segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

ACESSIBILIDADE, MOBILIDADE, ERGONOMIA, E SUSTENTABILIDADE RELACIONADAS À PAISAGEM URBANA





            Os termos acessibilidade e mobilidade muitas vezes podem ser confundidos, apesar de terem conceitos diferentes. A Norma Brasileira 9050 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT NBR 9050) visa promover a acessibilidade no ambiente construído e proporcionar condições de mobilidade, com autonomia e segurança, eliminando as barreiras arquitetônicas e urbanísticas nas cidades, nos edifícios, nos meios de transporte e de comunicação.
            De acordo com essa norma:
3.1 acessibilidade: Possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos.
3.2 acessível: Espaço, edificação, mobiliário, equipamento urbano ou elemento que possa ser alcançado, acionado, utilizado e vivenciado por qualquer pessoa, inclusive aquelas com mobilidade reduzida. O termo acessível implica tanto acessibilidade física como de comunicação (ABNT NBR 9050, 1994, apud ALMEIDA, GICOMINI, BERTOLUZZI, 2013, p.3)

             Para um meio urbano ser acessível, deve-se respeitar a diversidade física e sensorial das pessoas e a idade do público alvo que irá frequentar o local e a sua inclusão no meio social.
            A ABNT 9050 caracteriza:
3.14 deficiência: Redução, limitação ou inexistência das condições de percepção das características do ambiente ou de mobilidade e de utilização de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos, em caráter temporário ou permanente.
3.32 pessoa com mobilidade reduzida: Aquela que, temporária ou permanentemente, tem limitada sua capacidade de relacionar-se com o meio e de utilizá-lo. Entende-se por pessoa com mobilidade reduzida, a pessoa com deficiência, idosa, obesa, gestante entre outros (ABNT NBR 9050, 1994, apud ALMEIDA, GICOMINI, BERTOLUZZI, 2013, p.3).
            A mobilidade pessoal, segundo Morris et al.:
É interpretada como sendo a capacidade do indivíduo de se locomover de um lugar ao outro e dependente principalmente da disponibilidade dos diferentes tipos de modos de transporte, inclusive a pé. Para Tagore &Sikdar (1995), este conceito é interpretado comoa capacidade do indivíduo de se mover de um lugar a outro dependendo da performance do sistema de transporte e características do indivíduo (MORRIS et al. 1979, apud ALMEIDA, GIACOMINI, BORTOLUZZI, 2013, p.2):

            A mobilidade urbana pode ser compreendida como o deslocamento fácil e ágil, diminuindo as distâncias e os obstáculos enfrentados pelos usuários, utilizando toda a infraestrutura e os equipamentos urbanos disponíveis, com conforto e segurança adequada. É notável nas vias e espaços públicos a falta de acessibilidade para quem possui mobilidade reduzida.
            Para Brasil:
Pensar a mobilidade urbana é, portanto, pensar sobre como se organizam os usos e a ocupação da cida­de e a melhor forma de garantir o acesso das pessoas e bens ao que a cidade oferece (locais de emprego, escolas, hospitais, praças e áreas de lazer) não apenas pensar os meios de transporte e o trânsito (BRASIL, 2005, p.6).

            A forma como as cidades surgem e crescem no decorrer do tempo causam diversas consequências para a população e para o meio ambiente. O crescimento desordenado das cidades faz com que o comércio seja intensificado, com isso o fluxo de veículos aumenta gradativamente, disputando espaço com os pedestres. Kent (2005, p.1) diz ter um ditado favorito sobre transporte: “Se você planeja cidades para carros, você obtém carros e tráfego. Se você planeja pessoas e lugares, recebe pessoas e lugares”
            A acessibilidade deve ser introduzida no meio urbano para que todas as pessoas, indiferente de sua classe social e características, possam utilizar o espaço de maneira agradável e segura, promovendo a igualdade social.  Kent (2013, p.1), morador de Detroit, afirma que todo mundo tem direito de viver em um ótimo lugar. Mais importante, todos têm o direito de contribuir para tornar o local onde eles já vivem ótimos.”
            A participação da sociedade com ações que contribuem para a melhoria do local onde vivem, melhora as necessidades da comunidade e garante a participação ativa da população.
            De acordo com Feiber (2005, p.1), a arquitetura e sua relação com os elementos formadores da cidade, é objeto carente de atenção, interesse e respeito por parte dos responsáveis pelo planejamento urbano.  No entanto, quando observado os jogos de interesse promovidos principalmente pelo mercado imobiliário, o que se percebe é um constante empobrecimento dos cenários urbanos.
            O meio urbano entra cada vez mais em desuso, com áreas devastadas, sendo necessário encontrar novos usos para esses locais com a finalidade de melhorar a qualidade de vida das pessoas. O mobiliário e os equipamentos urbanos exercem papel fundamental nos espaços públicos e a sua escassez ocasiona diversas consequências como a falta de comunicação, o contato e o convívio entre as pessoas e a redução do fluxo de pedestres.
            A norma 9050 define:
3.28 mobiliário urbano: Todos os objetos, elementos e pequenas construções integrantes da paisagem urbana, de natureza utilitária ou não, implantados mediante autorização do poder público em espaços públicos e privados.
3.17 equipamento urbano: Todos os bens públicos e privados, de utilidade pública, destinados à prestação de serviços necessários ao funcionamento da cidade, implantados mediante autorização do poder público, em espaços públicos e privados (ABNT NBR 9050, 1994, apud ALMEIDA, GICOMINI, BERTOLUZZI, 2013, p.3).

            Um mobiliário adequado e ergonomicamente projetado aliado ao meio ambiente podem trazer benefícios estéticos, funcionais, sustentáveis e até sociais para a população e a melhoria da construção da paisagem urbana. Melhora a eficiência da realização das atividades cotidianas, alivia o nível de estresse, favorece a interação social e proporciona saúde e bem-estar aos usuários.
             Kent explica que:
Para enfrentar os desafios reais de saúde do século XXI, precisamos de soluções inovadoras que analisem não apenas as causas e os sintomas físicos de problema de saúde, mas também os componentes sociais, econômicos e ambientais total de bem-estar (KENT, 2013, p.1).
            Em agosto de 2000, a Associação Internacional de Ergonomia – AIE (apud FEIBER, 2005) adotou a definição oficial de Ergonomia (ou Fatores Humanos) como sendo uma:
Disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema (FEIBER, 2005, p.1).
            A rua representa a maior área pública que uma comunidade possui e, na visão de Kent (2013, p.1), “rua como lugares”, é onde a vida pública se desenrola. Comunidades mais afastadas dos centros urbanos tendem a ter uma dificuldade maior de acesso ao comércio e infraestrutura que atraia a sociedade para atividades físicas e de lazer. Os vazios urbanos quando recebem um projeto de adequação do espaço, geram resultados positivos para a população, como por exemplo, aumento do capital social, participação nos eventos da comunidade, desenvolvimento econômico local, aumento da segurança e redução de atos de vandalismo.
            A modernidade e o consumismo exacerbado são características de uma sociedade mais dinâmica, com tempo livre cada vez mais reduzido. Esse consumo acentuado leva a uma produção maior de resíduos e descartes, prejudicando o meio ambiente. Segundo Almeida, Giacomini, Bertoluzzi (2013) as pessoas só vão exigir cidades melhores de fato, quando elas souberem como e quão melhores as cidades podem ser. Para transformarmos as cidades precisamos primeiramente mudar o conceito das pessoas sobre conforto, bem-estar e sustentabilidade. Sustentável não é apenas separar o lixo, mas é sim um estilo de vida.
            O Plano de Mobilidade Urbana - PLANMOB  apresenta que:
A mobilidade urbana para a construção de cidades sustentáveis será então produto de políticas que proporcionem o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, priorizem os modos coletivos e não motorizados de transporte, eliminem ou reduzam a segregação espacial, e contribuam para a inclusão social favorecendo a sustentabilidade ambiental (BRASIL, 2007, apud ALMEIDA, GIACOMINI, BERTOLUZZI, 2013, p.5).
            E Campos acrescenta que:
De acordo com as dimensões do desenvolvimento sustentável, pode-se considerar que a mobilidade dentro da visão da sustentabilidade pode ser alcançada sob dois enfoques: um relacionado com a adequação da oferta de transporte ao contexto socioeconômico e outro relacionado com a qualidade ambiental. No primeiro, se enquadram medidas que associam o transporte ao desenvolvimento urbano e a equidade social em relação aos deslocamentos; no segundo, se enquadram a tecnologia e o modo de transporte a ser utilizado (CAMPOS, 2006, apud ALMEIDA , GIACOMINI, BERTOLUZZI, 2013, p. 5.)

            Espaços públicos que apresentam esses conceitos aqui abordados, com calçadas arborizadas, mobiliário e equipamentos urbanos eficientes, com segurança e conforto a toda população, tendem a aumentar o fluxo de frequentadores do local, diminuindo as desigualdades, priorizando a inclusão social e melhorando a qualidade de vida da população.
            Grandes áreas verdes auxiliam o conforto térmico, diminui a quantidade de poluentes da atmosfera, aumenta o nível de umidade do ar, diminui ruídos, atenuação do impacto pluvial, aumenta a captação de águas pluviais, reduz o acúmulo de poeira, redução e condução dos ventos.
            O uso de iluminação adequada com tecnologia de energias renováveis, telhados verdes e instalações de lixeiras e o respeito ao microclima da região, facilitam a conservação do espaço e a preservação garante o uso de gerações futuras.

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