A Positividade do Poder
No terceiro
capítulo de sua tese relativa ao posicionamento das verdades da ciência, Alexandre
Santos Pinheiro busca critérios e bases
de explicação para análise de um grupo social estudado. Com duas implicações
sobre seu trabalho ele fala das consequências da verdade científica produzidas
sobre as Ciências Humanas e Sociais assumindo a identidade como ponto de partida para análise de contextos
sociais como forma de reumanização de seu trabalho. O autor afirma que se não é
possível isolar uma essência humana, é possível traçar padrões de comportamento
do sujeito, e que esses desvelam a coerência
ante pensamento e ação, e se ancoram na hipótese de que essa coerência deve a
maior parte de sua explicação ao poder. Ele
entende que a identidade está submetida a um conjunto de condições e de limite
distribuídos pelo poder. Sendo assim, considera, como Foucault que a identidade
não é completamente livre, neutra ou indendente do poder e que o perfilhamento
do sujeito em cada uma das seções sociais que constituem a realidade social,
define sua identidade social, comum, e que o sujeito se delineia segundo campos
de poder, onde ocupa lugares e posições
em interação com o passado e o futuro.
A segunda séria implicação para a construção da
tese, segundo o autor, é ressonante da
perspectiva de que somos obrigados pelo
poder a construir verdade, porém ela é infiltrada pelas relações de poder, mas
que não existe verdade fora do poder ou
sem poder, e considera que não há
relação de poder sem constituição de um campo de saber. E que este, ao mesmo
tempo em que é produto, constitui ponto de poder.
Partindo
da perspectiva de que o real, o mundo, trata-se de não menos que intervalo de
possibilidades determinados pelo poder e, portanto não mais de que delimitações
de existências construídas por verdades. Então o mundo real, não passa de uma
orientação imagética sustentada pelas verdades do poder.
O
autor conceitua verdade como uma verdade dentro de determinados momentos,
diante de várias possibilidades e que se modifica em funções de cada rearranjo
nas relações, na medida em que a verdade
e seus regimes se deslocam em virtude da deslocação de poder, indivíduos vão
sendo aperfeiçoados dentro de intervalos de tempo, não existindo fora do poder
ou sem ele.
Pinheiro
argumenta que para atender aos saberes da ciência deve assumir verdades que não
são consistentes com as verdades do grupo estudado e, por isso, utiliza a
perspectiva da incompletude cognitiva de Paula (2013) como base para seu
trabalho. Na busca de uma perspectiva sobre como o sujeito constrói sua realidade
cotidiana ele se vale da concepção do
imaginário que tange ao modo
criativo do sentido que damos ao mundo, que adquire sentido na medida em que
não permanece como algo determinado por uma racionalidade natural. Esse
processo de inteligibilidade do mundo, repousa no modo lógico de interpretar
o mundo produzindo uma criação
significativa de tudo que tocamos, sendo esse o berço relativizado das nossas
verdades.
Para
o autor a força criadora do imaginário existe sob a forma de determinações
concretas e está localizado em tramas socio-históricas, curvando-se para
significados sociais, constituindo desde a identidade de uma sociedade, e em
decorrência, de uma pessoa. A construção do imaginário acontece por meio de
justificaçãos simbólicas da realidade, objetivando-a. A produção da realidade
acontece via imaginário, então neste
está a positividade do poder. O autor
considera que a vida cotidiana é assimilada pelo sujeito por meio do
imaginário um processo em que o “eu”
recria os objetos da realidade transformando-os em elementos carregados de
subjetividade e que a escolha de alguns
desses elementos para o embasamento de sua realidade o qualificam enquanto
sujeito, objetivam-no nessa mesma realidade.
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