2.2 Contexto Histórico
O diabo na rua, no meio do redemunho...
João Guimarães Rosa
A obra Grande
Sertão: Veredas, lançada em 1956, pertence à escola literária denominada
Terceira Geração do Modernismo (1945).
Essa
escola, conhecida como a Geração de 45, apresenta, entre as suas principais
características, o retrocesso em relação
às conquistas da 1ª geração de 1922, quando teve início o Modernismo no Brasil.
A volta ao passado traz uma revalorização do rigor extremo na rima, na métrica,
além da presença do vocabulário erudito
e das referências mitológicas. Além disso, essa geração retoma o passadismo e o
academicismo e a introdução de uma nova cultura internacional
nas Letras Brasileiras, segundo Emília Amaral¹ (2003, et al) .
Na Literatura, surge João Guimarães Rosa apresentando uma obra singular
com uma narrativa privilegiando o regionalismo. Entre outros trabalhos
destaca-se o romance Grande Sertão:
Veredas.
O
ano de 1945 foi de efervescência no plano político, no Brasil, com a deposição de Getúlio Vargas e o início de um
novo período político-social em nosso país. As mudanças se sucedem, nessa área,
até o ano de 1964 quando ocorre o Golpe Militar. Adotando modelos políticos
populistas, o Brasil tenta encontrar os rumos de seu desenvolvimento o que
somente acontece depois da ditadura militar com o modelo econômico assentado nas multinacionais
e no capital nacional.
Em
um cenário em que o Brasil começava a projetar-se mundialmente, uma vez que já
havia certa construção da identidade brasileira, na área cultural, promovida
pelas correntes modernistas, no plano da economia o Brasil
ainda era refém de capital estrangeiro. O país buscava a independência através
do desenvolvimento econômico e da nacionalização das jazidas minerais.
Enquanto
o País proclamava um discurso desenvolvimentista, Guimarães Rosa através de sua
linguagem inovadora se volta para falar dos problemas do sertão e dos seus
representantes. O autor dá voz a Riobaldo para desvendar o mundo psicológico e
concreto do sertanejo e para dar uma dimensão
universal, ou seja, o que elas têm em comum com o restante da humanidade.
Eleger
um grupo social basicamente esquecido e abandonado pelo contexto
sociocultural e político do
restante do País, coloca Guimarães Rosa
na contramão da Literatura Brasileira que defendia a modernização do Brasil.
Após
os eventos literários de 1922, quando foi instaurado o Modernismo, houve uma
valorização do que acontecia na vida do País, em todos os aspectos, no eixo Rio - São Paulo. Até os dias de hoje
todas as vanguardas culturais são apresentadas e mais valorizadas a partir
dessa parte do país. E não só os
assuntos relacionados às artes em geral. É sabido por todos o inchaço
populacional devido à migração e imigração pela crença de que o desenvolvimento
econômico e social se restringe, dadas as possibilidades existentes,
àqueles dois estados .
Deve-se ressaltar-se que muito do que é
mostrado, na obra Grande Sertão: Veredas,
no que diz respeito à linguagem, na verdade, não são neologismos, mas arcaísmos
próprios da região sertaneja e dos
mineiros em geral, desconhecido pelo restante do pais. O que demonstra o
ostracismo sofrido por esse grupo sociogeográfico. Além da convicção de que
somente o que é produzido naquele eixo
representa a identidade nacional
Guimarães
Rosa era mineiro e certamente aquela situação de descaso por
parte das autoridades, da elite nacional e dos intelectuais, quanto à sua
região, o incomodava e adrede ele buscou através de sua obra, retratar uma
realidade bem diversa do que era apresentado até então, na Literatura Nacional.
Nunca
explicitou isso, claramente. Talvez pela sua polidez e por não gostar de se
pronunciar em
público. Contudo , pode-se deduzir diante do
amor declarado pela sua gente. O escritor era um homem do mundo,
conheceu vários países durante seu trabalho como diplomata. Como um poliglota
falava mais de uma dezena de línguas. Um erudito, no entanto, privilegiou as
coisas simples, conhecedor que era
da essência rica em sentidos, do refinamento elaborado que configura o espírito, a personalidade e o jeito de ser do mineiro.
[1]As informações contidas nesse
capítulo referentes ao contexto histórico da publicação da obra Grande Sertão:Veredas, foram extraídas
do livro didático “Novas Palavras” de Português, Ensino Médio de autoria de Emília
Amaral, Mauro Ferreira, Ricardo Leite e Severino Antônio e encontra-se devidamente
referenciado em
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS do presente trabalho.
Vim agradecer a sua visita e lí os seus textos (como você escreve e faz tão bem uma análise do que leu...) Tenho uma amiga que anda encantada com esta obra e vou recomendar o seu espaço).
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