A Especificidade para
a Análise de Discurso
De
acordo com estudiosos, a Linguística possui dois núcleos: um “rígido” que está em contato com a Sociologia,
Psicologia, Filosofia, etc. Esse núcleo se ocupa da língua como se ela fosse
apenas um conjunto de regras e propriedades formais, ou seja, não considera a língua
produzida em outras estruturas históricas e sociais. O outro núcleo que se diz “instáveis”,
ao contrário, se refere à linguagem produzida em outras conjunturas históricas.
A Análise do Discurso pertence a essa última região, o que não significa que para
ela a linguagem não apresente também um caráter formal. A AD tem uma base linguística
regida por leis internas (morfológicas, fonológicas, sintáticas), sobre a qual
se constituem os efeitos de sentido. Um dos efeitos de sentido que a AD se
interessa é o da ambiguidade. Veja este diálogo:
STOCK: - Vinte anos atrás eu viva na base de sexo,
drogas e rock’n roll!
WOOD: - Eu também!
STOCK: - Passava noite e dia viajando com ácido,
escutando Jefferson Airplane...
WOOD: - Eu também!
STOCK: -...E fazendo sexo com Bete Speed, minha noiva!
WOOD: - Eu também!
(Chiclete
com Banana/Angeli)
Na tirinha,
a fala dos dois personagens possui um sentido de ambiguidade. Em termos linguísticos
o que permite essa ambiguidade é a presença do pronome possessivo da 1ª pessoa “minha”.
Outra questão é o advérbio “também” na expressão “Eu também”.
A
pergunta que os analistas de discurso fariam seria: por que essa ambiguidade
gera riso? Mas para a AD seria pouco. A pergunta subsequente seria essa: qual o
efeito da ambiguidade? A resposta reside na relação que os analistas de discurso
procuram estabelecer entre um discurso e suas condições de produção, ou seja,
entre um discurso e as condições sociais e históricas que permitiram que ele
fosse produzido e gerasse determinados efeitos de sentido não outros.
É
preciso esclarecer que, ao falarmos de especificidade da AD, que não há apenas
uma Análise de Discurso. Classicamente considera-se “uma” que mantém relação
privilegiada com a História, enquanto “outra” privilegia a relação com a Sociologia. A Análise
de Discurso que privilegia a História é de origem francesa e a que privilegia a
Sociologia é anglo-saxã. Há, entre as duas linhas, uma diferença teórica: a AD
anglo-saxã ou americana considera a intenção dos sujeitos numa interação verbal
e a AD francesa considera que esses sujeitos são condicionados por uma
determinada ideologia que predetermina o que poderão ou não dizer em
determinadas conjunturas histórico-sociais.
Apesar
das divergências, há um elemento comum entre as AD e diz respeito à própria especificidade
da AD: é o estudo da discursivização, ou seja, o estudo das relações entre
condições de produção dos discursos e seus processos de constituição.
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