domingo, 20 de julho de 2014

"A POÉTICA ROSEANA" Capítulo 5.5.4

         (O Discurso)


O senhor... Mire, veja:
João Guimarães Rosa

            O discurso, em si, é uma construção linguística atrelada ao contexto social no qual o texto é desenvolvido. Ou seja, as ideologias presentes em um discurso são diretamente determinadas pelo contexto político-social em que vive o seu autor. O termo discurso pode ser definido, do ponto de vista linguístico, como um encadeamento de palavras, ou uma sequência de frases, segundo determinadas regras gramaticais e numa determinada ordem, de modo a indicar a outro  que lhe pretendemos comunicar/significar alguma coisa. Os discursos desempenham diversas funções, assumem várias modalidades e utilizam diferentes tipos  de linguagens e estilos. Entre os tipos de discurso, cita-se o discurso direto, indireto e indireto livre.
            Na obra Grande Sertão: Veredas,  a narrativa tem início com um travessão o que caracteriza o discurso direto. Josiana Drumond em seus estudos declara  que:
a narrativa começa com um travessão, signo do discurso direto. No entanto, o travessão é seguido da palavra “nonada”¹ e de um ponto final. O discurso direto em GSV configura uma situação dialógica singular, visto que o interlocutor não participa do diálogo. A alteridade em forma de silêncio é uma presença importante, pois seu mutismo faz parte do discurso. Não há troca de falas, mas há o intervalo, o reconhecimento da alteridade, o adiamento reflexivo da fala reiterada. (DRUMOND, 2005, p. 126).

            No decorrer da história, porém, comprova-se o discurso indireto no verbo discendi no pretérito perfeito e a voz do narrador-personagem  indiretamente  nos diálogos das personagens:
–“Tal a tal, o Chefe tira mais finíssimas artimanhas do que o Zé Bebelo próprio”... – um disse.
– “À fé, que determina com a mesma justiça que Medeiro Vaz”... – outro falou mais aduloso. (p.480).
–  “Arara for?’” – ele me disse (p.105).
– “Que é que a gente sente quando tem medo?” – ele indagou, mas não estava remoqueando; (p. 106).

            É Riobaldo, narrador-personagem,  que  conta a história, intermedeia e relata os fatos. Além disso, esse tipo de discurso determina a visão do foco narrativo.

 





¹ Segundo alguns estudiosos a palavra Nonada significa “coisa sem importância.” (Para alguns   habitantes do sertão mineiro, sem qualquer comprovação científica, a palavra “nonada”, significa também, negação peremptória  de algo.)

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