quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

QUANDO SERÁ MANHÂ

E agora, quando será manhã novamente? Onde está meu bom dia? Você vem e vai em instantes tão velozes, e tão esparsos que nunca consigo lhe alcançar.
Por onde andará você?
O tempo não é amigo, ele é cruel. Ele não nos acrescenta: ele nos rouba o melhor de nossas vidas. Seja sendo rápido demais, tão rápido que muitas vezes impede a impressão de átimos felizes, transformando o que poderia ser real em fugacidades; 
seja pela originalidade em nunca se repetir, em nunca voltar. Quando você se prepara para ser feliz, o tempo já foi. O tempo não lhe dá tempo de ensaio. Ele não cristaliza nada. Não lhe devolve oportunidades perdidas. 
Portanto, avalie prioridades. Questione seu coração sobre as suas verdades. O voo é a verdade do falcão e ele tem todo o espaço para mostrar isso, porém o tiro é a verdade do caçador e pode ser bem mais rápido. 
Enquanto você brinca de senhor do tempo, pensando que o tem nas mãos, ele está passando e as possibilidades se apresentam em todo lugar. O Universo está se expandindo e a Terra girando. Se você fica parado esperando o melhor tempo a vida vai passar sem se dar conta. 
Viva cada minuto, realmente, sem lugar-comum. E busque pessoas para seu redor, porque no final é só isso que importa. Sem lugar-comum.


Lécia Freitas

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

FIO DO FERRO AMOLADO



            Para quem gosta das coisas da terra, o barulho da enxada carpindo é significativo. Remete às sementes que florescerão. Mas enquanto ouço esse som, aqui no quintal,  que me lembra tanta coisa penso nos matinhos que estão sendo arrancados. Na terra que está sendo remexida. Quanto sai de seu lugar para que outros acontecimentos sobrevenham? Como na vida da gente. Quanto de dor é necessário para que novos sentimentos surjam? E sejam  latentes até se tornarem os mais importantes. Quantos outros sentimentos vamos deixando de lado ao considerarmos este ou aquele mais importante. Nem sempre porque queremos. Às vezes uma emoção é tão forte dentro de nós que entendemos precisar  dela para sobrevivermos neste caos de insensibilidades. Porque essa emoção nos torna atuantes. Às vezes nos deparamos no ocaso, quando já não há mais tanto tempo, com um sentir que nos sacode, que nos impulsiona  porque traz um sopro num mundo já apagado, esquecido, e aí, esquecemos de todo o resto. Como deter esse sopro que era tudo que a gente esperava e que agora, para nós é tudo que resta?
            Mas é preciso enfrentar o fio da enxada. Se temos um sentimento queremos mostrá-lo ao mundo. Queremos expô-lo par a que todos saibam que somos capazes. Que somos bons o suficiente para sentir, e para conferir importância a um outro. E que somos corajosos o suficiente para lutar por ele. Que somos  fortes o bastante para cavar no outro a certeza do amor correspondido. Que somos sensíveis ao tentar imprimir na essência dele a nossa própria essência. E que somos frágeis enquanto portadores dessa emoção. Que vamos nos quebrar, que vamos nos derreter em todas as tentativas de alcançar essa essência. E se não conseguimos, se o outro não nos reconhece, se não aceita esse cargo de importante para nós que lhes conferimos, a dor que advêm é a maior desse mundo.
Existe uma emoção tão grande quanto, que é a de ser mãe. O ser mãe é um pedaço da gente que sai para fora, para o mundo. Mas o amor que dedicamos a um outro, esse sentimento que nos coloca no mundo do outro, isso é querer um outro de fora para dentro. É fazer do outro parte de nós. É quando a gente ama tanto que deseja aquele alguém dentro da gente. Acredito que essa doação é ainda maior. Um filho sai para o mundo e vai criar outro mundo  com um alguém. Esse outro tipo de amor, não. São dois mundos que se tornam um só. É muito bonito, é muito forte,  isso. E o  ser humano conhece a verdadeira felicidade quando olha para o ser amado e vê a própria importância, vê o quanto significa, no olhar do outro. Isso é o real, o extenso da vida. Todos os outros valores, todas as motivações, as significâncias  terminam aqui. No próprio reconhecimento dentro do olhar do ser amado.
            Mas existe o fio da enxada. Nenhuma dor desse mundo supera a dor da rejeição. Porque é a constatação da nossa invisibilidade para o outro, do tanto faz. Do “não quero fazer parte do seu mundo”. Nem a morte é pior que isso. A morte é inevitável. Extrapola nosso entendimento. Quando a morte leva alguém que amamos não pensamos em desamor, em desprezo. Não há o que fazer. Fica uma dor, uma saudade, mas com o tempo a vida volta. Mas a desimportância que temos diante de um amor que queremos isso nos acompanha pela vida toda. Não há conformação, não há consolo, não há nada que compense. É o fio do ferro amolado, que corta , que sangra.


Lécia Freitas

domingo, 18 de dezembro de 2016

O OUTRO PARA SERMOS FELIZES

                Sempre vemos por aí a definição de felicidade. E os autores de livros de autoajuda mais os psicólogos de plantão são uânimes em afirmar que a felicidade é de  dentro para fora, depende apenas de si mesmo, de um estado de espírito, de uma autoestima elevada.
            Até concordo que para sentir um bem estar quase físico ditado pela própria satisfação, em diversos momentos é necessário tudo isso. No entanto, acredito que a felicidade  só existe a partir do interesse do outro por nós. Tudo que se faz nessa vida é pensando na aprovação do outro.  Qualquer ação ainda que seja para o entrenimento passa pelo trabalho do outro e o trabalho para ser valorizado deve ser reconhecido. Isso te dá uma felicidade enorme.
            Qualquer que sejam os sentimentos de um humano, perpassam pela ideia do outro, não existem sem a figura do outro. Você pode até sentir um bem estar enorme porque pensa no planeta, e na antureza. Você pode até sentir uma felicidadezinha. por contribuir. Porém esse sentimento vai ser muito maior se voce admitir que o faz porque pensa na continuidade do ser humano nesta vida, neste planeta. Senão para que preservar a terra se os humanos não vão usufruir?
            No amor, mais que em qualquer sentimento você precisa do outro para ser feliz. Não tem como amar e ser feliz sozinho.
            Você tem que se cuidar, até pela saúde, tem que se gostar para se enfeitar e ser mais interessante, atraente ao olhar do outro. Por que as pessoas passam horas nos salões, e academias, se enfeitando até com dores e sacrificios? E caros... Pode até ser para fazer inveja nas outras, mas tenha certeza: há um amor por trás disso.
            Dizer que você tem que se amar primeiro é outra história. Ninguém é feliz por muito tempo amando a si mesmo. Chega uma hora que a gente precisa da risada do outro, do calor do outro, do brilho do olhar do outro. Até das pequenas implicâncias.
Precisamos do outro, da sua aprovação ante nossas tentativas de acertos, precisamos do aplauso do outro ante nossos sucessos para que se completem. Para o perdão de nossas faltas. Até para confirmar nossa fraqueza como humano e ser inferior. Vamos buscar isso no outro, o que nos conforta. E o sucesso do outro nos impulsiona. E é querendo o outro que tentamos melhorar, sermos visíveis, sermos notados e reconhecidos. Não adianta o mundo inteiro nos reconhecer, se falta uma pessoa específica.
            No sexo, pulsão fundamental e tão prazerosa! Tão indispensável em nossas vidas, largamente estudado, que se não realizado é o motivo de tantas doenças da alma, tantos conflitos. Podemos ter um orgasmo solitário de diversas formas, hoje. Todos sabem dos apetrechos, das possibilidades, dos estimuladores. Devido a essas parafernálias o orgasmo pode ser até mais intenso, mais duradouro, mas nada, nada, vai substituir aquela rapidinha debaixo da escada ou do muro, ou no elevador, sei lá, que ousamos, com o nosso amor, porque não foi possível esperar, tamanha vontade. Nada vai substituir aquele hálito, aquele cheiro. Não sei, de repente , já deve existir no mercado algo parecido com um queixo assim com barba, mas não nunca será como a dele.
            Nada irá substituir a emoção de um boa noite de madrugada, de uma mensagem azulada e respondida. De uma carinha pulando no celular, um recadinho em um guardanapo de  lanchonete, coisas bobas que para nós, os amantes, significam tanto!
            Mas vejam que essas felicidades indescritíveis dependem do outro. Porque depende da emoção que o outro suscita em nós. Essa emoção que nos faz sentirmos vivos e parte do mundo do outro.

Lécia Freitas





quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

A PRIMEIRA E A ÚLTIMA PEDRA


Não me fale de você: eu realmente não me importo
não me mostre sua dor, perceba os pedaços que me faltam
não me fale de sua solidão, perceba que me tiraram a vontade de ter alguém por perto
não me fale de sua escuridão, veja que  arrancaram  minha capacidade de ver
não me diga que está perdido, perceba que  fecharam todos os  meus caminhos
não me mostre suas mãos vazias, perceba que me roubaram a capacidade de dádivas
não me fale em decepção que eu te  mostro um coração seco e duro
não me fale de suas lágrimas, perceba  o  vinco amargo que se tornou  minha boca
não me fale em deserto, perceba minha sede diante do rio que corre
não me fale em infelicidade e sofrimento, perceba que murcharam a minha alma
não me fale de prisões, que lhe mostro as sobras putrefatas das asas
não me fale de sua descrença, acredite que  todos os meus deuses estão mortos
não me fale de você: eu realmente não me importo
e não tente me erguer, quando cavou mais fundo o meu poço

Lécia Freitas




quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

EM CARNE VIVA

eu queria toda noite, todo dia, ser uma viola
e que você viesse com seus dedos
em luvas de seda finissimas
e me tirasse acordes
do fim do mundo
acordando as estrelas e
e os vagalumes.
eu queria toda noite
todo dia
que voce tocasse meu coração
e que as flores despetalassem
sangrando
em carne viva
na madrugada eterna
desse amor.
Que o dia não acordasse nunca
e que você ficasse querendo
com seus dedos
em acordes sem fim.

Lécia Freitas



terça-feira, 13 de dezembro de 2016

LINDA GRAMÍNEA


Linda gramínea na sua inutilidade de ser linda! Não servirá para nada, além de sua existência. Não servirá de adorno em altares nem em tumbas, visto que simples e anônima. Nem será dada a um amor como prova de afeição. Não servirá de pasto a nenhum ruminante, verdade maior das gramíneas, posto que viceja em rachaduras do cimento que me separa da terra pura, na porta de minha cozinha. Trazida decerto por um pé de vento desavisado aninhou-se por aqui, findando seu bailado como semente e passando a outra fase sem pedir licença, sabedora da sua desimportância neste mundo humano. E agora enfrenta corajosamente as intempéries, seja a chuva torrencial que cai, cai e depois escorre também inútil e enlameada, ou o sol inclemente que permeia, lembrando que os tempos são outros, que o clima está doido e que tudo se encaminha para um fim inexorável. Mas apesar dessa certeza, balança coreografada pelo vento ao som das Maritacas e de todos os Fin-fins que sobrevoam minha vida, dando-se importância apenas por existir, por cumprir um destino, sem se preocupar com o fim dessa estação, quando toda gramínea seca, ou com o fio da enxada que fatalmente extingue as gramíneas. Linda gramínea, que deixa de ser inútil, porque enfeita meus olhos em meio a umidade que persiste diante da ausência de um amor que, presente por se fazer inteiro, não te vê, posto que do outro lado do mundo. E que me fala da poesia mais perfeita, e mais pura que existe, em meio a essa tristeza, a essa deseperança toda, tão melancólica quanto descaridosa. E que me faz quedar pensativa ante o mistério de suas linhas perfeitamente iguais e tão harmonicamente dispostas, distraindo-me de pensamentos fixos e dolorosos. Como é que pode, de uma mistura sair algo tão puro? Como é que pode um alimento, talvez estrume, talvez algum verme decomposto, fazer surgir na mesma raiz o verde tão verdemente brilhante de suas folhas, e o branco tão alvo de suas florzinhas? Sem nenhuma fama, é certo, nos catálogos imponentes das plantas, mas tão importante na porta de minha cozinha. Não sendo minha, não sendo de ninguém, pertence a si mesma, sem holofotes e sem pretensão alguma, traz magia ao meu quintal e a esse mundo desconhecido e fabuloso dos muitos insetos que aqui vivem. Talvez que algum botânico possa explicar cientificamente essa variação de cores, talvez até te dê alguma importância no mundo das plantas e das gramíneas, mas não saberá explicar a fórmula usada em toda sua criação. Não saberá da poesia existente em sua existência inútil, mas tão explícita, tão visível aos poetas e aos amantes que amam amores do outro lado do mundo dos humanos, e que precisam de uma gramínea em sua porta para suportar as distâncias geográficas desse mundo. Precisam de você, minha linda gramínea, tão inútil em seu bailado ao vento, em sua gradação de cores brilhantes em sua perfeição de formas desenhada pelo Dono dos jardins. Que te concebeu dessa forma, determinando que menininhas sonhadoras e cheias de poesia te amassem assim, tão inútil e tão necessária na sua inutilidade, apenas por enfeitar a vida, suavizando o sentir .

Lécia Freitas



domingo, 11 de dezembro de 2016

AS VIAGENS


            Às vezes, para ser sano, precisamos atravessar a tênue linha da loucura. Porque ser louco nos protege da realidade. Essa realidade que nos consome. Ser louco é aceitar a metáfora que a vida nos oferece, é acreditar em coisas que no real não existem. E das quais precisamos. Para suportarmos o real embarcamos em viagens imaginadas dentro de nós, ou dentro de um mundo onde vamos buscar o que o real não nos oferece. Ou que, quase sempre, nos tira. A capacidade de ser louco e de fazer viagens interplanetárias e intro-humanas devolve a sanidade que o real aniquila. É preciso ser louco para não se integrar à paranoia verdadeira. A realidade, na verdade, não existe. Se existisse seria a mesma para todos. E não é o que acontece. Um mesmo fato é visto e sentido de diversas formas. De acordo com o sentimento de cada um. O que para um indivíduo não tem importância, para outro tem a dimensão que extrapola a própria realidade, de tão significativo. Portanto, a realidade que caracteriza a sanidade não existe. Existe a loucura de cada um. Então, o ser humano que é feliz porque viu o raio da lua e sentiu que era o mesmo que encantou o seu amor do outro lado do mundo, usou do ácido mais poderoso: o ácido do amor! Então, o humanoide que flutua no tempo e no espaço porque sentiu o vento na pele e percebeu o cheiro do seu amor,  porque esse mesmo vento esteve do outro lado do mundo e despenteou aqueles cabelos e refrescou aquela outra pele, vive a metáfora mais arrepiante, mais doce, mais viajada,  que alguém pode ter. É o desatino mais sensato,  o paradoxo mais combinado, a loucura mais real.


Lécia Freitas






sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

COM CAPIM CIDREIRA


            Quando você  planta uma muda de couve ou de hortelã, não precisa muitos cuidados. Se for uma planta rara, aí sim, você vai dispensar toda atenção para que ela cresça. Da mesma  forma, quando em um sentimento qualquer, não se preocupa. Ele cresce sozinho se você deixar. Mas se tem um sentimento de valor, um sentimento raro há muito esperado, você vai cuidar dele! Vai agasalhá-lho para que não sinta frio. Vai colocá-lo em redoma, talvez traga-o para debaixo de cobertas em noites de tormenta.  E por ser uma planta rara, vai amordaçar todos os carneiros exuperyanos para que não a coma. Vai tirar as possíveis larvas de borboletas de asas amarelas, ou outras cores, que gostam de plantas assim. Vai buscar para essa planta os lugares mais sombrios e escondidos ao lado de nascentes de águas cristalinas que só existem incrustadas no pé de serras azuis de Minas Gerais. Se houver feridas vai cuidá-las com unguentos, como os de Camurça, feito de malva macerada com  cravo, curtida em óleos de jamim em potes de pedra. Vai tirar-lhe as pedras do caminho, varrendo com vassoura de ramos de alecrim  e aspergir água de cheiro fresca para que não acumule nenhum pó nos vincos e dobras. Vai alimentá-lo com  tâmaras frescas, rosquinhas de nata com creme, e chás de capim cidreira e essência de limão, adoçado com mel de lindas e brancas flores silvestres. Não irá cantar para ele o canto do Tiê, que estará bicando uma manga, nem da Viuvinha que chora pelo amor que perdeu, mas cantará o mesmo som ,que não cessa, do vento que passa sussurrando em meio às folhas do bambu. Vai enfeitá-lo, não com as cores do arco-íris, mas com as fitas que enfeitam as bandeiras de São João em  noites de dança ao redor de fogueiras. E vai alegrá-lo com a dança mais alegre das cantigas de rodas, enquanto as folhas caem das árvores no mesmo ritmo e compasso, bailando, levando para longe as notícias da mata e dos seus habitantes, desde o mais simples até o mais ilustre, seja uma planta, um bicho ou uma ideia abstrata. Vai sequestrar para ele a emoção na lágrima contida da moça, que se debruça na janela para ver a vida passar, fingindo um riso escancarado em boca vermelha de batom. Para ele vai prender o raio perpendicular da lua que atravessa a janela, ou aquele que se inclina vaidoso sobre a lagoa por se ver tão belo. Vai beijá-lo tanto, tanto com a boca fresca de manjericão e lábios carnudos de goiaba vermelha, que só amadurecem em meados de abril e que recebeu a visita das abelhas  de asas douradas, quando ainda botão branquinho feito a geada que cai do ceu. Não vai represar para ele a água do riachinho que brinca entre as pedras,  brilhando com as luzinhas que roubou do céu, mas vai trazer na memória todos os mistérios da terra, e da Terra do Nunca onde crianças não perdem a inocência porque não se tornam  homens, e das galáxias onde estão escritas todas as histórias de todos os tempos, refletidas em seu espelho concâvo e rodando no espaço sem  fim. Vai lutar com unhas e dentes e todos os golpes capazes com a mais linda flor  para dar-lhe sempre possibilidades evitando as coisas findas,  e que lindas, nunca passarão.  


Lécia Freitas


quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Nunca foi fácil! O brasileiro, aquele que trabalha e peleja para sobreviver, e que eleva a si e o país, o faz com dificuldades. Acho que somos mais pacíficos que outros povos. Ou passivos, sei lá. Acho que somos utópicos. Acreditamos sempre que tudo vai melhorar, que as coisas vão se resolver, que, no final, tudo vai acabar bem. E acaba porque somos nós que pagamos a conta. E nos adequamos. E tocamos a bola. Eu vejo os dias de hoje como os de décadas passadas. Sombrios, tenebrosos. Ja fui furtada, assaltada e não é uma experiência agradável. Porém, nada se iguala ao que está acontecendo. Essa impotência, esse aniquilamento da nossa existência, porque estão nos aniquilando, isso extermina nossa condição de brasileiros, de habitantes desse lugar, com direitos e honra. Absurdamente, nada é suficiente para manter o luxo, o requinte, o poder e até a luxúria. Usurpadores, canalhas, traidores! Já faltam em nossa Língua, que eu amo tanto, termos capazes de definir, de classificar, tamanha adjetivação. Vejo sempre com profunda tristeza a situação dos refugiados, esses que fogem da própria terra. Hoje, considero que a situação dos brasileiros é ainda pior. Porque são os daqui que nos tiram tudo. Não estamos sendo acossados por outros países mais fortes, mas pelos nossos, na pior forma de traição. Receberam votos de confiança de que iriam trabalhar pelo bem de todos. Mas estão acabando com o país. Pobre Brasil! Nasceu achincalhado e segue abortado em seu crescimento. Pobres brasileiros! Tiraram até a nossa crença de que flores vencem canhões. Não, não vencem. Apenas enfeitam. Canhões matam. Bombas, balas de borracha, spray de pimenta essas coisas, nao matam a carne. Pior: arrefecem o espírito. Matam a liberdade. Matam a esperança. Tiram a dignidade.

Lécia Freitas

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Apesar de tudo ainda acredito em alguma coisa. Não sou forte o suficiente para me manter de pé sozinha. E busco escoras em sentimentos bons, em algum amor que ainda posso sentir. Tenho mãos calosas, rugas, estrias até na alma. Disso tenho feito meu esteio. E só por isso, embora o sorriso seja uma máscara, há o que agradecer. Mas isso, isso doi mais que uma dor!


Lécia Freitas

sábado, 26 de novembro de 2016


Plagiando Pessoa digo: sou do tamanho que amo! Seja um ser, uma flor, uma ideia abstrata. Seja o amor. Porque é no amor que me agiganto. Que transbordo. Mesmo naqueles incompreendidos, mesmo naqueles inaceitados, não correspondidos. Meu amor nunca morre, apenas muda de feição, à procura de reciprocidade. à procura do que é geminado. Porque é preciso o reconhecimento, pelo objeto amado, diante de tanta entrega, diante deste infinito!


Lécia Freitas



Ainda sobre os passarinhos, hoje, assim que me levantei percebi um Fin-Fin, no meu quintal. Ele cantava! Mas, tão logo percebeu a movimentação voou para longe que não é dado a exposições. Não sem antes resgatar-me a memória de meu pai, que, um dia, nos apresentou. Ele sabia que eu os amava! Apesar de tudo isso, essa neblina, esse tempo, não te dá vontade de partir? Partir para uma ilha qualquer do Pacífico com gaivotas e ondas azuis?

Lécia Freitas



O ser humano passa a vida toda tentando ser feliz quando na verdade a felicidade não aceita arranjos. Por si, ela é espontânea!






Jardins de Copenhague, tudo organizado, à maneira humana, gosto não. Meu negócio é ali em Onça de Pitangui onde a natureza fez a festa e aquece meu coração! Gosto mesmo é do matinho despretensioso que nasce em qualquer canto e enfeita meu caminho!

Lécia Freitas



É preciso admitir as finitudes. Ter coragem para virar páginas, começar de novo... e de novo. Tirar as cascas inúteis. A felicidade pode vir devagarinho, mas tem urgências. Porque a vida é breve.


Lécia Freitas.



E minha alma dançava feliz ao som do riso dele. E nesse compasso o coração não percebia que ele é de todos os portos.


Lécia Freitas



A Terra é redonda, mas dela nada cai no espaço infinito do grande Universo.

O meu amor é pleno, não tem mensura nem forma geométrica.
Quando a Terra se acabar, o meu amor por você continuará em mim
Ou talvez se espalhe por todo o Universo.

Lécia Freitas



Porque o amor, ah o amor!...O amor que eu sonhei e inda não veio...Não foi jamais sonhado. Moldado com substâncias do infinito. Sua forma é por si só desfeita...


"O amor, este sentimento de luxo".

Lécia Freitas






Cada amor é um, e revela em seu dorso desejada paz de andorinhas, canto de bem-te-vis, cheiro de fruta madura.


Lécia Freitas



Amor espreita um descuido qualquer e nos assalta. Vai se aninhando devagarinho e quando se vê já tomou conta de tudo: do viver e do sofrer. E aí o vivente já não sabe se se alegra com o sentir ou se se acaba de tanto sofrimento!


Lécia Freitas



Rosa disse que o silêncio é a gente demais. Como sempre ele tinha razão! Quando alguém permanece em silêncio é quando ele mais diz. É um dizer sem se pronunciar. Mas para quem quer ouvir, um murmúrio que seja, esse silêncio vai lá no fundo e finca aquela dor que não tem sossego, que não tem recurso.


Lécia Freitas



A gente até tenta voltar ao ritmo, buscar o acorde perfeito,entrar na dança...qualquer coisa! Ou tudo! Porém, melodia como aquela, nunca mais. Talvez Macondo me ajude...Aguardo o próximo ônibus, ou balão. Quem sabe o próprio caminho...


Lécia Freitas




Porque não era vazio o que recebi! Tudo que vem a mim, recebo com plenitudes. Porque repleto é o meu coração que escorre em doces farturas. Vazios e secos eram os propósitos. Não fui eu que perdi.

Lécia Freitas



E para falar do meu amor eu inventei o verbo. Para as palavras eu criei canto e as mais lindas plumagens. Queria que o encantasse, que sentisse a força que vinha lá das entranhas e mesmo das rasuras do ser. Porque o sentimento, de tanto, veio para fora. É nessa hora que o vivente perde o rumo das coisas da vida. O sentir atropela. E não se sabe como dimensionar: com palavra ou com a dor fincada. É nessa hora que o vivente se quebra humilhado diante de uma força que não entende, que não tem recurso, que não tem unguento que alivie.


Lécia Freitas


Quero informar que, embora o inverno tenha começado há pouco tempo e que ainda esteja frio, já sinto um prenúncio de primavera, no ar, esta tarde. Paro um instante com a minha pesquisa e vou ao quintal ouvir dois pássaros que se comunicam, alegremente, através do canto. Na verdade, não sei se posso afirmar isso. Talvez seja a luz intensa dessa tarde de sábado, esse perfume de magnólias... Talvez o canto dos pássaros, que amo tanto... (Agora, há também um bem-te-vi! Bem no pé de goiaba! Meu Deus, como eles cantam!) Não sei se é realmente um estado de coisas ou se é apenas meu velho coração que não se envelhece e anseia por renovação!
Lécia Freitas

Nessa vida é preciso que haja um espaço para a tristeza que ela também faz parte. Que as lágrimas encontrem caminho e que lavem angústias renovando a alma assim como a chuva renova o tempo. Que haja o desespero como um furacão que arrasa e carrega tudo deixando o lugar para a esperança. E que na esperança haja ousadia. Porque a felicidade pode ser conquistada na simplicidade da rotina, das pequenas coisas cotidianas. Uma felicidadezinha mansa maneira... mas quando se ousa, quando se perde o medo, quando a vida adquire outro significado a felicidade vem verdadeira arrebentando o coração. E a gente até pensa que não vai aguentar...



Lécia Freitas

Nunca fui de firmar pactos! De absorver impressões. De significar o alheio. Estive sempre à margem do mundo. E assim negava a própria dor. Era uma defesa em vão. Porque ela não existia menos por isso. Apenas se camuflava. Foi se acumulando ao longo do tempo. Das parcerias que fiz, poucas, a que mais me satisfez e me trouxe alegria foi essa que tenho com os passarinhos. Sei que nos amamos. E toda vez que fui feliz eles estavam por perto, festejando. Realmente, motivo de festa. Tão raro!
Lécia Freitas
Esse viver à deriva não é opcional. O mundo nos impõe. As pessoas nos obrigam. A questão dos laços. Eu não temo os laços por medo dos nós. Sempre busquei amarras. Que nos prendem no outro. Deve ser muito bom voar a dois! Estar preso e livre ao mesmo tempo. Porque a liberdade é individual por ser absolutamente de dentro pra fora. E o amor também. O amor não existe sem a liberdade. Você tem que estar livre do mundo para poder amar, para se entregar. E é quando ele te prende que você mais voa.
Lécia Freitas

E eu repito que o nome dele agora é feito mel lambente que grudou em minha língua. Que desse amor fiz meu abrigo, a razão. Eu andava ao redor dele como os bichinhos na luz. E minha alma cantava para esse amor como o vento canta no bambuzal, como a água quando passa nas pedras. Eu olhava para ele ao longe e já me via diluindo!

Lécia Freitas


Não espere as pessoas irem embora para demonstrar o valor que elas têm. Da mesma forma, não espere pessoas perfeitas para entregar os seus sentimentos. Antes, tenha um sentimento bom e compartilhe com alguém que também o ame. Não despreze o amor de ninguém. Você não sabe se terá outro. Faça-o florescer! E seja grato, afague-o em seu peito, pois que você tem um amor! Já dizia Rosa: qualquer amor é um pouquinho de saúde, é um descanso na loucura.

Lécia Freitas



No momento exato em que coloco minha mão na dele e que as forças do céu e da terra se encontram na emoção que sinto, sabendo que tudo pode se acabar ali, mas que terei cumprido o extenso da minha vida! 

Lécia Freitas

REDENÇÃO


para além do fundo
existe o pré-sal
recuso-me a afundar
asas cortadas
e existe o pré-sal
nem os jardins pela janela
ceciliamente falando
ou no trem que atravessa
Divinópolis
Pessoa, ceda-me os rebanhos
quem sabe em Pasárgada
insisto em Macondo
num Sertão Grande
onde as miudezas
se tornam infinitas
na doce paz de Manoel.
Há que ser feliz:
agarro-me à poesia.

Lécia Freitas


Lécia Freitas

O que eu queria é que agora com o raio de sol

me viesse também um sonho
e um amor dentro dele
cavando o riso
tirando a ruga
alisando a alma...

Lécia Freitas



...eu não digo seu nome, mas se encontrar por aí, saiba que todos os meus versos de amor são para você.


Lécia Freitas