Há muito tempo,
sim, que não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelheci.
Carlos Drummond de Andrade
Pensei que nunca mais lhe escreveria. Eu o
aborreço. Também há a namorada. Todavia, a saudade se me avassala, como um caudal
dorido de lamentos... Gostaria de, mais uma vez, explicar-me, pedir desculpas,
dizer coisas... Tantas foram ditas em meu nome e que são inverdades... Se me
precipitei, por inexperiência, paguei caro e aprendi...
Sonhos,
acordada, já não os tenho. Lembranças, sim. São como pérolas que acaricio
suavemente. Tesouros. Sempre que quero, recolho-me ao mais recôndito de mim. Minha
memória percorre caminhos que eu escolhi e os meus olhos encontram os seus, mesmo estando fechados. Seu cheiro invade meu coração e o seu corpo vem até
meus braços. Então eu o tenho meu novamente. Aperto-o contra o meu peito e deixo o tempo
escoar
Hoje,
depois daquela confusão toda, lembro de tudo; analiso e penso que sonhei
demais. Sonhos meus, “que não copiei, nem furtei”, mas que estavam além do meu
alcance.
Você
atravessou um dos meus desertos. Havia música e dança em seus passos. Um oásis
com água fresca e um jardim de flores amarelas em seu falar. Vislumbrei paz e
descanso em seus olhos e bati à porta de mim. Então, o sonho que dormitava lá
dentro, ouviu em sua quietude, tal qual murmúrio de riachos entre colinas, o
nascer de um sentimento. Que reclamou apenas seu próprio êxtase. Fizeram-se
estrelas na minha noite e para ele desnudei minh’alma. (E esse sentimento, por
ser imenso e vasto, transcendeu de mim, libertou-se e agora, sempre, palpita no
espaço.)
Assim, sonhei visitar seu eu e conhecer sua casa maior, contudo, havia
vales profundos entre seu coração e o meu. Minha estação não era chegada, nem
eram para mim a música, as flores, esse remanso...
Um
amor tão grande e restou apenas essa tristeza. Como um espinho doído, mas tão fundo que nunca vou conseguir arrancar. Um
amor tão grande e você nem percebeu. Nem se deu conta do quanto modificou a
minha vida.
Lécia
Freitas
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