BERTRAN
O
conto analisado carrega uma série de elementos perfazendo um exemplo clássico
do Romantismo byroniano, também conhecido como mal do século. Todo o
sentimentalismo presente nessa geração
resultou em obras com grande teor de angústia, dor existencial, fuga no sonho e
obsessão pela morte. Bertran, o protagonista e narrador personagem gosta de
mulheres, vinho e orgias.
As
principais características da segunda geração foram o profundo subjetivismo, o
egocentrismo, o individualismo, a evasão na morte, o pessimismo, o sentimento
de angústia,, o sofrimento amoroso, o desespero, o satanismo e a fuga da
realidade.
O
narrador começa dizendo que uma mulher
levou-o à perdição porque a amava demais; e por ela matou os três
melhores amigos. (Neste conto a figura de Ângela foge do modelo romântico de
mulher idealizada pelo autor em toda sua obra. Ela não é pálida nem frágil como
as demais, pelo contrário, é morena; não se mostra passiva, mas ativa, tem
poder de decisão, entrega-se a Bertran porque assim o deseja. Paras ficar com
ele, não hesita em assassinar o marido e cometer infanticídio. Além do mais,
foge do modelo de mulher-anjo para representar um ser demoníaco e decaído,
afinal bebe, fuma, veste-se e age como
homem, apesar de seu nome indicar o oposto.) A idealização
é percebida na descrição que o narrador faz da mulher por quem se
apaixonou: “...linda daquele moreno das andaluzas (...) com as plantas mimosas,
as mãos de alabastro. Os olhos que brilham e os lábios de Alexandria (...).”
Quando a compara a um anjo: “...eu esperava ver passar a sombra de um anjo.” Apesar do contato e do
amor físico, o amor não é completo, devido a circunstâncias que impedem que
fiquem juntos. Esse impedimento causa o descontentamento e dor existencial. Percebe-se a melancolia
e evasão da realidade. Para
aplacar esse sentimento que o consome, ele busca alento na orgia e na morte:
“Um dia – era na Itália – saciado de vinho e mulheres, eu ia suicidar-me.” Em
outra passagem, o personagem mostra indiferença e sadismo diante da morte ao
rir do marinheiro que fora escolhido para morrer e servir de alimento a ele e à
mulher: “Eu ri-me do velho. Tinha as entranhas em fogo. Morrer hoje, amanhã, ou
depois... tudo me era indiferente, mas hoje eu tinha fome, e ri-me porque tinha
fome.” Caracteriza-se, assim, o mal do
século – o gosto pela morte.
Além
disso, em toda narrativa manifesta-se o noturno,
o macabro, assassinatos,
antropofagia, elementos do Romantismo maldito: Caliban. Eram três figuras, macilentas como o cadáver, cujos
olhares fundos e sombrios por terem se alimentado de carne humana: “...Aquele
cadáver foi nosso alimento por dois dias...”.
Porém nada é mais macabro que o assassinato do filho pela mãe, por
motivo torpe, no início do conto (embora não haja nenhum motivo que justifique
tal ato). “...Estava morta também: o sangue que corria das veias rotas de seu
peito se misturava com o do pai!” Horrendo!
No parágrafo seguinte, a personagem fala da intensidade com que viveram
o amor, ele e Ângela: “Foi uma vida insana a minha com aquela mulher!... Nossas
noites, sim, eram belas!” Logo em
seguida, o descontentamento: para Bertran apenas a morte seria o seu descanso.
Torna-se um ébrio e nas noites e orgias procura a amada no corpo de outras
mulheres. “Um dia ela partiu... Tornei-me um ladrão nas cartas...um espadachim
terrível e sem coração.”
Por
duas vezes Bertran interrompe a narrativa e pede vinho à taverneira. Um velho
que chega à taverna fala de bebida, mulheres, amor – orgia, vício. Traz consigo uma caveira – macabro. Em todas as situações de vícios evidencia-se o satanismo.
Refere-se
também a Deus e Jesus Cristo – religiosidade.
Antes de cometer antropofagia ele questiona a perfeição do homem enquanto
criatura divina.
O individualismo, o subjetivismo e o egocentrismo
são latentes nos verbos da primeira pessoa e manifestações exacerbadas dos
sentimentos e emoções em várias passagens do conto. Como em todos os momentos
em que a personagem ri, ri, demonstrando a supervalorização dos seus
sentimentos, em detrimento do sofrimento alheio; em “A voz sufocava-lhe na
garganta. Todos choravam. Eu também chorava, mas era de saudade de Ângela”. Na passagem em que relata se segundo
relacionamento amoroso ficas claro o sentimento de individualismo quando ele desonra a filha do ancião que o acolhera.
Em seguida, entediado ele a abandona
à própria sorte.
Ainda sobre a idealização
do amor e da mulher
observa-se o que ele fala de outro relacionamento: “Criatura pálida, parecera a
um poeta o anjo da esperança adormecido esquecido entre as ondas... era uma
santa”. “Um poeta a amaria de joelhos”.
Em dois dos três relacionamentos amorosos há adultério.
No terceiro, a moça, decerto desiludida por ter sido vendida ao pirata
Siegfried, suicida-se.
Ao
questionar sobre a existência humana, Bertran demonstra pessimismo.
Trabalho avaliativo apresentado à disciplina Literatura Brasileira do Curso de Letras
- FAPAM - Professora Drª Ana Paula Ferreira
Créditos: Total, 5
Trabalho avaliativo apresentado à disciplina Literatura Brasileira do Curso de Letras
- FAPAM - Professora Drª Ana Paula Ferreira
Créditos: Total, 5
Lécia Conceição de Freitas
Nenhum comentário:
Postar um comentário