A
ilusão do impeachment
Flávio Riani¹
A grande população brasileira
favorável ao impeachment da Presidenta Dilma Rousseff mostra quanto nossa
sociedade está despreparada para discutir assuntos importantes do país nos
campos político, social e econômico.
Ela forma opinião com base na
pressão e na massificação das informações e nas análises desenvolvidas
enviesadamente pelos meios de comunicação dominantes no Brasil. Esses meios,
pela força que têm, crucificam e absolvem qualquer agente político do país em
questão de dias.
No caso específico da
presidente Dilma Rousseff, os meios de comunicação imputam a ela uma série de culpabilidades
totalmente descabidas e que acabam
influenciando a opinião da grande parte da sociedade brasileira, incapaz de uma
avaliação eficiente do que efetivamente
está ocorrendo.
Ressalte-se, entretanto, que
existe outro grupo, que faz parte dessa parcela da sociedade, que tem
conhecimento e visões diferentes sobre o que ocorre no país e participa dos adeptos
do impeachment por convicção ideológica.
Do ponto de vista político,
não existe nenhum fato importante que sustente o impeachment da presidente. Ela
foi eleita democraticamente, e, desde que o resultado foi divulgado, os
perdedores não foram capazes de reconhecer sua incompetência por terem perdido a eleição. Desde então, diferentemente do que se faz numa democracia, começaram
um processo de desestabilização permanente do governo.
Do ponto de vista econômico,
devem-se reconhecer os equívocos cometidos pelo governo, mas de forma alguma
pode-se imputar só a ele a culpa pelas dificuldades econômicas do país.
Sabidamente, elas são também decorrentes de fatores externos e, principalmente,
do processo de desestabilização criado no Congresso Nacional, com o apoio da oposição,
votando e aprovando matérias que dificultariam mais ainda a situação econômica do
país e que faziam parte da política de controle do governo.
Nesse sentido, torna-se necessário
que a sociedade reflita melhor sobre as consequências do impeachment em dois
pontos básicos: primeiro, a necessidade de haver embasamento legal para um
eventual processo de impeachment. Outro ponto relevante é não se deixar levar
por movimento políticos sem avaliar a consequências de tais atos para a
democracia brasileira
A sociedade deve também refletir
sobre os eventuais substitutos da presidente e as políticas que eles sustentam.
É preciso conhecer quem são Michel Temer, Eduardo Cunha e Renan Calheiros,
nossos eventuais presidentes no caso do impeachment de Dilma.
Por fim, gostaria de sugerir a
Hélio Bicudo e seus aliados, os opositores do impeachment, que avaliassem a
situação da Lei de Responsabilidade Fiscal também no âmbito das demais esferas
de governo no Brasil, pois certamente terão muitas surpresas perante os questionáveis
pontos levantados em relação ao governo federal.
Não se iludam com o impeachment.
A eleição é o melhor processo de julgamento. Sem ela, poderemos passar por dias
ainda piores.
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¹ Economista e Professor
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
RIANI,
Flávio. Entre Aspas. O TEMPO. Belo Horizonte.
19 dez. 2015, p. 15.