sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Teve um dia que te encontrei! E eu desejei muito essas coisas de ser linda. E de ter em meus parcos recursos o aumentativo ão. Para te encantar, te deixar louco de amor por mim. Tal qual menina ou amante colocá-lo em meu colo e te falar de histórias, as que você mais gosta e que eu não tive oportunidade de saber. E como uma sereia cantar em seus ouvidos as mais lindas cantigas de epopeias e de amores felizes. Eu tive vontade de saber de vinhos e de lhe oferecer até deixá-lo entontecido e poder te amar mesmo sem sua permissão. De conhecer poções e ervas poderosas feito bruxa, ou fada, até que se rendesse aos meus encantos e me beijasse ternamente, perdidamente, em noites de lua cheia e também naquelas de raios e trovões. Eu queria entender de alquimia para me derreter e em seu sono me esgueirar para dentro de você, tomar conta de sua mente, de seu coração, e nunca mais sair. Que do meu feitiço não escapasse nunca e a cada dia se tornasse o “principio, o fim e o meio”. Ser a dona do seu corpo, de toda a sua pele, de seus fluídos, mas não totalmente de sua vontade porque eu o queria me amando muito, por si. Tudo isso eu desejei e tenho desejado nesses séculos de espera. Eu ouvi a sua flauta e seu bailado, e houve flores amarelas e um oásis de água fresca em seu falar. Perdi-me tonta ao seu redor e só então percebi: minha estação não era chegada, nem eram para mim a música, as flores, esse remanso. Todavia, porque meus olhos se abriram, porque minha alma bailou, porque o sangue correu em minhas veias, ainda que por um momento apenas, eu desejo que você viva mais 70 anos. Que continue a ser, no desejo de alguém, como foi para mim, como o mago poderoso de Nárnia, como o homem valoroso de Macondo, como o amante ardoroso de Pasárgada. E que sendo tudo isso, encontre uma boa mulher que vá te amar como eu amaria; que vá te querer como eu te quereria; que te faça feliz como eu poderia. E que assim como Pã saiba dos segredos da Terra e dos mistérios do amor. E de que os encantos desta vida só acontecem uma vez. Para todo o sempre.
É preciso esperar o galope com a passagem na mão.
Lécia Freitas



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