Ao que esse mundo é muito misturado...
João Guimarães Rosa
A
sequência do enredo pode ser linear ou não linear. Quando na narrativa o tempo
da ação obedece ao relógio tem-se a linearidade. Esse tipo de tempo em que se
passa o enredo é chamado de cronológico porque segue os mesmos parâmetros no
mundo concreto, mesmo dentro da realidade ficcional.
As personagens não pensam no que aconteceu ou no que poderia acontecer. Quando
não há predomínio da reflexão a narrativa é linear.
No
caso de Grande Sertão: Veredas, o
enredo é não linear. Isso porque a história acontece descontinuamente, com
cortes e saltos, com vaivéns na sequência da história. O narrador, Riobaldo,
realiza retrospectivas ou antecipações na sua narrativa sobre o que aconteceu
na sua vida. Além disso, são constantes as rupturas do tempo e do espaço em que
se desenvolve a ação. Comprova-se em passagens do texto roseano:
de tudo não
falo. Não tenciono contar ao senhor minha vida em dobrado passos; servia para
que? Quero é armar o ponto dum fato, para depois lhe pedir um conselho. Por
daí, então, careço de que o senhor escute bem essas passagens: da vida de
Riobaldo, o jagunço. (ROSA, 2006, p.216).
A qualquer narração
dessas depõe em falso, porque o extenso de todo sofrido se escapole da
memória. (ROSA, 2006, p. 402). Talhei de avanço em minha história. O senhor tolere minhas más devassas
no contar. (ROSA, 2006, p. 171) O senhor sabe?: não acerto no
contar, porque estou remexendo o vivido longe alto, com pouco caroço, querendo
esquentar, demear, de feito, meu coração. (ROSA, 2006, p. 176).
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