sábado, 26 de abril de 2014

Análise de NOITES NA TAVERNA de Alvares Azevedo


 BERTRAN

            O conto analisado carrega uma série de elementos perfazendo um exemplo clássico do Romantismo byroniano, também conhecido como mal do século. Todo o sentimentalismo presente  nessa geração resultou em obras com grande teor de angústia, dor existencial, fuga no sonho e obsessão pela morte. Bertran, o protagonista e narrador personagem gosta de mulheres, vinho e orgias.
            As principais características da segunda geração foram o profundo subjetivismo, o egocentrismo, o individualismo, a evasão na morte, o pessimismo, o sentimento de angústia,, o sofrimento amoroso, o desespero, o satanismo e a fuga da realidade.
            O narrador começa dizendo que uma mulher  levou-o à perdição porque a amava demais; e por ela matou os três melhores amigos. (Neste conto a figura de Ângela foge do modelo romântico de mulher idealizada pelo autor em toda sua obra. Ela não é pálida nem frágil como as demais, pelo contrário, é morena; não se mostra passiva, mas ativa, tem poder de decisão, entrega-se a Bertran porque assim o deseja. Paras ficar com ele, não hesita em assassinar o marido e cometer infanticídio. Além do mais, foge do modelo de mulher-anjo para representar um ser demoníaco e decaído, afinal bebe, fuma, veste-se  e age como homem, apesar de seu nome indicar o oposto.)  A idealização é percebida na descrição que o narrador faz da mulher por quem se apaixonou: “...linda daquele moreno das andaluzas (...) com as plantas mimosas, as mãos de alabastro. Os olhos que brilham e os lábios de Alexandria (...).” Quando a compara a um anjo: “...eu esperava ver passar  a sombra de um anjo.” Apesar do contato e do amor físico, o amor não é completo, devido a circunstâncias que impedem que fiquem juntos. Esse impedimento causa o descontentamento e dor existencial. Percebe-se a melancolia e evasão da realidade. Para aplacar esse sentimento que o consome, ele busca alento na orgia e na morte: “Um dia – era na Itália – saciado de vinho e mulheres, eu ia suicidar-me.” Em outra passagem, o personagem mostra indiferença e sadismo diante da morte ao rir do marinheiro que fora escolhido para morrer e servir de alimento a ele e à mulher: “Eu ri-me do velho. Tinha as entranhas em fogo. Morrer hoje, amanhã, ou depois... tudo me era indiferente, mas hoje eu tinha fome, e ri-me porque tinha fome.” Caracteriza-se, assim, o mal do século – o gosto pela morte.
            Além disso, em toda narrativa manifesta-se o noturno, o macabro, assassinatos, antropofagia, elementos do Romantismo maldito: Caliban. Eram três figuras, macilentas como o cadáver, cujos olhares fundos e sombrios  por terem  se alimentado de carne humana: “...Aquele cadáver foi nosso alimento por dois dias...”.  Porém nada é mais macabro que o assassinato do filho pela mãe, por motivo torpe, no início do conto (embora não haja nenhum motivo que justifique tal ato). “...Estava morta também: o sangue que corria das veias rotas de seu peito se misturava com o do pai!” Horrendo!
            No parágrafo seguinte, a personagem fala da intensidade com que viveram o amor, ele e Ângela: “Foi uma vida insana a minha com aquela mulher!... Nossas noites, sim, eram belas!”  Logo em seguida, o descontentamento: para Bertran apenas a morte seria o seu descanso. Torna-se um ébrio e nas noites e orgias procura a amada no corpo de outras mulheres. “Um dia ela partiu... Tornei-me um ladrão nas cartas...um espadachim terrível e sem coração.”
            Por duas vezes Bertran interrompe a narrativa e pede vinho à taverneira. Um velho que chega à taverna fala de bebida, mulheres, amor – orgia, vício. Traz consigo uma caveira – macabro. Em todas as situações de vícios evidencia-se o satanismo.
            Refere-se também a Deus e Jesus Cristo – religiosidade. Antes de cometer antropofagia ele questiona a perfeição do homem enquanto criatura divina.
            O individualismo, o subjetivismo e o egocentrismo são latentes nos verbos da primeira pessoa e manifestações exacerbadas dos sentimentos e emoções em várias passagens do conto. Como em todos os momentos em que a personagem ri, ri, demonstrando a supervalorização dos seus sentimentos, em detrimento do sofrimento alheio; em “A voz sufocava-lhe na garganta. Todos choravam. Eu também chorava, mas era de saudade de Ângela”.  Na passagem em que relata se segundo relacionamento amoroso ficas claro o sentimento de individualismo quando ele desonra a filha do ancião que o acolhera. Em seguida, entediado ele a abandona à própria sorte.
Ainda sobre a idealização do amor e da mulher observa-se o que ele fala de outro relacionamento: “Criatura pálida, parecera a um poeta o anjo da esperança adormecido esquecido entre as ondas... era uma santa”. “Um poeta a amaria de joelhos”.
Em dois dos três relacionamentos amorosos há adultério. No terceiro, a moça, decerto desiludida por ter sido vendida ao pirata Siegfried, suicida-se.
            Ao questionar sobre a existência humana, Bertran demonstra pessimismo.

Trabalho avaliativo apresentado à disciplina Literatura Brasileira do Curso de Letras
 - FAPAM - Professora Drª Ana Paula Ferreira
Créditos: Total, 5


Lécia Conceição de Freitas

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