A ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Antes dos anos 70 (Bellés, 2001),
acreditava-se que as crianças não possuíam nenhum entendimento ou conhecimento
com relação à escrita.Só iriam desenvolvê-lo através de métodos utilizados na
escola. As professoras, durante muito tempo, defenderam a ideia de que a
criança para ser alfabetizada deveria passar por testes de prontidão.
A realidade que encontramos
atualmente nas escolas infantis está muito diferente daquelas descritas em
décadas passadas. Estamos vivendo um complexo
processo de mudanças que afeta a sociedade e consequentemente estruturas
educacionais, exige-se aspectos dinâmicos e qualitativos. Com o passar dos anos
e com os avanços nas pesquisas, hoje sabemos que as crianças não precisam
frequentar uma escola para terem contato com a escrita.
Portanto, assim como o adulto, a criança
convive com a leitura e escrita em todos os momentos, como por exemplo, ao manejar
um livro de histórias infantis, ao pegar a embalagem de algum brinquedo, ao
simples fato de estar passando e observar os outdoors, propagandas, vitrines, entre outros. Quanto a esta
realidade Ferreiro e Teberosky (1999) dizem que “é bem difícil imaginar que uma
criança de 4 ou 5 anos, que cresce num ambiente urbano no qual vai reencontrar,
textos escritos em qualquer lugar não faça nenhuma ideia a respeito da natureza
desse objeto cultural até ter 6 anos e ter uma professora à sua frente”.
Tais fatos são reconhecidos pelas escolas
infantis atualmente, assim, quanto mais se oferecer à criança o contato com
diferentes linguagens, maior será seu universo cultural. As escolas precisam
estar atentas ao momento certo de começar a introduzir a alfabetização. E esta
é uma pergunta que sempre está em pauta nas reuniões: devemos ou não alfabetizar
na educação infantil?
O desenvolvimento da linguagem escrita não é, portanto, a única razão de ser da
educação pré-escolar (FACCHINI, 1999). A educação infantil preocupa-se em
desenvolver ações que envolvam o conhecimento, socialização, construção de
autonomia, criatividade, solidariedade, cooperação, e a autoconfiança.
O papel da educação infantil, (CASTRO, 1986)
é de proporcionar um ambiente rico em desafios, respeitar a espontaneidade e a
criatividade da criança, favorecer
informações sobre o mundo que a cerca, satisfazer necessidades emocionais,
sociais e físicas. A alfabetização, quando não estimulada, é consequência
dessas oportunidades vivenciadas na educação infantil.
Durante muitos anos, acreditou-se que a
educação infantil, antiga pré-escola, tinha como funções principais a formação
de hábitos, atitudes e a preocupação para o ingresso na 1ª série do ensino
fundamental, priorizava-se atividades que envolvessem o desenhar, recortar,
colar, pintar, modelar, correr, ouvir, cantar, entre outras, para que pudessem
desenvolver as “habilidades’ do ler e escrever. Partia-se do princípio de que a
criança deveria ter uma “maturidade” visível para começar o processo de
alfabetização. Nas décadas de 60 e 70 eram aplicados testes de prontidão, o
chamado “ABC”, criado por Lorenzo Filho (1960, apud Ferreiro e Teberosky,
1999), o qual decidia-se se uma criança poderia ou não começar sua aprendizagem
sistemática, era necessário que possuísse “um mínimo de maturidade” na
coordenação viso-motora e auditivo-motora, além de um bom quociente intelectual
e de um mínimo de linguagem”.
Hoje, essas concepções sofreram mudanças,
algumas crianças alfabetizaram-se sozinhas, sem precisar passar por todas essas
atividades.
A pré-escola precisa ser um espaço onde a
criança tenha contato com a leitura e a escrita. Onde possa pensar sobre o que
representa e de que modo se comunica através da escrita, onde a leitura e a
escrita possam ser utilizadas com sentido (SAMPAIO, 1997, p.61).
Algumas pesquisas já foram realizadas sobre o
verdadeiro papel da educação infantil. Abramovay e Krammer (1987, apud MACHADO,
1991, p.16) comentaram sobre suas opiniões a respeito do assunto e ressaltaram
que: “quando dizemos que a pré-escola
tem uma função pedagógica, estamos nos referindo, portanto, a um trabalho que
toma a realidade e os conhecimentos infantis como ponto de partida e os amplia, através de atividades
que têm um significado concreto para a vida das crianças e que,
simultaneamente, asseguram a aquisição de novos conhecimentos.
A alfabetização na educação infantil é um
assunto que vem sendo estudado e debatido durante anos. No entanto, a discussão
apresenta duas linhas de pensamento: a que defende a alfabetização na educação infantil
e a que acredita ser necessário um certo grau de maturidade a qual as crianças na
faixa etária ente 4 e 5 anos não desenvolveu. Muitos pesquisadores acreditam
que a função da educação infantil não é alfabetizar, porém para Cagliari (1999, p. 106, 107) “aos cinco anos
uma criança está mais que pronta para ser alfabetizada [...], nessa idade, ela
já conheceu e aprendeu muita coisa da vida, do mundo e até da história, já
testou sua participação na sociedade, seu relacionamento com pessoas diferentes”,
mas “isso não significa que ela queira
ser alfabetizada”.
Krammer e Abramovay (19986) acreditam “que
não há qualquer tipo de impedimento teórico ou argumentação que justifique a
impossibilidade de se alfabetizar na pré-escola” (p. 1750).
O pleno êxito no processo de aprender a ler e
escrever requer, portanto, a integração de dois níveis de conhecimento. O
primeiro, de natureza intuitiva, consiste de uma capacidade para usar
apropriadamente a língua escrita enquanto instrumento de comunicação. O segundo,
de natureza consciente, emite uma compreensão de como as unidades de som estão representadas
na escrita. A construção e a integração desses dois níveis de conhecimento é
uma conquista da criança, movida pelo seu interesse no objeto língua escrita, e facilitada pelas interações
com adultos, envolvendo uma exploração ativa da leitura e da escrita. As
pseudo-leitura e pseudo-escrita parecem construir parte importante desse
processo, que é sobretudo um processo de descoberta. (REGO, 1988, p.132).
Poersch (1992, apud FACCHINI, 1999, p.19) afirma
“a alfabetização, em geral, se processa por volta dos sete anos. A alfabetização
exige um determinado estágio de amadurecimento global. Enquanto esse estágio
não tiver sido atingido pela criança, não convém forçá-la a adquirir uma
habilidade para a qual não está preparada”.
Lima (1991, p.65) acredita que a idade
historicamente escolhida de sete anos para o início da escolaridade (alfabetização)
e da aprendizagem propriamente dita, não se trata de mera coincidência, ou seja,
“esta escolha certamente resultou da observação intuitiva das crianças, pois é
nessa idade que elas estão capacitadas, por já possuírem uma estrutura mental operatória,
a compreender regras e obedecê-las, a organizar-se no mundo e organizá-lo”.
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