terça-feira, 8 de janeiro de 2019

SOCIEDADE ANÔMICA




Eliete
            O conceito de Anomia, e que caracteriza a sociedade anômica, foi definido por Durkheim como ausência ou desintegração das normas sociais. O autor descreve as patologias sociais na nossa sociedade, qual seja ocidental,  individualista e racional. Todas as mazelas dessa sociedade, a saber principalmente a falta de solidariedade,  são objeto de estudo de Durkheim. Para o autor a anomia é uma “condição em que as normas socias e morais são confundidas, pouco esclarecidas ou ausentes. Sendo assim, havendo mudanças na sociedade, as normas já estabelecidas, tornam-se obsoletas.
            Durkheim esclarece, em sua obra, que o estado de anomia não acontece quando os indivíduos estão solídários e se mantêm unidos. Isso faz com que percebam serem necessários uns aos outros e assim conseguem nutrir um “sentimento vivo e contínuo” e uma dependência mútua. Quando o indivíduo perde o sentido dessa dependência, e ignora os outros agentes sociais, perde também a noção do todo de onde advém a anomia.
            Em sua obra, Durkheim estuda a relação entre o indivíduo e a coletividade e responde a questões sobre a diferenciação do que seja uma sociedade ao contrário de uma coleção de indivíduos e se as ações da coletividade influenciam as individuais. E o que determina a construção das ideias em comum, ou seja, o consenso.
            Durkheim argumenta que nossa sociedade é constituída de uma quantidade enorme de funções estabelecidades para atenderem as necessidades indviduais e coletivas. O autor ainda reforça que a divisão do trabalho social é a mais importante solidariedade entre os fatores sociais e, portanto deve ser valorizada. Enquanto outros valores podem se transformar e mudar de sentido, o trabalho deve ser preservado, para que não se coloque em risco a sociedade. A redução da eficácia da religião da e da família, a profissão individual se valorizando cada vez mais, tudo isso leva a um estado de anomia.
            Nesse sentido, compreende-se, de acordo com o autor, que a divisão do trabalho apresenta lados positivos uma vez que produz solidariedade social. No entanto, ainda de acordo com o autor, há um lado negativo que traz a desintegração social  e a ausência da estrutura entre os indivíduos do grupo, a anomia.
            O autor explica que a organização dos homens numa sociedade, cujas leis são reconhecidas por todos,  é o que permite uma interferência  entre os conflitos individuais e sociais. Segundo o autor, a força do grupo é a única capaz de moderar o egoísmo  do indivíduo. Quando acontece um desrespeito às regras comuns, às tradições e práticas; enfraquecendo a integração dos indivíduos; quando há uma
ausência de solidariedade entre os indivíduos ou entre os grupos, surge a anomia.
            Observa-se então que em uma sociedade anômica, há falta de regulamentações, ou quando essas se tornam obsoletas,  os indivíduos não sabem o que é o justo e o injusto, quais as reivindicações e esperanças legítimas, e quais  ultrapassam a medida do certo.
            A anomia é pevista quando o indivíduo, ao ser privado das referências que norteiam sua vida, adota condutas próprias de marginais, geralmente ligadas à violência, pode-se considerar que ele assume “condutas anômicas”. Também é detectada quando as regras sociais e os valores que as legitimam, perdem a força e o poder, tornando-se indefinidos, incoerentes, quase sempre devido às transformações da sociedade, surgindo o desarranjo social, que caracteriza a anomia.
            O desarranjo social também está presente na sociedade em que as crenças e as instituições, devido a mudanças constantes, vão perdendo as características de estabilidade e constância de seus valores, ocasionando os desarranjos em seus regulamentos, e que dão segurança ao grupo.
            Não se pode afirmar que a anomia signifique uma total falta da lei. No entanto, aqueles que possuem uma conduta anômica podem vir a infringir a lei. Da mesma forma, os indivíduos anômicos perdem o sentido de pertencimento a um determinado grupo, e por isso ignoram as normas do grupo e não conseguem substituir essas normas e leis. É possível que sigam as normas da sociedade como um todo, mas se afastam e não conseguem se identificar com outras normas.
            O caso mais grave de anomia, na História recente da humanidade, é da sociedade  alemã, no início da Grande Guerra, com a economia desorganizada,
As instituições enfraquecidas e uma disputa acirrada entre os valores de ideologias politicas. Esse estado de coisas favoreceu para que o Partido Nazista ascendesse ao poder na pessoa de seu líder, Hitler, ocasionando a guerra mais sangrenta e cruel de toda Humanidade.
             Há relatos, na literatura, de sobreviventes aos campos de concentração nazistas, de pessoas que estiveram em estado extremo de anomia. Conservando seus valores ao serem presas, e de indentificação com os demais, no entanto, diante de tanto sofrimento e privação, violaram as normas em que acreditavam,  afastando-se dos outros prisioneiros, inclusive espiritual e psiquicamente, passando a colaborar com seus algozes, na tentativa de sobrevivência. Não odiavam os companheiros, na verdade não nutriam nenhum sentimento bom ou ruim, era simplesmente um comportamento de sobrevivência.
            Pode-se entender então que, as regras socias sob tensão de mudanças bruscas, não conseguem manter a uniformidade, levando o indivíduo a desprezar outras regras. Essa situação, de regras inapropriadas, leva o indivíduo ao um estado de frustação e ansiedade pela falta de clareza, e produz um estado geral de anomia. A anomia, com suas causas e consequências, segundo o pensador, pode ser conceituada, então, como um mal dessa sociedade, que se transforma rapidamente, ocasionando mudanças em suas normas. Isso afeta fortemente a consciência coletiva gerando desajustes sociais. Neste contexto, os indivíduos perdem suas referências e valores, as normas passam a não existirem e surge o caos diante da crença de que tudo é permitido.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


DURKHEIM, Émile. 1858-1917 Fato Social e Divisão do Trabalho /Émile Durkheim; apresentação e comentários Ricardo Musse : tradução Cilaine Alves Cunha e Laura Natal Rodrigues. – São Paulo : Ática 2007.



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