ALFABETIZAÇÃO
A alfabetização consiste no aprendizado do
alfabeto e sua utilização como código de comunicação. De um modo mais
abrangente, a alfabetização é definida como um processo no qual o indivíduo
constrói a gramática e em suas variações. Esse processo não se resume apenas na
aquisição dessas habilidades mecânicas (codificação e decodificação) do ato de
ler, mas na capacidade de interpretar, compreender, criticar, ressignificar e
produzir conhecimento.
Ela envolve também o desenvolvimento de novas
formas de compreensão e uso da linguagem de uma maneira geral.
A alfabetização de um indivíduo promove sua
socialização, já que possibilita o estabelecimento de novos tipos de trocas
simbólicas com outros indivíduos, acesso a bens culturais e às facilidades oferecidas
pelas instituições sociais.
É considerada um fator propulsor do exercício consciente da
cidadania e do desenvolvimento da sociedade como um todo.
Vê-se, portanto, que é um processo de grande
complexidade. Para que seja eficiente, será necessário que se utilize um método
que se utilize adequadamente.
MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO
TRADICIONAIS
Sintéticos:
alfabético
fonético ou fônico
silábico
Analítico:
palavração
sentenciação
global
Método sintético:
—
parte das partes para o todo, do desconhecido para o conhecido, é o método do
bê-a-bá.
Método analítico:
— a
aprendizagem da escrita não pode ser feita por fragmentos de palavras, mas por seu significado.
Primeiro percebe-se o todo, depois as partes.
MÉTODO ALFABÉTICO
Consistia em apresentar partes mínimas da escrita, cuja unidade eram as letras do alfabeto, que, ao se juntarem umas às outras, formavam as sílabas que dariam origem às palavras. Os aprendizes deveriam decorar o alfabeto, letra por letra, para achar as partes que formariam a sílaba ou outro segmento da palavra, para somente depois entender que isso poderia se transformar numa palavra.
O método alfabético trazia uma vantagem: no próprio nome de cada letra do alfabético (com algumas exceções) está contido o seu som. Entretanto, no momento da leitura das palavras, na junção das partes feitas mediante a pronúncia do nome das letras, ocorria um percurso tortuoso. Era preciso pronunciar primeiro o nome da letra, mas também abstrair os outros sons existentes em seu nome. Isso era necessário porque, ao se pronunciar o nome da letra, entravam sons que não pertenciam a sílaba ou à palavra. Tente imaginar a abstração necessária ao aprendiz, para retirar o excesso de sons na palavra que se soletra assim: “bê a/ba, ene a/na, ene a/na : banana”. Talvez por isso tenham sido criados outros alfabetos, como o popular de regiões do Nordeste; a,bê, cê, dê, ê, fê, (...) lê, me, nê, etc. que ajudam a eliminar algumas sobras de sons, na hora da junção de letras, Assim, se poderia soletrar, com menos sacrifícios: “bê-a-bá, nê-a-na, nê-a-na: banana”.
MÉTODOS FONÉTICOS OU FÔNICOS
O princípio é o da necessidade de ensinar uma relação direta entre fonema e grafema, para que se relacione a palavra falada com a escrita. Dessa forma, a unidade mínima é o som. Cada letra (grafema) á aprendida como um fonema (som) que, junto a outro fonema, pode formar sílabas e palavras. Para o ensino dos sons, há uma sequência que deve ser respeitada, indo dos sons mais fáceis para os mais complexos. Na organização do sentido, a ênfase na relação som/letra é o principal objetivo.
Esse método traz uma vantagem. Nos casos em que realmente há uma correspondência direta entre a fala e sua representação escrita, os aprendizes vão decifrar rapidamente, desde que entendam essa relação e decorem as correspondências. Casos de correspondência mais direta entre fonemas e letras, por exemplo, descritos por Lemle são p/b, v/f, t/d. Essas letras, em qualquer posição, seja no início, meio ou fim de sílaba, sempre serão decodificadas/lidas da forma como se escreve e também serão codificadas/escritas, da forma como se fala.
No entanto, existem alguns problemas: há variações dialetais na pronúncia das palavras e, mesmo assim, elas são escritas de forma estável. Por outro lado, várias palavras são escritas de uma forma e pronunciadas de outra, como tomate (“tumati”). Uma letra pode representar diversos sons, segundo sua posição na palavra (letra “s” em final e início de sílaba, entre vogais, vai ser pronunciada diferentemente) e um som pode ser representado por várias letras: o som “u” pode ser representado pela letra “u” (uva) e pela letra “o” (ralo) e pela letra “l” (funil). Então, o princípio de relação direta da fala com escrita não se aplica, na maioria dos casos. Por isso, temos a ortografia e diversas convenções para estabilizar essas diferenças de representação.
Outro problema identificado é que a consoante é uma unidade abstrata, não pronunciável sem o apoio de uma vogal. É por isso que, ao ensinar o fonema /f/, por exemplo, era preciso pronunciá-lo com o apoio de uma vogal, que ficava meio escondida na emissão sonora, para que pudesse se materializar o “som”.
Para aliviar essa falta de sentido e aproximar os alunos de algum significado, foram criadas variações do método fônico. O que diferencia uma modalidade da outra é a maneira de apresentar esses sons: seja a partir de uma palavra, de uma palavra vinculada á imagem e ao som, de um personagem associado a um fonema, ou de uma história para dar sentido à apresentação de fonemas.
MÉTODO SILÁBICO
No método silábico, a principal unidade a ser analisada pelos alunos é a sílaba. No entanto, em várias cartilhas o trabalho inicial centra-se nas vogais e seus encontros, como uma das condições de sistematização posterior das sílabas.
Também no desenvolvimento do método silábico, geralmente é escolhida uma ordem de apresentação feita segundo princípios calcados na ideia do mais fácil para o mais difícil, ou seja, das sílabas “simples” para as “complexas”. Utilizam-se palavras chave apenas para apresentar as sílabas, que são destacadas de palavras e estudadas sistematicamente em famílias silábicas, que são recompostas para formar novas palavras. O método permite que se criem novas palavras apenas com as sílabas já apresentadas e, gradativamente, formam-se pequenas frases e textos, também forjados para apresentar somente as combinações entre sílabas já estudadas.
O método silábico tem uma vantagem: ao trabalhar com a unidade sílaba, atende-se a um princípio importante facilitador da aprendizagem: quando falamos, pronunciamos sílabas e não letras ou sons separados. Assim, suprime-se a etapa mais tortuosa por que passa o aluno ao tentar transformar letras ou sons em sílabas, como nos métodos de soletração ou fônicos.
Por outro lado, o método silábico se presta bem a um trabalho com determinadas sílabas às quais o princípio de relação direta do fonema (som) com o grafema (letra) não se aplica bem, quer para a escrita, quer para a leitura. Existem várias sílabas que comportam mais letras do que pronunciamos: temos sílabas até de cinco letras, como, por exemplo, a sílaba “trans” da palavra “transformação” (imagine alguém soletrando ou fonetizando som por som nessa palavra) ou a sílaba da palavra “chuva”.
MÉTODO PALAVRAÇÃO
Com ênfase na palavra, temos o método denominado palavração.
Nesse método, apresenta-se uma palavra, que posteriormente é decomposta em sílabas. Mas você pode estar se perguntando: não é o mesmo processo do método silábico? A diferença desse método em relação ao silábico é que as palavras não são decompostas obrigatoriamente no início do processo, são aprendidas globalmente e por reconhecimento.
A escolha de palavras não obedece ao princípio do mais fácil ou mais difícil. São apresentadas independentes de suas peculiaridades.
MÉTODO SENTENCIAÇÃO
Nesse, a unidade é a sentença que, depois de reconhecida globalmente e compreendida, será decomposta em palavras e, finalmente, em sílabas.
Esse método de ensino da leitura que começa com a frase, depois passa às palavras e depois às letras. Opõe-se ao método de silabação e soletração.
MÉTODO GLOBAL DE CONTOS
Mais tardios, do ponto de vista histórico, são o aparecimento e a utilização do método global de contos ou de historietas. Nesse método, a unidade tomada como ponto de partida, é o texto.
Na produção dos chamados “pré-livros”, tanto poderia ser utilizado um texto já conhecido de antemão (como foi o caso do pré-livro Os Três Porquinhos de Lúcia Casassanta) como um texto desconhecido, em que cada lição é um conto completo, ainda que os personagens sejam os mesmos (nesse caso, O Livro de Lili, de Anita Fonseca, autora mineira, é um exemplar dessa forma de organização).
A marcha seguida, então, com algumas variações, parte do reconhecimento global de um texto, que é memorizado e “lido” durante certo período, para o reconhecimento de sentenças, seguido do reconhecimento de expressões (porções de sentido), de palavras e, finalmente, das sílabas. Aqui não estamos falando de um processo sequencial e quase simultâneo entre essas fases. Tomando como foco o sentido, o professor encaminhava o processo de alfabetização, utilizando, por um período mais longo, os textos completos de várias lições seguidas. Somente após esse convívio maior com o texto é que viria uma forma de decomposição, mas com o cuidado de fragmentar o texto em parcelas maiores como a sentença e a palavra. Assim, se um livro constava de lições, após a quarta lição, por exemplo, é que se fazia a fragmentação em sentenças da primeira aprendida.Quando se estava na sexta lição é que se fazia a palavração da segunda lição, e assim por diante. Esse movimento mostra o cuidado em não se chegar, de forma abruta, a unidades menores e, portanto, sem sentido.
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