O TEXTO POÉTICO
Entende-se,
conforme Jean Cohen (1996) que a linguagem poética existe por si mesma e que a
sua função não é exclusividade da poesia existindo também na prosa. A linguagem
poética pode estar presente em qualquer texto e nesse caso é considerado como
uma arte. Segundo esse autor “A prosa é
o grau zero do estilo. A realidade, tão logo é falada, entrega seu destino
estético nas mãos da linguagem. Ela será poética se for poema, prosaica se for
prosa” (1996, p.36). Entende-se, então que,
segundo Cohen (1996), a linguagem poética é significação e que a palavra
nas mãos de um poeta ultrapassa o que é capaz de expressar.
A
função poética da linguagem não apresenta uma
finalidade prática, mas sim estética. Isso acontece porque o próprio objeto – a
mensagem – torna-se o foco de si mesmo, despertando a reação pelo que é, e não por aquilo para que serve.
A função poética da linguagem é um elemento de comunicação
utilizado para chamar a atenção do destinatário da mensagem para o texto. Na
função poética, a mensagem está voltada para sua própria estruturação. Pode
manifestar-se na linguagem verbal e não verbal.
Na linguagem verbal, a função poética busca por elementos que enriqueçam
a construção da mensagem. O mais importante entre esses elementos é a eufonia
(sucessão de sons agradáveis), além do emprego de figuras de linguagem e outros recursos que conferem maior expressividade ao
texto. Além da prosa e da poesia, a função poética também pode ser encontrada
na fotografia, na música, no teatro, no cinema, na pintura e em qualquer
modalidade discursiva que apresente uma maneira diferente de elaborar o código,
transgredindo a visão convencional à qual estamos habituados. No entanto a forma mais comum de encontrarmos a
linguagem poética é no poema, no verso.
O TEXTO POÉTICO E O CONCRETISMO
O
Concretismo caracteriza-se como movimento de cunho marcadamente racionalista,
buscando na arte a expressão de um geometrismo extremo. Assim, o poema viu
destituído o verso em seu interior, em favor do aproveitamento pleno da folha
de papel e da exploração máxima de seus possíveis preenchimentos, bem como de
seus vazios. Segundo tais preceitos, forma e conteúdo não mais deveriam
corresponder a diferentes planos de apreensão da literatura, mas sim a um
contínuo a ser explorado pelo artista.
Em
1964 com o Golpe Militar, no Brasil e a fase da Ditadura, em que muitos
pensavam em promover uma revolução social, traduzindo a realidade brasileira
por meio de manifestações artísticas. O Concretismo surge então trazendo como
ideologia fazer da palavra concreta objeto real
real para as manifestações voltadas
para a crítica à sociedade, tendo no consumo exacerbado
e no capitalismo sua principal fonte de alimentação.
São
traços marcantes da estética concretista:
- a atomização vocabular na qual as palavras se
desmancham, se refazem, em favor da expressividade de sua nova forma;
- a polissemia, uma vez que os vocábulos assumem
uma valência de significados múltipla, ditada pela disposição no interior da
poesia;
- uma linguagem de intenso apelo persuasivo,
aproximando-se, assim, da linguagem publicitária;
- o intercruzamento permanente das linguagem visual
e verbal;
- comunicação icônica, ou seja, a forma da letra,
sua posição, sua cor, tudo a esse respeito é elemento para interpretação.
O
Concretismo, como tendência contemporânea, permanece bastante vivo, inclusive,
pela proximidade mantida com a linguagem publicitária, bastante cotidiana em
nossas vidas e pela possibilidade amplamente divulgada.
Pode-se afirmar que a
existência do Concretismo foi muito positiva para a cultura brasileira, por
conribuir para enriquecer certas formulações de linguagem da publicidade.
Percebe-se que o concretismo marcou um
avanço em direção a uma arte multimídia, em que a poesia passa a ter uma
relação imediata com as outras artes. Isso porque a função poética da linguagem
não está restrita aos textos literários. Por conferir expressividade ela é
muito utilizada na música e na publicidade, por exemplo.
O Concretismo abriu
caminho para novas possibilidades, novas propostas. Por isso, a importância de
trabalhar o gênero em sala de aula.
O POEMA CONCRETO E AS
ESTRATÉGIAS DE LEITURA
No
poema concreto a palavra é a base do poema e não um sentimento ou uma coisa. O
poeta concreto vê a palavra em si mesma como um mundo de possibilidades,
dinâmica, viva. O autor do Concretismo vai ao centro das palavras, à sua
verdade factual.
A
estrutura do poema concreto se manifesta basicamente na sonoridade e no ritmo
permitidos também pelas figuras de linguagem, e
pelo apelo visual. Assim
ampliam-se os limites semânticos das palavras ao cairem as regras gramaticais e
sintáticas. Dos estratos presentes na poesia convencional dois se destacam no
Concretismo: o estrato gráfico e o estrato fônico
No
estrato gráfico verifica-se o formato do texto: o tamanho dos versos (ou
parágrafos), a pontuação, se há versos mais longos que os outros, se há
palavras em itálico ou em negrito, ou escritas com maiúsculas, etc.
Na
poesia concretista, o aspecto gráfico tem muita importância, mas em todo texto,
deve-se verificar se há parênteses,
colchetes, ou outros sinais de pontuação.
No
estrato fônico, deve-se observar a combinação de sons graves e agudos, abertos
e fechados, as rimas, o ritmo e, se houver, as figuras fônicas: aliterações, paromásias,
assonâncias, onomatopeias, ecos etc.
De acordo com Campos, Pignatari e Campos:
Os elementos
fonéticos auxiliam a criação das relações entre as palavras, funcionando como
se foram fatores- de-proximidade-e-semelhança para um todo visual, e
estabelecendo uma espécie de corrente eletro-magnética que atrai ou repele as
palavras (CAMPOS, PIGNATARI,CAMPOS, 1975, p. 121-122).
Esses
autores esclarecem que a “poesia concreta não se dissocia da linguagem, nem da
comunicação. Mas despe a armadura formal da sintaxe discursiva (1975. p.122)”.
Surge, então, uma nova perspectiva de poesia
Na
Literatura Brasileira, já há algum tempo, encontra-se poetas e escritores que abordam em suas obras as contradições do mundo capitalista. Entre
eles destaca-se o poema concreto de Augusto Campos em que o lixo é o cenário
sobre o qual o poema se constrói:
De acordo
com a análise pode-se afirmar que foneticamente o cerne do poema é a palavra
luxo porém ao substituir o fonema “u”
pelo fonema “i” surge a palavra lixo.
Diante do fato que lixo é um substantivo e luxo um adjetivo, pode–se entender a
intenção do autor ao afirmar que o lixo é um luxo. Na opinião concreta do autor
ele não abre mão ao afirmar os conceitos do dois termos na dinâmica do
concretismo.
Esse
poema joga mais com a palavra do que com
o espaço em branco. No imperativo “beba coca” há uma reiteração da necessidade de se consumirem e de se
assimilarem todos os componentem culturais que de forma implícita a coca
representa. Há um balé e um fusão de palavras ate chegar em “cloaca” impregnada
de uma semântica depreciativa negando o homem e a cultura. Como em “oca” em que
supõe-se o homem em seu estado primitivo, e o vocábulo “calo” que remete à
submissão.
O
poema “pluvial”, de Augusto de Campos, possui palavras sonoramente semelhantes.
“Pluvial” verticalmente caindo como chuva, e “fluvial” horizontalmente correndo
como rio, que simetricamente estruturam o poema.
Os
exemplos deixam claros que o Concretismo possui regras internas precisas e
rigorosas na construção dos poemas que foram criados como objetos polissêmicos
que classificam o artístico na sociedade.
Ler
não é só decodificar signos, mas construir sentidos para o que se lê. Para isso
o leitor deve se valer dos conhecimentos prévios que possui sobre o asssunto e
a interação com o suporte da leitura. Deve-se levar em consideração, que as
influências cognitivas, como opiniões, crenças ou objetivos diferentes, podem
atuar na construção da representação sobre o enunciado, o que faz com que
diferentes leitores construam significados diferenciados, produzindo diferentes
tipos de inferências.
Dentro
de sala de aula, cabe ao professor mediar situações de ensino em que a leitura
aconteça de uma forma prazerosa, com motivação e objetivos definidos.
Ressalta-se que a leitura deve ser
incentivada em todas as disciplinas e não somente nas aulas de Língua
Portuguesa. O professor deve estar atento às dificuldades de compreensão do
texto pelo aluno, observando nesse caso
uma atenção e releitura da parte incompreendida.
A
curiosidade própria do aluno jovem vai incentivá-lo a buscar recursos para
entender o texto Concreto e aprender. Porém o professsor deve ter a função de
guia e mediador para a construção do conhecimento.
No
caso do texto Concreto o professor deve ativar o conhecimento prévio do aluno
sobre o tema e o contexto. Dessa forma
ele terá maiores possibilidades de atribuir um significado ao que está lendo. .
É importante que o professor, além do tema, mostre ao alunos os aspectos
relacionados aos estratos gráficos e estratos fônicos já citados. Isso
significa que antes de apresentar o poema concreto o professor deve trabalhar
as figuras de linguagem presentes no texto concreto, todos os sons próprios de
cada poema. Da mesma maneira, as formas gráficas e visuais e o que isso representa para a construção do
poema concreto.
Leitura,
para Solé (2008, p.22) “é um processo de interação entre o leitor e o texto”. É
um momento único em que o leitor deve examinar detalhadamente o texto,
identificando as ideias principais, a mensagem que o autor quer passar. Nesse
processo, “não quer dizer que o significado que o escrito tem para o leitor não
é uma réplica do significado que o autor quis lhe dar, mas uma construção que
envolve o texto, os conhecimentos prévios do leitor que o aborda e seus
objetivos.” (SOLÉ, 1998, p.22). Acredita-se que somente com o contato com os poemas
desse gênero textual – Concretismo – o aluno irá construir o significado, aos
poucos, e assim compreender, conforme salienta Solé (2008, p. 44) “compreender
é sobretudo um processo de construção de significados sobre o texto que
pretendemos compreender”.
A
leitura por si só, é uma prática social, que o indivíduo começa em casa, junto
com os hábitos familiares, e na escola. Nesse sentido, é aconselhável que a
criança faça as próprias escolhas do que quer ler. Isso irá contribuir para,
mais tarde, já no período do ensino fundamental, ele consiga ler e compreender outros tipos de textos.
Segundo Solé (2008, p.44) “é imprescindível que o leitor encontre sentido no
fato de efetuar o esforço cognitivo que pressupõe a leitura e para isso tem de
conhecer o que vai ler e para que fará isso”.
Isabel
Solé (2008) ensina que uma das estratégias a serem utilizadas deve ser traçar
objetivos para a leitura. Nesse caso o
professor deve explicar bem porque devem ler e compreender o poema do
Concretismo. Interessante praticar a
leitura em voz alta e também verificar junto com o aluno o que ele já aprendeu.
Outro procedimento importante deve ser a postura do professor que deve
demonstrar que gosta de leitura, incentivando o aluno a ler. O professor deve
comentar sobre outros textos, outros gêneros textuais.
No
caso do Concretismo, antes de apresentar o texto , o professor deve antecipar explicações sobre o tema, condições de produção,
etc., aguçando a curiosidade dos alunos. Além disso, deve mostrar como se lê
nas entrelinhas. Explicar como as caractrísticas do poema concreto se
manifestam e contribuem para reforçá-las.
O
professor deve levantar uma conversação com alunos afim de ativar o
conhecimento prévio que eles possam ter sobre o tema do poema. Nessa conversa o
professor deve ajudar os alunos a contextualizarem o tema e a intenção do autor,
com a própria realidade de cada um, explicando todos os itens que precisam ser
analisados. Como as características já citadas, como os elementos gráficos e fônicos. Uma das
propostas de Isabel Solé (2008, p.45) como estratégias de leitura é promover perguntas dos alunos a respeito do
texto. Segundo a autora “esta estratégia opera
durante toda a leitura e auxilia o aluno a melhorar a velocidade do
processamento do texto, e de acordo com Solé acontece uma reorganização de conhecimentos
anteriores, tronando mais completo e mais complexo o que permite relacioná-los
com novos conceitos e por isso pode-se dizer que aprendemos”.
Acredita-se
que, a partir daí, será possível uma compreensão global do texto e a construção
do significado.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
COHEN,
Jean. Estrutura da Linguagem Poética;
tradução de Álvaro Lorencini e Anne Arnichandi. São Paulo, Cultrix, Ed. da
Universidade de São Paulo, 1974.
SOLÉ,
Isabel. Estratégias de leitura. 6ª
ed. ARTIMED EDITORA S.A. Porto Alegre, RS : Artimed.
2009.
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