Não
tenha a pretensão de achar que a sua verdade é a única, e a verdadeira! Fazendo
isso, você estará negando a existência do outro. Porque somos nossas verdades.
E você incorre no risco de também ser
negado já que somos o outro.
Não
acredite que aquilo em que acredita como ponto e referência de sua vida está
pronto e acabado e é imutável. Nada é imútavel. Todas as coisas, as ditas, as não
ditas, as concretas e as abstratas,
estão em constante mudança e efervescência. E devem ser assim, senão o mundo, a
vida, seriam muito chatos. E tudo que existe lá fora, e aqui dentro, recebe a influência de todos. Porque é o homem que muda
as coisas. Todas as verdades, as estabelecidas, e aquelas que ainda virão. Para
essas, ele prepara tanto a semeadura
quanto o celeiro.
Mesmo
o que já foi dito, e comprovado, pelos grandes da Antiguidade e agora pelos
contemporâneos, é redito de acordo com a interpretação e necessidade de cada
um. É comum se deparar com ideias já consagradas em falas de pessoas simples e
aí você percebe que o que deve ser
verdadeiro quanto à dignidade e caracteres humanos não tem autoria, não tem
procedência.
Muito
do que é declamado como norma de vida e que já foi amplamente divulgado, é a
verdade de pessoas que nunca ouviram falar em normas e procedimentos éticos. O
que comprova a existência de verdades, independente da vontade de alguns. Está
na essência da pessoa. Muitas vezes o real está no não dito, por trás do
escrito. Mesmo nesses tempos de comunicação.
Portanto,
se existem muitas verdades, isso significa que não são imutavelmente únicas e
verdadeiras. Transformam-se de acordo com a realidade de cada um. Na verdade, a
única certeza que temos é a da finitude de todas as coisas. Até das verdades. E
das realidades. Que não acabam, transformam-se.
Quanto à morte de nós mesmos, isso não pode
ser encarado como finitude. Temos as doutrinas que falam em vida pós-morte. E
como duvidar? “Vai que...né!” Além disso, sabemos que quando amamos alguém e
que ele se vai, fica a lembrança desse
alguém em nós. O que é uma forma de vida.
E essa é uma verdade que perseguimos, enquanto o coração dita. Já disse
em outro texto que, para mim, a morte só alcança esse status de completude quando permitimos. Quando matamos o outro, até
as lembranças, dentro de nós. O ser, o concreto, também não se acaba. Sabemos
que voltamos ao pó de onde viemos. Aqui, também, comprova-se a existência das
muitas verdades e de como elas se adequam às realidades de cada um. É o que acontece com os grandes artistas, os
pensadores, os profissionais, e toda a
espécie de homens, os bons e os
maus, que se mantêm vivos por seus feitos,
suas obras, seus pensamentos. E suas verdades.
O alcance das coisas e das ideias só existem
se houver a permissão do ser. Podemos
negar a sua existência em nós o que
é uma forma de morte. O que coloca em dúvida todas as verdades.
Da
mesma forma, o que é vivo dentro de mim, pode nunca ter existido para o outro.
Lécia Freitas
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