domingo, 15 de fevereiro de 2015

ANÁLISE DO DISCURSO --- 4

O conceito de sujeito na AD

            O sujeito, para a AD-1, está submetido às regras específicas que delimitam o discurso que enuncia. Assim, “quem de fato fala é uma instituição, ou uma teoria, ou uma ideologia”.
            Na AD-2, o sujeito passa a ser concebido como aquele que desempenha diferentes papéis de acordo  com as várias posições que ocupa no espaço interdiscursivo, “vigora a ideia de que o sujeito é uma função, e que ele pode estar em mais de uma”. Nessa fase, o sujeito não é totalmente livre; ele ocupa um lugar de onde enuncia, e é esse lugar, entendido como a representação de traços de determinado lugar  social, que determina o que ele pode ou não dizer a partir dali. Ou seja, o sujeito é dominado por uma determinada formação ideológica que preestabelece as possibilidades de sentido em seu discurso.
Na AD-3, por sua vez, tem-se um  sujeito essencialmente heterogêneo, clivado, dividido, definido de forma “um pouco menos estruturalista”, porque conforme as teorias do inconsciente, o sujeito representa a relação entre ele mesmo, o “eu”, e o inconsciente, “o  outro”.
            As três  diferentes fases da AD possuem um característica comum. O sujeito não é senhor de sua vontade; ele sofre as coerções de uma formação ideológica e discursiva ou é submetido à  sua própria natureza inconsciente. Esses dois fatores “reguladores” do sujeito são esquecidos por ele durante o discurso, e estão constitutivamente relacionados ao conceito de assujeitamento ideológico ou interpelação ideológica, que “consiste em fazer com que cada indivíduo (achando que é senhor de sua vontade) seja levado a ocupar seu lugar, a identificar-se ideologicamente com grupos ou classes de uma determinada formação social”.

As condições de produção do discurso

            Para a AD, o sujeito representa as condições de produção de seu discurso de maneira imaginária. É o que Pêcheux chama de jogo de imagens  de um discurso composto:
- pela imagem que o sujeito faz, ao enunciar o discurso: do lugar que ocupa seu interlocutor, do próprio discurso;
- pela imagem que o sujeito, ao enunciar seu discurso, faz da imagem que seu interlocutor faz: do lugar que ocupa o sujeito do discurso, do lugar que ele (interlocutor) ocupa e do discurso.
Assim, o sujeito não é livre para dizer o que quer, a própria opção do que dizer já é em si determinada pelo lugar que ocupa no interior da formação ideológica à qual está submetido, mas as imagens que o sujeito constrói ao enunciar só se constituem no próprio processo discursivo.
Portanto, o jogo de imagens faz parte  das condições de produção  de um discurso, na medida em que as imagens  que o sujeito  vai construindo  ao enunciar vão definindo e redefinindo o processo discursivo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os conceitos que embasam a AD  fundamentam-se na constitutividade: o  discurso, o sentido, o sujeito, as condições de produção vão se constituindo no próprio processo de enunciação.
A AD, ao se propor a não reduzir o discurso  a análises linguísticas, mas abordá-lo também numa perspectiva histórico-ideológica, leva em conta a interdisciplinaridade. Devido a essa interdisciplinaridade, a AD se apresenta em constante processo de constituição, que poderia colocá-la em perigo. No entanto, o perigo que a espreita é o de não reconhecermos sua especificidade e tentarmos excluir de seu campo as contradições, as irregularidades, em vez de simplesmente tentarmos apreendê-las na materialidade discursiva.

INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA: DOMÍNIOS E FRONTEIRAS
Fernada Mussalin, Anna Christina Bentes (Orgs)
São Paulo: Cortes, 2001

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