AMOR DE PERDIÇÃO
CAMILO CASTELO BRANCO - O Autor
Nasceu em 16 de março de 1825 na freguesia dos
Mártires, em Lisboa, Portugal. Filho de Manuel Joaquim Botelho Castelo Branco e
de Jacinta Rosa do Espírito Santo Ferreira, ficou órfão de mãe com um ano e de
pai aos 10 anos. Foi morar com uma tia e depois com sua irmã mais velha. Em
1841, com apenas 16 anos, casou-se com uma jovem de 15 anos, Joaquina Pereira,
mas logo a abandonou. Em 1843 ingressou na Escola Médica do Porto,
mas não seguiu o curso. Em 1845 suas
primeiras obras literárias foram publicadas. Em 1846 fugiu com a jovem Patrícia
Emília, mas a abandona, poucos anos depois. em 1847 morreu Joaquina, de quem estava separado, e a filha
do casal morreu no ano seguinte. Em 1850
ingressou no seminário do Porto, pretendendo seguir a vida religiosa. Nesse ano
conheceu Ana Plácido, que casada com um comerciante brasileiro, abandonou o
marido em 1859 e foi viver com Camilo. Em 1860 é processado e preso por crime
de adultério, mas é absolvido no ano seguinte, passando a viver com Ana. O
casal foi morar em Lisboa e depois em São Miguel de Seide, sempre com muitos
problemas financeiros. Em 1863 publica "Amor de Perdição", sua novela
mais famosa. Sua vida atribulada lhe deu inspiração para os temas de suas
novelas.
Camilo inscreve-se no segundo momento romântico
português, chamado de Ultrarromantismo. Em vez de falar do nacionalismo, característica
da primeira fase do Romantismo, ele optou por escrever sobre sentimentos. O
Romantismo surgiu na primeira metade do século XIX, intencionado pela ascensão
da burguesia, provocada pela Revolução Francesa e fortalecida com as Revoluções
Liberais de 1830 e 1848. O exagero desse individualismo, o tédio e o ceticismo
diante da existência criam a sensação indefinida de insatisfação a que os
românticos davam o nome de "Mal do Século". O romance romântico
aborda o amor nas suas formas mais extremas, acima do controle da razão, é
sempre ligado á morte. Ele escrevia para o público,
diferentemente da maioria dos escritores da época que preferiam escrever algo
mais pessoal, mas apesar disso ele conseguiu manter as suas publicações
bastante originais. Mesmo com o reconhecimento Camilo estava depressivo, pois
havia contraído uma doença que lhe
deixaria cego. Logo após o diagnóstico definitivo de que iria ficar cego, ele
comete suicídio em São Miguel de Seide no dia 1 de junho de 1890.
A
OBRA
Em
Amor de Perdição a história se baseia em três elementos fundamentais: a família,
o amor e o ódio entre as famílias. O casal protagonista, Simão e Teresa se amam
e desejam viver esse amor. No entanto as famílias dos jovens se odeiam o que
torna o amor impossível. Esse é o amor ideal próprio do Romantismo. E junto com o amor há sempre a ideia da morte
mencionada em diversas partes do texto. "Não me esqueças tu e achar-me-ás
no convento, ou no Céu, sempre tua do coração,’’
"–
Hás de casar! Quero que cases! Quero...Quando não, serás amaldiçoada para
sempre, Teresa! Morrerás num convento.”
ENREDO
Na
introdução do romance, o narrador-autor apresenta o registro de prisão de Simão
Botelho nas cadeias da Relação do Porto e a data em que foi degredado para a
Índia. Com apenas 18 anos, idade em que
deveria estar começando a aproveitar as coisa boas da vida, é preso em circunstância
ligada à primeira paixão. O narrador fala diretamente ao leitor as emoções que
essa tragédia irá provocar principalmente a revolta diante da falsa virtude de
homens injustos e frios.
Em
seguida começa a contar a história da família Botelho da qual faz parte o
protagonista Simão Botelho. O chefe da família Domingos Botelho é formado em
Direito e inicia sua carreira em Lisboa, onde é bem visto pelos reis.
Apaixona-se por D. Rita Castelo, dama de D. Maria I.
Após
dez anos de tentativas, casam-se em 1779.
Em 1801 vão morar em Viseu com as três filhas. Os dois filhos homens
estudam em Coimbra e têm temperamentos diferentes. Manuel, o mais velho reclama
ao pai do irmão mais novo avisando-o de seus maus modos, porem o pai não se
importa. Somente quando, durante as férias em casa, Simão briga para defender um
criado que fora espancado, o pai se enfurece e deseja que ele seja preso. A mãe
o protege-o, e ajuda Simão a fugir para Coimbra até que passe a raiva do pai.
Simão
tem ideias revolucionarias e começa a defender a Revolução Francesa em público
o que o leva a ser preso por seis meses. Com isso, Simão perde o ano na escola
e vai para casa dos pais. Seu pai não o perdoa, mantendo-se frio e distante,
sem falar com o filho.
Durante
esse tempo, Simão conhece Teresa filha de Tadeu Albuquerque vizinho de seus
pais. Ele se apaixona pela moça, o que faz com que ele mude o comportamento,
tonando-se caseiro e pensativo. Contudo
as duas famílias tinham uma inimizade que começou devido a sentenças feitas por
Botelho e que atrapalhou os interesses de Albuquerque. Além disso, Simão em uma
briga recente havia machucado empregados de Albuquerque. Mesmo sabendo da
inimizade de suas famílias e da impossibilidade desse amor, os dois jovens se
encontram às escondidas e sonham em se casarem. Planejam uma vida em comum e
serem felizes.
Na
véspera de seu retorno à Coimbra, os dois jovens conversam pela janela quando
são surpreendidos por Albuquerque que reage arrastando a filha. Devido ao
desespero, Simão fica nervoso, mesmo assim, parte para Coimbra, planejando
voltar em segredo para se comunicar com Teresa. Pouco antes de sair para
viajar, uma mendiga lhe entrega um bilhete da jovem, revelando as ameaças do
pai de colocá-la num convento. No
bilhete ela pede a Simão que vá para Coimbra e que ela manterá contato.
Tereza
e Rita, irmã caçula de Simão, começam uma amizade e a mantêm em segredo,
conversando através das janelas. Numa dessas conversas são surpreendidas por
Botelho que pressiona a filha obrigando-a a revelar o que sabe. Albuquerque também percebe o que está
acontecendo, mas demonstra tranquilidade por considerar que, nesses casos,
mantendo a filha distante do rapaz irá terminar com aquela paixão. Além disso,
planeja casá-la com Baltasar Coutinho, um primo, a quem estima muito. Teresa,
naturalmente, nega-se a qualquer relacionamento com Baltasar que insiste em
saber as razões da jovem em recusá-lo. Ao tomar conhecimento do amor da jovem
por Simão, jura que irá se colocar contra esse romance.
Ao
recusar se unir a Baltasar, Teresa enfurece, mas ainda seu pai que decide mandá-la
para o convento. Nesse meio tempo, Teresa escreve toda semana para Simão, mas
não conta as ameaças do pai, nem do seu primo, para evitar mais brigas. Teresa
manda uma carta ao amado narrando os últimos acontecimentos, ele rapidamente
retorna para Viseu.
Simão aluga um cavalo e pede ao dono dele que
lhe indique um refúgio na cidade de Viseu. O moço, então, lhe indica a casa de
João da Cruz, um ferrador, seu cunhado. Ao chegar a Viseu, de longe Simão
percebe que há festa em casa de Teresa. Seu pai, tenta por meio do conhecimento
de outros rapazes, que Teresa deixe de amar o filho de seu inimigo. Entre os convidados está Baltasar que a
observa, percebendo que ela sai da sala e se dirige ao quintal. Ela volta logo,
porém quando vai ao jardim é seguida por Baltasar. Teres percebe sua presença e
volta a casa. Numa terceira tentativa vai ao encontro de Simão que lhe
esperava, conforme combinado na carta que lhe escreveu. Baltasar, que estava
escondido, aparece a Simão e o ameaça, sem, dizer quem é. Simão resolve voltar
na noite seguinte.
João da Cruz revela a Simão que há três anos
escapou da forca por causa de Botelho e que por isso, tem um sentimento de
gratidão ao filho. Porém, há algum tempo fora empregado de Baltasar Coutinho
que lhe emprestou dinheiro para que pudesse se estabelecer. E que há poucos meses
Coutinho o procurara pedindo-lhe que matasse o próprio Simão. O ferrador
procurara corregedor e lhe contara o ocorrido. Botelho então, contou ao
ferrador tudo que estava acontecendo. Sabendo disso João da Cruz aconselha
Simão a tentar resolver a situação de outra forma, mas ele insiste em querer
ver Teresa à noite. O ferrador resolve acompanhá-lo.
Simão,
João da Cruz e o dono do cavalo seguem para Viseu. Do outro lado, Coutinho e
dois homens preparam uma tocaia. Simão mal vê Teresa e decide voltar, ela vê
que o clima está muito tenso e perigoso. No caminho encontram com Coutinho e
matam um homem deixando outro ferido. Simão tenta fazer com que João da Cruz não
mate o outro, mas ele não o escuta. Os crimes permanecem em segredo. Simão
passa um tempo recuperando na casa de João da Cruz já que fora ferido no braço.
Mariana, a filha de João da Cruz cuida de Simão e se apaixona por ele, porém
ele não lhe dá nenhuma esperança e tem por ela apenas o carinho de um irmão. Com
muito custo Teresa e Simão se correspondem, e ela narra a intenção do pai de
colocá-la em um convento.
Teresa
é levada para o convento de Viseu enquanto espera a transferência para o
Convento de Monchique, no Porto. A jovem se vê perdida nas intrigas, e nos
vícios das freiras. Uma das freiras se dispõe a ajudá-la e ela consegue
escrever para Simão. João da Cruz leva a resposta e com a ajuda de Mariana
resolve o problema de falta de dinheiro de Simão dizendo ao jovem que a mãe lhe
enviara dinheiro.
Diante
da certeza da partida de Teresa para Monchique, Simão se desespera e planeja
raptá-la. João e a filha tentam fazê-lo mudar de ideia, mas não funciona. Por Mariana envia uma carta a Teresa que lhe
responde dizendo que uma grande escolta irá acompanhá-la, na viagem, incluindo
o primo Coutinho. Simão se aflige e resolve ir ver Teresa à saída do convento e
João da Cruz também vai para acompanhá-lo, com um grupo de homens, tencionando
raptar a jovem. Simão não aprova o plano, mas mantém em segredo a decisão de ir
ver Teresa.
Bem de madrugada, começa a
movimentação da comitiva que irá levar Teresa, formada por seu pai, criados,
Coutinho e suas irmãs. Simão já bem antes chegara, os encontra e ao ser
agredido por Coutinho reage com um tiro de pistola na cabeça. João da Cruz o
aconselha a fugir, mas Simão se nega a isso.
Ao saber do crime a mãe de Simão pede ao
pai que interceda a favor do filho. No entanto, Botelho se recusa e espera que
a lei se cumpra. Simão confessa o crime, sem alegar legitima defesa o que
complica sua situação. O pai decide mudar de Viseu, levando a família para que
ninguém se sinta forçado a facilitar a situação de seu filho.
Simão
recebe almoço mandado pela mãe e segundo uma carta dela conclui não ter sido
ela a ajudá-lo anteriormente, descobrindo ser de Mariana o dinheiro que João
lhe deu, e a partir daí recusa qualquer ajuda da mãe.
Mariana
então passa a cuidar de Simão oferecendo-lhe tudo que possa precisar na cadeia.
Com a condenação de Simão à forca, Mariana tem um acesso de loucura.
Pressionado
pelo restante da família e querendo
demonstrar mais influência que Albuquerque, Botelho age e consegue interceder e
mudar a pena de Simão para um degredo de dez anos na Índia.
Enquanto
isso no convento de Mochique, Teresa é bem tratada porque a prelada é uma tia sua. Ela consegue
enviar cartas a Simão manifestando se sentir mau. Fica doente e só melhora ao
saber que Simão será transferido para o Porto. Temendo que os dois jovens se
reencontrem Albuquerque decide levá-la de novo para Viseu, mas desta vez é
impedido pela prelada, que faz uso das normas do convento.
Na
cadeia, Simão recebe a visita de João da Cruz e de Mariana, que vem para
servi-lo tendo novamente a possibilidade de correspondência com Teresa. Ao
retornar a Viseu, João da Cruz é morto por vingança de um crime antigo. Mariana
sofre, e vende tudo que tem com a intenção de acompanhar Simão no seu exílio. Restava a Simão a alternativa de
cumprir sua pena na prisão em Vila Real, mas ele prefere o degredo em
liberdade, a prisão em uma cela. Simão embarca para a Índia e Mariana vai
junto.
Enquanto
isso, Teresa que está muito doente relê as cartas de Simão, e em seguida, entrega-as
para Constança, a criada, pedindo-lhe que as entregue a Simão. No momento da partida do navio que levara Simão
ela sobe para o mirante. De longe Simão vê Teresa acenando, ela cai morta. O
capitão do navio conta a Simão os detalhes da morte de Teresa. Simão conversa
com Mariana sobre sua vontade de morrer e Mariana lhe conta que morrerá logo em
seguida. Simão faz com que o Comandante comprometa-se
em cuidar de Mariana caso algo lhe
aconteça.
Nesta
noite, Simão lê a última carta de Teresa, que lhe chegou junto ao maço de
correspondências. Teresa se despede na
intenção de encontrar o seu amado no céu. Na manhã de 28 de março, depois de
sofrer durante nove dias com febres e delírios, Simão não resiste e morre. Mariana
também não resiste à morte dele e no mesmo instante que os marujos arremessam o
corpo de Simão ao mar, ela se joga e abraça o corpo do amado, afundando com ele.
ANÁLISE DA OBRA
Em Amor
de Perdição encontramos o traço principal das novelas de Camilo: a
visão do amor como uma espécie de destino, de fatalidade, que domina e define a
vida e a morte das personagens principais. Para as suas personagens, basta essa
visão do caráter da paixão amorosa, para que ela crie um conjunto de sofrimentos: o remorso, a percepção do amor como impossibilidade. É um
marco do Ultrarromantismo português. Muito bem recebido pelo público em seu
lançamento, acabou se tornando uma espécie de Romeu e Julieta de Portugal. Tem
o traço daquela obra onde as nobres famílias, Botelho e Albuquerque, veem o
ódio mútuo ameaçado pelo amor entre Simão Botelho e Teresa Albuquerque. Simão o
herói romântico, cujos erros passados são corrigidos pelo amor, Teresa a
heroína firme e resolvida em seu sentimento ao amado, e Mariana a mais romântica
das personagens, com seu altruísmo, representam a dimensão amorosa, o sentimento
da paixão.
A
apresentação de Simão Botelho pelo narrador-autor é completamente romântica e é
feita de modo a parecer real. Os escritores românticos utilizavam recursos para
que suas obras conquistassem a confiança do leitor.
Amor
de Perdição foi um romance escrito na Cadeia da Relação do Porto, em
1861. Subintitulado de Memórias de Uma Família é baseado em episódios da
vida do tio Simão Botelho. Este é o romance mais popular, já traduzido em
diversas línguas e adaptado ao teatro e ao cinema. Dele chegou a ser tirada uma
ópera e, em 1986, fez-se uma edição da obra destinada aos emigrantes
portugueses espalhados pelo mundo.
Na
introdução do romance, o narrador-autor reproduz o registro de prisão de Simão
Botelho nas cadeias da Relação do Porto e antecipa o degredo do moço, aos 18
anos, em circunstância ligada a uma paixão, bem como o desenlace trágico da
história. Falando diretamente ao leitor, imagina a reação que tal história pode
provocar: compaixão, choro, raiva, revolta frente à falsa virtude de homens injustos
e bárbaros.
FOCO NARRATIVO
A
obra é escrita em terceira pessoa e apresenta um narrador onisciente, que sabe
todo o universo dos personagens, sabendo até seus pensamentos e desejos. Como
neste trecho em que fala de Mariana: “Se
a forçassem a resignar a sua inglória missão de irmã daquele homem,
resigná-la-ia dizendo: — “Ninguém o amará como eu; ninguém lhe adoçará as penas
tão desinteressadamente como eu fiz” (p. 68).
O narrador-autor comenta os sentimentos e
comportamentos dos personagens, revelando a própria opinião sobre suas atitudes
e sobre os acontecimentos: “Estes ardis
são raros na idade inexperta de Teresa; mas a mulher do romance quase nunca é trivial, e esta, de que rezam os meus
apontamentos, era distintíssima” (p. 14).
O
pai de Tereza a obriga a ir para um convento. Nessa situação os dois jovens
trocam cartas apaixonadas, inseridas na história intensificando o lado
passional e dramático e podem ser considerados um importante recurso. Na
narração das cartas, os dois jovens também se transformam em narradores,
portanto o livro apresenta mais de um narrador.
Percebe-se a voz de Teresa na última carta que escreve a Simão: “Se eu pudesse ainda ver-te feliz neste
mundo; se Deus permitisse à minha alma esta visão!...” (p. 75).
PERSONAGENS
Pertencente ao
ultrarromantismo, a obra apresenta um amor idealizado na qual todos os
personagens são virtuosos e não contradizem essa característica. Embora pertençam
a mundos sociais diferentes o que sobressai no livro são as emoções o que
possibilita a distinção da nobreza de caráter.
Teresa de Albuquerque,
protagonista — heroína romântica, não apresenta evolução
psicológica sendo uma personagem plana. Destaca-se pela beleza, é delicada e
possui grandiosidade em seus sentimentos, sendo uma representação de
mulher-anjo. Teresa não aceita o destino que a família escolheu para ela,
revelando autonomia para a época. Apaixonada por Simão ela recusa em se casar
com o primo Baltasar escolhido pelo pai, Tadeu Albuquerque. Troca cartas com
Simão o que fomenta o amor. É esperta, determinada e manifesta força de
vontade. Ao ser enclausurada pelo pai, em um convento reflete sobre a justiça
divina e sobre as injustiças cometidas e que impossibilitavam a realização de
sua felicidade.
Simão Antonio
Botelho protagonista, o herói
romântico. Simão se revela um jovem com
ideias liberais ao se rebelar contra as ideias da família. Porém, ao se sentir
profundamente apaixonada pela jovem Teresa, tenta mudar o próprio jeito de ser
para tentar conquistá-la. Como as famílias não permitem esse amor, Simão é
levado a extremismos que acabam em mortes, o que determina o fim trágico do
romance. Sua nobreza de caráter é comprovada
em diversas passagens após se entregar a polícia por ter matado Baltasar Coutinho. Por isso pode ser
considerado um personagem redondo, com evolução na sua personalidade.
Mariana, ama em silêncio. Mariana
criada no campo pertence a uma camada mais simples da sociedade. Ela ama
profundamente Simão e o ajuda na busca da felicidade, apresentando sua lealdade
amorosa apesar de não ser correspondida. Pode-se dizer que Mariana é a
personagem que mais sofre em todo o romance. Pois momento algum se vê com
esperanças no amor de Simão por ela. Essas qualidades da personagem faz parte
do estilo romântico. Junto com Simão e Teresa formam um triângulo amoroso do
livro. Mariana pode ser considerada uma personagem protagonista e redonda.
João da Cruz, o camponês corajoso. Personagem secundário, que ajuda e protege Simão dando-lhe abrigo quando
ele vai à Viseu, secretamente, para rever Teresa. No início o ajuda por
achar que tem uma dívida de gratidão porque o corregedor, pai de Simão, o
livrara da morte, depois envolve-se emocionalmente a ponto de matar para
defender o rapaz.
Baltasar
Coutinho, o irritante interesseiro. É
o primo de Teresa, rapaz sem moral. Quer se casar com Teresa, movido por
interesse e orgulho, disposto a qualquer coisa para conseguir o que quer. Vêm
de uma família nobre e diferente de Simão, suas ações têm intenções sujas. Seus
defeitos se opõem às qualidades de Simão. Personagem antagonista e plano.
Tadeu de
Albuquerque, o autoritário.
Pai de Teresa é arrogante, que não lhe respeita nenhum sentimento. Controla
a vida da filha e quer decidir o seu destino. É inimigo do pai de Simão e por
isso mesmo é contra o amor dos dois jovens. Também prefere perder a filha a
perder dignidade social. É um personagem
plano e antagonista.
Domingos
Botelho, o pai de Simão. Ele representa
a lei e o rigor da história. Homem correto e centrado, suas ações estão sempre
voltadas ao moralismo, colocando por diversas vezes a justiça acima da família.
Inimigo dos Albuquerques , decide ajudar o filho Simão apenas para competir com
Tadeu, o estimo com os nobres. Personagem plana e secundário.
D. Rita Preciosa, mãe
de Simão. Ela
representa o sentimento materno da época, age mais por obrigação familiar do
que por motivos afetivos; ajuda Simão porque esse é o seu papel e não porque o
amor de mãe a leve a perdoar e a compreender as atitudes do filho. Personagem
secundária e plana.
Ritinha, irmã de
Simão. Ela representa o único laço familiar para Simão. Devido a este fato ela
se sobressai entre as outras irmãs de Simão. Ela o ajuda pelo que sente e não
pelo que lhe é imposto. É um diferencial das mulheres daquela época. Personagem secundária e plana.
Manuel
Botelho, o irmão mais velho. No início
do livro critica Simão por sua vida bagunçada quando vai morar junto dele em
Coimbra, para os estudos. Algum tempo
depois acaba se envolvendo com uma mulher casada. Arrependido, confirma sua
dependência familiar quando pede ajuda aos pais para devolver aos Açores a
mulher comprometida com quem fugira revelando assim sua fraqueza de caráter.
ESPAÇO
FÍSICO
Toda a história acontece em Portugal
mais precisamente em Viseu, Coimbra e Porto, no século XIX. Os espaços, a princípio
amplos, vão se aproximando à medida que
a história se encaminha para o ápice. A perda da liberdade sofrida pelos dois
jovens, ele por se esconder e ela por viver trancada em casa, e no final ele na prisão e ela no convento, representa a
prisão da própria vida a qual eles não podem desfrutar. A ideia de liberdade e,
portanto, de espaço, somente acontece com a morte dos dois. Os espaços adquirem uma importância na obra já que são
determinantes na ação dos personagens, no desenrolar dos acontecimentos que
encerram no desfecho trágico.
ESPAÇO
SOCIAL
O espaço social se caracteriza pela:
Nobreza
representada pela mentalidade e pelas ações das duas famílias. A própria
rivalidade existente revela a mesquinharia.
Ilegalidade
da justiça: verifica-se a intenção do autor de denunciar a parcialidade dos
julgamentos a partir das classes e posses dos julgados e dos pedidos de pessoas
influentes.
Ilegalidade
no exército: também aqui pode-se perceber as irregularidades, quando Botelho,
corregedor, pede a favor de seu filho Manoel, desertor.
Vícios
no convento: certamente, intenção do autor de criticar tudo o que ocorria no
Convento de Viseu quanto a vícios e
corrupções, em contraste com a inocência
e dignidade de Teresa. O mesmo não acontece em Monchique onde a bondade
das freiras é elogiada.
Campestre:
amizade e fidelidade dos habitantes. O autor demonstra sua preferência pelas
pessoas mais simples retratando-as como pessoas boas e de confiança.
TEMPO CRONOLÓGICO
O
tempo, os acontecimentos são em ordem cronológica, de forma linear. A história
começa com o casamento dos pais de Simão em 1779 e termina com a morte de Simão
em 17 de março de 1807. Por diversas
vezes o narrador menciona datas o que reforça a verdade dos fatos.
Na
passagem que João Cruz narra como matou um homem ele volta no tempo. Outro
fator são as cartas trocadas entre os jovens apaixonados. Essas cartas determinam
o processo narrativo por comunicar as decisões das personagens. No início do livro há um regresso no tempo em
que o autor apresenta o enredo. A introdução apresenta um tempo de quarenta
anos.
TEMPO PSICOLÓGICO
O tempo psicológico pode ser observado
nas passagens retratadas de Simão na prisão quando ele se desespera porque o
tempo parece uma eternidade e por isso prefere ir para o exílio. Pois em um
país estrangeiro, poderá ver o céu.
Pode-se considerar o tempo psicológico mais
importante já que, determina a escolha de Simão pelo degredo. Essa atitude do
jovem leva Teresa ao desespero por achar
que ele não voltaria, e mesmo se voltasse não conseguiriam se reencontrar. O
sofrimento de Teresa aumenta com essa ideia o que pode ter precipitado a sua
morte.
CONTEXTUALIZAÇÃO
Camilo Castelo Branco mostra uma
visão da sociedade de sua época, como por exemplo, moral vigente. Discute a
questão do casamento por encomenda. O casamento estava mais voltado para um
acordo financeiro do que para a busca da felicidade. Discute ainda, o poder da
burguesia que tem força para mudar as leis, ao seu interesse. Exemplo o caso da
prisão de Simão, quando seu pai procura salvá-lo da morte usando seu prestígio
como corregedor.
A igreja é vista de forma
negativa. Teresa quando pensa que vai encontrar a salvação no convento, se
depara com a falsidade, com as intrigas e, com os vícios das freiras.
PASSIONALIDADE
É comum na obra de Camilo Castelo
Branco, o tratamento de amor entre jovens. Amor profundo, criado em expressão
trágica, características de grandes paixões vividas pelas personagens, cuja
maioria encontra força de luta superior àquela que se poderia esperar, o casal
de amantes, procuram a todo custo, a felicidade; porém acabam encontrando
grandes empecilhos para a realização do amor; e geralmente diante da
impossibilidade, a paixão é vencida pela morte, característica do chamado
romance passional.
Trechos:
“Baltasar
Coutinho lançou-se de ímpeto a Simão. Chegou a apertar-lhe a garganta nas mãos;
mas depressa perdeu o vigor dos dedos. Quando as damas chegaram a interpor-se
entre os dois, Baltasar tinha o alto do crânio aberto por uma bala, que lhe
entrara na fronte. Vacilou um segundo, e caiu desamparado aos pés de Teresa.”
“Dois
homens ergueram o morto ao alto sobre a amurada. Deram-lhe o balanço para o
arremessarem longe. E, antes que o baque do cadáver se fizesse ouvir na água,
todos viram, e ninguém já pôde segurar Mariana, que se atirara ao mar.[…]”.
“Viram-na,
um momento, bracejar, não para resistir à morte, mas para abraçar-se ao cadáver
de Simão, que uma onda lhe atirou aos braços […]”.
CULTO Á NATUREZA
Todos os elementos naturais têm significado poético: as horas do
dia, as estações do ano, o sol, a lua, o mar, a montanha, a floresta e o campo.
O estado de alma romântica pode ser encontrado em qualquer época,
caracterizando-se amor à natureza, a personalidade sonhadora, a fé a liberdade
o saudosismo e a emoção.
[…]
“um dia lindo, Refletem-se do azul do céu os mil matizes da primavera. Tem
aromas o ar, e a viração fugitiva dos jardins derrama no éter as aromas que
roubou aos canteiros, Aquela indefinida alegria, que parece reluzir nas legiões
de espírito que se geram ao sol de março, rejubila a natureza que, toda pompa
de luz e flores, se está namorando do calor que a vai fecundando.”
ESCAPISMO ROMÂNTICO
Para os
românticos, o mundo real é sempre uma frustração de seus idealismos e sonhos,
por isso criam, imaginam situações que lhe agradam.
“Esquecido, não. Muito há que me
reluz e voeja, alada como o ideal querubim dos santos, nesta minha quase
escuridade, aquela ave do céu, como a pedir-me que lhe cubra de flores o
restilho de sangue que ela deixou na terra. Mais lágrimas que sangue deixaste,
ó filha da amargura! Flores são tuas lágrimas, e do céu me diz se os perfumes
delas não valem mais aos pés do teu Deus que as preces de muita devota que
morre santificada pelo mundo, e cujo cheiro de santidade não passa do olfato
hipócrita ou estúpido dos mortais.”
EGOCENTRISMO
Vários artistas românticos colocam em seus
poemas os sentimentos acima de tudo, destacando-os no texto. Pode-se dizer que
o egocentrismo foge completamente da razão.
“Simão Botelho levou de Viseu
para Coimbra arrogantes convicções da sua valentia. Se recordava os chibantes
pormenores da derrota em que pusera trinta aguadeiros, o som cavo das pancadas,
a queda atordoada deste, o levantar-se daquele, ensanguentado, a bordoada que
abrangia três a um tempo, a que afocinhava dois, a gritaria de todos, e o
estrépito dos cântaros afinal, Simão deliciava-se nestas lembranças, como ainda
não vi nalgum drama, em que o veterano de cem batalhas relembra os louros de cada
uma, e esmorece, afinal, estafado de espantar, quando não é de estafar, os
ouvintes.”
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