domingo, 12 de agosto de 2018


No quintal de casa havia um córrego. Que eu transformava em moradia de reis e rainhas das águas. Quando lhe adentrava os meus pés descalços, poeirentos, eu sentia a gostosura como um presente, uma dádiva desses reis. Havia também os barcos, que tanto podia ser uma folha ou um pedaço de pau descendo a correnteza. Minha infância! Eu fui muito feliz!

Lecia Freitas




Os sons da minha infância estão ligados às coisas da Natureza. Na roça, quase ninguém possuia rádio. Havia as cantigas de roda nas brincadeiras, na escola... Mas os sons que eu gostava, que eu gosto, são da natureza. Havia os grilos, os sapos em noites de chuva miúda . Os bichos no pasto e aquela enormidade de passarinhos. Como não gostar disso?! Ainda hoje, aqui, eu saio em noites para ouvir os grilos. Os sapos são mais difíceis. As pessoas aqui matam sapos. Acham feio! Nunca vi tamanha ignorância. E os passarinhos, quando dão de cantar eu consigo isolar o som único. Qual foi o pensamento da natureza quando criou o canto dos passarinhos? Cada um com o seu... não é uma coisa de doido? Mas eu gosto demais do mugido dos bois. Não lembra uma solidão? Não essa de tristeza, mas aquela que a gente precisa para a alma ficar em paz. E gosto dos sons das águas. Seja aquela caindo continuamente da bica no quintal, ou da chuva na lata esquecida embalando o sono das gentes. Tem gente que fala que não dormiu nada por causa disso. Da correnteza cheia de perigos no rio, que vai, vai levando a vida nas gotas. Milhões de gotas. Ou cristalina no riachinho rolador de seixos. Enquanto rola os seixos, as águas cantam. Deve ser as cantigas de ninar das piabinhas.

Lécia Freitas





Eu pedi àquele moço que me ajudasse a olhar o mundo porque havia uma emoção esparramada em tudo e era tão grande que não cabia nos meus olhos tão mortais. Eu pedi que me ajudasse a sentir. Mas o que ele sentia era como um areal, seco de tudo. Não existia vida, não existia nada. Eu percebi isso e então, para proteger a minha emoção fui andando de "fasto", sem dar-lhe as costas. Porque é perigoso dar as costas a algo que não se conhece bem. E porque seria necessário manter aquela imagem tão árida que me feria a retina, que me feria a alma, para que sofresse muito, tudo. Até se esgotar de vez.


Lecia Freitas





Este ano ela veio sem alarde! Chegou mansa, doce como todas as coisas boas devem ser! E agora lava a vida da gente com seu poder de recriação. Com seu encantamento! Seja bem vida chuva, sua linda!

Lecia Freitas




Por tanto, escolher palavras que melhor dissessem, sem ambiguidades, sem duplos sentidos, claras, objetivas...optei pelo silêncio. Mas como sangra!...

Lecia Freitas





Dias melhores virão! Mas não fique sentado esperando. Nao vá a luta! Porque luta é guerra e já temos demais! Nao faça dos cuidados da vida algo pesado, obrigatório. Seja leve e trabalhe para isso. Só depende de você. E não amealhe nada: lembre-se dos lírios do campo e dos pássaros do céus.

Lecia Freitas






Nao diga nada sobre meu caminhar! Voce nunca andou sobre meus passos nem voou em minha vassoura!

Lécia Freitas





Se a onda é sua, não importa se seu barco é de papel. Mas tem que aguentar as paradas. E ser feliz! O que importa é ser feliz! Seja, com o que tem. Entretanto, lembre-se: nada é seu realmente! Terá que devolver tudinho! É lei, e dessa não tem paranuê que dê jeito!

Lecia Freitas




Você foi a canção da minha vida!

Lécia Freitas


sexta-feira, 3 de agosto de 2018


Eu trocaria alguns dias que ainda virão, por uns dias de ontem quando feliz estive em seus braços. Foram poucos dias, mas de encantamento. Ando longe todos os dias à procura de algo que consiga transformá-los, de espinhos que são, em pó somente. Para que consiga não ceder à saudade como agora, e trazê-lo à tona a fim de que possa tocar em tudo novamente como algo que foi sem nunca ter sido.


Lécia Freitas






Eu te amei tanto e você não viu
onde estava enquanto meu amor crescia
e me doíam tanto as raízes perfurando meus ouvidos
meus sentidos 
rasgando minha vida
onde estava que eu clamei 
seu nome e as paredes frias não respondiam
os beijos frios que dei
eu vaguei pelas ruas
e somente os cães sem dono me viram passar
e não senti você em nada do que vi
que me importam as cerejeiras em flor voando
os unicórnios azuis
se para isso antes é preciso a chuva
tão fria
e você não está aqui
não está aqui.

Lécia Freitas


Trague consigo apenas o que lhe serviu de crescimento. O que lhe apequenou de alguma forma, deixe no passado. Que não lhe seja encosto nem companheiro. Pense que o coração deve amanhecer e se renovar a cada manhã.


Lécia Freitas







A poesia, ela não está em versos truncados, em palavras presas numa rima.
Em sentimentos já previstos numa cantilena entediante. Isso já foi dito em outros tons.
A poesia é livre! E nos liberta quando permite todas as emoções do mundo. E hoje, é urgente sentir-lhe. Seja na superfície, seja no oco. O oco do mundo e da alma.
A poesia, ela está na palavra que voa até encontrar ressonância. Está nas coisas miúdas que só ela mesma percebe, e também nas coisas portentosas de que é capaz, o homem. Está na entrega. Está no sorriso que deixou de ser vinco para se estralar em risadas. E mesmo na lágrima furtiva que se derrama do pote de tanto sentir. A poesia, essa, nos apequena quando nos tornamos ínfimos diante do azul e ao mesmo tempo nos agiganta por nos trazer a metáfora que o compreende. A metáfora da vida! 

Lécia Freitas



Não devemos limitar os nossos anseios em comodidades e nenhuma espécie de medo do desconhecido. Aprisionar sonhos em possibilidades reais e possíveis é apequená-los. Não podemos nos contentar com o apenas ofertado pela vida, o comum. É preciso ir além, buscar aquilo que nos fará grandes. É preciso voar além das montanhas e até das grandes ondas. Urge ir até o sol inda que possa derreter a cera das asas.

Lécia Freitas






Saudade é visitar um lugar que já 
foi seu. É perder a metáfora da vida.

Lécia Freitas





Por tantas vezes, mesmo sem me perguntar, eu disse sim
E hoje sem poesia, sem nenhuma poesia,
Eu digo que estou cansada
Cansada de ser como cão sem dono,
De andar ao redor de coisa nada
De me jogar ao vento
Em porto algum há alguém me esperando
Nem eu espero ninguém
Como cão faminto sem dono
Eu estou tão cansada
Mas não tanto que não possa dizer
O que lhe ofereci
Não lhe disse nada, não o afaogu
Então nada mais temos a nos dizer
Se me vem com mãos vazias
E o coração mudo
Apenas por vir, sem intenção de ficar
Não me venha mais 
Não me venha mais
Deixe que eu o esqueça
Como uma música
Que me emocionou, que eu ouvi dias e noites
Mas chegou ao fim.

Lécia Freitas



A vida. o real, não está nas coisas, nem nos acontecimentos, mas no entrecoisas. Na importância que se dá a eles. O que para muitos é motivo de alegria para outros pode ser motivo de muita consumação. Assim como o tempo em que acontecem. O que ontem era um sonho, hoje pode ser algo que se deve deixar para a própria paz de espírito.

Lécia Freitas





O contemporâneo busca nos livros, em vão, a sabedoria. É certo que o conhecimento está lá. A sabedoria, entretanto, alcança-se na observância do Universo. Posto que cada homem é um, observe, pois, os homens e terá a matéria rica e farta. Não poderá moldá-la nunca, ainda que o queira. Poderá apenas tocá-la com a alma e é certo que a partir daí serão transformados por toda a eternidade.


Lécia Freitas







Eu convidei aquele moço para me ajudar a carregar aquilo tudo.Porque estava crescendo demais, esparramando pelos cantos, igual Cipó de São João. Adoçou minha boca com o mel das flores, tolheu-me os braços, os passos, enquanto tomava conta de tudo. Só o coração que não! Por isso, convidei. Ele recusou! Fala pra ele!

Lécia Freitas















Eu andei ao seu redor, desde sempre. 

Desde antes de te encontrar já caminhava sobre seus passos.
E com o coração, te seguia
Eu te via no nevoeiro do tempo e já te imaginava.
E te chamei com todos os nomes que pudesse ter. 
Eu tinha certeza: era você, sempre foi você.

Lécia Freitas





Ao longo da vida roubamos das pessoas. Roubamos coisas, ideias, alegrias, projetos, esperanças e sonhos. Roubamos sem querer e mesmo querendo. Porque nem sempre somos capazes e o que é do outro nos chama a atenção. Às vezes, pagamos por isso, em outras até somos perdoados. E a vida segue! Tudo que roubamos pode ser recuperado, reconstruído. Isso alivia a consciência de uns. Entretanto, há algo que não se pode roubar. Porque não tem como refazer. Não podemos roubar de alguém a capacidade de sonhar. Porque isso é o que nos mantêm vivos . Não roube nunca de alguém a capacidade de sonhar. Isso não te será perdoado!

Lécia Freitas




A vaidade sempre foi o pior flagelo do mundo. A mãe de todos os pecados. De onde se origina a invisibilidade do semelhante, pelos pretensos donos do mundo.

Lecia Freitas





O autoconhecimento nos permite o livramento das amarras da sociedade. Torna-se possível ignorar os órgãos repressores com suas disciplinas que embotam e camuflam a verdade, impedindo a evolução. É preciso ter coragem para buscar essa verdade.


Lecia Freitas





A lua sempre foi motivo de inspiração mesmo para quem não tem tanta habilidade. Eu já escrevi muitos versos sob a lua. Vi seu brilho em minha janela, atravessando meu quintal e também em terras longínquas falando de um amor que tive, que teria. Hoje, novamente a lua propõe a alma em fados e eu tentei. Mas por um momento faltou-me a poesia. Ou será que me engano: existe a poesia, falta-me o encanto na alma. Que desolada jaz sob uma saudade sem fim...
 
Lécia Freitas





A maior parte de influência sobre o destino de alguém é externa. Advém de fatores externos alheios à nossa vontade. No entanto, são nossas escolhas que determinam o passo seguinte. E nossas escolhas são moldadas pelo caráter. Quanto ao caráter, podemos melhorá-lo, modificá-lo, é fato. E assim, elevar nossas escolhas, que guiarão o nosso destino. Somos responsáveis, portanto, por tudo que nos acontece.

Lécia Freitas




As pessoas não são substituíveis. Cada uma tem seu valor, seu lugar. Os sentimentos, também não são substituíveis. Eles existem até seu fim. Esgotam-se, por diversos fatores. Não podem ser trocados, substituídos por outro sentimento, nem pela razão de sua existência. Entretanto, às vezes, uma palavra fora do lugar esgota de vez todo um sentimento acalentado por tempos a fio. É quando a pessoa se liberta de tudo que era velho e mofado. E recomeça!

Lécia Freitas




camarada viveu de todas as formas, sofreu, distribuiu vida a mãos cheias a quem quis receber. teve homens, poucos, mas os amou muito, o quanto pode. ofereceu amor de graça, pelo prazer de oferecer. teve filhos e deles fez homens, amou, sofreu, amou novamente. não se pode dizer que não viveu plenamente. por tudo isso, não aceita nenhum depreceio. que se fodam os contrários. os insensíveis, os não capazes de amar. segue amando a vida toda, o mundo todo!

Lécia Freitas




É preciso honrar teu nome, tua história. É preciso atravessar desertos, mesmo diante da seca que te devora. Não te esmoreça jamais. Ande em frente, ainda que o mundo desabe à sua volta.

Lécia Freitas



"SE UMA POESIA TE AGRADA, ELA TAMBÉM É TUA, POIS O AUTOR NADA FEZ ALEM DE VESTIR UMA VERDADE QUE EM TI ANDAVA NUA"

Essa fala do Mario Quintana revela o meu mais profundo sentimento. Todos os versos já ditos são meus. Apenas foram pronunciados por outros antes de mim. A poesia, essa, é minha, reside em mim.



Lécia Freitas





A vida é feita de oração. Não necessariamente um mantra que repetimos até mecanicamente. Mas o bem que desejamos sempre se transforma em oração. Portanto, que nosso amor maior seja uma oração. Que haja muito amor para quem nos ama e orações por aqueles que não nos tem nenhum sentimento positivo. O negativo pertence a quem o sente e é dominado por ele. 

Lécia Freitas



As lembranças da vida da gente, nós as guardamos cada uma em seu compartimento. Algumas, as mais queridas, ficam em gavetas mais próximas, em nossa memória. E é assim que em momentos de necessidade, quando precisamos de um alento, abrimos essas gavetas e acariciamos essas lembranças. Nós as trazemos somente em momentos de solidão e não se misturam com outras lembranças. São pessoas que revemos e amamos novamente, em segredo, no silêncio do nosso coração. E assim, os sentimentos se fortalecem e as pessoas que tivemos um dia, permanecem vivas dentro de nós. Ainda que não saibam.


Lécia Freitas



As pessoas que amamos um dia nunca morrem, de fato. Vez ou outra, seja um cheiro, seja um som, que nos traz o vento, ou mesmo uma solidão ocasional, lembramos. Coração da gente é campo fértil, ou água parada.Basta uma coisica de nada, basta tocar na superfície e tudo se movimenta, vem à tona. Nessas horas, não se deve ir de roldão às imagens que se atropelam na retina. Nem às palavras que se musicalizaram apenas para nós, transformando passos em dança. Lembre, sim daquele canteiro de flores amarelas que foram sendo arrancadas uma a uma. Lembre do olhar seco feito areal que lhe negou o carinho primeiro. Pense que enquanto delineava a própria alma com as emoções mais verdadeiras e que pudesse partilhar, o sentimento era teorizado, contextualizado com uma realidade que não lhe fazia parte. Apenas feria. Aceite, ainda que doa,que todo sentimento é par. É fundamental o outro. Não existe amor sozinho. Então, se não existe o outro, não há como existir nenhum sentimento. E não há como existir saudade. O que a gente sente é tristeza pelo que foi sem nunca ter sido. Da frustação por algo que não deu certo. Acabou no meio do caminho. Como um cantil com água fresca que se carrega meio ao deserto, e que significa a própria sobrevivência, mas por um descuido, ou por excesso, acaba-se a água. E é preciso continuar o caminho, às vezes desvia-se um pouco para encontrar nova fonte, e seguir. Porque a vida é dádiva e não se deve desistir, ainda que se caminhe sozinho. Nesse caso, a lembrança da cantiga da água escorrendo entre as pedras pode ser uma tortura. Mas será sempre um motivador. Faça da saudade indesejada, não motivo de sofrimento, mas a certeza da capacidade de sentir. Isso é fazer parte da vida.

Lecia Freitas




E naquele amor revolto mergulhei. Às vezes água azul tão cristalina... Mas foi quando me afoguei em seu peito, que encontrei a vida. E morri foi no seco do seu olhar, quando me olhou sem me ver.
 
Lecia Freitas