O
EXEMPLO E A IMPUNIDADE
A
prática da corrupção, no Brasil é tão comum, que o assunto já se banalizou. Existem
piadas que afirmam a sua ocorrência desde o inicio da colonização. Uma das
características do brasileiro é não levar a vida tão a sério, encarando os
problemas do dia a dia com bom humor e leveza. Até aí tudo bem, mas o humor que
se atribui à questão da corrupção criou uma imagem do ato que não condiz com a
sua real natureza.
A
conhecida “Lei de Gerson” ou o “jeitinho brasileiro” são conhecidos, inclusive
no exterior, trazendo uma conotação negativa dos brasileiros, mas que
infelizmente, são verdadeiros. Pessoas cometem ações, infrações, pequenos
delitos, e corrupções, e o que é pior, não se dão conta de que estão fazendo
algo errado. Na verdade, se vangloriam porque são espertas, porque passaram na
frente de alguém.
As
práticas de corrupção nos grandes escalões da política e do empresariado, no
Brasil são tão absurdas, grandes, e envolvem tanta gente, que a população não
consegue acompanhar, dimensionar o estrago que faz, o mal que causa na vida dos
brasileiros e do próprio país. Há alguns anos, antes que fosse implantada a
democracia no país, já existia, e muito, a prática de corromper por dinheiro ou
favores. Porém, não era noticiado. Atualmente, com o novo sistema político,
parece que está mais fácil descobrir e punir os praticantes da corrupção. Isso
no meio político e empresarial.
Ao brasileiro comum que pratica atos
condenáveis, nenhuma punição. Pessoas assim acreditam que se os outros fazem,
posso fazer também. Eles se espelham, no
político que rouba milhões, e em qualquer um
que rouba centavos. Às vezes, nem precisa disso, rouba por graça, por se
considerar com mais direito que o outro, por hábito. E fala mal de qualquer
ladrão, condenando qualquer um que se descubra. Rouba, mente, engana,
prejudica, mas se vê como um cidadão do
bem cumpridor de seus deveres. Então há
o exemplo e a certeza da impunidade
Pessoas
comuns, mas que detém algum poder,
político ou aquisitivo sabem que, por isso mesmo não serão delatados, nem
pagarão de forma alguma por seus delitos, porque compram o silêncio de todos. Casos
de pessoas que fingem estarem mal para serem atendidas primeiramente pelos
médicos, que apresentam dados falsos param se cadastrarem nos programas
sociais, que se dizem da raça negra e, portanto, com direito às cotas nas
faculdades, sabem que ficarão impunes porque ainda que outros tenham
conhecimento do fato, ninguém gosta de se envolver nesses casos.
É
bem possível que esse comportamento lamentável tenha sua origem, e agravado,
com as práticas deslavadas dos corruptos, mas naturalmente que não justifica. E
não se pode afirmar que as duas características citadas acima representam o
brasileiro, porque não são todos assim. São
conhecidos casos de pessoas, bem humildes até,
que encontram grandes quantias de dinheiro e devolvem. E no dia a dia,
sempre encontramos pessoas honestas, de bem, que têm como normas de conduta não
prejudicar ninguém, mesmo desconhecidos.
Lécia Conceição de Freitas
Escape
A raça humana
não pode suportar muita realidade.
- T.S. ELIOT
Conheço a distância
que vai entre o sonho
e a dura realidade.
E conheço a fórmula
de amortecer o susto
e a queda do último piso.
Olhar sem crer lá fora
esse vidro que corta
e fechar, atrás de si, a porta.
Plantar, como sempre faço,
essas flores no paredão do muro
para deslumbrarem os meus olhos.
E, nessa lente distorcida,
em que capto a beleza,
mesmo aquela que não existe,
ficar musgo sobre a rocha
— véu veludoso verde veludo —,
cobrindo essa faca que cega o corte.
Darcy França Denófrio, em "Ínvio lado".
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