sexta-feira, 18 de julho de 2014

"A POÉTICA ROSEANA" Capítulo 5.5.3


         (O Espaço)

            O espaço geralmente é caracterizado pelas descrições. Dependendo do que  quer enfatizar, o autor o faz  concisamente ou o distingue com riqueza de detalhes. Na obra analisada, a história se passa no sertão de Minas Gerais¹, Sul da Bahia (p.304) e Goiás (p. 517). Alguns locais mencionados na narrativa são de conhecimento público, reais, exemplificando:  Rio São Francisco, Rio Paracatu, (p.94) e as cidades de Corinto,  Curvelo (p.08), Sete Lagoas (p.17), Montes Claros, Diamantina (p.94) e muitos outros.  
            Algumas edições da obra apresentam mapas com o objetivo de comprovar a veracidade de algumas localidades. Outras, como é o caso do Liso de Sussuarão, percebe-se a ficcionalidade do nome.
            Por meio de sua obra, o autor denuncia as desigualdades sociais existentes nessa área geográfica desconhecida pelo resto do país. Em suas viagens pelo sertão, Guimarães Rosa anotava  tudo que via e ouvia, e assim no decorrer da história de Riobaldo, pode retratar os costumes e crenças  desse  povo simples, transformando-os   em matéria de ficção e poesia .
            Na obra, o sertão adquire dimensões que vão além do físico e do imaginário. Em seus aforismos e plurissignificação Guimarães Rosa autoriza que o termo assuma uma importância metafísica como podemos constatar nessa passagem do texto: “Sertão: é dentro da gente”. (ROSA, 2006, p.309). “Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas de repente ele volta a rodear o senhor dos lados. Sertão é quando menos se espera; digo.” (ROSA, 2006, p. 286).
            Percebe-se que ao longo do texto, existem muitas tentativas de apreensão do  real significado do que é o sertão. Como se o autor quisesse, na fala de Riobaldo, exprimir o sentido da verdade do que seja  e o  desejo de penetrá-lo:
assim, é como conto. Antes conto as coisas que formaram passado para mim com mais pertença. Vou lhe falar. Lhe falo do sertão. Do que não sei. Um grande sertão! Não sei. Ninguém ainda não sabe. Só umas raríssimas pessoas – e só essas poucas veredas, veredazinhas. (ROSA, 2006, p.100). O senhor não creia na quietação do ar. Porque o sertão se sabe só por alto. Mas, ou ele ajuda, com enorme poder, ou é traiçoeiro muito desastroso. (ROSA, 2006, p. 521). O sertão não chama ninguém às claras; mais, porém, se esconde e acena. Mas o sertão de repente se estremece, debaixo da gente... (ROSA, 2006, p. 522).

            Apreende-se que ao referir-se ao sertão, representado por Riobaldo, o autor quer nos levar a uma outra travessia, muito maior, que seja, às reflexões concernentes e contidas em dimensões universais, próprias e únicas da condição humana. A espacialidade indefinida e vasta que o autor confere ao sertão, internaliza-se e, de certa forma, define a identidade de Riobaldo, numa transcendência geográfica em que ele se transforma, pelos sentimentos e ações,   no próprio sertão: O Grande Sertão. A interiorização intimizada  à Riobaldo  abrange o coletivo quando o autor afirma: “o sertão é dentro da gente” (ROSA, 2006, p. 309)
            O “sertão” adquire, assim, muitos sentidos ao longo da história além do espaço físico geográfico.  No que tange ao espaço Guimarães Rosa imprime um caráter de infinitude quando diz que o sertão é do tamanho do mundo. Contudo, numa ausência de palavras para descrevê-lo, diz simplesmente: “o sertão: o senhor sabe”. (ROSA, 2006, p. 390).





 ¹Através de sua personagem Riobaldo, Rosa fala de uma Minas Gerais quase sempre deslocada do centro da historiografia produzida sobre o Estado. Refiro-me aos Gerais, ao sertão mineiro, território dos jagunços, dos coronéis, do gado, da amplidão dos campos, da aridez do cerrado. Cenário tão vivo, pulsante e rico de história quanto as regiões das Minas propriamente ditas (das vilas coloniais do Século XVIII, caracterizadas pela vida girando em torno da exploração mineral)
 A região que virou cenário tão fortemente presente na obra de Guimarães Rosa inspira roteiros turísticos contemporâneos e serviu de motivação para a criação do primeiro circuito turístico literário de que se tem notícia – o Circuito Guimarães Rosa. Maiores informações sobre esses roteiros podem ser encontradas no site do Circuito - < http://circuitoguimaraesrosa.com.br/ > - e em recente reportagem do jornal Estado de Minas – ver LOBATO, Paulo Henrique. Caminhos de Rosa. Estado de Minas. Turismo. 19 de junho de 2012, p. 1, 4 e 5. (LIMA, 2012)

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