AOS MEU AMIGOS...
Ontem foi meu aniversário! Quase uma sexagenária. E posso dizer, sem sombra de dúvida, que começaria tudo de novo, se me fosse concedido.
A vida foi dura, mas o que ela não me deu, eu corri atrás e tomei. E não me arrependo de nada. Os erros que cometi, serviram de experiência. Caí muitas vezes. Esfolei joelhos e alma. Por vezes, me vi escorrendo pelo chão. E como catei cacos. Ainda cato, continuo juntando cacos, porque a luta continua. E nem sempre fui tão forte. Confesso a Deus Todo-Poderoso e a vós irmãos, mea culpa, mea culpa, que muitas vezes passou pela minha cabeça tirar a minha vida e a de meus filhos. Em busca do perdão, digo que as forças minguavam e o desespero era absoluto. Mas a terra que sempre existiu em mim é fértil e bastava um fiapo de esperança, uma gota de alento para a vida criar raízes e tudo renovar. Essa vida que não me pertencia mais, que não era minha, senão de meus filhos, recrudescia com mais vigor. E eu crescia, me avolumava, virava um gigante para sobreviver. Por eles.
Vesti uma couraça em mim e neles para aguentar os reveses, a crueza e talvez esse tenha sido o meu maior erro. Perdemos alguma coisa, que não sei bem o que é. Talvez a fé. Isso, perdemos a fé em algumas coisas. Embora presa nessa armadura por medo, por defesa, eu consegui manter a sensibilidade. Eu deixei a minh’alma livre! E sempre que podia, voltava para dentro de mim, e visitava meus sonhos mais preciosos, minhas emoções mais caras. E assim sobrevivi. Tento, todos os dias, desses dias que me restam passar, mostrar para os meus filhos tudo de bom que eu conheço, que eu sei existir nesse mundo. Tento mostrar a eles como ser feliz, como eu sou, apesar de tudo e devido a tudo o que foi a minha vida.
Acredito que para todos, um curso superior é realmente um feito. Para mim, no entanto, foi muito mais que isso. Ninguém, ninguém tem condições de imaginar, tudo o que senti, enquanto estudava. O orgulho que sentia por estar ali, conviver com aquelas pessoas todas. Ter a ciência de todo aquele Conhecimento. No dia da colação de grau pensei que não fosse aguentar a emoção. Na hora do discurso, por várias vezes, eu tive que parar porque o meu coração... eu pensei não fosse suportar. (Tinha graça, eu morrer ali naquela hora.) Eu, a maria da silva, estava ali, recebendo aplausos. Merecidos! Vivi séculos, naquela noite!
Hoje, eu, a maria da silva, tenho três filhos cursando uma Faculdade. Então, posso dizer que os filhos da Lécia Freitas também terão seu lugar nesse mundo. Porque isso que me aconteceu, a Faculdade, inseriu-me num mundo do qual eu já nasci excluída. Talvez eu nunca vá entrar numa sala de aula, efetivamente. Porém, o estudo possibilitou-me o poder da escolha. Se eu quiser, eu posso. Eu tenho conhecimentos e capacidade para contribuir na formação de um ser humano. E ser reconhecida por isso. Assim, o conhecimento adquirido permite-me a entrada no salão, e não apenas olhar escondido, do lado de fora, pela vidraça, a festa da vida. Isso tudo coloca-me na frente de milhões, em um lugar que eu fui capaz de conquistar. E é muito bom.
Agradeço a Deus tudo que consegui! As oportunidades e as condições para realizá-las. Creio que consegui muito mais do que eu esperei. Hoje, tenho mais do que preciso para sobreviver.
O sofrimento deixou marcas profundas, indeléveis, mas tenho algo que consegue suplantar. São os amigos. Eu tenho amigos que se mostram felizes por estarem comigo, que me abraçam, que sorriem para mim. Isso é possuir um tesouro. A vocês, todos, eu agradeço as manifestações de carinho. A vocês, eu deixo um abraço bem forte. E o canto do passarinho que mais me emocionou. Eu amo vocês!
Lécia Freitas
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