quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

CANTO DE AMOR



            Os textos, o mesmo  canto profundo e emocionante à natureza, relacionam-se totalmente ao falar da verdade de que somos todos um só. Todos os seres vivos deste planeta são feitos do mesmo material. Os indígenas, talvez por viverem mais próximos da natureza, conseguiam perceber claramente esta relação. Diversos filmes e documentários mostram como era o amor e o respeito  desse povo a tudo o que se referia à terra. Mesmo sem saber a questão dos componentes químicos, eles foram capazes de entender a relação existente em tudo que é vivo.  E seus gestos, e suas falas, eram carregados de pura poesia.
            O texto de Sacramento também poético e verdadeiro, fala da ignorância humana diante dessa verdade incontestável. A autora se refere ainda ao Amor a que todos pertencemos e ao qual voltamos ao findar o nosso tempo e retornarmos  para a terra. Entende-se, segundo ela, que  voltamos ao Amor, e se ao findarmos,  voltamos à terra, a terra é o próprio Amor. Então, tudo que há,  e que vem da terra, também é feito desse Amor, e há que ser respeitado, como ensina Gibran Khalil Gibran em sua belíssima obra:
Mas já que deveis matar para comer [...] fazei disso um ato de adoração [...] e que vossa mesa seja um altar. E quando matardes um animal, dizei-lhe: Pelo mesmo poder que te imola, eu também serei imolado, e eu também servirei de alimentos para outros.  Pois a lei que te entregou às minhas mãos  me entregará a mãos mais poderosas. Teu sangue e meu sangue nada são senão a seiva que nutre a árvore do céu (GIBRAN, 1976, p. 21-22).

            Essa visão poética da relação do homem com a natureza, talvez não permita que se alcance o quão urgente e vital seja  a compreensão de que ao destruir o meio ambiente, de qualquer forma, o homem está destruindo a si mesmo e todas as possibilidades de sobrevivência na Terra. Todo tipo de extração, se não for consciente e ponderada, leva ao extermínio do recurso e, na cadeia que une tudo, o elo quebrado vai favorecer a morte de toda uma espécie. Ou outras. E todas.
            Somos interdependentes, e a terra, há muito mostra sinais de que não suporta tanta destruição. A ganância leva o homem a cometer atrocidades, seja no trato com os animais, seja com as florestas.  A produção de alimentos, cada vez maior diante do aumento da população mundial, leva à necessidade  de expansão de áreas para agricultura e pecuária, o que obriga o desmatamento e ocupação humana, e isso é um desastre.
            Em razão disso é necessário a criação de políticas ambientais capazes de reverter quadros, de criar possibilidades para refazer, cuidar da nossa única casa. É vital que a humanidade perceba que todas as coisas, ligadas pelo tênue, porque perecível, fio da vida, devem ser empregadas para a continuação dessa vida, com consciência e parcimônia. E repostas.  A consumição de um procede ao aniquilamento de todos.

Lécia Freitas


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