O senhor... Mire, veja:
João Guimarães Rosa
O discurso, em si, é uma
construção linguística atrelada ao contexto social no qual o texto é
desenvolvido. Ou seja, as ideologias presentes em um discurso são diretamente
determinadas pelo contexto político-social em que vive o seu autor. O termo discurso pode ser definido, do ponto de vista linguístico,
como um encadeamento de palavras, ou uma sequência de frases, segundo
determinadas regras gramaticais e numa determinada ordem, de modo a indicar a
outro que lhe pretendemos
comunicar/significar alguma coisa. Os discursos
desempenham diversas funções, assumem várias modalidades e utilizam diferentes
tipos de linguagens e estilos. Entre os
tipos de discurso, cita-se o discurso direto, indireto e indireto livre.
Na obra Grande Sertão: Veredas, a
narrativa tem início com um travessão o que caracteriza o discurso direto. Josiana Drumond em seus estudos declara que:
a
narrativa começa com um travessão, signo do discurso direto. No entanto, o
travessão é seguido da palavra “nonada”¹ e de um ponto final. O discurso direto em GSV configura uma situação
dialógica singular, visto que o interlocutor não participa do diálogo. A
alteridade em forma de silêncio é uma presença importante, pois seu mutismo faz
parte do discurso. Não há troca de falas, mas há o intervalo, o reconhecimento
da alteridade, o adiamento reflexivo da fala reiterada. (DRUMOND, 2005, p.
126).
No decorrer da história, porém,
comprova-se o discurso indireto no verbo discendi
no pretérito perfeito e a voz do narrador-personagem indiretamente
nos diálogos das personagens:
–“Tal a tal, o Chefe tira mais finíssimas artimanhas do que o Zé
Bebelo próprio”... – um disse.
– “À fé, que determina com a mesma justiça que Medeiro Vaz”... –
outro falou mais aduloso. (p.480).
– “Arara for?’” – ele me
disse (p.105).
– “Que é que a gente sente quando tem medo?” – ele indagou, mas
não estava remoqueando; (p. 106).
É Riobaldo,
narrador-personagem, que conta a história, intermedeia e relata os
fatos. Além disso, esse tipo de discurso determina a visão do foco narrativo.
¹ Segundo alguns
estudiosos a palavra Nonada significa “coisa
sem importância.” (Para alguns
habitantes do sertão mineiro, sem qualquer comprovação científica, a
palavra “nonada”, significa também,
negação peremptória de algo.)
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