Eliete
O conceito de Anomia, e que
caracteriza a sociedade anômica, foi definido por Durkheim como ausência ou
desintegração das normas sociais. O autor descreve as patologias sociais na
nossa sociedade, qual seja ocidental,
individualista e racional. Todas as mazelas dessa sociedade, a saber
principalmente a falta de solidariedade,
são objeto de estudo de Durkheim. Para o autor a anomia é uma “condição
em que as normas socias e morais são confundidas, pouco esclarecidas ou
ausentes. Sendo assim, havendo mudanças na sociedade, as normas já
estabelecidas, tornam-se obsoletas.
Durkheim esclarece, em sua obra, que
o estado de anomia não acontece quando os indivíduos estão solídários e se
mantêm unidos. Isso faz com que percebam serem necessários uns aos outros e
assim conseguem nutrir um “sentimento vivo e contínuo” e uma dependência mútua. Quando o
indivíduo perde o sentido dessa dependência, e ignora os outros agentes
sociais, perde também a noção do todo de onde advém a anomia.
Em sua obra, Durkheim estuda a
relação entre o indivíduo e a coletividade e responde a questões sobre a
diferenciação do que seja uma sociedade ao contrário de uma coleção de
indivíduos e se as ações da coletividade influenciam as individuais. E o que
determina a construção das ideias em comum, ou seja, o consenso.
Durkheim
argumenta que nossa sociedade é constituída de uma quantidade enorme de funções
estabelecidades para atenderem as necessidades indviduais e coletivas. O autor
ainda reforça que a divisão do trabalho social é a mais importante
solidariedade entre os fatores sociais e, portanto deve ser valorizada.
Enquanto outros valores podem se transformar e mudar de sentido, o trabalho
deve ser preservado, para que não se coloque em risco a sociedade. A redução da
eficácia da religião da e da família, a profissão individual se valorizando
cada vez mais, tudo isso leva a um estado de anomia.
Nesse sentido, compreende-se, de acordo com o autor, que
a divisão do trabalho apresenta lados positivos uma vez que produz
solidariedade social. No entanto, ainda de acordo com o autor, há um lado
negativo que traz a desintegração social e a ausência da estrutura entre os indivíduos
do grupo, a anomia.
O autor explica que a organização
dos homens numa sociedade, cujas leis são reconhecidas por todos, é o que permite uma interferência entre os conflitos individuais e sociais. Segundo
o autor, a força do grupo é a única capaz de moderar o egoísmo do indivíduo. Quando acontece um desrespeito
às regras comuns, às tradições e práticas; enfraquecendo a integração dos
indivíduos; quando há uma
ausência de
solidariedade entre os indivíduos ou entre os grupos, surge a anomia.
Observa-se então que em uma
sociedade anômica, há falta de regulamentações, ou
quando essas se tornam obsoletas, os
indivíduos não sabem o que é o justo e o injusto, quais as
reivindicações e esperanças legítimas, e quais
ultrapassam a medida do certo.
A
anomia é pevista quando o indivíduo, ao ser privado das referências que
norteiam sua vida, adota condutas próprias de marginais, geralmente ligadas à
violência, pode-se considerar que ele assume “condutas anômicas”. Também é
detectada quando as regras sociais e os valores que as legitimam, perdem a
força e o poder, tornando-se indefinidos, incoerentes, quase sempre devido às
transformações da sociedade, surgindo o desarranjo social, que caracteriza a
anomia.
O
desarranjo social também está presente na sociedade em que as crenças e as
instituições, devido a mudanças constantes, vão perdendo as características de
estabilidade e constância de seus valores, ocasionando os desarranjos em seus
regulamentos, e que dão segurança ao grupo.
Não
se pode afirmar que a anomia signifique uma total falta da lei. No entanto,
aqueles que possuem uma conduta anômica podem vir a infringir a lei. Da mesma
forma, os indivíduos anômicos perdem o sentido de pertencimento a um
determinado grupo, e por isso ignoram as normas do grupo e não conseguem
substituir essas normas e leis. É possível que sigam as normas da sociedade como
um todo, mas se afastam e não conseguem se identificar com outras normas.
O
caso mais grave de anomia, na História recente da humanidade, é da sociedade alemã, no início da Grande Guerra, com a
economia desorganizada,
As instituições enfraquecidas e uma disputa
acirrada entre os valores de ideologias politicas. Esse estado de coisas
favoreceu para que o Partido Nazista ascendesse ao poder na pessoa de seu
líder, Hitler, ocasionando a guerra mais sangrenta e cruel de toda Humanidade.
Há relatos, na literatura, de sobreviventes
aos campos de concentração nazistas, de pessoas que estiveram em estado extremo
de anomia. Conservando seus valores ao serem presas, e de indentificação com os
demais, no entanto, diante de tanto sofrimento e privação, violaram as normas
em que acreditavam, afastando-se dos
outros prisioneiros, inclusive espiritual e psiquicamente, passando a colaborar
com seus algozes, na tentativa de sobrevivência. Não odiavam os companheiros,
na verdade não nutriam nenhum sentimento bom ou ruim, era simplesmente um
comportamento de sobrevivência.
Pode-se entender então que, as
regras socias sob tensão de mudanças bruscas, não conseguem manter a
uniformidade, levando o indivíduo a desprezar outras regras. Essa situação, de
regras inapropriadas, leva o indivíduo ao um estado de frustação e ansiedade
pela falta de clareza, e produz um estado geral de anomia. A anomia, com suas
causas e consequências, segundo o pensador, pode ser conceituada, então, como
um mal dessa sociedade, que se transforma rapidamente, ocasionando mudanças em
suas normas. Isso afeta fortemente a consciência coletiva gerando desajustes
sociais. Neste contexto, os indivíduos perdem suas referências e valores, as
normas passam a não existirem e surge o caos diante da crença de que tudo é
permitido.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
DURKHEIM, Émile. 1858-1917 Fato Social e Divisão do Trabalho /Émile Durkheim; apresentação e
comentários Ricardo Musse : tradução Cilaine Alves Cunha e Laura Natal
Rodrigues. – São Paulo : Ática 2007.
Nenhum comentário:
Postar um comentário