5.3 Linguagem
Poética: A Estrutura
Ao
iniciar-se no capítulo sobre poética,
privilejar-se-ão os estudos de Roland Barthes para a construção do entendimento
do que seja a estrutura da linguagem poética. Realizou-se uma pesquisa a partir
do capítulo “Existe uma escrita poética?” da obra O Grau Zero da Escrita (2000), desse autor, em que ele faz uma comparação entre a poesia clássica e
moderna delimitando suas diferenças. Ele esclarece que a poesia é sempre
diferente da prosa e que essa diferença
não se dá na essência, mas na quantidade. Para ele, a poesia não atenta contra
a unidade da linguagem que é um dogma clássico. As maneiras de falar são
dosadas de acordo com as ocasiões sociais: prosa ou eloquência; poesia ou
preciosismo, todo um ritual mundano de
expressões, mas, por toda a parte uma só linguagem que reflete as categorias
eternas do espírito. Ainda de acordo com
Barthes, a Poesia já não é uma Prosa decorada com ornamentos ou amputada
de liberdades. Para esse autor a Poesia é uma qualidade irredutível e sem
hereditariedade:
não é um atributo, é uma substância e, por conseguinte, pode muito bem
renunciar-se aos sinais, pois carrega a sua natureza em si, e nada tem a fazer
com apontar no exterior a sua identidade: as linguagens poéticas e prosaicas
são suficientemente separadas para poder dispensar os próprios sinais de
alteridade. (BARTHES, 1995, p. 40).
Para
Barthes, enquanto na arte clássica um pensamento formado gesta uma palavra que
o exprime na poesia moderna a palavra é o tempo espesso de uma gestão
espiritual durante a qual o pensamento é preparado e instalado, pouco a pouco, pelo acaso das
palavras. Essa ideia de Barthes caminha paralela com Bakhtin quando ele afirma
que:
a exigência fundamental do estilo
poético é a responsabilidade constante e direta do poeta pela linguagem de toda
a obra como sua própria linguagem, a completa solidariedade com cada elemento,
tom e nuança. Ele satisfaz uma única linguagem e a única consciência linguística.
(BAKHTIN, 2002, p.94).
Infere-se
que a linguagem poética existe por si mesma e que a função poética não é exclusividade da poesia,
podendo estar presente na prosa literária.
Esse tipo de linguagem está presente no texto literário, como um todo, que é considerado uma arte. Nesse caso, a
literatura revela uma marca pessoal de quem a cria. Cada escritor tem a sua
marca, o seu estilo individual. Veja-se o que afirma Jean Cohen: “A prosa é o
grau zero do estilo. A realidade, tão logo é falada, entrega seu destino
estético nas mãos da linguagem. Ela será poética se for poema, prosaica se for
prosa.” (1966, p.36) Pode-se depreender, então, que segundo esse autor, a linguagem poética é significação e que a
palavra não deve designar tudo aquilo que é capaz de sugerir ou de expressar
mas, ir além na transcendência da significação.
Analisando outro
estudioso, Roman Jakobson, entende-se que “a função poética não é a única
função da arte verbal, mas tão somente a função dominante, determinante”
(JAKOBSON, 1977, p. 128).
Na
linguagem literária a expressividade da palavra e o seu conteúdo não são
anulados mas, devido ao próprio arranjo do autor ela adquire significados
conotativos ou significantes novos que expressam a mesma significação. De onde
surgem a plurissignificação e a ambiguidade do texto poético. É o que Salvatore
D’Onofrio também defende:
consideramos a literatura como uma
forma específica de conhecimento da vida proporcionado pelo arranjo estético do
material linguístico utilizado. Essa definição abrange a característica
essencial da obra literária (arte da palavra) e sua função fundamental (visão
peculiar do mundo). Como o significante linguístico é utilizado de um modo
diferente, os significados ideológicos são interpretados sob uma feição toda
particular. A verdade da arte não é a verdade da vida, pois o poeta tem uma
percepção sui generis da existência:
colocando-se acima das convenções sociais, ele procura a verdade original das
coisas, o conhecimento do ser-em-si, oculto pela reificação do mundo. (
D’ONOFRIO,1995, p.120).
Essa percepção do poeta atribui à literatura a sua plurifuncionalidade .
Além do prazer provocado pelo estético, a literatura proporciona uma forma de
conhecimento, seja da realidade objetiva ou psicológica. O autor, através da
sua visão de mundo, da sua sensibilidade, vai mostrar uma nova perspectiva
dessa realidade, ou mesmo a verdadeira. Além disso, a literatura pode provocar
uma catarse através da filtração de sentimentos pelas emoções produzidas o que
ocasiona uma transformação no ser
humano.
Lécia Freitas
Lécia Freitas
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