terça-feira, 24 de junho de 2014

"A POÉTICA ROSEANA" Capítulo 5 subcapítulo 3

5.3 Linguagem Poética: A Estrutura

           
            Ao iniciar-se  no capítulo sobre poética, privilejar-se-ão os estudos de Roland Barthes para a construção do entendimento do que seja a estrutura da linguagem poética. Realizou-se uma pesquisa a partir do capítulo “Existe uma escrita poética?” da obra O Grau Zero da Escrita (2000), desse autor, em que ele  faz uma comparação entre a poesia clássica e moderna delimitando suas diferenças. Ele esclarece que a poesia é sempre diferente da prosa e  que essa diferença não se dá na essência, mas na quantidade. Para ele, a poesia não atenta contra a unidade da linguagem que é um dogma clássico. As maneiras de falar são dosadas de acordo com as ocasiões sociais: prosa ou eloquência; poesia ou preciosismo, todo um ritual mundano de expressões, mas, por toda a parte uma só linguagem que reflete as categorias eternas do espírito. Ainda de acordo com  Barthes, a Poesia já não é uma Prosa decorada com ornamentos ou amputada de liberdades. Para esse autor a Poesia é uma qualidade irredutível e sem hereditariedade:
não é um atributo, é uma substância e, por conseguinte, pode muito bem renunciar-se aos sinais, pois carrega a sua natureza em si, e nada tem a fazer com apontar no exterior a sua identidade: as linguagens poéticas e prosaicas são suficientemente separadas para poder dispensar os próprios sinais de alteridade. (BARTHES, 1995, p. 40).
          Para Barthes, enquanto na arte clássica um pensamento formado gesta uma palavra que o exprime na poesia moderna a palavra é o tempo espesso de uma gestão espiritual durante a qual o pensamento é preparado e  instalado, pouco a pouco, pelo acaso das palavras. Essa ideia de Barthes caminha paralela com Bakhtin quando ele afirma que:
a exigência fundamental do estilo poético é a responsabilidade constante e direta do poeta pela linguagem de toda a obra como sua própria linguagem, a completa solidariedade com cada elemento, tom e nuança. Ele satisfaz uma única linguagem e a única consciência linguística. (BAKHTIN, 2002, p.94).

          Infere-se que a linguagem poética existe por si mesma  e que a  função poética não é exclusividade da poesia, podendo estar presente na prosa literária.  Esse tipo de linguagem está presente no texto  literário, como um todo, que  é considerado uma arte. Nesse caso, a literatura revela uma marca pessoal de quem a cria. Cada escritor tem a sua marca, o seu estilo individual. Veja-se o que afirma Jean Cohen: “A prosa é o grau zero do estilo. A realidade, tão logo é falada, entrega seu destino estético nas mãos da linguagem. Ela será poética se for poema, prosaica se for prosa.” (1966, p.36) Pode-se depreender, então, que segundo esse autor,  a linguagem poética é significação e que a palavra não deve designar tudo aquilo que é capaz de sugerir ou de expressar mas, ir além na transcendência da significação.
             Analisando outro estudioso, Roman Jakobson, entende-se que “a função poética não é a única função da arte verbal, mas tão somente a função dominante, determinante” (JAKOBSON, 1977, p. 128).
            Na linguagem literária a expressividade da palavra e o seu conteúdo não são anulados mas, devido ao próprio arranjo do autor ela adquire significados conotativos ou significantes novos que expressam a mesma significação. De onde surgem a plurissignificação e a ambiguidade do texto poético. É o que Salvatore D’Onofrio também defende:
consideramos a literatura como uma forma específica de conhecimento da vida proporcionado pelo arranjo estético do material linguístico utilizado. Essa definição abrange a característica essencial da obra literária (arte da palavra) e sua função fundamental (visão peculiar do mundo). Como o significante linguístico é utilizado de um modo diferente, os significados ideológicos são interpretados sob uma feição toda particular. A verdade da arte não é a verdade da vida, pois o poeta tem uma percepção sui generis da existência: colocando-se acima das convenções sociais, ele procura a verdade original das coisas, o conhecimento do ser-em-si, oculto pela reificação do mundo. ( D’ONOFRIO,1995, p.120).

            Essa percepção do poeta atribui à literatura a sua plurifuncionalidade . Além do prazer provocado pelo estético, a literatura proporciona uma forma de conhecimento, seja da realidade objetiva ou psicológica. O autor, através da sua visão de mundo, da sua sensibilidade, vai mostrar uma nova perspectiva dessa realidade, ou mesmo a verdadeira. Além disso, a literatura pode provocar uma catarse através da filtração de sentimentos pelas emoções produzidas o que ocasiona  uma transformação no ser humano.

                                                                                                                                          Lécia Freitas

 

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