A minha
casa eu sonhei assim: ao rés do chão. Com as portas abertas para receber todos
os amigos. As janelas largas, bem altas, em um exagero de luminosidade nos
cantos e recantos. Esconderijos são necessários para que os meus filhos e netos
guardem sua infância. E que possam resgatá-la todas as vezes que se sentirem
ressecados pelo cotidiano.
Os quartos, com todas essas camas, acomodarão a parentada
em Natais, Semanas Santas e Festas Juninas, Julinas, Setembrinas, o que for.
A cozinha - veja a cozinha - clara, espaçosa, com o fogão
à lenha onde se possa “quentar fogo”, em noites frias e chuvosas! Aqui recebo
comadres e quem queira, para trocar tipos de receitas: culinária, chás,
artesanatos e o quê mais... E para todos os “dedos de prosa”. No quintal,
variedade de bichos de pena, com bastante rebuliço nas madrugadas, após o canto
que perpetua as manhãs nas serranias. No canteiro, com alguns pés de couve, de
cebolinha e ervas de cheiro, um girassol, que mostre às margaridas que já são
horas. Jasmins, bogaris e damas-da-noite estarão sempre perfumados. A relva,
veja! O orvalho? Sol já está velho, o orvalho já secou...
Lá debaixo das palmeiras, o banquinho de quatro pernas é
um convite para a vesperal. Eles vêm sempre à procura dos frutos - os pássaros
- de todos os tipos e tamanhos. Repare só, como estão felizes! Eles moram lá na
matinha, no pé da serra, mas estão sempre por aqui. Não é verdade que parece
que estão conversando?...
Vizinhança com rio? Quis não. Rio é muito bonito, mas é negócio
perigoso. Água mesmo, só da nascente que vai correndo - olha – vai formando um
corguinho, fiapo de água, com a cantiga da liberdade entre os seixos. Com
lambaris, piabas, e outros peixes de menor porte, veja! Só para meu deleite,
que sou contra matança de bicho, ainda que para matar a fome. Para isso,
plantei uns pés de milho lá atrás. Desse lado, uma capela, onde faço minhas
preces Àquele que à Imagem e Semelhança, criou-me. Ouça o silêncio! Aqui não se
ouve nem o murmúrio da Terra. Tudo reverencia o Senhor de todas as coisas. E do
tempo...
Esse
sonho eu tenho comigo, como um acalanto, a vida inteira. As possibilidades de
realizar são bem pequenas. Talvez até pela magnitude dele. Para mim. Mas isso
não me faz uma pessoa amarga nem infeliz, pelo contrário. Sou bem feliz!
Aprendi, ao longo do tempo, que o que faz a gente feliz não são as coisas. São
as pessoas que temos ao redor! Porquanto, somos livres quando temos sonhos para
sonhar! E assim, voar...
Lécia Conceição de Freitas
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