sábado, 30 de agosto de 2014

"A POÉTICA ROSEANA" Capítulo 5.6.2

5.6.2 Plurissignificação

            A plurissignificação das palavras é uma constante na obra em análise. O escritor, ao empregar esse recurso, revigora a significação e  reforça  a inovação  da língua. Na opinião de Franklin de Oliveira, sobre a técnica de Guimarães Rosa:
a palavra perdeu a sua característica de termo, entidade de contorno unívoco, para converter-se em plurissigno, realidade multi-significativa. De objeto de uma só camada semântica, transformou-se em núcleo irradiador de policonotações. A língua roseana deixou de ser unidimensional. Converte-se em idioma no qual os objetos flutuam numa atmosfera em que o significado de cada coisa está em contínua mutação. É ver, por exemplo, as numerosas cargas semânticas com as quais se apresenta a palavra sertãorealidade geográfica, realidade social, realidade política, dimensão folclórica, dimensão psicológica conectada com o subconsciente humano, dimensão metafísica apontando para as surpreendentes virtualidades demoníacas da alma humana, dimensão ontológica referida à solidão existencial – infinitas possibilidades significativas. (OLIVEIRA, 1983, p. 180).
                Diante disso pode-se afirmar que essa característica criadora de Guimarães Rosa torna-se sua marca, sendo única na Literatura Brasileira. A língua literária desse escritor adquire outra dimensão, convertendo-se em um idioma em constante mutação, dadas as possibilidades do significante. Observar-se-ão alguns exemplos do texto roseano na obra Grande Sertão: Veredas:
[...] arvorei a  minha chefia (firmar). /  Meu revólver barrasse fogo nele? (atirasse).  / Não me envergonho por ser de escuro nascimento (filho bastado) / Acode que o chefe está no fatal (morrendo).  / [...] aquilo molhou minha idéia (influenciou). Tive testa. Pensei nome feio (raiva). / A guerra podia dar de começar na boca de um momento (imediatamente). / [...] já indo; jagunço nunca dilate (não demora).  / Não me envergonho de ser de escuro nascimento (filho bastardo). /  Um professor de mão-cheia  (muito bom). (ROSA, 2006).


            Os exemplos comprovam a capacidade do autor em  produzir significados que revigoram a construção estética do texto.

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