APRENDIZAGEM
O processo de organização das informações e
de integração do material à estrutura
cognitiva é o que os cognitivistas denominam aprendizagem.
A abordagem cognitivista diferencia a
aprendizagem mecânica da aprendizagem significativa.:
- Aprendizagem mecânica
refere-se à aprendizagem de novas informações com pouca ou nenhuma
associação com conceitos já existentes na estrutura cognitiva.
- Aprendizagem
significativa processa-se quando
um novo conteúdo (ideias ou informações) relaciona-se com conceitos
relevantes, claros e disponíveis na estrutura cognitiva, sendo assim
assimilado por ela. Esses conceitos disponíveis são os pontos de ancoragem
da aprendizagem.
MOTIVAÇÃO
A motivação continua sendo um
complexo tema para a Psicologia e, particularmente, para as teorias de
aprendizagem e ensino. Atribuímos às condições motivadoras o sucesso ou o
fracasso dos professores ao tentar ensinar algo a seus alunos. Apesar de
dificilmente detectarmos o motivo que
subjaz a algum tipo de comportamento, sabemos que sempre há algum.
O estudo da motivação considera três tipos de
variáveis:
- O ambiente;
- As forças internas do indivíduo,
como necessidade, desejo, vontade, interesse, impulso, instinto;
- O objeto que atrai o indivíduo por
ser fonte de satisfação da força interna que o mobiliza.
A motivação é, portanto, o processo que
mobiliza o organismo para a ação, a partir de uma relação estabelecida entre o
ambiente, a necessidade e o objeto de satisfação. Isso significa que, na base
da motivação, está sempre o interesse, uma vontade ou uma predisposição para
agir. Na motivação está também incluído
o ambiente que estimula o organismo e que oferece o objeto de satisfação. E, por fim, na motivação está
incluído o objeto que aparece como a possibilidade de satisfação da
necessidade.
A gíria possui um termo bastante apropriado
para a significação de motivação: “estar a fim”. Quando dizemos “estamos a fim
de”, estamos expressando nossa motivação. E vejamos num exemplo: “Estou a fim
de ler este livro todo” – o livro aparece como um elemento do ambiente que
satisfará minha necessidade ou desejo de conhecer um pouco de Psicologia. O
próprio ambiente, de alguma forma, gerou em mim esse interesse, ou porque li
outros livros que falavam do assunto, ou porque meu colega citou a Psicologia
como uma ciência interessante, ou porque vi uma psicóloga em um filme e me
interessei. Ambiente – organismo – interesse ou necessidade – objeto de
satisfação. Está montada a cadeia da satisfação.
Retomando, podemos dizer que a motivação é um
processo que relaciona necessidade, ambiente e objeto, e que predispõe o
organismo para a ação em busca da satisfação da necessidade. E, quando esse
objeto não é encontrado, falamos em frustração.
MOTIVAÇÃO E O PROCESSO ENSINO – APRENDIZAGEM
A motivação está presente como
processo em todas as esferas de nossa vida – no trabalho, no lazer, na escola.
A preocupação do ensino tem sido a de criar
condições tais, que o aluno “fique a fim” de aprender. Sem dúvida, não é fácil,
pois acabamos de dizer que precisa haver uma necessidade ou desejo, e o objeto
precisa surgir como solução para a necessidade. Duplo desafio: criar a
necessidade e apresentar um objeto adequado para sua satisfação.
Resolver esse problema é, sem dúvida, a
tarefa mais difícil que o professor enfrenta. Consideraremos abaixo alguns
pontos:
a.
uma possibilidade é que o trabalho
educacional parta sempre das necessidades que o aluno traz, introduzindo ou
associando a elas outros conteúdos ou motivos.
b.
outra possibilidade, não excludente, é criar
outros interesses no aluno.
E como podemos pensar em criar
interesse?
1.
Propiciando a descoberta. Burner é defensor
desta proposta. O aluno deve ser desafiado, para que deseje saber, e uma forma
de criar esse interesse é dar a ele a possibilidade de descobrir.
2.
Desenvolver nos alunos uma atitude de
investigação, uma atitude que garanta o desejo mais duradouro de saber, de
querer saber sempre. Desejar saber deve passar a ser um estilo de vida. Essa atitude pode ser
desenvolvida com atividades muito simples, que começam pelo incentivo à
observação da realidade próxima ao aluno – sua vida cotidiana – , os objetos
que fazem parte de seu mundo físico e social. Essas observações,
sistematizadas, vão gerar dúvidas (por que as coisas são como são?) e aí é
preciso investigar, descobrir.
3.
Falar ao aluno sempre numa linguagem
acessível, de fácil compreensão.
4.
Os exercícios e tarefas deverão ter um grau
adequado de complexidade. Tarefas muito difíceis, que geram fracasso, e tarefas
fáceis, que não desafiam, levam à perda do interesse. O aluno não “fica a fim”.
5.
Compreender a utilidade do que se está
aprendendo é também fundamental. Não é difícil para o professor estar sempre retomando
em suas aulas a importância e utilidade que o conhecimento tem e poderá ter
para o aluno. Somos sempre “a fim” de aprender coisas que são úteis e têm
sentido para a nossa vida.
TEORIAS ATUAIS
As
teorias de Vigotski e Piaget (que embasaram a produção de Emília Ferreiro) são,
hoje, referência na questão da aprendizagem e, o mais interessante, é que essas
duas teorias são muita antigas à Psicologia.
VIGOTSKI
Esse autor produziu toda a sua obra no início
do nosso século, pois morreu cedo, deixando aos colegas de trabalho a tarefa de
completar sua teoria. Hoje, sessenta anos após sua morte, o autor volta á tona
com o merecido reconhecimento pela sua contribuição à Educação e à Psicologia.
Na década de vinte e inicio dos anos 30,
Vigotski dedicou à construção da crítica à noção de que se poderia construir
conhecimento sobre as funções psicológicas superiores humanas a partir de
experiência com animais. Ele criticou, também, as concepções que afirmavam
serem as propriedades intelectuais dos homens resultado da maturação do
organismo, como se o desenvolvimento estivesse predeterminado e, o seu
afloramento, vinculado apenas á questão de tempo. Vigotski buscou as origens sociais dessas
capacidades humanas. Além disso, via o pensamento marxista como uma fonte
científica de grande valor para a solução dos paradoxos científicos fundamentais
que incomodavam a Psicologia no início do século.
·
Os fenômenos devem ser estudados em movimento
e compreendidos como em permanente transformação. Na Psicologia, isso significa
estudar o fenômeno psicológico em sua origem e no curso de seu desenvolvimento.
·
A história dos fenômenos é caracterizada por
mudanças qualitativas e quantitativas. Assim, o fenômeno psicológico
transforma-se no decorrer da história da humanidade, e processos elementares
tornam-se complexos.
·
As mudanças
na “natureza do homem” são
produzidas por mudanças na vida material e na sociedade.
·
O sistema de signos (a linguagem, a escrita,
o sistema de números) é pensado como um sistema de instrumentos, os quais foram
criados pela sociedade, ao longo de sua história. Esse sistema muda a forma
social e o nível de desenvolvimento cultural da humanidade. A internalização
desses signos provoca mudanças no homem. Seguindo a tradição marxista, Vigotski
considera que as mudanças que ocorrem em cada um de nós têm sua raiz na
sociedade e na cultura.
Vigotski tem parte de sua obra dedicada às questões escolares e é por isso que, neste capítulo vamos reunir algumas considerações importantes feitas por ele e que podem contribuir para olharmos os chamados “problemas de aprendizagem” sob uma nova perspectiva: a das relações sociais que caracterizam o processo de ensino-aprendizagem.
Para Vigotski, a aprendizagem sempre inclui
relações entre as pessoas. A relação do indivíduo com o mundo está sempre
mediada pelo outro. Não há como aprender e apreender o mundo se não tivermos o
outro, aquele que nos fornece os significados que permitem pensar o mundo a
nossa volta. Veja bem, Vigotski defende a ideia de que não há um desenvolvimento pronto e previsto dentro
de nós que vai se atualizando conforme o tempo passa ou recebemos influência
externa. O desenvolvimento não é pensado como algo natural nem mesmo como
produto exclusivo da maturação do organismo, o contato com a cultura produzida
pela humanidade e as relações sociais que permitem a aprendizagem. E aí aparece
o “outro” como alguém fundamental, pois esse outro é quem nos orienta no
processo de apropriação da cultura.
Ainda segundo o autor, o desenvolvimento é um processo que se dá de fora para dentro. É no
processo de ensino-aprendizagem que ocorre a apropriação da cultura e o
consequente desenvolvimento do indivíduo.
A aprendizagem da criança inicia-se
muito antes de sua entrada na escola, isto porque desde o primeiro dia de vida,
ela já está exposta aos elementos da cultura e à presença do outro, que se
torna o mediador entre ela e a
cultura. A criança vai aprendendo a
falar e a gesticular, a nomear objetos,a adquirir informação a respeito do
mundo que a rodeia, a manusear os objetos da cultura; ela vai se comportando de
acordo com as necessidades e as possibilidades. Em todas essas atividades está o “outro”.
Parceiro de todas as horas, é ele que lhe diz o nome das coisas, a forma certa
de se comportar; é ele que lhe explica o
mundo, que lhe responde os “porquês”, enfim, é o seu grande intérprete
do mundo. São esses elementos apropriados do
mundo exterior que possibilitam o desenvolvimento do organismo e a
aquisição das capacidades superiores que caracterizam o psiquismo humano.
A
escola surgirá, então, como lugar privilegiado para esse desenvolvimento, pois
é o espaço em que o contato com a cultura é feito de forma
sistemática, intencional e planejada. O desenvolvimento – que só ocorre quando
situações de aprendizagem o provocam – tem seu ritmo acelerado no ambiente
escolar. O professor e os colegas formam um conjunto de mediadores da cultura
que possibilita um grande avanço no desenvolvimento da criança.
A
criança não possui instrumentos endógenos para o seu desenvolvimento. Os
mecanismos de desenvolvimento são dependentes dos processos de aprendizagem,
esses, sim, responsáveis pela emergência de características psicológicas
tipicamente humanas, que transcendem à programação biológica da espécie. O
contato e o aprendizado da escrita e das operações matemáticas fornecem a base
para o desenvolvimento de processos internos altamente complexos no pensamento
da criança. O aprendizado, quando adequadamente organizado, resulta em
desenvolvimento mental, pondo em movimento processos que seriam impossíveis de
acontecer. Esses princípios diferenciam-se de visões que pensam o
desenvolvimento como um processo que
antecede à aprendizagem, ou como um processo já completo, que a viabiliza.
A
partir dessas concepções, Vigotski construiu o conceito de zona de
desenvolvimento proximal, referindo-se às potencialidades da criança que podem
ser desenvolvidas a partir do ensino sistemático. A zona de desenvolvimento proximal é a distância entre o nível de
desenvolvimento real, que se costuma
determinar através da solução independente de problemas pela criança, e o nível
de desenvolvimento potencial, determinado pela solução de problemas sob a
orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros. Esse conceito é
importante porque nos permite delinear o futuro imediato da criança e seu
estado dinâmico de desenvolvimento. Além disso, permite ao professor olhar seu
educando de outra perspectiva, bem como o trabalho conjunto entre colegas,
Aliás, Vigotski acreditava que a noção de zona de desenvolvimento proximal já estava
presente no bom senso do professor, quando esse planejava o seu trabalho. Assim,
Vigotski insistia na importância de a Educação pensar o desenvolvimento da
criança de forma prospectiva, e não retrospectiva, como era feito. Sua crítica
foi contundente. Segundo Vigotski, a escola pensa a criança e planeja o ensino
de forma retrospectiva por considerar, como condição para a aprendizagem, o
nível de desenvolvimento já conquistado pela criança. No seu entender, a escola
deveria inverter esse raciocínio e pensar o ensino das possibilidades que o
aprendizado já obtido traz. O bom ensino é aquele que se volta para as funções
psicológicas emergentes, potenciais, e pode ser facilmente estimulado pelo
contato com os colegas que já aprenderam determinado conteúdo. A aprendizagem
é, portanto, um processo essencialmente social, que ocorre na interação com os
adultos e os colegas. O desenvolvimento é resultado desse processo, e a escola,
o lugar privilegiado para essa estimulação. A Educação passa, então a ser vista
como processo social sistemático de construção da humanidade.
Sintetizando,
poderíamos dizer que, para Vigotski, as relações entre aprendizagem e
desenvolvimento são indissociáveis. O indivíduo, imerso em um contexto cultural,
tem seu desenvolvimento movido por mecanismos de aprendizagem acionados externamente.
A matéria-prima desse desenvolvimento encontra-se fundamentalmente, no mundo
externo, nos instrumentos culturais construídos pela humanidade. Assim, o
homem, ao buscar respostas para as necessidades de seu tempo histórico, cria, junto
com outros homens, instrumentos que consolidam o desenvolvimento psicológico e fisiológico
obtido até então. Os homens de outra
geração, ao manusearam esses instrumentos, apropriam-se do desenvolvimento ali consolidado. Eles
aprendem e se desenvolvem ao mesmo tempo, adquirindo possibilidades de
responder a novas necessidades com a construção de novos instrumentos. E assim
caminha a humanidade...
A
partir dessas concepções de Vigotski, a escola torna-se um novo lugar – um espaço
que deve privilegiar o contato social entre seus membros e torná-los mediadores
da cultura. Alunos e professores devem ser
considerados parceiros nessa tarefa social. O aluno jamais poderá ser visto
como alguém que não aprende, possuidor de algo interno que lhe dificulte a
aprendizagem. O desafio está colocado. Todos são responsáveis
no processo. Não há aprendizagem que não gere desenvolvimento; não há desenvolvimento que prescinda da
aprendizagem. Aprender é estar como outro, que é mediador da cultura. Qualquer
dificuldade nesse processo deverá ser analisada como uma responsabilidade de
todos os envolvidos. O professor torna-se figura fundamental; o colega de
classe, um parceiro importante; o planejamento das atividades torna-se tarefa
essencial e a escola, o lugar de construção humana.
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