Procedimentos
de Análise
O método Harris torna como
unidade de análise o próprio enunciado. Esse método se baseia na linearidade
do discurso e propõe que se observe a
ligação entre os enunciados a partir de conectivos, objetivando equacionar essa
linearidade em classes de equivalência.
Dubois se vale desse
método como uma forma de evidenciar o
que havia de regular, de constante em cada um dos discursos contrastados. Para
Pêcheux, a deslinearização decorrente das transformações permitia perceber os
traços dos processos discursivos, ou seja,
os processos pelos quais um discurso se constituía como tal.
Harris restringe-se a uma
concepção de discurso como uma sequência de enunciados, sendo essa definição
insuficiente para os propósitos da AD
que buscava reintegrar uma teoria do sujeito e uma teoria da situação. Assim
Pêcheux passa a considerar a oposição enunciação e enunciado. A primeira se
refere às condições de produção do discurso e o segundo se refere à superfície
discursiva resultante dessas condições. Já Chomsky postula a existência de um
sistema de regras internalizadas responsável pela geração das sentenças. A
possibilidade de produzir uma análise nesses moldes aponta um caminho para a Ad
reintegrar as teorias do sujeito e da situação. Se o sistema de regras é responsável
pela geração de discursos. Para a AD a enunciação não é desvio, mas um processo
constitutivo da matéria anunciada.
Este último procedimento
de análise, produtivo para a Ad, formular e reformular seus procedimentos de
análise e seu objeto de estudo que definirão o que chamamos as fases da AD.
Fases
da AD: Os Procedimentos da Análise e a Definição do Objeto
A primeira época da
análise do discurso explora a análise de discursos mais “estabilizada”, pouco
polêmicas. Os discursos políticos teórico-doutrinários são um bom exemplo por gerarem discursos através
de uma produção mais estável e homogênea. Um debate entre comunistas e liberais
não geraria um discurso passível de estudo na AD1 por serem instáveis.....
Para se analisar a AD1
primeiro selecionamos um corpus fechado
sequências discursivas, em seguida faz-se a análise linguística de cada
sequência , considerando as construções sintáticas e o léxico, passa-se depois
à análise discursiva que consiste basicamente em construir sítios de
identidades a partir da percepção da relação de sinonímia e de paráfrase, por
fim procura-se mostrar que tais relações
de sinonímia e paráfrase são decorrentes de uma mesma estrutura geradora do
processo discursivo.
Têm-se então a noção de “máquina
discursiva”: uma estrutura responsável pela geração de um processo discursivo a
partir do que compõe e dá forma a um discurso. Para a AD1 cada processo
discursivo é gerado por uma máquina discursiva. O conceito de formação
discursiva é o dispositivo que desencadeia esse processo de transformação na
concepção do objeto de análise da Análise do Discurso.
Para Foucault a definição
de formação discursiva é um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre
determinadas no tempo e no espaço que definiram em uma época dada, e para uma
área social, econômica, geográfica, ou linguística dada, as condições de
exercício da função enunciativa. Assim uma FD não pode mais ser concebida como
um espaço estrutural fechado. O espaço
de uma FD é atravessado pelos discursos que vieram de outro lugar e é
constituída por uma sistema de paráfrases.
O papel do analista do
discurso seria descrever essa dispersão buscando estabelecer as regras de
formação de cada FD. Nessa segunda fase da AD, o objeto de análise passará a
ser as relações entre as “máquinas discursivas”. Na AD-3 será uma relação
interdiscursiva, portanto que estruturará a identidade das FDs em questão. O
procedimento de análise por etapas, com ordem fixa, como afirma Pêcheux (1983)
explode definitivamente.
As recentes pesquisas
afirmam o primado do interdiscurso, diferentemente da AD1, que concebe a
relação entre os discursos como sendo uma relação entre máquinas discursivas
justapostas, cada uma delas autônomas e fechadas sobre si mesma; e
diferentemente também da AD2, que considera a existência de FDs constituídas independentemente uma das
outras para depois serem postas em relação.
O
conceito de discurso
A Análise do Discurso
considera como parte constitutiva do sentido de um texto o contexto
histórico-social em que ele se insere, se ele é ignorado todo o sentido é
alterado, fazendo com que estes sejam historicamente construídos.
Há textos que se
constituem de discursos divergentes, cujas fronteiras se intersectam, tornando
o texto heterogêneo e não sendo possível
se referir a um dos discursos sem
remeter ao outro, isso mostra que o discurso é um aparelho ideológico através
do qual se dão embates entre posições diferenciadas, o texto se constitui da
relação entre esses embates.
A AD chama de formação
ideológica (FI) esse confronto de forças em um dado momento histórico, sendo
que elas podem entreter entre si relações de aliança e dominação também. O
conceito de formação discursiva (FD) é utilizado pela AD para designar o lugar
onde se articulam discurso e ideologia e
sendo assim é governada por uma formação ideológica. Como a FI coloca em
relação mais de uma força ideológica, uma FD sempre colocará em jogo mais de um
discurso.
Como a FD é um dos
componentes de uma formação ideológica específica, seus limites são instáveis
por causa das lutas ideológicas, suas fronteiras se deslocam em função dos
embates, que podem ser recuperados nas FDs em relação.
Bakthin faz uma crítica à
concepção saussureana de língua como um
sistema monológico e apresenta a noção de dialogismo sobre a qual se funda uma grande parte da Linguística. O
dialogismo do círculo de Bakthin, no entanto, não tem como preocupação central
o diálogo face a face. Authier-Revuz indica algumas formas de heterogeneidade
mostrada no discurso, formas que se articulam sobre a realidade da heterogeneidade
constitutiva de todo discurso. São três tipos
de heterogeneidade:
- aquela em que o locutor
ou usa de suas próprias palavras para
traduzir o discurso de um Outro ou então recorta as palavras do Outro e
as cita;
- aquela em que o locutor
assinala as palavras do outro em seu discurso por meio, por exemplo, de aspas,
itálico, de uma remissão a outro discurso, sem que o fio discursivo seja
interrompido;
- aquela em que a presença
do outro não é explicitamente mostrada na frase, mas é mostrada no espaço do implícito,
do sugerido, como nos casos do discurso indireto livre, da antífrase, da
ironia, da imitação, da alusão.
Formulando hipóteses podemos perceber a presença constante do
Outro na constituição de uma formação
discursiva, que podemos perceber a
realidade da heterogeneidade constitutiva do discurso. É considerada que os
dois níveis de heterogeneidade mostrada, a marcada e a não-marcada, são na
verdade, formas linguísticas de representação de diferentes modos de negociação
do sujeito falante com a heterogeneidade constitutiva, sendo a heterogeneidade
mostrada não-marcada uma forma mais arriscada de negociação porque, o jogar com
a diluição, é mais dificilmente controlada pelo sujeito.
Sempre existe numa
formação discursiva, a presença do Outro, e é essa presença que confere ao
discurso o caráter de ser heterogêneo. A unidade de análise pertinente não é o
discurso, mas um espaço de trocas entre vários discursos. Os diversos discursos
que atravessam uma FD não passam de componentes, ou seja, em termos de gênese,
tais discursos não se constituem
independentemente uns dos outros para serem, em seguida, postos em
relação, mas se formam de maneira regulada no interior de um interdiscurso.
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