A plurissignificação das palavras é uma
constante na obra em
análise. O escritor, ao empregar esse recurso,
revigora a significação e reforça a inovação
da língua. Na opinião de Franklin de Oliveira, sobre a técnica de
Guimarães Rosa:
a palavra perdeu a sua
característica de termo, entidade de contorno unívoco, para converter-se em
plurissigno, realidade multi-significativa. De objeto de uma só camada
semântica, transformou-se em núcleo irradiador de policonotações. A língua
roseana deixou de ser unidimensional. Converte-se em idioma no qual os objetos
flutuam numa atmosfera em que o significado de cada coisa está em contínua
mutação. É ver, por exemplo, as numerosas cargas semânticas com as quais se
apresenta a palavra sertão – realidade geográfica, realidade
social, realidade política, dimensão folclórica, dimensão psicológica conectada
com o subconsciente humano, dimensão metafísica apontando para as
surpreendentes virtualidades demoníacas da alma humana, dimensão ontológica referida
à solidão existencial – infinitas possibilidades significativas. (OLIVEIRA, 1983,
p. 180).
Diante disso pode-se afirmar que
essa característica criadora de Guimarães Rosa torna-se sua marca, sendo única
na Literatura Brasileira. A língua literária desse escritor adquire outra dimensão,
convertendo-se em um idioma em constante mutação, dadas as possibilidades do
significante. Observar-se-ão alguns exemplos do texto roseano na obra Grande Sertão: Veredas:
[...] arvorei a minha chefia (firmar). / Meu revólver barrasse fogo nele?
(atirasse). / Não me envergonho por ser
de escuro nascimento (filho bastado) / Acode que o chefe está no fatal
(morrendo). / [...] aquilo molhou
minha idéia (influenciou). Tive testa. Pensei nome feio (raiva). / A
guerra podia dar de começar na boca de um momento (imediatamente). /
[...] já indo; jagunço nunca dilate (não demora). / Não me envergonho de ser de escuro
nascimento (filho bastardo). / Um professor
de mão-cheia (muito bom). (ROSA,
2006).
Os exemplos comprovam a capacidade
do autor em produzir significados que
revigoram a construção estética do texto.
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