Cultura popular, cultura erudita e cultura de “massa”
Objetivo específico: distinguir as
especificidades das culturas popular, erudita e de massa e nas relações entre
elas.
Já vimos que, dentro de uma mesma cultura,
podem existir várias culturas, com hábitos e costumes próprios. As sociedades,
principalmente as contemporâneas, não são um todo homogêneo. Elas são
complexas, compostas por grupos com diferentes origens, histórias, ambientes e
padrões. Dentro das sociedades contemporâneas coexistem e interagem três tipos
de culturas: a cultura popular, a cultura de massa e a cultura erudita.
Dizer que a cultura popular
é uma versão menos elaborada e mais
difundida da cultura de elite corresponde a uma comparação equivocada. Outra
distorção é a consideração da cultura de elite como sendo uma produção de
classe dominante e por isso conservadora.
O
que é cultura erudita?
Erudição quer dizer instrução
vasta e variada, adquirida, sobretudo, pela leitura. Ela se opõe ao rude e, em
geral, é identificada com o conhecimento dos autores e artistas clássicos. É
comum associar os clássicos com os gregos e romanos antigos, tomados como padrão
intelectual. Clássico é também concedido aquilo que resistiu ao tempo e às
flutuações da moda. Pode referir-se ainda, àquilo que marcou época, sejam
personagens ou obras artísticas, filosóficas ou científicas.
O estoque cultural erudito é
cultuado pela tradição e por suas instituições oficiais. Universidades,
conservatórios, bibliotecas e museus costumam ser os locais de acervo e de
acesso aos clássicos.
Como os bens culturais não
são acessíveis de forma abrangente, a cultura clássica ou erudita é vista como
algo apenas de elite. A elite cultural nem sempre corresponde às elites econômicas e políticas,
ou seja, aos ricos e poderosos. Como a maioria da população não foi criada
junto àquele patrimônio cultural, poucos compreendem suas referências e
apreciam seus detalhamentos. A cultura erudita tem o status de algo sofisticado e privilegiado, por exigir rigor na sua
elaboração e público restrito, o que, às vezes, a torna ridicularizada.
É
vista como esnobismo, academicismo e formalismo, devido à exigência e requinte
no seu cultivo não fazerem sentido para a maioria da população. Assim, ela é
criticada pela pretensão de que seus padrões
sejam os únicos corretos ou superiores às demais expressões culturais.
Como observa o estudioso de políticas culturais Teixeira Coelho, “O desprezo
pelos diferentes, política e culturalmente, é, ao mesmo tempo, a consequência e
o motor do elitismo” (COELHO,1999, p.164).
Já
a cultura popular é conhecida como
aquela cultura anônima produzida pelo homem comum. Ela é, geralmente, transmitida
pelos costumes e de forma oral e não pela escrita ou por instituições oficiais.
É
muito comum identificá-la ao folclore e ao artesanato. A rigor a palavra “folclore”
quer dizer do povo, o conjunto de suas tradições e conhecimento. Normalmente,
porém, usamos esse termo referindo-se às crenças, contos, ou canções de uma
determinada época ou região. Quando se vê o folclore como pitoresco e tradicional, ou seja, algo pronto
e acabado, dificilmente se percebe sua
vitalidade, que absorve e transforma inúmeras influências de outros costumes.
Às vezes, as transformações são tão rápidas que sentimos saudade daquilo que,
há mais tempo, era a tradição. São várias as situações em que podemos perceber
essas transformações. Podemos citar como exemplos a inexistência de alguns
produtos nas feiras artesanais, as diferentes coreografias nas festas juninas. O fato é que
nunca se sabe ao certo onde e quando as inovações começaram e onde irão parar.
Isso revela a dinâmica fluida e o anonimato da cultura popular.
Muitas
vezes, adotando-se a perspectiva clássica, considera-se a cultura popular como
vulgar, inferior e simplória. Ela é tida
como irregular e sem muitos critérios, ou então como cultura que segue padrões
muito variados e pouco originais. O que justifica a tarefa de seleção e
organização de seus elementos, a qual os ocupantes dos lugares de poder da sociedade atribuem si próprios.
Alguns
estudiosos, como Câmara Cascudo, consideram, entretanto, que as manifestações
culturais populares são como um resíduo da cultura “culta” (erudita) de outras
épocas e que foram sendo filtradas ao longo do tempo. Clássicos que
sobreviveram adaptados e lapidados pelo
povo.
Em
muitas situações, a defesa da cultura popular tem sido uma importante bandeira na luta pela conscientização e
valorização dos segmentos desfavorecidos da população. Para diversas pessoas
preocupadas com a política cultural, o melhor seria resguardar a cultura
popular, isto é, poupá-la de ser engolida pela cultura dominante e pela indústria
cultural, pois seria a única forma de preservá-la. No entanto, a tentativa de
preservar e estimular a produção da cultura popular não é tarefa fácil. É comum
ver tais tentativas se inclinarem para um populismo que tenta tutelar a cultura
popular. As práticas de proteção e incentivo à cultura popular descambam, muitas
vezes, para uma postura assistencialista que, de certa forma, infantiliza o
povo.
Outros julgam que o mais
correto não é garantir as fronteiras para preservar a cultura popular, mas “botar
lenha na fogueira” e deixar a “mistura ferver”, como a melhor de incentivar o
livre trânsito dos sujeitos e objetos culturais em toda a sua multiplicidade.
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