segunda-feira, 16 de março de 2015

A dimensão política da formação do professor

Considerei profícua a reunião realizada, dias atrás, na creche onde trabalho, com a presença dos pais e de funcionárias. As falas, da Diretora Rosa Alves, e da Especialista em Educação  Maria Goreti S. Santos, foram bem argumentativas no sentido de esclarecer e afirmar aos pais sobre o desenvolvimento de suas crianças e o  papel da escola na educação de seus filhos. Sobre a importância da parceria que deve existir entre as famílias e a escola. A educação informal é um dever e um direito a ser ministrado às crianças, pelas famílias, cabendo à escola a transmissão de conhecimentos ou seja, a educação formal. Ambas devem ser iniciadas já na primeira infância, com amor e com firmeza para que haja resultados.
            Educar não é fácil, mas é imperioso. Segundo Maria Goreti, e também penso assim, quem se dispõe a trabalhar com crianças tão pequenas, deve fazê-lo porque gosta.  Embora a creche, atualmente, esteja perdendo a concepção de “assistencialista”, fica difícil dissociar o “cuidar” do “educar”. Isso porque uma ação completa a outra e também podem ser sinônimos. Segundo o Referencial Curricular Nacional para  Educação Infantil (1998, p.23):
Educar significa (...) propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis.
A educação nesses parâmetros acontece no período em que a criança está na creche até a pré-escola. No ensino fundamental ocorrem mudanças significativas, mas ainda assim, existem brincadeiras e formas lúdicas de aprendizagens.
Já sobre o  aspecto “cuidar” o RCNEI (1998, p.24)esclarece que:
Contemplar o cuidado na esfera da instituição da educação infantil significa compreendê-lo como parte integrante da educação, embora possa exigir conhecimentos, habilidades e instrumentos que extrapolam a dimensão pedagógica. Ou seja, cuidar de uma criança em um contexto educativo demanda a integração de vários campos de conhecimentos e a cooperação de profissionais de diferentes áreas. A base do cuidado humano é compreender como ajudar o outro a se desenvolver como ser humano. Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O cuidado é um ato em relação ao outro e a si próprio que possui uma dimensão expressiva e implica em procedimentos específicos.
Naturalmente, que ao deixar o filho na creche, os pais esperam que ele seja bem cuidado, que o profissional tenha um olhar diferenciado, “com carinho”. E isso deve ser feito por todos que têm um contato direto com a criança. A sociedade também espera isso, uma vez que do resultado desse ato depende sua própria evolução.
Talvez a percepção dessa realidade ainda não tenha alcançado a dimensão que merece. Além da responsabilidade moral, o fato de que, todos, precisamos educar e cuidar de nossas crianças, para um futuro melhor, ainda não está cristalizado. Reside nisso, a necessidade da tomada de consciência do profissional, que atua na educação infantil, da importância do seu papel nesse processo. Embora sejam importantes e fundamentais os cuidados básicos que o profissional da educação infantil despende à criança no dia a dia, é preciso que ele tenha noção da dimensão política do seu trabalho. Segundo Joe Kincheloe (1997), a formação pedagógica do professor é inerentemente política, pois nos leva a agir criticamente diante à manutenção de situações institucionais dominantes e a buscar outros arranjos educativos, da escolarização e da própria formação por meio de atitudes sociais, econômicas e políticas que os acompanha.
Pensar a educação como ato de conhecimento e não vê-la como um ato político é não compreender os interesses que movem a sociedade e o seu potencial transformador dessa mesma sociedade.
Todavia, se a família continuar a se omitir, não assumindo o seu papel de responsável pelos próprios membros, desde a primeira infância até a idade adulta, delegando à escola uma responsabilidade que não é dela, todo o esforço dos profissionais da educação terá sido em vão.

 Lécia Conceição de Freitas


Nenhum comentário:

Postar um comentário