Agradecendo demais aos amigos que estão sempre me dando uma força e tentando me animar nesses tempos sombrios. Incluo os filhos que não deixam transparecer o quanto, eu sei, estou chata, o quanto a casa está triste, esquecida, apagada. A comida sem gosto.
Devo dizer que percebo as benesses divinas que tenho recebido ao longo da vida. Até por ter conseguido sobreviver, significa que as recebi a mãos cheias. Porque se os sofrimentos foram terríveis, a força e resistência para suportá-los, e superá-los, foram proporcionais. Vale aqui agradecer aos que passaram e que fincaram espinhos porque se não fosse por eles a casca não teria endurecido. Formou-se um invólucro duro, rugoso, como árvore de cerrado, mas necessário para me manter de pé. Certo que caí, muitas vezes. Por vezes, já disse um dia, esfolei joelhos e alma. Por vezes, me vi escorrendo pelo chão. Mas sempre encontrava algum alento e recomeçava. Havia uma preocupação enorme com a sobrevivência dos meninos, com o bem estar deles. Isso me motivava. O pensamento em mim, ficou para depois. Mas não é certo que perdi! Essa é a minha história, embora muitos não acreditem. Também não tenho que provar nada. Fiz o meu melhor, o meu limite para levá-la a termo e olhando ao redor, sei que consegui. Com dignidade.
O único questionamento que sempre fiz à vida é o porquê dessa poesia que me vai na alma. Se era para ser assim, se eu tenho tanto a pagar, por que não me fizestes mais dura, Senhor? Não sei de desígnios, mas sei de dor, de percepção de sutilezas. Feche as brechas de minha alma, Senhor, para que eu não sinta mais nada. Para que não se escorra, não se escape nenhuma emoção. Por que devo sentir as dores do mundo e perceber todas as miudezas da vida? Por que neste processo evolutivo a convivência com tanto amargor, com espíritos desprovidos de sensibilidade a entender o profundo, o doce, o delicado da minha alma?! Que fonte inesgotável de tanto sentimento diante do homem e de suas ações que embelezam o tempo, mas outras que dilaceram?! Por que as lágrimas nunca parecem ser suficientes, e ás vezes, é conveniente que sejam escondidas, para que não se as deturpem?
Aqueles céticos que duvidam da veracidade da minha história, realmente não me importam. E não conseguirão diminuir o valor de nenhum instante de tudo que vivi. Eu olho em redor e vejo. Eu recebo o abraço de amigos queridos que me parabenizam e dizem me ter como exemplo de superação. Isso me deixa sem graça porque eu não consegui sozinha, mas me dá um orgulho danado. Não tenho tantos amigos, mas alguns, até do outro lado do mundo, me oferecem carinho que eu recebo como uma graça, um tesouro. Agradeço demais. E me respeitam. Nesses tempos de misoginia, isso é muito importante.
E devo continuar. Ainda que não haja uma chuva de confetes a escorrer na avenida levando junto minha dor. Ainda que tenha um canto encravado na minha voz para um amor que não aconteceu e tanto carinho nas mãos, ainda assim devo continuar. Então, tire o seu insulto do caminho porque vou passar com a minha poesia, com a minha doçura e minha força de mulher até o fim do mundo.
Lécia Freitas
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