O
conceito de sujeito na AD
O
sujeito, para a AD-1, está submetido às regras específicas que delimitam o
discurso que enuncia. Assim, “quem de fato fala é uma instituição, ou uma
teoria, ou uma ideologia”.
Na
AD-2, o sujeito passa a ser concebido como aquele que desempenha diferentes
papéis de acordo com as várias posições
que ocupa no espaço interdiscursivo, “vigora a ideia de que o sujeito é uma
função, e que ele pode estar em mais de uma”. Nessa fase, o sujeito não é
totalmente livre; ele ocupa um lugar de onde enuncia, e é esse lugar, entendido
como a representação de traços de determinado lugar social, que determina o que ele pode ou não
dizer a partir dali. Ou seja, o sujeito é dominado por uma determinada formação
ideológica que preestabelece as possibilidades de sentido em seu discurso.
Na AD-3, por sua vez, tem-se um sujeito essencialmente heterogêneo, clivado,
dividido, definido de forma “um pouco menos estruturalista”, porque conforme as
teorias do inconsciente, o sujeito representa a relação entre ele mesmo, o
“eu”, e o inconsciente, “o outro”.
As
três diferentes fases da AD possuem um
característica comum. O sujeito não é senhor de sua vontade; ele sofre as coerções
de uma formação ideológica e discursiva ou é submetido à sua própria natureza inconsciente. Esses dois
fatores “reguladores” do sujeito são esquecidos por ele durante o discurso, e
estão constitutivamente relacionados ao conceito de assujeitamento ideológico
ou interpelação ideológica, que “consiste em fazer com que cada indivíduo
(achando que é senhor de sua vontade) seja levado a ocupar seu lugar, a
identificar-se ideologicamente com grupos ou classes de uma determinada
formação social”.
As
condições de produção do discurso
Para a AD, o sujeito representa as condições de produção
de seu discurso de maneira imaginária. É o que Pêcheux chama de jogo de
imagens de um discurso composto:
- pela imagem que o sujeito faz, ao
enunciar o discurso: do lugar que ocupa seu interlocutor, do próprio discurso;
- pela imagem que o sujeito, ao
enunciar seu discurso, faz da imagem que seu interlocutor faz: do lugar que
ocupa o sujeito do discurso, do lugar que ele (interlocutor) ocupa e do
discurso.
Assim, o sujeito não é
livre para dizer o que quer, a própria opção do que dizer já é em si
determinada pelo lugar que ocupa no interior da formação ideológica à qual está
submetido, mas as imagens que o sujeito constrói ao enunciar só se constituem
no próprio processo discursivo.
Portanto, o jogo de imagens
faz parte das condições de produção de um discurso, na medida em que as imagens que o sujeito
vai construindo ao enunciar vão
definindo e redefinindo o processo discursivo.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Os conceitos que embasam a
AD fundamentam-se na constitutividade:
o discurso, o sentido, o sujeito, as
condições de produção vão se constituindo no próprio processo de enunciação.
A AD, ao se propor a não
reduzir o discurso a análises
linguísticas, mas abordá-lo também numa perspectiva histórico-ideológica, leva
em conta a interdisciplinaridade. Devido a essa interdisciplinaridade, a AD se
apresenta em constante processo de constituição, que poderia colocá-la em perigo.
No entanto, o perigo que a espreita é o de não reconhecermos sua especificidade
e tentarmos excluir de seu campo as contradições, as irregularidades, em vez de
simplesmente tentarmos apreendê-las na materialidade discursiva.
INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA: DOMÍNIOS E FRONTEIRAS
Fernada Mussalin, Anna Christina Bentes (Orgs)
São Paulo: Cortes, 2001
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