Devo
dizer que hoje, apesar da grande movimentação, na Av. Presidente Vargas, perto
da Ponte que já foi Grande, havia um bando de periquitos deliciando-se com os coquinhos aqueles amarelinhos, que grudam nos dentes da
gente. Os bichinhos faziam acrobacias para
comer os coquinhos em um cacho enorme, pendente de um coqueiro no canteiro central da dita avenida. E
gritavam... e palravam...
O que nos deixa felizes, pois não é comum que
se veja um bando de periquitos nessa folia e, muito menos, degustando essa
fruta, bem no centro urbano de uma cidade que já foi pacata. O alarido dos pássaros
era bem forte e demonstrava a alegria por estarem ali, com tanto alimento à
disposição. Ás vezes, algum deles pegava
um coquinho com o bico e saía voando por cima das cabeças de quem estava no
ponto de ônibus. O que leva a crer que
devem ter seus ninhos ali naquela matinha aos pés do Cristo Redentor.
Fiquei
por um bom tempo observando. É sabido que gosto demais de pássaros e aquilo,
ali, naquela hora, era um presente. Olhei
disfarçadamente em volta para ver se mais alguém estava admirando o
acontecimento e assim poder fazer um comentário. Tudo que eu queria era poder
falar sobre os periquitos e a festa que
faziam. Mas qual, ninguém prestava atenção! As pessoas andam muito apressadas. E cada um se preocupava com o que lhe parecia
ser mais importante, decerto. O que para todos parecia ser uma coisa banal,
para mim era um acontecimento! Que alguns periquitos viessem tão perto do ser humano, colher frutas e
festejar deveria ser visto como algo
inusitado. Ou talvez eles ainda sejam inocentes e não sabem o perigo que correm.
Ou quem sabe, quisessem mesmo se mostrar, sabedores de sua graça.
Acho
mesmo que somente eu percebia a dádiva da natureza. E eu a recebi como um mimo oferecido somente a mim. Eu, que amo essas coisas de árvore, conversa de
periquitos, cores e cheiros de coquinhos! De onde estava não podia sentir o
cheiro, é verdade, mas eu adivinhava. Imaginava até a doçura das frutinhas, por
isso entendia a alegria dos periquitos e era conivente com eles, apesar do
lugar, da hora, do barulho...
Mas é bom que saibam, que nessa cidade de Pará de
Minas, em meio a um trânsito caótico, barulhento, em uma avenida apinhada de
pessoas, um bando de periquitos festejava a tarde, a vida...
E eu, eu vi
isso!
Lécia Conceição de Freitas
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