COMO
DEFINIR A INDISCIPLINA?
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A indisciplina é um problema real tanto na
sala de aula como na escola.
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A indisciplina implica desobedecer às normas
estabelecidas e pode expressar-se de vários modos. Por exemplo: recusar-se a
aprender, não respeitar as regras, manifestar condutas inadequadas, fazer
barulho e brincadeiras durante a aula, etc.
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Deve-se diferenciar violência de indisciplina, pois esta, ao contrário
daquela, deve ser objeto de reflexão e de busca por parte do professor.
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Se é verdade que sempre houve problemas de
indisciplinam, o desconhecimento das fronteiras entre disciplina e indisciplina
fez com que esta última se tornasse um termo fundamental da Educação.
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Toda conduta que parece inadequada se
transformou em um sintoma de indisciplina, a tal ponto que se julga, muitas
vezes, que as crianças precisam receber tratamento. Assim, um problema social
se transforma em questão psicológica. Mas não é com remédio que se resolve o
problema de indisciplina na sala de aula.
COMO
DEFINIR A INDISCIPLINA?
Que
deve fazer um professor na sala de aula? Ensinar ou manter a disciplina?
A
disciplina faz parte da vida da escola. Mas como definir a disciplina e a indisciplina?
Que dizem os professores?
Três pesquisadores, Petinarakis, Gentili e
Sénore, interrogaram, em 1997, um grupo de professores, dos quais 90% afirmaram
que a indisciplina é um problema real, tanto dentro da sala de aula como na
escola. Para muitos deles, a disciplina é instrumental, é uma técnica de gestão
de grupos e não deve ser prescritiva nem descritiva. Alguns defendem que a
disciplina é u instrumento de iniciação
ao senso moral e representa um meio de educar o aluno; para os demais, ela é
uma maneira de reconhecer o outro. Esse último ponto refere-se à necessidade de
trabalhar com a heterogeneidade dos alunos. As respostas dos professores
mostram claramente que são eles que devem ajudar os alunos a interiorizar
progressivamente as regras no sentido da responsabilidade, Para eles, a disciplina
não é sinônimo de poder, e sim um instrumento para o sucesso. Além do mais, a disciplina
apresenta-se como maneira de ser e de se comportar que permite ao aluno
alcançar seu desenvolvimento pleno, tomando consciência da existência do outro,
e que ajuda, ao mesmo tempo, a respeitar as regras como requisito útil para a
ação. Para esses professores, um aluno indisciplinado é aquele que é provocador
(80%), aquele que rejeita as regras (60%), aquele que pode ser insolente e bagunceiro
(70%) ou, ainda aquele que realiza atos de vandalismo, estragando, por exemplo,
o material (50 %).
Todos os professores pensam que podem, num
dado momento, gerar indisciplina ao cometer injustiças em relação aos alunos,
como, por exemplo, demonstrar a preferência por algum deles, estabelecer regras
contraditórias, fazer exigências impossíveis de cumprir, não saber ou não conseguir
se comunicar.
Problemas
de ordem pedagógica têm uma forte influência na emergência de fenômenos de
indisciplina, e ao analisá-los pode ser de especial ajuda para o professor.
Como definir, então, a disciplina?
No sentido mais geral, a
disciplina aparece como um conjunto de regras e obrigações de um determinado
grupo social e que vem acompanhado de sanções
nos casos em que as regras e/ou determinações forem desrespeitadas. Um
dicionário atualizado de educação diz que a disciplina é um conjunto de regras
de conduta, estabelecidas para manter a ordem e o desenvolvimento normal de
atividades em uma aula ou num estabelecimento escolar.
Uma pergunta fundamental
seria: qual a legitimidade da regra e do poder daquele que exerce a força? Para
muitos autores, a disciplina na escola tem a ver com o exercício de um poder, o
do adulto sobre a criança, o do professor sobre o aluno. Esse poder é outorgado
ao professor pelos pais da criança, que lhe deixam exercer, por um tempo limitado, a autoridade
parental; e pela sociedade, que exige do professor que exerça sua profissão. A
disciplina aparece aqui como uma regra coercitiva à qual o indivíduo se submete
por interesse (medo do castigo ou desejo de recompensa).
A
disciplina pode ser olhada também como corretiva. Por exemplo, quando na sanção
consiste em repetir com ortografia correta uma palavra que foi escrita de forma
errada. Porém, o castigo só pode ter um valor educativo se quem o recebe
compreende a razão. Isso depende da idade e também, claro, da complexidade da
situação. Quando há uma relação exagerada entre disciplina e obediência ou
disciplina e submissão, a disciplina pode ser até negativa. O elemento negativo
aparece quando a conduta que o professor classifica como inadequada for tacada
de indisciplina. Por exemplo, se o aluno conversa com outro por conta de um
problema que foi proposto na sala de aula ou, então, quando o aluno não concorda
com a solução do professor, etc. Essas condutas
não devem ser vistas como atos de indisciplinas, e sim como associadas à
criatividade do estudante. Se a disciplina só existe pelo medo que o aluno tem
de ser castigado ou quando o professor adota uma postura autoritária para
estabelecê-la, ela se torna negativa porque, e vez de permitir que o aluno
cresça e conquiste sua autonomia, ela o infantiliza e o mantém dependente.
Porém,
é evidente que disciplina não é necessariamente negativa. A obrigação de
respeitar as regras existe em todos os jogos sociais e esportivos nos quais as
regras são a razão de ser e o vínculo entre os participantes.
POR
QUE E COMO SURGEM OS PROBLEMAS DE INDISCIPLINA?
Os problemas de
indisciplina se traduzem de diferentes
maneiras. Por exemplo, por meio de condutas como rejeitar a aprendizagem,
faltar à aula, não levar os materiais escolares ou não fazer as tarefas. Outra
forma é o desrespeito às normas elementares de conduta sem que exista
necessariamente a intenção de molestar. E, ainda, os problemas de indisciplina
podem se manifestar através de condutas destrutivas. Por exemplo, o aluno fica
em pé frequentemente, interrompe o professor, tenta chamar a atenção, etc.
essas condutas são incomodas e desagradáveis, tanto para o professor quanto
para outros alunos. Em casos extremos, aparecem condutas agressivas.
O conceito de indisciplina
não apenas se traduz de múltiplas maneiras, mas é também objeto de múltiplas interpretações. Assim, a questão
pode ser observada a partir de diferentes marcos de referência: do aluno, do
professor ou da escola. Se considerarmos o referencial do aluno, a noção de
indisciplina se expressa em suas condutas, nas inter-relações com seus pares e
com os profissionais no contexto escolar e, ainda, no contexto do seu
desenvolvimento cognitivo.
Um aluno indisciplinado,
portanto, é aquele que possui uma conduta desviante em relação a uma norma
explícita ou implícita.
COMO ENFRENTAR A
INDISCIPLINA NA ESCOLA?
Olhando pelo referencial da
escola e na medida em que se manifestam as contradições com relação aos
referenciais que ela assume, poderia se
considerar que é a escola a indisciplinada. Por exemplo, uma escola que se
assume como democrática e que manifesta uma ausência desses valores na forma de
articular as relações entre alunos e professores pode desencadear resistência,
oposição e rebelião por parte dos alunos. A rebelião que, sem considerar o
contexto, poderia ser vista como uma forma de indisciplina encontra aqui
legitimidade e pertinência.
Se tomarmos o professor como
ponto de referencia, são suas condutas que aparecem como indisciplinadas quando
ele não respeita as normas estabelecidas. Além do mais, muitas vezes, a forma
de intervir do professor para estabelecer ordem pode gerar indisciplina nos alunos.
E, cada caso, é necessário
questionar o grau de participação da escola na causa da indisciplina, e não
assumir a posição ingênua e autoritária que sugere, sem fundamento algum, que o
problema reside e se origina na atitude do estudante. Se o objetivo for, por
exemplo, a formação de um adulto crítico, capaz de pensar e intervir na
realidade social e exercer assim uma conduta cidadã, o exercício do pensamento crítico
na escola pode tomar a forma de condutas de rebelião e criar situações de conflitos
com as quais os professores não estão suficientemente preparados para lidar. Além
do mais, nesse caso, podemos nos perguntar se estamos diante de uma
indisciplina ou de uma consciência social em formação. É evidente que, se
quisermos que os alunos avancem no sentido da cidadania, é necessário
prepará-los para pensar e resolver conflitos. Se eles não se sentirem capazes
de elaborar e participar na solução de problemas que, em última instancia,
podem ir além dos problemas escolares, as condutas de indisciplina será
inevitáveis. E a questão é que o professor também não está preparado para
resolver os distúrbios que acontecem em sala de aula.
Reagir à indisciplina de
maneira razoável, apostando no raciocínio das crianças, tem mais probabilidade
de dar seus frutos em longo prazo. Mas é difícil alcançar um equilíbrio no
ensino entre a promoção de uma consciência coletiva e o desenvolvimento do
indivíduo.
Uma estratégia em matéria de
conduta não serve se o aluno não vê interesse ou pertinência no que a escola
propõe. Pode-se impor a obediência, mas não a vontade de aprender. É provável
que as condutas que preocupam o professor sejam as condutas disruptivas na sala
de aula, porque elas perturbam e o impedem de exercer a sua função. Como se
manifestam essas condutas? O problema é que se manifestam em situações
particulares e não se apresentam sempre da mesma maneira. Às vezes, é um
pequeno grupo de alunos que, ao se aliar, desestabiliza a dinâmica da aula com
condutas particular tais como o desafio verbal, a resistência às atividades
propostas ou as brincadeiras insolentes em relação ao professor.
Essas crianças tentam testar
o poder do professor e descobrir até onde podem chegar. Quando não consegue
controlar a situação, o professor, inquieto e saturado, pode se expressar
agressivamente, desqualificando o aluno que aparece como o mais provocador.
Aluno e professor enfrentam, enxergam-se como inimigos potenciais e estão na
defensiva. O problema é que, objetivamente, a relação professor/aluno é
desigual. O adulto não pode se comportar feito
criança e a criança não é um adulto. Cada um tem seu papel e ambos
ocupam lugares que não são intercambiáveis.
É preciso compreender que isso não significa que não possam colaborar e
dialogar, mas, se adulto e criança fossem iguais, para que existiria a escola?
As condutas e situações de indisciplina geram angústia e quando há
angústia não se pode estabelecer uma
relação adequada entre professor e aluno;portanto, não se pode estabelecer um
clima de trabalho e respeito mutuo.
Se os alunos tiverem na
frente da turma uma adulto que os respeita, que os escuta, que os trata como
pessoas que pensam e que têm o que dizer, e não apenas como alunos que não
sabem, situações angustiantes, provavelmente, não ocorrerão.
Se as situações de
indisciplina escolar têm relação com uma perspectiva pedagógica, isso não
significa que outras perspectivas não
intervenham. Quais são as concepções das práticas disciplinares? Como situá-las
no contexto cultural e sócio-educativo?
Em geral, o conceito de
indisciplina é definido em relação ao conceito de disciplina, que na linguagem
corrente significa regra de conduta comum a uma coletividade para manter a boa
ordem e, por extensão, a obediência à regra. Evoca-se também a sanção e o castigo que se impõem
quando não se obedece à regra. Assim, o conceito de disciplina está
relacionado com a existência de regras; e o de indisciplina, com a desobediência
a essas regras.
No plano individual, a
palavra disciplina pode ter significados diferentes, e se, para um professor,
indisciplina é não ter o caderno organizado; para outro, ma turma será
caracterizada como indisciplinada se não fizer silencio absoluto e, já para um
terceiro, a indisciplina poderá ser vista de maneira positiva, considerada
sinal de criatividade e de construção de conhecimentos.
Por que, então, hoje falamos
em indisciplina como se fosse um problema fundamental da educação?
É que as condutas
indisciplinadas se generalizam, aas crianças já não obedecem mais, a ideia e
limites desapareceu, a sociedade se transformou, as crianças também mudaram e já sabemos o que
é preciso fazer. Poderíamos dizer que a indisciplina é provocada por problemas
psicológicos, ou familiares, ou da estruturação escolar, ou das circunstancias
sócio-históricas, ou, então, que a indisciplina é causada pelo professor, pela
sua personalidade, pelo seu método pedagógico, etc. Na realidade, a
indisciplina não apenas tem causas múltiplas, como também se transforma, uma
vez que depende de todo um contexto sociocultural que lhe dá sentido.
As regras de disciplina
podem regular a conduta no sentido de permitir, proibir ou possibilitar. Podem,
também, viabilizar a criação. Para isso, o professor deve deixar o aluno falar,
perguntar, mexer-se, expressar-se com liberdade e elaborar as suas próprias ideias.
Porém, se a disciplina é uma
prática social, ter disciplina para algo não significa ser disciplinado para
tudo. A disciplina escolar não se identifica com ordem, e sim co práticas que têm diferentes tipos de exigência.
Assim como muitas práticas sociais, as
condutas de indisciplina chegaram a se
transformar num sintoma de um comportamento individual, um desvio, fazendo
co que os alunos sejam qualificados ou diagnosticados
como instáveis, acelerados, egoístas, individualistas, desrespeitados,
insolentes ou hiperativos. E mais, muitas vezes a indisciplina é interpretada
como uma doença que deve ser curada com remédios. Então, prescreve-se ritalina
para todos. A indisciplina vira problema para especialistas, médicos ou
psicológicos, e deixa de ser um problema que concerne ao professor ou aos pais.
Texto apresentado durante o Curso de Magistério.
Professora D. Vanessa Barbosa
Escola Elementar Gambela, no distrito de Welisso, na Etiópia (Grau 1, música, 9 de outubro de 2009) Foto: Julian Germain/Classroom Portraits 2004-2012/Divulgação