domingo, 12 de agosto de 2018


Os sons da minha infância estão ligados às coisas da Natureza. Na roça, quase ninguém possuia rádio. Havia as cantigas de roda nas brincadeiras, na escola... Mas os sons que eu gostava, que eu gosto, são da natureza. Havia os grilos, os sapos em noites de chuva miúda . Os bichos no pasto e aquela enormidade de passarinhos. Como não gostar disso?! Ainda hoje, aqui, eu saio em noites para ouvir os grilos. Os sapos são mais difíceis. As pessoas aqui matam sapos. Acham feio! Nunca vi tamanha ignorância. E os passarinhos, quando dão de cantar eu consigo isolar o som único. Qual foi o pensamento da natureza quando criou o canto dos passarinhos? Cada um com o seu... não é uma coisa de doido? Mas eu gosto demais do mugido dos bois. Não lembra uma solidão? Não essa de tristeza, mas aquela que a gente precisa para a alma ficar em paz. E gosto dos sons das águas. Seja aquela caindo continuamente da bica no quintal, ou da chuva na lata esquecida embalando o sono das gentes. Tem gente que fala que não dormiu nada por causa disso. Da correnteza cheia de perigos no rio, que vai, vai levando a vida nas gotas. Milhões de gotas. Ou cristalina no riachinho rolador de seixos. Enquanto rola os seixos, as águas cantam. Deve ser as cantigas de ninar das piabinhas.

Lécia Freitas




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