Às vezes, para ser sano, precisamos
atravessar a tênue linha da loucura. Porque ser louco nos protege da realidade.
Essa realidade que nos consome. Ser louco é aceitar a metáfora que a vida nos
oferece, é acreditar em coisas que no real não existem. E das quais precisamos.
Para suportarmos o real embarcamos em viagens imaginadas dentro de nós, ou
dentro de um mundo onde vamos buscar o que o real não nos oferece. Ou que,
quase sempre, nos tira. A capacidade de ser louco e de fazer viagens
interplanetárias e intro-humanas devolve a sanidade que o real aniquila. É
preciso ser louco para não se integrar à paranoia verdadeira. A realidade, na
verdade, não existe. Se existisse seria a mesma para todos. E não é o que
acontece. Um mesmo fato é visto e sentido de diversas formas. De acordo com o
sentimento de cada um. O que para um indivíduo não tem importância, para outro
tem a dimensão que extrapola a própria realidade, de tão significativo. Portanto,
a realidade que caracteriza a sanidade não existe. Existe a loucura de cada um.
Então, o ser humano que é feliz porque viu o raio da lua e sentiu que era o
mesmo que encantou o seu amor do outro lado do mundo, usou do ácido mais
poderoso: o ácido do amor! Então, o humanoide que flutua no tempo e no espaço
porque sentiu o vento na pele e percebeu o cheiro do seu amor, porque esse mesmo vento esteve do outro lado
do mundo e despenteou aqueles cabelos e refrescou aquela outra pele, vive a
metáfora mais arrepiante, mais doce, mais viajada, que alguém pode ter. É o desatino mais sensato,
o paradoxo mais combinado, a loucura
mais real.
Lécia
Freitas
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