quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Política

A ilusão do impeachment

Flávio Riani¹

A grande população brasileira favorável ao impeachment da Presidenta Dilma Rousseff mostra quanto nossa sociedade está despreparada para discutir assuntos importantes do país nos campos político, social e econômico.
Ela forma opinião com base na pressão e na massificação das informações e nas análises desenvolvidas enviesadamente pelos meios de comunicação dominantes no Brasil. Esses meios, pela força que têm, crucificam e absolvem qualquer agente político do país em questão de dias.
No caso específico da presidente Dilma Rousseff, os meios de comunicação imputam a ela uma série de culpabilidades totalmente descabidas  e que acabam influenciando a opinião da grande parte da sociedade brasileira, incapaz de uma  avaliação eficiente do que efetivamente está ocorrendo.
Ressalte-se, entretanto, que existe outro grupo, que faz parte dessa parcela da sociedade, que tem conhecimento e visões diferentes sobre o que ocorre no país e participa dos adeptos do impeachment por convicção ideológica.
Do ponto de vista político, não existe nenhum fato importante que sustente o impeachment da presidente. Ela foi eleita democraticamente, e, desde que o resultado foi divulgado, os perdedores não foram capazes de reconhecer sua incompetência por terem perdido a eleição. Desde então, diferentemente do que se faz numa democracia, começaram um processo de desestabilização permanente do governo.
Do ponto de vista econômico, devem-se reconhecer os equívocos cometidos pelo governo, mas de forma alguma pode-se imputar só a ele a culpa pelas dificuldades econômicas do país. Sabidamente, elas são também decorrentes de fatores externos e, principalmente, do processo de desestabilização criado no Congresso Nacional, com o apoio da oposição, votando e aprovando matérias que dificultariam mais ainda a situação econômica do país e que faziam parte da política de controle do governo.
Nesse sentido, torna-se necessário que a sociedade reflita melhor sobre as consequências do impeachment em dois pontos básicos: primeiro, a necessidade de haver embasamento legal para um eventual processo de impeachment. Outro ponto relevante é não se deixar levar por movimento políticos sem avaliar a consequências de tais atos para a democracia brasileira
A sociedade deve também refletir sobre os eventuais substitutos da presidente e as políticas que eles sustentam. É preciso conhecer quem são Michel Temer, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, nossos eventuais presidentes no caso do impeachment de Dilma.
Por fim, gostaria de sugerir a Hélio Bicudo e seus aliados, os opositores do impeachment, que avaliassem a situação da Lei de Responsabilidade Fiscal também no âmbito das demais esferas de governo no Brasil, pois certamente terão muitas surpresas perante os questionáveis pontos levantados em relação ao governo federal.
Não se iludam com o impeachment. A eleição é o melhor processo de julgamento. Sem ela, poderemos passar por dias ainda piores.

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¹ Economista e Professor

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
 RIANI, Flávio. Entre Aspas. O TEMPO. Belo Horizonte. 19 dez. 2015, p. 15.



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