domingo, 24 de janeiro de 2016

ESTUDO DE LITERATURA

AMOR DE PERDIÇÃO

CAMILO CASTELO BRANCO - O Autor
Nasceu em 16 de março de 1825 na freguesia dos Mártires, em Lisboa, Portugal. Filho de Manuel Joaquim Botelho Castelo Branco e de Jacinta Rosa do Espírito Santo Ferreira, ficou órfão de mãe com um ano e de pai aos 10 anos. Foi morar com uma tia e depois com sua irmã mais velha. Em 1841, com apenas 16 anos, casou-se com uma jovem de 15 anos, Joaquina Pereira, mas logo a abandonou. Em 1843 ingressou na Escola Médica do Porto, mas não seguiu o curso. Em 1845 suas primeiras obras literárias foram publicadas. Em 1846 fugiu com a jovem Patrícia Emília, mas a abandona, poucos anos depois. em 1847 morreu  Joaquina, de quem estava separado, e a filha do casal morreu no ano seguinte. Em 1850 ingressou no seminário do Porto, pretendendo seguir a vida religiosa. Nesse ano conheceu Ana Plácido, que casada com um comerciante brasileiro, abandonou o marido em 1859 e foi viver com Camilo. Em 1860 é processado e preso por crime de adultério, mas é absolvido no ano seguinte, passando a viver com Ana. O casal foi morar em Lisboa e depois em São Miguel de Seide, sempre com muitos problemas financeiros. Em 1863 publica "Amor de Perdição", sua novela mais famosa. Sua vida atribulada lhe deu inspiração para os temas de suas novelas.
Camilo inscreve-se no segundo momento romântico português, chamado de Ultrarromantismo. Em vez de falar do nacionalismo, característica da primeira fase do Romantismo, ele optou por escrever sobre sentimentos. O Romantismo surgiu na primeira metade do século XIX, intencionado pela ascensão da burguesia, provocada pela Revolução Francesa e fortalecida com as Revoluções Liberais de 1830 e 1848. O exagero desse individualismo, o tédio e o ceticismo diante da existência criam a sensação indefinida de insatisfação a que os românticos davam o nome de "Mal do Século". O romance romântico aborda o amor nas suas formas mais extremas, acima do controle da razão, é sempre ligado á morte. Ele escrevia para o público, diferentemente da maioria dos escritores da época que preferiam escrever algo mais pessoal, mas apesar disso ele conseguiu manter as suas publicações bastante originais. Mesmo com o reconhecimento Camilo estava depressivo, pois havia contraído uma doença que lhe deixaria cego. Logo após o diagnóstico definitivo de que iria ficar cego, ele comete suicídio em São Miguel de Seide no dia 1 de junho de 1890.
A OBRA
Em Amor de Perdição a história se baseia em três elementos fundamentais: a família, o amor e o ódio entre as famílias. O casal protagonista, Simão e Teresa se amam e desejam viver esse amor. No entanto as famílias dos jovens se odeiam o que torna o amor impossível. Esse é o amor ideal próprio do Romantismo.  E junto com o amor há sempre a ideia da morte mencionada em diversas partes do texto. "Não me esqueças tu e achar-me-ás no convento, ou no Céu, sempre tua do coração,’’
"– Hás de casar! Quero que cases! Quero...Quando não, serás amaldiçoada para sempre, Teresa! Morrerás num convento.”

ENREDO
            Na introdução do romance, o narrador-autor apresenta o registro de prisão de Simão Botelho nas cadeias da Relação do Porto e a data em que foi degredado para a Índia.  Com apenas 18 anos, idade em que deveria estar começando a aproveitar as coisa boas da vida, é preso em circunstância ligada à primeira paixão. O narrador fala diretamente ao leitor as emoções que essa tragédia irá provocar principalmente a revolta diante da falsa virtude de homens injustos e frios.
            Em seguida começa a contar a história da família Botelho da qual faz parte o protagonista Simão Botelho. O chefe da família Domingos Botelho é formado em Direito e inicia sua carreira em Lisboa, onde é bem visto pelos reis. Apaixona-se por D. Rita Castelo, dama de D. Maria I.
            Após dez anos de tentativas, casam-se em 1779.  Em 1801 vão morar em Viseu com as três filhas. Os dois filhos homens estudam em Coimbra e têm temperamentos diferentes. Manuel, o mais velho reclama ao pai do irmão mais novo avisando-o de seus maus modos, porem o pai não se importa. Somente quando, durante as férias em casa, Simão briga para defender um criado que fora espancado, o pai se enfurece e deseja que ele seja preso. A mãe o protege-o, e ajuda Simão a fugir para Coimbra até que passe a raiva do pai.
            Simão tem ideias revolucionarias e começa a defender a Revolução Francesa em público o que o leva a ser preso por seis meses. Com isso, Simão perde o ano na escola e vai para casa dos pais. Seu pai não o perdoa, mantendo-se frio e distante, sem falar com o filho.
            Durante esse tempo, Simão conhece Teresa filha de Tadeu Albuquerque vizinho de seus pais. Ele se apaixona pela moça, o que faz com que ele mude o comportamento, tonando-se caseiro e pensativo.  Contudo as duas famílias tinham uma inimizade que começou devido a sentenças feitas por Botelho e que atrapalhou os interesses de Albuquerque. Além disso, Simão em uma briga recente havia machucado empregados de Albuquerque. Mesmo sabendo da inimizade de suas famílias e da impossibilidade desse amor, os dois jovens se encontram às escondidas e sonham em se casarem. Planejam uma vida em comum e serem felizes.
            Na véspera de seu retorno à Coimbra, os dois jovens conversam pela janela quando são surpreendidos por Albuquerque que reage arrastando a filha. Devido ao desespero, Simão fica nervoso, mesmo assim, parte para Coimbra, planejando voltar em segredo para se comunicar com Teresa. Pouco antes de sair para viajar, uma mendiga lhe entrega um bilhete da jovem, revelando as ameaças do pai de colocá-la num convento.  No bilhete ela pede a Simão que vá para Coimbra e que ela  manterá contato.
            Tereza e Rita, irmã caçula de Simão, começam uma amizade e a mantêm em segredo, conversando através das janelas. Numa dessas conversas são surpreendidas por Botelho que pressiona a filha obrigando-a a revelar o que sabe.  Albuquerque também percebe o que está acontecendo, mas demonstra tranquilidade por considerar que, nesses casos, mantendo a filha distante do rapaz irá terminar com aquela paixão. Além disso, planeja casá-la com Baltasar Coutinho, um primo, a quem estima muito. Teresa, naturalmente, nega-se a qualquer relacionamento com Baltasar que insiste em saber as razões da jovem em recusá-lo. Ao tomar conhecimento do amor da jovem por Simão, jura que irá se colocar contra esse romance.
            Ao recusar se unir a Baltasar, Teresa enfurece, mas ainda seu pai que decide mandá-la para o convento. Nesse meio tempo, Teresa escreve toda semana para Simão, mas não conta as ameaças do pai, nem do seu primo, para evitar mais brigas. Teresa manda uma carta ao amado narrando os últimos acontecimentos, ele rapidamente retorna para Viseu. 
             Simão aluga um cavalo e pede ao dono dele que lhe indique um refúgio na cidade de Viseu. O moço, então, lhe indica a casa de João da Cruz, um ferrador, seu cunhado. Ao chegar a Viseu, de longe Simão percebe que há festa em casa de Teresa. Seu pai, tenta por meio do conhecimento de outros rapazes, que Teresa deixe de amar o filho de seu inimigo.  Entre os convidados está Baltasar que a observa, percebendo que ela sai da sala e se dirige ao quintal. Ela volta logo, porém quando vai ao jardim é seguida por Baltasar. Teres percebe sua presença e volta a casa. Numa terceira tentativa vai ao encontro de Simão que lhe esperava, conforme combinado na carta que lhe escreveu. Baltasar, que estava escondido, aparece a Simão e o ameaça, sem, dizer quem é. Simão resolve voltar na noite seguinte.
             João da Cruz revela a Simão que há três anos escapou da forca por causa de Botelho e que por isso, tem um sentimento de gratidão ao filho. Porém, há algum tempo fora empregado de Baltasar Coutinho que lhe emprestou dinheiro para que pudesse se estabelecer. E que há poucos meses Coutinho o procurara pedindo-lhe que matasse o próprio Simão. O ferrador procurara corregedor e lhe contara o ocorrido. Botelho então, contou ao ferrador tudo que estava acontecendo. Sabendo disso João da Cruz aconselha Simão a tentar resolver a situação de outra forma, mas ele insiste em querer ver Teresa à noite. O ferrador resolve acompanhá-lo.
            Simão, João da Cruz e o dono do cavalo seguem para Viseu. Do outro lado, Coutinho e dois homens preparam uma tocaia. Simão mal vê Teresa e decide voltar, ela vê que o clima está muito tenso e perigoso. No caminho encontram com Coutinho e matam um homem deixando outro ferido. Simão tenta fazer com que João da Cruz não mate o outro, mas ele não o escuta. Os crimes permanecem em segredo. Simão passa um tempo recuperando na casa de João da Cruz já que fora ferido no braço. Mariana, a filha de João da Cruz cuida de Simão e se apaixona por ele, porém ele não lhe dá nenhuma esperança e tem por ela apenas o carinho de um irmão. Com muito custo Teresa e Simão se correspondem, e ela narra a intenção do pai de colocá-la em um convento.
            Teresa é levada para o convento de Viseu enquanto espera a transferência para o Convento de Monchique, no Porto. A jovem se vê perdida nas intrigas, e nos vícios das freiras. Uma das freiras se dispõe a ajudá-la e ela consegue escrever para Simão. João da Cruz leva a resposta e com a ajuda de Mariana resolve o problema de falta de dinheiro de Simão dizendo ao jovem que a mãe lhe enviara dinheiro.
            Diante da certeza da partida de Teresa para Monchique, Simão se desespera e planeja raptá-la. João e a filha tentam fazê-lo mudar de ideia, mas não funciona.  Por Mariana envia uma carta a Teresa que lhe responde dizendo que uma grande escolta irá acompanhá-la, na viagem, incluindo o primo Coutinho. Simão se aflige e resolve ir ver Teresa à saída do convento e João da Cruz também vai para acompanhá-lo, com um grupo de homens, tencionando raptar a jovem. Simão não aprova o plano, mas mantém em segredo a decisão de ir ver Teresa.
            Bem de madrugada, começa a movimentação da comitiva que irá levar Teresa, formada por seu pai, criados, Coutinho e suas irmãs. Simão já bem antes chegara, os encontra e ao ser agredido por Coutinho reage com um tiro de pistola na cabeça. João da Cruz o aconselha a fugir, mas Simão se nega a isso.
Ao saber do crime a mãe de Simão pede ao pai que interceda a favor do filho. No entanto, Botelho se recusa e espera que a lei se cumpra. Simão confessa o crime, sem alegar legitima defesa o que complica sua situação. O pai decide mudar de Viseu, levando a família para que ninguém se sinta forçado a facilitar a situação de seu filho.
            Simão recebe almoço mandado pela mãe e segundo uma carta dela conclui não ter sido ela a ajudá-lo anteriormente, descobrindo ser de Mariana o dinheiro que João lhe deu, e a partir daí recusa qualquer ajuda da mãe.
            Mariana então passa a cuidar de Simão oferecendo-lhe tudo que possa precisar na cadeia. Com a condenação de Simão à forca, Mariana tem um acesso de loucura.
            Pressionado pelo restante da família  e querendo demonstrar mais influência que Albuquerque, Botelho age e consegue interceder e mudar a pena de Simão para um degredo de dez anos na Índia.
            Enquanto isso no convento de Mochique, Teresa é bem tratada  porque a prelada é uma tia sua. Ela consegue enviar cartas a Simão manifestando se sentir mau. Fica doente e só melhora ao saber que Simão será transferido para o Porto. Temendo que os dois jovens se reencontrem Albuquerque decide levá-la de novo para Viseu, mas desta vez é impedido pela prelada, que faz uso das normas do convento.
            Na cadeia, Simão recebe a visita de João da Cruz e de Mariana, que vem para servi-lo tendo novamente a possibilidade de correspondência com Teresa. Ao retornar a Viseu, João da Cruz é morto por vingança de um crime antigo. Mariana sofre, e vende tudo que tem com a intenção de acompanhar Simão no seu exílio.          Restava a Simão a alternativa de cumprir sua pena na prisão em Vila Real, mas ele prefere o degredo em liberdade, a prisão em uma cela. Simão embarca para a Índia e Mariana vai junto.
            Enquanto isso, Teresa que está muito doente relê as cartas de Simão, e em seguida, entrega-as para Constança, a criada, pedindo-lhe que as entregue a Simão.  No momento da partida do navio que levara Simão ela sobe para o mirante. De longe Simão vê Teresa acenando, ela cai morta. O capitão do navio conta a Simão os detalhes da morte de Teresa. Simão conversa com Mariana sobre sua vontade de morrer e Mariana lhe conta que morrerá logo em seguida. Simão faz com que o Comandante  comprometa-se em  cuidar de Mariana caso algo lhe aconteça.
            Nesta noite, Simão lê a última carta de Teresa, que lhe chegou junto ao maço de correspondências.  Teresa se despede na intenção de encontrar o seu amado no céu. Na manhã de 28 de março, depois de sofrer durante nove dias com febres e delírios, Simão não resiste e morre. Mariana também não resiste à morte dele e no mesmo instante que os marujos arremessam o corpo de Simão ao mar, ela se joga e abraça o corpo do amado, afundando com ele.

ANÁLISE DA OBRA
            Em Amor de Perdição encontramos o traço principal das novelas de Camilo: a visão do amor como uma espécie de destino, de fatalidade, que domina e define a vida e a morte das personagens principais. Para as suas personagens, basta essa visão do caráter da paixão amorosa, para que ela crie  um conjunto de sofrimentos: o remorso,  a percepção do amor como impossibilidade. É um marco do Ultrarromantismo português. Muito bem recebido pelo público em seu lançamento, acabou se tornando uma espécie de Romeu e Julieta de Portugal. Tem o traço daquela obra onde as nobres famílias, Botelho e Albuquerque, veem o ódio mútuo ameaçado pelo amor entre Simão Botelho e Teresa Albuquerque. Simão o herói romântico, cujos erros passados são corrigidos pelo amor, Teresa a heroína firme e resolvida em seu sentimento ao amado, e Mariana a mais romântica das personagens, com seu altruísmo, representam a dimensão amorosa, o sentimento da paixão.
            A apresentação de Simão Botelho pelo narrador-autor é completamente romântica e é feita de modo a parecer real. Os escritores românticos utilizavam recursos para que suas obras conquistassem a confiança do leitor.
            Amor de Perdição foi um romance escrito na Cadeia da Relação do Porto, em 1861. Subintitulado de Memórias de Uma Família é baseado em episódios da vida do tio Simão Botelho. Este é o romance mais popular, já traduzido em diversas línguas e adaptado ao teatro e ao cinema. Dele chegou a ser tirada uma ópera e, em 1986, fez-se uma edição da obra destinada aos emigrantes portugueses espalhados pelo mundo.
            Na introdução do romance, o narrador-autor reproduz o registro de prisão de Simão Botelho nas cadeias da Relação do Porto e antecipa o degredo do moço, aos 18 anos, em circunstância ligada a uma paixão, bem como o desenlace trágico da história. Falando diretamente ao leitor, imagina a reação que tal história pode provocar: compaixão, choro, raiva, revolta frente à falsa virtude de homens injustos e bárbaros.


FOCO NARRATIVO
            A obra é escrita em terceira pessoa e apresenta um narrador onisciente, que sabe todo o universo dos personagens, sabendo até seus pensamentos e desejos. Como neste trecho em que fala de Mariana: “Se a forçassem a resignar a sua inglória missão de irmã daquele homem, resigná-la-ia dizendo: — “Ninguém o amará como eu; ninguém lhe adoçará as penas tão desinteressadamente como eu fiz” (p. 68).
             O narrador-autor comenta os sentimentos e comportamentos dos personagens, revelando a própria opinião sobre suas atitudes e sobre os acontecimentos: “Estes ardis são raros na idade inexperta de Teresa; mas a mulher do romance quase  nunca é trivial, e esta, de que rezam os meus apontamentos, era distintíssima” (p. 14).
            O pai de Tereza a obriga a ir para um convento. Nessa situação os dois jovens trocam cartas apaixonadas, inseridas na história intensificando o lado passional e dramático e podem ser considerados um importante recurso. Na narração das cartas, os dois jovens também se transformam em narradores, portanto o livro apresenta mais de um narrador.  Percebe-se a voz de Teresa na última carta que escreve a Simão: “Se eu pudesse ainda ver-te feliz neste mundo; se Deus permitisse à minha alma esta visão!...” (p. 75).


PERSONAGENS

Pertencente ao ultrarromantismo, a obra apresenta um amor idealizado na qual todos os personagens são virtuosos e não contradizem essa característica. Embora pertençam a mundos sociais diferentes o que sobressai no livro são as emoções o que possibilita a distinção da nobreza de caráter.

Teresa de Albuquerque, protagonista — heroína romântica, não apresenta evolução psicológica sendo uma personagem plana. Destaca-se pela beleza, é delicada e possui grandiosidade em seus sentimentos, sendo uma representação de mulher-anjo. Teresa não aceita o destino que a família escolheu para ela, revelando autonomia para a época. Apaixonada por Simão ela recusa em se casar com o primo Baltasar escolhido pelo pai, Tadeu Albuquerque. Troca cartas com Simão o que fomenta o amor. É esperta, determinada e manifesta força de vontade. Ao ser enclausurada pelo pai, em um convento reflete sobre a justiça divina e sobre as injustiças cometidas e que impossibilitavam a realização de sua felicidade.

Simão Antonio Botelho protagonista, o herói romântico.  Simão se revela um jovem com ideias liberais ao se rebelar contra as ideias da família. Porém, ao se sentir profundamente apaixonada pela jovem Teresa, tenta mudar o próprio jeito de ser para tentar conquistá-la. Como as famílias não permitem esse amor, Simão é levado a extremismos que acabam em mortes, o que determina o fim trágico do romance.  Sua nobreza de caráter é comprovada em diversas passagens após se entregar a polícia  por ter matado  Baltasar Coutinho. Por isso pode ser considerado um personagem redondo, com evolução na sua personalidade.
 Mariana, ama em silêncio. Mariana criada no campo pertence a uma camada mais simples da sociedade. Ela ama profundamente Simão e o ajuda na busca da felicidade, apresentando sua lealdade amorosa apesar de não ser correspondida. Pode-se dizer que Mariana é a personagem que mais sofre em todo o romance. Pois momento algum se vê com esperanças no amor de Simão por ela. Essas qualidades da personagem faz parte do estilo romântico. Junto com Simão e Teresa formam um triângulo amoroso do livro. Mariana pode ser considerada uma personagem protagonista e redonda.

João da Cruz, o camponês corajoso. Personagem secundário, que ajuda e protege Simão dando-lhe abrigo quando ele vai à Viseu, secretamente, para rever Teresa. No início o ajuda por achar que tem uma dívida de gratidão porque o corregedor, pai de Simão, o livrara da morte, depois envolve-se emocionalmente a ponto de matar para defender o rapaz. 
Baltasar Coutinho, o irritante interesseiro.  É o primo de Teresa, rapaz sem moral. Quer se casar com Teresa, movido por interesse e orgulho, disposto a qualquer coisa para conseguir o que quer. Vêm de uma família nobre e diferente de Simão, suas ações têm intenções sujas. Seus defeitos se opõem às qualidades de Simão. Personagem antagonista e plano.
Tadeu de Albuquerque, o autoritário. Pai de Teresa é arrogante, que não lhe respeita nenhum sentimento. Controla a vida da filha e quer decidir o seu destino. É inimigo do pai de Simão e por isso mesmo é contra o amor dos dois jovens. Também prefere perder a filha a perder dignidade social.  É um personagem plano e antagonista.
Domingos Botelho, o pai de Simão. Ele representa a lei e o rigor da história. Homem correto e centrado, suas ações estão sempre voltadas ao moralismo, colocando por diversas vezes a justiça acima da família. Inimigo dos Albuquerques , decide ajudar o filho Simão apenas para competir com Tadeu, o estimo com os nobres. Personagem plana e secundário.
 D. Rita Preciosa, mãe de Simão. Ela representa o sentimento materno da época, age mais por obrigação familiar do que por motivos afetivos; ajuda Simão porque esse é o seu papel e não porque o amor de mãe a leve a perdoar e a compreender as atitudes do filho. Personagem secundária e plana.

 Ritinha, irmã de Simão. Ela representa o único laço familiar para Simão. Devido a este fato ela se sobressai entre as outras irmãs de Simão. Ela o ajuda pelo que sente e não pelo que lhe é imposto. É um diferencial das mulheres daquela época.  Personagem secundária e plana.

Manuel Botelho, o irmão mais velho. No início do livro critica Simão por sua vida bagunçada quando vai morar junto dele em Coimbra, para os estudos.  Algum tempo depois acaba se envolvendo com uma mulher casada. Arrependido, confirma sua dependência familiar quando pede ajuda aos pais para devolver aos Açores a mulher comprometida com quem fugira revelando assim sua fraqueza de caráter.  

ESPAÇO FÍSICO
           
            Toda a história acontece em Portugal mais precisamente em Viseu, Coimbra e Porto, no século XIX. Os espaços, a princípio amplos, vão se aproximando à  medida que a história se encaminha para o ápice. A perda da liberdade sofrida pelos dois jovens, ele por se esconder e ela por viver trancada em casa, e no final ele  na prisão e ela no convento, representa a prisão da própria vida a qual eles não podem desfrutar. A ideia de liberdade e, portanto, de espaço, somente acontece com a morte dos dois. Os espaços adquirem uma importância na obra já que são determinantes na ação dos personagens, no desenrolar dos acontecimentos que encerram no desfecho trágico. 

ESPAÇO SOCIAL
            O espaço social se caracteriza pela:
            Nobreza representada pela mentalidade e pelas ações das duas famílias. A própria rivalidade existente revela a mesquinharia.
            Ilegalidade da justiça: verifica-se a intenção do autor de denunciar a parcialidade dos julgamentos a partir das classes e posses dos julgados e dos pedidos de pessoas influentes.
            Ilegalidade no exército: também aqui pode-se perceber as irregularidades, quando Botelho, corregedor, pede a favor de seu filho Manoel, desertor.
            Vícios no convento: certamente, intenção do autor de criticar tudo o que ocorria no Convento de Viseu  quanto a vícios e corrupções, em contraste com a inocência  e dignidade de Teresa. O mesmo não acontece em Monchique onde a bondade das freiras é elogiada.
            Campestre: amizade e fidelidade dos habitantes. O autor demonstra sua preferência pelas pessoas mais simples retratando-as como pessoas boas e de confiança.

TEMPO CRONOLÓGICO
O tempo, os acontecimentos são em ordem cronológica, de forma linear. A história começa com o casamento dos pais de Simão em 1779 e termina com a morte de Simão em 17 de março de 1807.  Por diversas vezes o narrador menciona datas o que reforça a verdade dos fatos.
Na passagem que João Cruz narra como matou um homem ele volta no tempo. Outro fator são as cartas trocadas entre os jovens apaixonados. Essas cartas determinam o processo narrativo por comunicar as decisões das personagens.  No início do livro há um regresso no tempo em que o autor apresenta o enredo. A introdução apresenta um tempo de quarenta anos.


TEMPO PSICOLÓGICO
           
            O tempo psicológico pode ser observado nas passagens retratadas de Simão na prisão quando ele se desespera porque o tempo parece uma eternidade e por isso prefere ir para o exílio. Pois em um país estrangeiro, poderá ver o céu.
 Pode-se considerar o tempo psicológico mais importante já que, determina a escolha de Simão pelo degredo. Essa atitude do jovem  leva Teresa ao desespero por achar que ele não voltaria, e mesmo se voltasse não conseguiriam se reencontrar. O sofrimento de Teresa aumenta com essa ideia o que pode ter precipitado a sua morte.


CONTEXTUALIZAÇÃO

            Camilo Castelo Branco mostra uma visão da sociedade de sua época, como por exemplo, moral vigente. Discute a questão do casamento por encomenda. O casamento estava mais voltado para um acordo financeiro do que para a busca da felicidade. Discute ainda, o poder da burguesia que tem força para mudar as leis, ao seu interesse. Exemplo o caso da prisão de Simão, quando seu pai procura salvá-lo da morte usando seu prestígio como corregedor.
            A igreja é vista de forma negativa. Teresa quando pensa que vai encontrar a salvação no convento, se depara com a falsidade, com as intrigas e, com os vícios das freiras.

PASSIONALIDADE
           
            É comum na obra de Camilo Castelo Branco, o tratamento de amor entre jovens. Amor profundo, criado em expressão trágica, características de grandes paixões vividas pelas personagens, cuja maioria encontra força de luta superior àquela que se poderia esperar, o casal de amantes, procuram a todo custo, a felicidade; porém acabam encontrando grandes empecilhos para a realização do amor; e geralmente diante da impossibilidade, a paixão é vencida pela morte, característica do chamado romance passional.
Trechos:
“Baltasar Coutinho lançou-se de ímpeto a Simão. Chegou a apertar-lhe a garganta nas mãos; mas depressa perdeu o vigor dos dedos. Quando as damas chegaram a interpor-se entre os dois, Baltasar tinha o alto do crânio aberto por uma bala, que lhe entrara na fronte. Vacilou um segundo, e caiu desamparado aos pés de Teresa.”
 “Dois homens ergueram o morto ao alto sobre a amurada. Deram-lhe o balanço para o arremessarem longe. E, antes que o baque do cadáver se fizesse ouvir na água, todos viram, e ninguém já pôde segurar Mariana, que se atirara ao mar.[…]”.
 “Viram-na, um momento, bracejar, não para resistir à morte, mas para abraçar-se ao cadáver de Simão, que uma onda lhe atirou aos braços […]”.

  CULTO Á NATUREZA­­
            Todos os elementos naturais têm significado poético: as horas do dia, as estações do ano, o sol, a lua, o mar, a montanha, a floresta e o campo. O estado de alma romântica pode ser encontrado em qualquer época, caracterizando-se amor à natureza, a personalidade sonhadora, a fé a liberdade o saudosismo e a emoção.
            […] “um dia lindo, Refletem-se do azul do céu os mil matizes da primavera. Tem aromas o ar, e a viração fugitiva dos jardins derrama no éter as aromas que roubou aos canteiros, Aquela indefinida alegria, que parece reluzir nas legiões de espírito que se geram ao sol de março, rejubila a natureza que, toda pompa de luz e flores, se está namorando do calor que a vai fecundando.”

 ESCAPISMO ROMÂNTICO
              Para os românticos, o mundo real é sempre uma frustração de seus idealismos e sonhos, por isso criam, imaginam situações que lhe agradam.
            “Esquecido, não. Muito há que me reluz e voeja, alada como o ideal querubim dos santos, nesta minha quase escuridade, aquela ave do céu, como a pedir-me que lhe cubra de flores o restilho de sangue que ela deixou na terra. Mais lágrimas que sangue deixaste, ó filha da amargura! Flores são tuas lágrimas, e do céu me diz se os perfumes delas não valem mais aos pés do teu Deus que as preces de muita devota que morre santificada pelo mundo, e cujo cheiro de santidade não passa do olfato hipócrita ou estúpido dos mortais.”

 EGOCENTRISMO
             Vários artistas românticos colocam em seus poemas os sentimentos acima de tudo, destacando-os no texto. Pode-se dizer que o egocentrismo foge completamente da razão.
            “Simão Botelho levou de Viseu para Coimbra arrogantes convicções da sua valentia. Se recordava os chibantes pormenores da derrota em que pusera trinta aguadeiros, o som cavo das pancadas, a queda atordoada deste, o levantar-se daquele, ensanguentado, a bordoada que abrangia três a um tempo, a que afocinhava dois, a gritaria de todos, e o estrépito dos cântaros afinal, Simão deliciava-se nestas lembranças, como ainda não vi nalgum drama, em que o veterano de cem batalhas relembra os louros de cada uma, e esmorece, afinal, estafado de espantar, quando não é de estafar, os ouvintes.”





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