O espaço geralmente é caracterizado pelas descrições.
Dependendo do que quer enfatizar, o
autor o faz concisamente ou o distingue
com riqueza de detalhes. Na obra analisada, a história se passa no sertão de
Minas Gerais¹,
Sul da Bahia (p.304) e Goiás (p. 517). Alguns locais mencionados na narrativa
são de conhecimento público, reais, exemplificando: Rio São Francisco, Rio Paracatu, (p.94) e as
cidades de Corinto, Curvelo (p.08), Sete
Lagoas (p.17), Montes Claros, Diamantina (p.94) e muitos outros.
Algumas
edições da obra apresentam mapas com o objetivo de comprovar a veracidade de
algumas localidades. Outras, como é o caso do Liso de Sussuarão, percebe-se a
ficcionalidade do nome.
Por
meio de sua obra, o autor denuncia as desigualdades sociais existentes nessa
área geográfica desconhecida pelo resto do país. Em suas viagens pelo sertão,
Guimarães Rosa anotava tudo que via e
ouvia, e assim no decorrer da história de Riobaldo, pode retratar os costumes e
crenças desse povo simples, transformando-os em matéria de ficção e poesia .
Na
obra, o sertão adquire dimensões que vão além do físico e do imaginário. Em
seus aforismos e plurissignificação Guimarães Rosa autoriza que o termo assuma
uma importância metafísica como podemos constatar nessa passagem do texto:
“Sertão: é dentro da gente”. (ROSA, 2006, p.309).
“Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas
de repente ele volta a rodear o senhor dos lados. Sertão é quando menos se
espera; digo.” (ROSA, 2006, p. 286).
Percebe-se
que ao longo do texto, existem muitas tentativas de apreensão do real significado do que é o sertão. Como se o
autor quisesse, na fala de Riobaldo, exprimir o sentido da verdade do que
seja e o
desejo de penetrá-lo:
assim, é como conto. Antes conto as
coisas que formaram passado para mim com mais pertença. Vou lhe falar. Lhe falo
do sertão. Do que não sei. Um grande sertão! Não sei. Ninguém ainda não sabe.
Só umas raríssimas pessoas – e só essas poucas veredas, veredazinhas. (ROSA,
2006, p.100). O senhor não creia na quietação do ar. Porque o sertão se sabe só
por alto. Mas, ou ele ajuda, com enorme poder, ou é traiçoeiro muito
desastroso. (ROSA, 2006, p. 521). O sertão não chama ninguém às claras; mais, porém,
se esconde e acena. Mas o sertão de repente se estremece, debaixo da gente... (ROSA,
2006, p. 522).
Apreende-se que ao referir-se ao sertão, representado por Riobaldo, o
autor quer nos levar a uma outra travessia, muito maior, que seja, às reflexões
concernentes e contidas em dimensões universais, próprias e únicas da condição
humana. A espacialidade indefinida e vasta que o autor confere ao sertão,
internaliza-se e, de certa forma, define a identidade de Riobaldo, numa
transcendência geográfica em que ele se transforma, pelos sentimentos e ações, no próprio sertão: O Grande Sertão. A
interiorização intimizada à
Riobaldo abrange o coletivo quando o
autor afirma: “o sertão é dentro da gente” (ROSA, 2006, p. 309)
O
“sertão” adquire, assim, muitos sentidos ao longo da história além do espaço
físico geográfico. No que tange ao
espaço Guimarães Rosa imprime um caráter de infinitude quando diz que o sertão
é do tamanho do mundo. Contudo, numa ausência de palavras para descrevê-lo, diz
simplesmente: “o sertão: o senhor sabe”. (ROSA, 2006, p. 390).
¹Através de sua
personagem Riobaldo, Rosa fala de uma Minas Gerais quase sempre deslocada do
centro da historiografia produzida sobre o Estado. Refiro-me aos Gerais, ao
sertão mineiro, território dos jagunços, dos coronéis, do gado, da amplidão dos
campos, da aridez do cerrado. Cenário tão vivo, pulsante e rico de história
quanto as regiões das Minas propriamente ditas (das vilas coloniais do Século
XVIII, caracterizadas pela vida girando em torno da exploração mineral)
A região que virou cenário
tão fortemente presente na obra de Guimarães Rosa inspira roteiros turísticos
contemporâneos e serviu de motivação para a criação do primeiro circuito
turístico literário de que se tem notícia – o Circuito Guimarães Rosa. Maiores
informações sobre esses roteiros podem ser encontradas no site do Circuito -
< http://circuitoguimaraesrosa.com.br/ > - e em recente reportagem do
jornal Estado de Minas – ver LOBATO, Paulo Henrique. Caminhos de Rosa. Estado
de Minas. Turismo. 19 de junho de 2012, p. 1, 4 e 5. (LIMA, 2012)
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