segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

ANÁLISE: Eu, Daniel Blake




            O filme em questão  Eu, Daniel Blake, segundo informações retiradas da internet, é uma produção do Reino Unido, do ano de  2016, dirigido por Ken Loach . Ganhador do prêmio Palma de Ouro, a narrativa apresenta o ator Dave Johns no papel principal de um drama vivido por muitas pessoas no mundo.
            Mostra o descaso do Estado diante das dificuldades de sobrevivência dos cidadãos de baixa renda, que não têm voz nem vez ao enfrentar a burocracia e a insensibilidade dos órgãos competentes.
            A abordagem do tema se entrelaça com questões polêmicas como o preconceito étnico que se manifesta nos meios de sobrevivência vividas por um jovem negro. O salário que recebe  em seu trabalho é irrisório não sendo suficiente para que possa viver com dignidade. O rapaz então decide comercializar calçados trazidos da China, pelo correio, com um valor abaixo do preço do mercado. Essa prática incide em sonegação fiscal. Isso leva à reflexão sobre o trabalho informal nesses moldes. Até que ponto pode-se condenar uma pessoa que para sobreviver vende produtos ilegais se o Estado não lhe dá condições, e pior, cria leis que impossibilitam a sobrevivência? Em que critérios se baseiam as leis trabalhistas que oferecem um salário menor a um negro? Pode-se, então, trazer essa questão para a nossa realidade quando sabemos que os negros em nosso país vivem situação  semelhante.
            Durante as tentativas de ser ouvido pelos órgãos do Estado, a personagem principal conhece uma jovem mulher e seus dois filhos. Daniel aproxima-se dela, tenta ajudá-la no que é possível e assim desenvolvem uma forte amizade. Os questionamentos feitos, nesse aspecto, referem-se ao fato de que a mulher pratica furto em um supermercado, de objetos necessários. Em outro momento, ela chega a se prostituir. Sua situação com as crianças é desesperadora e ela não tem nenhuma saída. Também aqui há uma omissão do Estado. Não há políticas públicas sociais as quais ela possa pedir socorro, amparo.  Apesar de receber ajuda de pessoas anônimas isso não é suficiente e ela não consegue suprir as necessidades de alimentação e de condições para ter roupas e calçados adequados para os filhos, no inverno rigoroso daquela região.
            Em que ponto, então, pode-se acusar a mulher? Como não entender o seu desespero diante das necessidades dos filhos. A pouca comida que tem é oferecida apenas a eles. Ao receber ajuda de uma entidade filantrópica, estando com muita fome, ela começa a comer o conteúdo de um enlatado, escondido. Essa situação é muito constrangedora para ela e a filha que depois sofre bullying na escola, devido ao fato. Percebe-se que a situação vivida pela família irá deixar marcas nas crianças, o que deveria exigir uma interferência do Estado para garantir um desenvolvimento saudável desses indivíduos. Também essa situação é muito comum, aqui, no Brasil.
            A situação mais trágica, no entanto, refere-se ao caso de Daniel, que idoso, após sofrer um ataque cardíaco, é impedido de voltar ao trabalho por recomendação médica. Ele quer trabalhar, mas os médicos não o liberam. Tenta, então, receber o seguro desemprego, porém encontra muitas barreiras como a insensibilidade dos funcionários que não o ouvem, ignorando seus argumentos. Além disso, alguns papéis devem ser enviados via on-line e ele não sabe operacionar um computador.
            Daniel tenta de todas as formas chamar a atenção sobre seu problema, chegando a pichar um muro em protesto o que o leva a ser detido pela polícia. No entanto, a sua situação piora a cada dia. Vende todas as coisas que possui, única saída para não passar fome. Quando finalmente consegue marcar uma audiência, que irá rever seu quadro, não suporta a emoção e morre vítima de outro ataque cardíaco. Na carta de despedida que deixa à amiga, ele expõe toda sua dor ao afirmar que é um cidadão Íntegro e que por isso merece respeito.
             Essa denúncia da narrativa nos reporta à situação enfrentada pelos idosos não só no país de origem como também em outros lugares.
            É recorrente o estado de abandono vivido por idosos que não têm família, e mesmo aqueles a têm, mas que vivem separados por algum motivo. Mesmo os idosos que conseguem se aposentar vivem um estado de penúria não condizente com o mínimo de dignidade exigidos para um ser humano. Fatores como os gastos com saúde, que nem sempre são cumpridos como deveriam, acabam por consumir parte considerável da aposentadoria. Lembrando que aqui, no país, vigora uma lei que permite aposentadoria a todo idoso que necessita. Ainda existem políticas que fornecem medicamentos gratuitos e outros a baixo custo. No entanto, ainda é grande o descaso do Estado frente às necessidades e dificuldades de sobrevivência desses indivíduos como os citados no filme.
            Espera-se uma ação efetiva sobre os assuntos, desse Governo que se inicia (?).

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