segunda-feira, 17 de junho de 2019


A  Positividade do Poder


No terceiro capítulo de sua tese relativa ao posicionamento das verdades da ciência, Alexandre Santos Pinheiro busca critérios e bases  de explicação para análise de um grupo social estudado. Com duas implicações sobre seu trabalho ele fala das consequências da verdade científica produzidas sobre as Ciências Humanas e Sociais assumindo a identidade  como ponto de partida para análise de contextos sociais como forma de reumanização de seu trabalho. O autor afirma que se não é possível isolar uma essência humana, é possível traçar padrões de comportamento do sujeito, e que esses desvelam  a coerência ante pensamento e ação, e se ancoram na hipótese de que essa coerência deve a maior parte de sua explicação ao poder.  Ele entende que a identidade está submetida a um conjunto de condições e de limite distribuídos pelo poder. Sendo assim, considera, como Foucault que a identidade não é completamente livre, neutra ou indendente do poder e que o perfilhamento do sujeito em cada uma das seções sociais que constituem a realidade social, define sua identidade social, comum, e que o sujeito se delineia segundo campos de poder, onde ocupa  lugares e posições em interação com o passado e o futuro.
A  segunda séria implicação para a construção da tese, segundo  o autor, é ressonante da perspectiva de que somos  obrigados pelo poder a construir verdade, porém ela é infiltrada pelas relações de poder, mas que  não existe verdade fora do poder ou sem  poder, e considera que não há relação de poder sem constituição de um campo de saber. E que este, ao mesmo tempo em que é produto,  constitui ponto  de poder.
Partindo da perspectiva de que o real, o mundo, trata-se de não menos que intervalo de possibilidades determinados pelo poder e, portanto não mais de que delimitações de existências construídas por verdades. Então o mundo real, não passa de uma orientação imagética sustentada pelas verdades do poder.
O autor conceitua verdade como uma verdade dentro de determinados momentos, diante de várias possibilidades e que se modifica em funções de cada rearranjo nas relações, na medida em que  a verdade e seus regimes se deslocam em virtude da deslocação de poder, indivíduos vão sendo aperfeiçoados dentro de intervalos de tempo, não existindo fora do poder ou sem ele.
Pinheiro argumenta que para atender aos saberes da ciência deve assumir verdades que não são consistentes com as verdades do grupo estudado e, por isso, utiliza a perspectiva da incompletude cognitiva de Paula (2013) como base para seu trabalho. Na busca de uma perspectiva sobre como o sujeito constrói sua realidade cotidiana ele se vale da concepção do  imaginário  que tange ao modo criativo do sentido que damos ao mundo, que adquire sentido na medida em que não permanece como algo determinado por uma racionalidade natural. Esse processo de inteligibilidade do mundo, repousa no modo lógico de interpretar o  mundo produzindo uma criação significativa de tudo que tocamos, sendo esse o berço relativizado das nossas verdades.
Para o autor a força criadora do imaginário existe sob a forma de determinações concretas e está localizado em tramas socio-históricas, curvando-se para significados sociais, constituindo desde a identidade de uma sociedade, e em decorrência, de uma pessoa. A construção do imaginário acontece por meio de justificaçãos simbólicas da realidade, objetivando-a. A produção da realidade acontece via  imaginário, então neste está a positividade do poder.  O autor considera que a vida cotidiana é assimilada pelo sujeito por meio do imaginário  um processo em que o “eu” recria os objetos da realidade transformando-os em elementos carregados de subjetividade e que a escolha de alguns  desses elementos para o embasamento de sua realidade o qualificam enquanto sujeito, objetivam-no nessa mesma realidade.

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