domingo, 26 de abril de 2020


O TEXTO POÉTICO

Entende-se, conforme Jean Cohen (1996) que a linguagem poética existe por si mesma e que a sua função não é exclusividade da poesia existindo também na prosa. A linguagem poética pode estar presente em qualquer texto e nesse caso é considerado como uma arte. Segundo esse autor  “A prosa é o grau zero do estilo. A realidade, tão logo é falada, entrega seu destino estético nas mãos da linguagem. Ela será poética se for poema, prosaica se for prosa” (1996, p.36). Entende-se, então que,  segundo Cohen (1996), a linguagem poética é significação e que a palavra nas mãos de um poeta ultrapassa o que é capaz de expressar.
            A função poética da linguagem não apresenta uma finalidade prática, mas sim estética. Isso acontece porque o próprio objeto – a mensagem – torna-se o foco de si mesmo, despertando a reação pelo  que é, e não por aquilo para que serve. A função poética da linguagem é um elemento de comunicação utilizado para chamar a atenção do destinatário da mensagem para o texto. Na função poética, a mensagem está voltada para sua própria estruturação. Pode manifestar-se na linguagem verbal e não verbal.
Na linguagem verbal, a função poética busca por elementos que enriqueçam a construção da mensagem. O mais importante entre esses elementos é a eufonia (sucessão de sons agradáveis), além do emprego de figuras de linguagem e outros recursos que conferem maior expressividade ao texto. Além da prosa e da poesia, a função poética também pode ser encontrada na fotografia, na música, no teatro, no cinema, na pintura e em qualquer modalidade discursiva que apresente uma maneira diferente de elaborar o código, transgredindo a visão convencional à qual estamos habituados. No entanto a forma mais comum de encontrarmos a linguagem poética é no poema, no verso.


O TEXTO POÉTICO E O CONCRETISMO

            O Concretismo caracteriza-se como movimento de cunho marcadamente racionalista, buscando na arte a expressão de um geometrismo extremo. Assim, o poema viu destituído o verso em seu interior, em favor do aproveitamento pleno da folha de papel e da exploração máxima de seus possíveis preenchimentos, bem como de seus vazios. Segundo tais preceitos, forma e conteúdo não mais deveriam corresponder a diferentes planos de apreensão da literatura, mas sim a um contínuo a ser explorado pelo artista.
            Em 1964 com o Golpe Militar, no Brasil e a fase da Ditadura, em que muitos pensavam em promover uma revolução social, traduzindo a realidade brasileira por meio de manifestações artísticas. O Concretismo surge então trazendo como ideologia fazer da palavra concreta objeto real  real para as manifestações voltadas para a crítica à sociedade, tendo no consumo exacerbado e no capitalismo sua principal fonte de alimentação.
            São traços marcantes da estética concretista: 
- a atomização vocabular na qual as palavras se desmancham, se refazem, em favor da expressividade de sua nova forma; 
- a polissemia, uma vez que os vocábulos assumem uma valência de significados múltipla, ditada pela disposição no interior da poesia; 
- uma linguagem de intenso apelo persuasivo, aproximando-se, assim, da linguagem publicitária; 
- o intercruzamento permanente das linguagem visual e verbal; 
- comunicação icônica, ou seja, a forma da letra, sua posição, sua cor, tudo a esse respeito é elemento para interpretação.
            O Concretismo, como tendência contemporânea, permanece bastante vivo, inclusive, pela proximidade mantida com a linguagem publicitária, bastante cotidiana em nossas vidas e pela possibilidade amplamente divulgada.
Pode-se afirmar que a existência do Concretismo foi muito positiva para a cultura brasileira, por conribuir para enriquecer certas formulações de linguagem da publicidade. Percebe-se que  o concretismo marcou um avanço em direção a uma arte multimídia, em que a poesia passa a ter uma relação imediata com as outras artes. Isso porque a função poética da linguagem não está restrita aos textos literários. Por conferir expressividade ela é muito utilizada na música e na publicidade, por exemplo.
O Concretismo abriu caminho para novas possibilidades, novas propostas. Por isso, a importância de trabalhar  o gênero em sala de aula.


O POEMA CONCRETO E AS ESTRATÉGIAS DE LEITURA

            No poema concreto a palavra é a base do poema e não um sentimento ou uma coisa. O poeta concreto vê a palavra em si mesma como um mundo de possibilidades, dinâmica, viva. O autor do Concretismo vai ao centro das palavras, à sua verdade factual.
            A estrutura do poema concreto se manifesta basicamente na sonoridade e no ritmo permitidos também pelas figuras de linguagem, e  pelo apelo visual.  Assim ampliam-se os limites semânticos das palavras ao cairem as regras gramaticais e sintáticas. Dos estratos presentes na poesia convencional dois se destacam no Concretismo: o estrato gráfico e o estrato fônico
            No estrato gráfico verifica-se o formato do texto: o tamanho dos versos (ou parágrafos), a pontuação, se há versos mais longos que os outros, se há palavras em itálico ou em negrito, ou escritas com maiúsculas, etc.
            Na poesia concretista, o aspecto gráfico tem muita importância, mas em todo texto, deve-se verificar se há  parênteses, colchetes, ou outros sinais de pontuação.
            No estrato fônico, deve-se observar a combinação de sons graves e agudos, abertos e fechados, as rimas, o ritmo e, se houver, as figuras fônicas: aliterações, paromásias, assonâncias, onomatopeias, ecos etc.
De acordo com Campos, Pignatari e Campos:
Os elementos fonéticos auxiliam a criação das relações entre as palavras, funcionando como se foram fatores- de-proximidade-e-semelhança para um todo visual, e estabelecendo uma espécie de corrente eletro-magnética que atrai ou repele as palavras (CAMPOS, PIGNATARI,CAMPOS, 1975, p. 121-122).

            Esses autores esclarecem que a “poesia concreta não se dissocia da linguagem, nem da comunicação. Mas despe a armadura formal da sintaxe discursiva (1975. p.122)”. Surge, então, uma nova perspectiva de poesia
            Na Literatura Brasileira, já há algum tempo, encontra-se poetas e escritores  que abordam em suas obras  as contradições do mundo capitalista. Entre eles destaca-se o poema concreto de Augusto Campos em que o lixo é o cenário sobre o qual o poema se constrói:

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            De acordo com a análise pode-se afirmar que foneticamente o cerne do poema é a palavra luxo porém ao substituir  o fonema “u” pelo fonema “i” surge a  palavra lixo. Diante do fato que lixo é um substantivo e luxo um adjetivo, pode–se entender a intenção do autor ao afirmar que o lixo é um luxo. Na opinião concreta do autor ele não abre mão ao afirmar os conceitos do dois termos na dinâmica do concretismo.
           


            Esse poema joga mais com  a palavra do que com o espaço em branco. No imperativo “beba coca” há uma reiteração  da necessidade de se consumirem e de se assimilarem todos os componentem culturais que de forma implícita a coca representa. Há um balé e um fusão de palavras ate chegar em “cloaca” impregnada de uma semântica depreciativa negando o homem e a cultura. Como em “oca” em que supõe-se o homem em seu estado primitivo, e o vocábulo “calo” que remete à submissão.


            O poema “pluvial”, de Augusto de Campos, possui palavras sonoramente semelhantes. “Pluvial” verticalmente caindo como chuva, e “fluvial” horizontalmente correndo como rio, que simetricamente estruturam o poema.
            Os exemplos deixam claros que o Concretismo possui regras internas precisas e rigorosas na construção dos poemas que foram criados como objetos polissêmicos que classificam o artístico na sociedade.
            Ler não é só decodificar signos, mas construir sentidos para o que se lê. Para isso o leitor deve se valer dos conhecimentos prévios que possui sobre o asssunto e a interação com o suporte da leitura. Deve-se levar em consideração, que as influências cognitivas, como opiniões, crenças ou objetivos diferentes, podem atuar na construção da representação sobre o enunciado, o que faz com que diferentes leitores construam significados diferenciados, produzindo diferentes tipos de inferências.
            Dentro de sala de aula, cabe ao professor mediar situações de ensino em que a leitura aconteça de uma forma  prazerosa,  com motivação e objetivos definidos. Ressalta-se que  a leitura deve ser incentivada em todas as disciplinas e não somente nas aulas de Língua Portuguesa. O professor deve estar atento às dificuldades de compreensão do texto pelo  aluno, observando nesse caso uma atenção e releitura da parte incompreendida.
            A curiosidade própria do aluno jovem vai incentivá-lo a buscar recursos para entender o texto Concreto e aprender. Porém o professsor deve ter a função de guia e mediador para a construção do conhecimento.
            No caso do texto Concreto o professor deve ativar o conhecimento prévio do aluno sobre o tema  e o contexto. Dessa forma ele terá maiores possibilidades de atribuir um significado ao que está lendo. . É importante que o professor, além do tema, mostre ao alunos os aspectos relacionados aos estratos gráficos e estratos fônicos já citados. Isso significa que antes de apresentar o poema concreto o professor deve trabalhar as figuras de linguagem presentes no texto concreto, todos os sons próprios de cada poema. Da mesma maneira, as formas gráficas e visuais  e o que isso representa para a construção do poema concreto.
            Leitura, para Solé (2008, p.22) “é um processo de interação entre o leitor e o texto”. É um momento único em que o leitor deve examinar detalhadamente o texto, identificando as ideias principais, a mensagem que o autor quer passar. Nesse processo, “não quer dizer que o significado que o escrito tem para o leitor não é uma réplica do significado que o autor quis lhe dar, mas uma construção que envolve o texto, os conhecimentos prévios do leitor que o aborda e seus objetivos.” (SOLÉ, 1998, p.22). Acredita-se que somente com o contato com os poemas desse gênero textual – Concretismo – o aluno irá construir o significado, aos poucos, e assim compreender, conforme salienta Solé (2008, p. 44) “compreender é sobretudo um processo de construção de significados sobre o texto que pretendemos compreender”.
            A leitura por si só, é uma prática social, que o indivíduo começa em casa, junto com os hábitos familiares, e na escola. Nesse sentido, é aconselhável que a criança faça as próprias escolhas do que quer ler. Isso irá contribuir para, mais tarde, já no período do ensino fundamental, ele consiga  ler e compreender outros tipos de textos. Segundo Solé (2008, p.44) “é imprescindível que o leitor encontre sentido no fato de efetuar o esforço cognitivo que pressupõe a leitura e para isso tem de conhecer o que vai ler e para que fará isso”.
            Isabel Solé (2008) ensina que uma das estratégias a serem utilizadas deve ser traçar objetivos para a  leitura. Nesse caso o professor deve explicar bem porque devem ler e compreender o poema do Concretismo.  Interessante praticar a leitura em voz alta e também verificar junto com o aluno o que ele já aprendeu. Outro procedimento importante deve ser a postura do professor que deve demonstrar que gosta de leitura, incentivando o aluno a ler. O professor deve comentar sobre outros textos, outros gêneros textuais.
            No caso do Concretismo, antes de apresentar o texto , o professor deve antecipar  explicações sobre o tema, condições de produção, etc., aguçando a curiosidade dos alunos. Além disso, deve mostrar como se lê nas entrelinhas. Explicar como as caractrísticas do poema concreto se manifestam e contribuem para reforçá-las.
            O professor deve levantar uma conversação com alunos afim de ativar o conhecimento prévio que eles possam ter sobre o tema do poema. Nessa conversa o professor deve ajudar os alunos a contextualizarem o tema e a intenção do autor, com a própria realidade de cada um, explicando todos os itens que precisam ser analisados. Como as características já citadas, como os  elementos gráficos e fônicos. Uma das propostas de Isabel Solé (2008, p.45) como estratégias de leitura  é promover perguntas dos alunos a respeito do texto. Segundo a autora “esta estratégia opera durante toda a leitura e auxilia o aluno a melhorar a velocidade do processamento do texto, e de acordo com Solé acontece  uma reorganização de conhecimentos anteriores, tronando mais completo e mais complexo o que permite relacioná-los com novos conceitos e por isso pode-se dizer que aprendemos”.          
            Acredita-se que, a partir daí, será possível uma compreensão global do texto e a construção do significado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COHEN, Jean. Estrutura da Linguagem Poética; tradução de Álvaro Lorencini e Anne Arnichandi. São Paulo, Cultrix, Ed. da Universidade de São Paulo, 1974.

SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6ª ed.  ARTIMED EDITORA S.A. Porto Alegre, RS : Artimed. 2009.




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