preservação das diversas qualidades de milho que só existem lá, por ser o berço desse grão. Eles acreditam que o País só existe enquanto existir o milho. Com eles, finalmente, entendi porque meu pai ralhava comigo toda vez que eu trançava os cabelos das espigas novas ainda no pé. Como eu não tinha bonecas gostava de trançar aqueles cabelos de cores variadas, tão macios! Cada fio de cabelo é um grão de milho. A minha brincadeira não deixava a espiga "vingar". Perdoe-me, meu pai.
Lécia Conceição de Freitas
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