sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Resumo

O fazer docente

            A atuação de professores é um tema amplamente discutido pelos profissionais da área. Isso porque a escola é fundamental na vida das pessoas. Daí a importância de se ter professores e ensino com qualidade.  A docência exige preparo, atenção e dedicação.
            O que se pode observar é que parte das discussões sobre a  Educação, atualmente, não se limita apenas em como levar o aluno até a escola, mas o que fazer para que ele permaneça no espaço escolar  e  como aperfeiçoar a sua aprendizagem.
            Nesse contexto, a formação de professores é um assunto de extrema importância já que resultados no processo ensino-aprendizagem dependem, em parte, da atuação do professor.  Essa formação deve se validar na teoria e na prática, principalmente para aqueles que vão atuar na Educação Infantil em que  é indispensável observar o desenvolvimento integral da criança. O educador, nesse caso, deve estar ciente que a prática pedagógica e o cuidar são indissociáveis.
            Os professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental, também deverão pontuar seu trabalho com versatilidade, uma  vez  que vão receber crianças ainda pequenas que devem ser reconhecidas com suas  singularidades e individualidades no campo social, além da aprendizagem dos conteúdos  curriculares.
            Os estudantes de pedagogia se deparam, ao longo do curso com teorias que vão embasar o seu trabalho. Nesse processo de formação, ele  deve refletir sobre as teorias  e transformar todo esse saber em práticas para o fazer docente. Considerando a realidade dos alunos.
            Diante disso, pode-se asseverar a validade de aliar a teoria à prática, uma vez que aquela  representa o conhecimento cientifico que  fundamenta o  processo educacional, levando o professor a refletir sobre suas ações com o objetivo de compreendê-las em seu movimento histórico social.

            No entanto deve-se considerar que somente  pelas próprias vivências  será possível um repensar crítico e construtivo, no sentido de contribuir para a formação  do aluno como um sujeito pensante.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Sobre a ANÁLISE DO DISCURSO --- 1



 Análise do Discurso

             Análise do Discurso - trata-se de uma disciplina com origens na França, na década de 1960, e em 1994. Madidier descreve sua função através das figuras de Jean Dubois e Michel Pêcheux.
            O projeto da AD se inscreve em um objetivo político e a Linguística oferece meios para abordar a política.
            Na conjuntura estruturalista, a autonomia da linguagem é reconhecida devido ao recorte do seu objeto de estudo que é a língua. o estruturalismo de vertente sausssureana define as estruturas da língua de acordo com  a relação que elas estabelecem  entre si dentro de um mesmo sistema lingüístico.
            A Linguística então se impõe com relação às ciências humanas como uma área que confere cientificidade aos estudos. Dessa forma,  Linguistica então para o projeto althusseriano, aparece assim: Como a ideologia deve ser estudada em sua materialidade, a linguagem se coloca como uma via por meio da qual se pode depreender o funcionamento da ideologia.
            Já a Linguística Saussureana fundada sobre a dicotomia língua/fala, permitiu a constituição da Fonologia, da Morfologia, e da Sintaxe, mas não foi, segundo Pêcheux, suficiente para permitir a constituição da Semântica, lugar de contradições da Lingüística. Para Pêcheux, a significação não é sistematicamente aprendida por ser da ordem da fala, portanto, do sujeito. E não da ordem da língua, pelo fato de sofrer alterações de acordo com as posições ocupadas elos sujeitos que enunciam.
            A partir da descoberta do inconsciente por Freud, o conceito de sujeito sofre uma alteração substancial, seu estatuto de entidade homogênea passa a ser questionado diante  da concepção freudiana de sujeito clivado, dividido entre consciente e o inconsciente. Lacan faz uma releitura de Freud, numa tentativa de abordar com mais precisão o inconsciente.
            Lacan assume que o inconsciente se estrutura como uma linguagem, como uma cadeia de significantes latente que se repete e interfere no discurso efetivo, como se o discurso fosse atravessado pelo discurso do Outro, do inconsciente. O inconsciente é o lugar desconhecido, estranho, de onde emana o discurso do Outro e em relação ao qual o sujeito ganha identidade. Assim o sujeito é visto como uma representação. Lacan aborda esse inconsciente, demonstrando que existe uma estrutura discursiva que é regida por leis.
            Saussure define o sistema linguístico a partir do critério diferencial, segundo o qual na língua não há mais que diferenças. Não atribuindo aos elementos do sistema nada de substancial, tomando suas características independentes das características de outros elementos do sistema, sem referi-las ou compará-las.            Passa-se, assim, do critério diferencial ao critério relacional, que delimita  função do Outro no interior do sistema.
            A definição de cada elemento é uma definição de posição, ou seja, a sua identidade resulta sempre da relação que um elemento, que ocupa uma determinada posição inicial no interior do sistema, matem com outro elemento que ocupa uma posição terminal.
            O sujeito dessubstancializado não está onde é procurado, ou seja, no consciente, lugar onde reside a ilusão do “sujeito centro” como sendo aquele que sabe o que diz e o que é, mas pode ser encontrado onde não está, no inconsciente, lugar onde reside o Outro. Assim a identidade do sujeito lhe é garantida pelo lugar do Outro, ou seja, por um sistema parental simbólico, como explica Santiago, que os pais deixam de ser meros semelhantes, para se tornarem lugares  na estrutura. Dessa forma, o pai, por exemplo, pode surgir sob diferentes formas buscadas no imaginário – pai complacente, pai ameaçador, etc
            Essa relação entre o sujeito e o Outro se apóia na oposição binária de Jakobson, segundo a qual um remetente, ocupando uma posição inicial no processo de comunicação, coloca-se em relação comunicativa com um destinatário, que ocupa uma posição terminal no sistema de comunicação. Ele é apontado como estruturalista pelo fato de abordar o processo comunicativo como um sistema composto de elementos – remetente, destinatário, código, mensagem, contexto, canal – que se relacionam no interior de um sistema fechado e recorrente, como um circuito comunicativo.
            Pode-se perceber, até aqui, em que sentido Lacan recorre ao estruturalismo mais especificadamente a Saussure a Jakobson. Há pontos em que divergem os caminhos do estruturalismo e de Lacan. O primeiro é a inserção do sujeito na estrutura, e o segundo ponto é a maneira como é concebida a relação do sujeito com o Outro. Deslocamento que realiza a partir da concepção do processo comunicativo de Jakobson. O pensamento lacaniano é fundamental neste momento inicial de fundação da Análise do Discurso, ou seja, em que se pode perceber a relevância do projeto lacaniano para a AD.


sábado, 22 de novembro de 2014

É sagrado, o sonho que nos move

O poema não é meu, a foto também não, nem tampouco a casa. Mas poderiam ser. A esperança é igualitária.Nivela sentimentos, sonhos... Quem sabe, um dia...


Poema para uma casinha

Minha casa é bela...Tão bela!
Tem paredes envelhecidas, tem flores na janela...
Tem sorrisos abrindo a porta, tem jardim, tem horta,...
É até meio torta, mas minha casinha é bela...
Não tem varanda, tampouco tem arandela,
mas é assim, bem assim, que gosto dela.
Tão bonitinha e simples minha casinha,
mas tem aconchego, alegria e ternura...
Tem pão, amor, paz e alegria com fartura. 
Minha casa é arejada de abraços na entrada,
e nela a simplicidade resolveu fazer morada...
Tem telhado todo tosco, a sala é de reboco,
mas duvido, seu moço, se há casa mais bela!
E até hoje não sei, lhe digo com franqueza ;
Se é mais feliz quem vive aí rodeado de riqueza,
ou se sou eu aqui na minha casinha singela
Tão pobre, mas tão alegre, tão perfeita e tão bela!

                                                        Linda Lacerda


                                                                       Eu vi aqui

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Amor que transborda...


Este texto, meu filho, João Vítor, me dedicou ao publicar no Facebook. Coração está que nem surda mão de pilão no peito. Obrigada, filho!


Só passei pra lhe dizer que...
Por mais que o tempo passe
E as estações se movam,
Ainda será minha estrela,
A mais linda, a mais radiante...
Será pra mim sempre bela,
Sempre amiga.
Podem todos me crucificar,
Mas sei que saberás a verdade
E com todas suas forças irá me defender
Como ninguém me defenderia.
Está presente em todos os felizes e tristes momentos.
Está sempre forte para vencer mais um desafio.
Por mais que eu cresça e amadureça,
Sempre serei seu fruto,
E orgulho total de minha raiz...
Te amo de forma insubstituível,
És robusto meu amor
És sincero meu afeto.
Trouxe-me ao mundo,
Agüentou toda dor
E sorriu ao me ver pela primeira vez.
Com muito carinho estou a pensar em você,
Pois de carinho me alimenta.
Minha mãe querida
Da mesma forma que deseja a mim saúde e felicidade,
Desejo-te também com toda certeza que tenho,
Em nome do grande valor que tem pra mim,
Te Amo Minha Mãe!!!

sábado, 4 de outubro de 2014

Imaginação

Canção desse Rumor

Quem - estando ausente - entra no quarto
Quem deita ao lado meu, quem passa
No meu coração seus lábios quentes, quem
Desperta em mim as feras todas
Quem me rasga e cura
Quem me atrai?

Quem murmura na treva e acende estrelas
Quem me leva em marés de sono e riso
Quem invade meu dia após a noite
Quem vem – estando ausente -
E nunca vai?

 Lya Luft, em "Secreta Mirada", 1997.





domingo, 28 de setembro de 2014

O afinador de silêncios

Saudades

Magoa-me a saudade
do sobressalto dos corpos
ferindo-se de ternura
dói-me a distante lembrança
do teu vestido
caindo aos nossos pés

Magoa-me a saudade
do tempo em que te habitava
como o sal ocupa o mar
como a luz recolhendo-se
nas pupilas desatentas

Seja eu de novo a tua sombra, teu desejo,
tua noite sem remédio
tua virtude, tua carência
eu
que longe de ti sou fraco
eu
que já fui água, seiva vegetal
sou agora gota trêmula, raiz exposta

Traz
de novo, meu amor,
a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vadia
mergulha os teus dedos
no feitiço do meu peito
e espanta na gruta funda de mim
os animais que atormentam o meu sono.


 Mia Couto,  em Raiz de Orvalho e outros poemas.


domingo, 21 de setembro de 2014

"A POÉTICA ROSEANA"





       Com essa postagem,  termino de publicar, aqui, a minha monografia. Resultado de um trabalho longo: quase seis meses de pesquisas, leituras e análises. Mas, devo dizer, muito prazeroso e que me enche de orgulho! Acredito que ficou bom. Na verdade, minha nota foi 100. Não tive medo de que, ao colocar aqui, pudesse ser copiado. Ainda que o seja, o trabalho é meu, a ideia é minha. Se alguém o fizer, pobre dele.
Todas as referências bibliográficas estão publicadas na Monografia original que se encontra na Biblioteca Professor Mello Cançado da Faculdade de Pará de Minas – Fapam. 

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Aqui estão a Dedicatória , os Agradecimentos e a Epígrafe do meu trabalho. Em seguida a Conclusão, última parte da monografia. Creiam-me, é uma honra e uma satisfação que leiam:



 
Dedico esse trabalho:
à minha mãe, Maria,
 que tão antes encantou-se,
pelo meu existir;

ao meu pai, João,
que me falou das coisas da terra
e dos passarinhos;

aos meu irmãos,
Eliana, Hélio, Antônio, José, Maria:
pela infância abortada,
a ternura que não houve,
o bem querer, sempre;

aos meu filhos:
Rodrigo,
a ufania pela semelhança,
a satisfação, o respeito;

Alberto,
a contiguidade na superação,
o amigo, o companheiro;

Luhara,
estrela da vida inteira,
por vezes, na inversão dos papéis,
o esteio;

João,
a incógnita, que amplia o ilimitado
do meu amor de mãe.









 
AGRADECIMENTO
Aquele momento entre a exaustão
 e a certeza de um trabalho bem feito:
Louvado seja Deus, a Ele toda a glória!

Agradeço à  Professora  Doutora Ana Paula Ferreira
pelas orientações primorosas, pelo empenho
e pela atenção, sempre;

à Professora Renata Teixeira, pelo olhar apurado,
em tempo, a exatidão;

à Professora Mestre Vanessa Faria Viana
pelas orientações, pelo incentivo e pelo carinho;

 à Professora Mestre Cristina Mara França Pinto
pelos ensinamentos fundamentais, para toda  vida;

à Professora Especialista Tatiana Pires Bini Dutra,
pela paciência, pela amizade
por tanto, sem palavras;

ao meu cunhado, Eugênio e
à minha irmã Eliana,
pela prontidão em auxiliar
“em tempo sem hora”;

à Elaine Freitas Santos
pela disponibilização do tempo, por tudo;

à Érika Freitas Santos
pelo clarear, ajuda fundamental;

a todos os amigos, especialmente Breno,
Estefânia, Patrícia Lacerda, Vicente,Laís
 Luciana, Derly, Marisa, Rosiane,
Sônia, Eliza, Ellen, Viviane e Edmar
que, de diversas  formas,
 contribuíram para eu estar aqui;

aos meus filhos que estiveram comigo
em todos os momentos dessa travessia:
o meu amor, imenso;

à CONFRARIA NOSSA SENHORA DA PIEDADE
pela concessão integral da bolsa de estudos,
pela possibilidade em  concretizar o impossível.


 
 



Eu queria decifrar as coisas que são importantes. E estou contando não é uma vida de sertanejo, seja se for jagunço, mas a matéria vertente. Queria entender do medo e da coragem, e da gã que empurra a gente para fazer tantos atos, dar corpo ao suceder.
João Guimarães Rosa




7 CONCLUSÂO

            Na elaboração do presente trabalho, sobre a estruturação da linguagem poética em Grande Sertão: Veredas, foi possível perceber que Guimarães Rosa utilizou os recursos tradicionais na composição de uma narrativa ficcional.  Além disso, o escritor usou outros meios, já conhecidos em outras obras de sua autoria e que compõem a sua estilística.
            De acordo com as teorias dos autores estudados, conhece-se a língua materna através dos enunciados concretos ouvidos e reproduzidos e que, ao assumir um discurso, o indivíduo busca escolher os meios de expressão que melhor configurem seu ideal linguístico conforme a sua consciência ideológica. A linguagem refere-se ao mundo através de significados e tem o poder de imaginar o novo e o inexistente.
            Assevera-se que para renovar a língua e conferir-lhe um aspecto poético, o autor faz uso de neologismos e figuras de linguagem, preponderantes nesse processo, principalmente a metáfora por constituir a característica fundamental da linguagem poética. A linguagem, em Grande Sertão: Veredas, em diversos momentos, se torna heteróclita devido à agramaticalidade que se define  como um desvio  linguístico,   mas se  constitui como um traço específico da poesia. O desvio linguístico, nesse caso, é considerado como um estilo, segundo Jean Cohen (1974).
            Na obra em estudo, Guimarães Rosa utiliza os desvios linguísticos o que confere uma singularidade à sua linguagem. Contudo, ressalta-se a capacidade do escritor no uso da plurissignificação das  palavras  tornando-as mais expressivas, o que reforça a linguagem poética. Para Bakhtin a língua do poeta é sua própria linguagem, ele está nela e é dela inseparável (2002). Embora influenciado por outras vozes, em sua consciência ideológica, o poeta elege uma linguagem e se apropria dela.
             Dentro do seu estilo, Guimarães Rosa atribui à palavra uma nova significação, novo arranjo, criando a linguagem poética.
            Destarte, pode-se concluir que Guimarães Rosa ao ouvir as histórias dos sertanejos e de seus contemporâneos, no sertão de Minas Gerais, e conforme sua consciência linguística, em determinado momento histórico e social, captura a língua e lhe dá uma roupagem nova com nuanças, cores e sons inimagináveis.
            Numa segunda assertiva, afirma-se que de acordo com a consciência linguística e de sua visão da realidade, Guimarães Rosa se apropriou da língua materna e a reinventou com o propósito de revitalizá-la e conforme os novos significados, refigurar o mundo através da linguagem literária.
            Para o embasamento busca-se Jean Cohen em Estrutura da Linguagem Poética que defende que o poeta é poeta pelo que disse, e sua genialidade se deve à sua criação verbal. Segundo esse autor não existe uma língua poética, mas uma linguagem poética, e que o poeta inventa essa linguagem para dizer aquilo que não teria dito de outra forma (1966)
            Diante disso, assenta-se que a linguagem poética, exibida na  obra Grande Sertão: Veredas, e conforme  a proposta de investigação,  torna-se um ícone essencial para a estruturação da temática lírico-amorosa devido á própria potencialidade. Essa linguagem, explorada pelas necessidades estilísticas e pela subjetividade do autor, flui com a poesia cristalizada em seu interior e  envolve de uma forma mais expressiva e contundente  o amor dos protagonistas, concretizado tão somente na memória e  nas palavras do narrador.
            Uma terceira assertiva derivada do texto roseano assegura que por meio dessa linguagem em que Guimarães Rosa mostra uma nova perspectiva da realidade ou mesmo a verdadeira, nas questões outras relacionadas ao dimensionamento humano e apresentadas na obra, ele possibilita uma catarse através da filtração de sentimentos pelas emoções produzidas, no ato da leitura, o que ocasiona  a transformação do ser .
            Ao término dos estudos e diante das questões propostas nesse trabalho, sobre a estrutura poética de Grande Sertão: Veredas, pode-se apontar em que bases ela se edifica. De acordo com os estudos dos autores já citados, afirma-se que a poética roseana estrutura-se potencialmente na estilística do autor, ou seja na linguagem singular em que são utilizados todos recursos analisados no presente trabalho.
            Desses recursos, destacam-se as figuras de linguagem, principalmente a metáfora que adquire uma dimensão extralinguística ao assumir as inúmeras possibilidades de significação da palavra e os neologismos. Assevera-se, portanto, que a linguagem poética de Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas forma-se através da capacidade inventiva do autor no trato com as palavras e na sensibilidade por atribuir ao termo comum a função emotiva, revestindo-o de beleza e lirismo.
            Confirma-se que a linguagem utilizada pelo autor configura-se como um ícone essencial para a estruturação do lirismo amoroso na obra Grande Sertão: Veredas. Essa linguagem contribui para enaltecer de forma mais expressiva e contundente o amor dos protagonistas. Acredita-se que essa linguagem é explorada tanto pelas necessidades estilísticas quanto pela subjetividade do autor. No primeiro aspecto, através do estilo, Guimarães Rosa renova a língua portuguesa imprimindo-lhe um caráter inaugural. Já no segundo aspecto – a subjetividade -  o autor  coloca a sua visão sobre questões delicadas e complexas, como o homossexualismo, maniqueísmo, injustiças sociais entre outros, conferindo  universalidade e o caráter atemporal  à obra  Grande Sertão: Veredas.

                                                                     Lécia Conceição de Freitas
                                                                          Pará de Minas / 2013
           








sexta-feira, 19 de setembro de 2014

"A POÉTICA ROSEANA" Capítulo 6


6. A PROSA, A POESIA E O AMOR


            Na elaboração desse última seção  pretendeu-se utilizar a mesma linguagem poética do autor e permitiu-se a transparência da oralidade. Ao assumir tal  procedimento tenciona-se comprovar e destacar a expressividade mencionada na proposta da pesquisa.

6.1 A história “milmaravilha...o amor de ouro da flor”. 


            Guimarães Rosa monta em seu cavalo e vai ao sertão. Nas trilhas e veredas observa, anota, ouve lendas e “causos”. Coisas de mineiro. Dos rios trouxe o respeito e a admiração. No olhar, gravado, o buriti, e na memória os sons  das serras e chapadões: “o ronco do trovão, o “chiim” dos grilos” (ROSA, 2006, p.29) e o canto dos pássaros todos. “O brilho da lua, luã, a gargaragem da onça preta” (ROSA, 2006, p. 26) e “no colo o vento verde”(ROSA, 2006, p. 290). Com sua linguagem encantada ele vai falar dessas coisas e das lutas dos jagunços. Vai falar de Diadorim – a neblina. E do amor. Amor que existiu só no olhar. Nunca o sertão viu um amor assim: Riobaldo e Diadorim.
            Riobaldo, criança, encontra  o Menino no Porto do De-Janeiro e desde o primeiro instante,  ele é “preso”  com aquele verde olhar :
aí pois de repente, vi um menino, encostado numa árvore e pitando um cigaro. Ali estava com um chapéu de couro, de sujigola abaixada, e se ria para mim. [...] E era um menino  bonito, claro, com a testa alta e os olhos aos-grandes verdes. (ROSA, 2006, p. 102).

            Vivem a primeira aventura de atravessar o rio São Francisco  numa canoa. Diadorim lhe fala da coragem e mostra no “mato da beira”, (ROSA, 2006, p. 103) a vida, as cores:
“as flores”...No alto eram muitas flores, subitamente vermelhas, e roxas do mucunã. Um pássaro cantou. Nhambu? Não me esqueci de nada, o senhor  vê. Aquele menino, como eu ia poder delembrar?  Eu queria que ele gostasse de mim. (ROSA, 2006, p. 104).
            Quantos anos se passaram, mas Riobaldo não esquece! “Ah, Diadorim... E tantos anos já se passaram.” (ROSA, 2006, p.191)
            Na procura de si mesmo, pelo sertão, Riobaldo reencontra o Menino, de nome Reinaldo, que lhe confessa chamar-se Diadorim. Jagunço, vive para guerrear, mas com os olhos – novamente os olhos grandes, verdes – prende Riobaldo, que o segue para onde for:
e ele se chegou, eu do banco me levantei. Os olhos verdes, semelhantes grandes, o lembrável das compridas pestanas, a boca melhor bonita, o nariz fino afiladinho O menino me deu a mão: e o que a mão diz é o curto; às vezes pode ser o mais adivinhado e conteúdo. E ele como sorriu. Digo ao senhor: até hoje para mim está sorrindo. (ROSA, 2006, p. 138).
            Riobaldo está ali por um acaso, não pensou em ser jagunço. Mas naquele momento seu destino está sendo traçado. Ele reencontrou o Menino do Porto, encontrou Reinaldo/Diadorim, e sabe que desde agora, para  sempre, suas vidas estão atadas:
e desde que ele apareceu, moço e igual no portal, eu não podia mais, por meu próprio querer, ir me separar da companhia dele, por lei nenhuma; podia? O que entendi em mim: direito como se, no reencontrando àquela hora aquele Menino – Moço, eu tivesse acertado de encontrar, para o todo sempre, as regências de uma alguma a minha família. Sem peso e sem paz, sei, sim. Mas, assim como sendo, o amor podia vir mandado do Dê? Desminto (ROSA, 2006, p. 109).

            No sertão, as paragens são lindas. Riobaldo, em meio à natureza vê Diadorim. Ambos fazem parte  daquele mundo. Percebem cada elemento que o  compõe.
Diadorim e eu, a gente dava passeios... Mariposas passavam muitas, por entre as nossas caras, e besouros graúdos esbarravam. Puxava uma brisbrisa. O ianso do vento revinha com o cheiro de alguma chuva perto. E o chiim dos grilos ajuntava o campo aos quadrados. Por mim, só, de minúcia não era capaz de me alembrar; mas a saudade me alembra. Que se fosse hoje. Diadorim pôs o rastro dele para sempre em todas as quisquilhas da natureza...Diadorim, duro sério, tão bonito, no relume das brasas. Quase que a gente não abria a boca; mas era um delém que me tirava para ele – o irremediável extenso da vida. (ROSA, 2006, p. 29).

          A vida seguia seu rumo, nos confins do sertão, e apesar das batalhas o amor era forte, recrudescia. Riobaldo não atinava com o que lhe acontecia, mas queria uma resposta de Diadorim. O desejo carnal tirava-lhe o sossego:
tudo turbulindo. Esperei o que vinha dele. De um acêso, de mim eu sabia: o que compunha minha opinião era que eu, às loucas, gostasse de Diadorim, e também, recesso dum modo, a raiva incerta, por ponto de não ser possível dele gostar como queria, no honrado e no final. Ouvido meu retorcia a voz dele. Que mesmo, no fim de tanta exaltação, meu amor inchou, de empapar todas as folhagens, e eu ambicionando de pegar em Diadorim, carregar Diadorim nos meus braços, beijar, as muitas demais vezes, sempre (ROSA, 2006, p.39).
            E na revelação do amor, talvez por já ser tão forte, não houve assombro, não houve questões. Em Guararavacã, o aprazível lugar, onde a natureza se faz em festa com o canto do joão-pobre e o  vento que fuchica as folhagens ali, e lá longe, na baixada do rio,  balança o pendão branco das canabravas.  Riobaldo  caminha por uma “vereda em capim te-te que verde”. (ROSA, 2006, p. 290) e sente saudades, dessas que respondem ao vento. Saudades dos Gerais. “O remôo do vento nas palmas dos buritis, quando ameaça tempestade. Alguém esquece isso? O silêncio é verde.” (ROSA, 2006. p. 290) “Riobaldo ouve de dentro do mato o barulho de um macuco que vem andando, “sarandando”, “macucando”, e se ri:   “- Vigia este, Diadorim”. (ROSA, 2006, p. 290)   Mas Diadorim não ouviu:  
o nome de Diadorim, que eu tinha falado, permaneceu em mim. Me abracei com ele. Mel se sente é todo lambente – Diadorim meu amor.... Como é que eu podia dizer aquilo? Explico ao senhor: como se drede fosse para eu não ter vergonha maior, o pensamento dele que em mim escorre figurava diferente, um Diadorim assim meio singular, por fantasma, apartado por completo do viver comum, desmisturado de todos, de todas as outras pessoas – como quando a chuva entre-onde-os-campos. Um Diadorim só para mim. Tudo tem seus mistérios. Eu não sabia. Mas, com minha mente, eu abraçava com meu corpo aquele Diadorim – que não era de verdade... Aquilo me transformava, me fazia crescer dum modo, que doía e prazia. Aquela hora, eu pudesse morrer, não me importava (ROSA, 2006, p. 290-291).
            A partir daí, Riobaldo se deixa levar por esse amor, e ele  sofre porque  quer “deslizar os dedos de leve  nos meigos olhos dele, ocultando, para não ter de tolerar de ver assim o chamado, até que ponto esses olhos, sempre havendo, aquela beleza verde, me adoecido, tão impossível...” (ROSA, 2006, p.46). [...] “abraçar aquele corpo com as asas de todos os pássaros”. Riobaldo percebe, de repente esse amor descomum, “com meu coração nos pés, por pisável; e dele o tempo todo eu tinha gostado. Amor que amei – daí então acreditei.” (ROSA, 2006, p.238). Busca a sua presença, mas Diadorim foge – ele é a “neblina”.
            Riobaldo sente o amor cada vez mais forte. “Eu estava o tempo todo quase sempre com Diadorim”. (ROSA, 2006,  p.18).  Mas como?! Um igual. “De que jeito eu podia amar um homem, meu de natureza igual, macho em suas roupas e suas armas, espalhado rústico em suas ações?!” (ROSA, 2006, p. 495). Até que reconhece o sentimento que lhe domina os sentidos. Riobaldo “sabe”: Diadorim também o ama. Porém ele é “o em silêncios”. “De todos menos vi Diadorim: ele era o em silêncios.” (ROSA, 2006, p. 464).
            Diadorim quer vencer Hermógenes e vingar o pai. Promete a Riobaldo a revelação de um segredo depois que concluir o feito. E eles vão para as batalhas mais sangrentas cumprir o “irremediável extenso da vida.” (ROSA, 2006, p. 29). Riobaldo, sempre perto de Diadorim, busca-o com o olhar na empatia do querer:
mas eu gostava dele, dia a mais dia mais gostava. Diga o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele fechar a cara  e estar tristonho, e eu perdia meu sossego. Era ele estar longe, e eu só nele pensava. E eu mesmo não entendia então o que aquilo era? Sei que sim. Mas não. E eu mesmo entender não queria. Acho que. Aquela meiguice, desigual que ele sabia esconder o mais de sempre. E em mim a vontade de chegar todo próximo, quase uma ânsia de sentir o cheiro do corpo dele, dos braços, que às vezes adivinhei insensatamente (ROSA, 2006, p.146).
Uma promessa? Depois da vingança, quem sabe? É o que se espera:
para meu sofrer, muito me lembro. Diadorim, todo formosura. – “Riobaldo, escuta: vamos na estreitez deste meu passo...”- ele disse ; e de medo não tremia, que era de amor – hoje sei. – “ ...Riobaldo, o cumprir de nossa vingança vem perto... Daí, quando tudo estiver repago e trefeito, um segredo , uma coisa vou contar a você...” (ROSA, 2006, p. 510).
          Mas o inimigo é forte, é cruel. Tem pacto com o Demo, dizem. No meio da rua, no redemunho... a luta, quase não se vê. Tanta poeira. No fim Riobaldo tem a confirmação: Diadorim tinha morrido:
pelas lágrimas fortes que esquentavam meu rosto e salgavam minha boca, mas que frias já rolavam . Diadorim, Diadorim, oh, ah, meus buritizais levados de verde... Burití, do ouro da flôr ...Diadorim –  nú de tudo . E a Mulher diz :  –  A Deus dada. Pobrezinha. (ROSA, 2006, p.598).
            A dor estarrece. Ele, que é ela, se foi. O que fazer com todo o amor, esse amor. O ser sucumbe à ausência:
eu estendi a mão para tocar naquele corpo, e estremeci, retirando as mãos para trás, incendiável: abaixei meus olhos. E a Mulher estendeu a toalha recobrindo as partes. Mas aqueles olhos eu beijei, e as faces, a boca ....Eu não sabia por que nome chamar; eu exclamei me doendo: – Meu amor! (ROSA, 2006, p. 599).
            “Aqui, a estória é acabada.” (ROSA, 2006, p. 600).
            Guimarães Rosa continua a contar: o caso dos “finalmente, do estado das coisas”.
            A obra Grande Sertão: Veredas torna-se singular devido à linguagem, tão decantada e nem assim desvelada em todos os seus mistérios. Nesse trabalho, entretanto, tencionou-se enfatizar a intensa fala poética, principalmente na moldura do amor dos protagonistas. Vale ressaltar que diante do extenso e complexidade da obra, o presente estudo pretendeu privilegiar os fragmentos mais significativos e que se “alinhavavam” no contexto do presente trabalho. 






A Poetisa mineira

A Serenata

Adélia Prado

Uma noite de lua pálida e gerânios
ele virá com a boca e mão incríveis 
tocar flauta no jardim.

Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos: 
ou viro doida ou santa.

Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.

Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.

De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?