Outro
dia falei que ainda restam periquitos. É verdade! Mas, desses, de hoje, devem
restar muito mais, pois, sempre os vejo, e ouço, por aí. O que é uma
alegria, nesses tempos cada vez mais
loucos e empedernidos. E havia um, em alguma árvore, do Campo Santo.
Indiferente à dor de quem estava ali, velando algum ente querido, cantava!
Creio
que ninguém sabia o que ele tinha visto. Na verdade, não pareciam interessados.
Cada um cuidava de sua vida, os passantes, os moradores. Não queriam saber da
vida alheia. Mas ele trinava alegremente! Talvez quisesse chamar a amada ou
algum companheiro. Ou, simplesmente, cantar a manhã. O fato é que ele cantava e
bem dizia.
O
pequeno cantor mudava de pouso e, assim, durante todo o tempo que levei para atravessar
o quarteirão conseguia ouvir. Acontecimento
tão inusitado, no entanto, passava despercebido. Não se sabe por quê. Talvez essa
proximidade cotidiana tenha transformado
o insólito em algo banal e por isso não
chamava a atenção. Hoje em dia, nem as crianças os caçam mais. Antigamente,
havia alçapões, visgos, gaiolas, estilingues... Artefatos completamente
desconhecidos pelos meninos, na atualidade. Andam tão atarefadas com as novas tecnologias
que desconhecem esse “prazer” dos ancestrais. Ainda bem, que para alguma coisa
serve esse progresso!
Descendo
a rua, o trinado misturou-se ao barulho proveniente dos automóveis. Ainda que
tentasse não consegui mais distinguir. Permaneceu lá, ao longe... Mas o certo é
que me tocou. Não posso dizer que me alegra. Fica sempre uma tristezazinha, uma
saudade de algo que não tive, de alguma coisa que não vivi.
O
que conforta é a certeza de que o encontrarei novamente. Esse ou aquele, vou,
sempre, buscar seu canto. E
maravilhar-me!...
Lécia Conceição de Freitas
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