Os sons da minha infância estão ligados às coisas da Natureza. Na roça,
quase ninguém possuia rádio. Havia as cantigas de roda nas brincadeiras, na
escola... Mas os sons que eu gostava, que eu gosto, são da natureza. Havia os
grilos, os sapos em noites de chuva miúda . Os bichos no pasto e aquela
enormidade de passarinhos. Como não gostar disso?! Ainda hoje, aqui, eu saio em
noites para ouvir os grilos. Os sapos são mais difíceis. As pessoas aqui matam
sapos. Acham feio! Nunca vi tamanha ignorância. E os passarinhos, quando dão de
cantar eu consigo isolar o som único. Qual foi o pensamento da natureza quando
criou o canto dos passarinhos? Cada um com o seu... não é uma coisa de doido?
Mas eu gosto demais do mugido dos bois. Não lembra uma solidão? Não essa de
tristeza, mas aquela que a gente precisa para a alma ficar em paz. E gosto dos
sons das águas. Seja aquela caindo continuamente da bica no quintal, ou da
chuva na lata esquecida embalando o sono das gentes. Tem gente que fala que não
dormiu nada por causa disso. Da correnteza cheia de perigos no rio, que vai,
vai levando a vida nas gotas. Milhões de gotas. Ou cristalina no riachinho
rolador de seixos. Enquanto rola os seixos, as águas cantam. Deve ser as
cantigas de ninar das piabinhas.
Lécia Freitas
Lécia Freitas
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