O menino que carregava água na peneira
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.
Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!
Manoel de Barros, em Exercícios de ser criança.
sábado, 30 de maio de 2015
Mundo pequeno
I - Sombra-boa
I - Sombra-boa
O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal há um menino e suas latas
maravilhosas.
Seu olho exagera o azul.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas
com aves.
Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco,
Os besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter
os ocasos.
Manoel de Barros em O livro das ignorãças.
sexta-feira, 15 de maio de 2015
Resenha
Livro: Eu sou
Malala
Subtítulo: A
história da garota que defendeu o direito à educação e foi baleada pelo Talibã
Autor: Malala Yousafzai - com
Chirstina Lamb
Tradução: Caroline Chang, Denise Bottman,
George Schlesinger, Luciano Vieira Machado
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 360
O livro Eu Sou Malala
retrata não apenas a trajetória de uma jovem
paquistanesa disposta a lutar para ter direito a uma educação, mas
também a condição feminina diante do islamismo fundamentalista manipulado pelo
Talibã. Malala acredita que a educação lhe daria uma arma a favor da liberdade
humana, de poder se manifestar, de ser um indivíduo pleno.
Dividido em
cinco partes, o livro é narrado pela
própria Malala no qual ela conta a sua infância no Vale do Swat, no Paquistão. Ela
apresenta, também, um parâmetro social, econômico e político do seu país,
esclarecendo que as altas taxas de analfabetismo contribui bastante para a
corrupção e favorece o avanço do Talibã, os fundamentalistas, que deturpam os
ensinamentos do Islamismo, de forma a manipular a população de acordo com seus
objetivos.
Com o apoio de
seus familiares, Malala não se intimida diante do domínio do terrorismo
islâmico em sua terra natal. Sonha com um mundo melhor e mais justo para todas
as meninas de sua terra, através da educação e com
apenas 16 anos enfrenta o grupo que a ameaça proibindo-a de continuar a
estudar. Porém, no dia 9 de outubro de 2012, no interior de um ônibus, quando
voltava da escola, é atingida por um
tiro na cabeça. Contrariando as expectativas, ela consegue se recuperar em um
hospital de Birminghan. Malala passa a
morar, juntamente com a família na Inglaterra.
Eu sou Malala, se apresenta como um livro que nos leva a refletir sobre
nós mesmos e o que somos nesse mundo. Como devemos pensar no outro e perceber
seus problemas em meio a um regime brutal e desumano imposto pelo Talibã. A
menina Malala, usando apenas a palavra
lutou, corajosamente, para reverter essa situação, buscando maiores
igualdades e direitos para as mulheres e crianças, melhores condições de vida
para todos! Um livro excelente!
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