domingo, 11 de fevereiro de 2018

Morrer é o maior evento da vida. Porque ja se construiu uma história. Porque já colou em retinas tantas coisas que suscitaram outras e outras, e assim vai se formando uma vida. Porque já se fez nascer tantos amores que se ofertaram para outros corações, criando as trilhas que nos encaminham ao outro. Nascer, não! Quantos nascem a cada dia e ninguém fica sabendo. O morrer, portanto, é um acontecimento que finaliza todos os outros eventos. Porque ao longo do tempo, mantemos alguns deles dentro de nós, mesmo quando nos deteriora, acreditando que tudo vai dar certo. Porque temos medo de ficar sem o sonho. A vida sem sonho é insuportável para o ser humano. E assim, buscamos desesperadamente, para provar que estamos vivos, qualquer ilusão. Criamos qualquer sonho. Mas para que seja bonito e vingue, é preciso o outro abrir a cancela. Senão as impressões serão como um dia nevoento à beira do cais. Como em Zorba, o grego. Ou frio e chuvoso numa roça de cacau de Amado, quando a lama gruda nos pés. Ou naquela casa tenebrosa dos Ventos Uivantes. Não há nada que enfeite de alegria um amor desperdiçado...um tempo desperdiçado...um sonho não reconhecido.

Lecia Freitas






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