domingo, 13 de julho de 2014

Cem Anos de Solidão

Gabriel Garcia Marquez


Pilar Ternera, que então vivia somente com seus dois filhos menores, não lhe fez nenhuma pergunta. Levou-o para a cama. Limpou-lhe a cara com um trapo úmido, tirou-lhe a roupa e logo se despiu por completo e abaixou o mosquiteiro para que não a vissem os filhos, se acordassem. Tinha cansado de esperar pelo homem que ficou, pelos homens que foram embora, pelos incontáveis homens que erraram o caminho de sua casa, confundidos pela incerteza das cartas. Na espera, sua pele tinha enrugado, seus seios tinham murchado e se havia apagado a brasa do coração. Procurou Aureliano na escuridão, pôs-lhe a mão no ventre e beijou-o no pescoço com uma ternura maternal. “Meu pobre menininho”, murmurou. Aureliano estremeceu. Com um desembaraço repousado, sem a menor dificuldade, deixou para trás as escarpas da dor e encontrou Remédios transformada num lago sem horizontes, cheirando a animal cru e a roupa recém passada a ferro. Quando boiou estava chorando. Primeiro foram soluços involuntários e entrecortados. Depois se esvaziou num manancial desatado, sentindo que algo tumefato e doloroso tinha arrebentado no seu interior.

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