A dimensão política da formação do professor
Considerei profícua a reunião realizada, dias
atrás, na creche onde trabalho, com a presença dos pais e de funcionárias. As
falas, da Diretora Rosa Alves, e da Especialista em Educação Maria Goreti S. Santos, foram bem
argumentativas no sentido de esclarecer e afirmar aos pais sobre o desenvolvimento
de suas crianças e o papel da escola na
educação de seus filhos. Sobre a importância da parceria que deve existir entre
as famílias e a escola. A educação informal é um dever e um direito a ser
ministrado às crianças, pelas famílias, cabendo à escola a transmissão de
conhecimentos ou seja, a educação formal. Ambas devem ser iniciadas já na
primeira infância, com amor e com firmeza para que haja resultados.
Educar
não é fácil, mas é imperioso. Segundo Maria Goreti, e também penso assim, quem se
dispõe a trabalhar com crianças tão pequenas, deve fazê-lo porque gosta. Embora a creche, atualmente, esteja perdendo
a concepção de “assistencialista”, fica difícil dissociar o “cuidar” do
“educar”. Isso porque uma ação completa a outra e também podem ser sinônimos.
Segundo o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (1998, p.23):
Educar significa
(...) propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas
de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das
capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em
uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas
crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Neste
processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de
apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais,
estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças
felizes e saudáveis.
A
educação nesses parâmetros acontece no período em que a criança está na creche
até a pré-escola. No ensino fundamental ocorrem mudanças significativas, mas
ainda assim, existem brincadeiras e formas lúdicas de aprendizagens.
Já
sobre o aspecto “cuidar” o RCNEI (1998, p.24)esclarece que:
Contemplar o cuidado
na esfera da instituição da educação infantil significa compreendê-lo como
parte integrante da educação, embora possa exigir conhecimentos, habilidades e
instrumentos que extrapolam a dimensão pedagógica. Ou seja, cuidar de uma
criança em um contexto educativo demanda a integração de vários campos de
conhecimentos e a cooperação de profissionais de diferentes áreas. A base do
cuidado humano é compreender como ajudar o outro a se desenvolver como ser
humano. Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O
cuidado é um ato em relação ao outro e a si próprio que possui uma dimensão
expressiva e implica em procedimentos específicos.
Naturalmente, que ao deixar o filho na
creche, os pais esperam que ele seja bem cuidado, que o profissional tenha um
olhar diferenciado, “com carinho”. E isso deve ser feito por todos que têm um
contato direto com a criança. A sociedade também espera isso, uma vez que do
resultado desse ato depende sua própria evolução.
Talvez a percepção dessa realidade ainda não
tenha alcançado a dimensão que merece. Além da responsabilidade moral, o fato
de que, todos, precisamos educar e cuidar de nossas crianças, para um futuro
melhor, ainda não está cristalizado. Reside nisso, a necessidade da tomada de
consciência do profissional, que atua na educação infantil, da importância do
seu papel nesse processo. Embora sejam importantes e fundamentais os cuidados
básicos que o profissional da educação infantil despende à criança no dia a
dia, é preciso que ele tenha noção da dimensão política do seu trabalho. Segundo Joe Kincheloe (1997), a formação pedagógica
do professor é inerentemente política, pois nos leva a agir criticamente diante
à manutenção de situações institucionais dominantes e a buscar outros arranjos
educativos, da escolarização e da própria formação por meio de atitudes
sociais, econômicas e políticas que os acompanha.
Pensar a
educação como ato de conhecimento e não vê-la como um ato político é não
compreender os interesses que movem a sociedade e o seu potencial transformador
dessa mesma sociedade.
Todavia, se a família
continuar a se omitir, não assumindo o seu papel de responsável pelos próprios
membros, desde a primeira infância até a idade adulta, delegando à escola uma responsabilidade
que não é dela, todo o esforço dos profissionais da educação terá sido em vão.
Lécia Conceição de Freitas
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